Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

16 de out. de 2010

"comunidade de pensamento"

Marina sinaliza neutralidade e vê futuro na 3a via
Por Carmen Munari e Brian Winter           (trechos da entrevista)
É muito provável que os eleitores não vejam Marina em nenhum dos dois palanques no segundo turno. Ela sinalizou que deverá ficar neutra, independente da decisão do PV no próximo domingo.
Marina, a ambientalista que ficou em terceiro lugar na eleição de 3 de outubro com quase 20 milhões de votos, se sente frustrada com o tom agressivo dos dois candidatos e reiterou que não vê grande diferença entre eles.
"Ambos são muito parecidos. Ambos têm uma visão desenvolvimentista. Eles têm um perfil gerencial. O Brasil não precisa de gerente, precisa de quem tem visão estratégica", disse Marina.
Ela acredita que tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), demonstraram visão estratégica ao se colocar à frente de projetos sociais e de programas para conter a inflação, respectivamente.
"O Brasil continua precisando de visão estratégica. Quando você tem visão estratégica, você consegue os melhores gerentes. Quando você é apenas um gerente, a gente pode perder o rumo do que precisa ser feito", declarou.
Por enquanto, o PV está em conversas com as equipes de Dilma e Serra tendo como base documento com dez propostas dos verdes. A aceitação dos itens é vista como condição para a decisão de apoio.
TERCEIRA VIA
A senadora evitou detalhar seu futuro. Disse que não há decisão "a priori", mas deixou claro que vai continuar em busca de uma terceira via, distinta dos principais partidos majoritários.
Citando o pensador francês Edgar Morin, afirmou que faz parte de uma "comunidade de pensamento", termo indicado por ele.
"Eu me disponho a fazer parte desta comunidade de pensamento. Espero que essa nova visão da política seja relevante para o Brasil e que não se disperse essa sinalização embrionária que foi dada nessas eleições, de que temos a possibilidade de construir uma terceira via", disse.
Sentada ao lado de um exemplar da Bíblia, Marina, evangélica da Assembléia de Deus, disse que sentiu preconceito durante o primeiro turno da eleição já que apenas a ela eram feitos questionamentos sobre religião. Agora que está fora da disputa, viu o tema crescer e atingir os dois candidatos.
Marina se emocionou apenas uma vez na entrevista, quando foi questionada sobre se tinha virado "moda". Ela respondeu que sua fama é resultado do trabalho de toda uma geração que luta em favor do meio ambiente.
"Isso é fruto do trabalho de muita gente ao longo de 30 anos. Eu não posso me apropriar individualmente disso. Quando as pessoas fazem um referência à questão ambiental ou a mim eu sei que estão se referenciando nesses 30 anos de luta sócio-ambiental do Brasil, onde vi o Chico Mendes ser assassinado", afirmou. Seringueiro e ativista, Chico Mendes foi assassinado em 1988.

15 de out. de 2010

Eleições 2010

DILMA E A FÉ CRISTà
Frei Betto

Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária aos princípios do Evangelho e da fé cristã.

Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte.
Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência.
Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de "marxista ateia".
Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.
Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória - diria, terrorista - acusar Dilma Rousseff de "abortista" ou contrária aos princípios evangélicos.
 Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade.
 Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo. Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica. Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que "a árvore se conhece pelos frutos", como acentua o Evangelho.
 É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam.
 Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto...
 Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.
 Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.
 Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.
 A resposta de Jesus surpreendeu: "Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes..." (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz. Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.

 FREI BETTO, frade dominicano, é assessor de movimentos sociais e escritor, autor de "Um homem chamado Jesus" (Rocco), entre outros livros. Foi assessor especial da Presidência da República (2003-2004, governo Lula).