Os saudosos Otacílio Batista e Diniz Vitorino improvisando
num Martelo Agalopado:
9 de ago. de 2016
Vazamento contra Temer: os motivos da mídia e da Lava Jato para manter o governo acuado - Pedro Lorenzi Breier
Se a credibilidade da
grande mídia brasileira no geral definha a cada a dia, a da Veja já passou
dessa fase: esvaiu-se completamente faz tempo - a não ser para o público
ultrarreacionário que cevou ao longo dos últimos anos, logicamente.
Como não fazem mais
jornalismo faz tempo, os veículos conservadores de mídia sobrevivem de sua parceria
com o sistema de justiça, mais especificamente dos vazamentos da Lava Jato.
O último vazamento da
Lava Jato para a Veja revelou que a delação de Marcelo Odebrecht incluirá o
repasse de R$ 10 milhões em dinheiro vivo ao PMDB, a pedido de Temer. A Justiça
Eleitoral exigia que os recursos doados legalmente pelas empresas fossem
depositados na conta do partido e, segundo o vazamento, o dinheiro vivo
repassado ao PMDB foi contabilizado no caixa paralelo da Odebrecht.
Trata-se de mais uma
delação arrancada após meses de verdadeira tortura prisional, o que é
lamentável mesmo que atinja o governo golpista. Não é algo a se comemorar.
O vazamento prejudicial a
Temer aparentemente serve a dois propósitos.
O primeiro é o já
clássico método da Lava Jato: de vez em quando vazar algum trecho de delação
contra um tucano ou peemedebista para dar credibilidade à operação e disfarçar
o seu viés político.
Como bem analisou o
Miguel aqui, esse objetivo fica explícito porque não acontece nada com
os integrantes dos partidos golpistas citados. Não há condução coercitiva
de Aécio Neves ou prisão de tesoureiro do PMDB, apesar das muitas e graves
acusações de delatores.
A operação Lava Jato
atua em parceria com a mídia oligopolizada. Esta faz um julgamento prévio dos
acusados no seu tribunal paralelo, manipulando a opinião pública para garantir
legitimidade à operação e assim minar os questionamentos aos abusos autoritários
dos procuradores do MPF e de Sérgio Moro.
Como a mídia tem lado, o
processo fica totalmente desequilibrado. Enquanto delações contra petistas
ganham manchetes e forte repercussão, as que envolvem os aliados são citadas
sem destaque e logo enterradas.
Serra chegou a ganhar
capa da Folha neste fim de semana por causa do vazamento de outro trecho da
delação de Marcelo Odebrecht segundo o qual o garoto da Chevron teria recebido
R$ 23 milhões da construtora via caixa dois, mas o assunto provavelmente morrerá
e não acontecerá nada com o ministro golpista.
O outro propósito do
vazamento contra o presidente usurpador é o de manter o governo acuado.
Às castas judiciais
interessa um governo fraco para que este não se atreva a tentar diminuir o
poder dos procuradores.
"Se
tentarem 'estancar a sangria' da Lava Jato ou diminuir o poder do
Ministério Público haverá retaliação" é o recado.
A ameaça ao governo
interino também tem a ver com a economia.
A
mídia quer ver o seu projeto neoliberal para o país implementado a
qualquer custo.
Como os políticos
dependem de apoio popular e parlamentar para se manter no poder, o corte
radical de gastos e direitos exigido pelos patrocinadores do golpe
não parece ser uma ideia das mais interessantes para Temer, ao menos não
na profundidade desejada por aqueles.
O aumento do gasto
público com a concessão de reajustes a algumas categorias e com a liberação
de verbas a parlamentares para pagar a conta do impeachment já não
vinha agradando aos artífices do golpe.
Após Rodrigo Maia
levantar a hipótese de Temer concorrer à reeleição em 2018, então, a mídia
entrou em polvorosa.
Merval Pereira, o porta
voz número um dos Marinho, criticou o "populismo barato"
e escreveu que Temer só provará ser um estadista se adotar medidas
impopulares, as mesmas prometidas por Aécio ao empresariado em 2014.
Nota da coluna Painel da
Folha de hoje afirma que as concessões de Temer na área fiscal põem em risco a
lua de mel entre o mercado e o governo interino:
Pé atrás Em
lua de mel com o governo interino, a elite do mercado financeiro começa a se
preocupar com a gestão Temer. Os sucessivos aumentos de gastos para contemplar
o funcionalismo somados à ambição do Congresso em usar projetos prioritários
para ampliar despesas — como as flexibilizações no texto da renegociação das
dívidas — têm gerado desconfiança. O temor é que o Planalto, ao se despedir da
interinidade, sinta-se forte o suficiente para relaxar nos seus compromissos
fiscais.
Um governo fraco
interessa, portanto, tanto à mídia golpista, por motivos econômicos, quanto aos
meganhas da Lava Jato, por motivos de disputa de poder. Um presidente sem
legitimidade, apoio popular e pretensões eleitorais é o ideal. Rodrigo Maia
saiu do script ao ventilar a candidatura de Temer e a resposta não tardou.
Mídia, procuradores,
delatores e governo têm interesses diferentes no jogo das delações da Lava
Jato.
Mas todos
esses interesses estão relacionados ao jogo político. A justiça é
só um detalhe solenemente ignorado.
Dror Feiler no Brasil para o II FIME
“O ruído é um dos elementos centrais na minha música. A abrasiva aspereza
da música é uma tentativa de alterar como as pessoas ouvem. O ruído, enquanto
som fora de seu contexto familiar, é confrontacional, afetivo e transformador.
Tem um valor de choque e desfamiliariza o ouvinte que espera da música uma
fluidez fácil, uma familiaridade segura ou algum tipo de suavização. Com isto,
o ruído politiza o ambiente aural”
Exatamente um ano depois da apresentação na
Audio Rebel (Rio de Janeiro), Feiler retornou ao Brasil para o II FIME, em São
Paulo. Aqui, apresentou-se com a Noise Orchestra, formada por músicos
selecionados em uma oficina que ele ministrou previamente.
Dror Feiler estudou música, interpretação e
musicologia, toca saxofone, participou da banda de jazz Lokomotiv
Konkret e fundou a The Too Much Too Soon Orchestra. Feiler também
compõe peças para orquestras
A apresentação no SESC Consolação (no dia 17/07/2016)
foi mais uma peça de volume alto, que contou com 16 músicos que lotavam o
palco. The no flow foi feita exclusivamente para a ocasião. A
performance de Feiler com a Noise Orchestra evocava força física, exaustão,
suor, rostos vermelhos de sangue correndo e a concentração de todos no palco
acompanhando a partitura ao longo de mais de 50 minutos.
É possível pensar
na música experimental explorada por Feiler, e tema do festival, como uma nova
linguagem e como uma desconstrução das formas estruturais da música que
conhecemos e estamos acostumados a ouvir. O caos que nos aparece ao escutá-la
pode ser momentaneamente irritante, mas se pensarmos na dimensão do caos que
nos faz movimentar em alguma direção ou sentido, ele passa a ser um gerador
criativo e reorganizador. No caos enlouquecemos, nos acostumamos ou nos movemos
rumo a um estado desconhecido das coisas?.
No dia seguinte à
sua apresentação, Dror Feiler se disponibilizou para apresentar e falar sobre
sua carreira e seu trabalho.
Para Feiler, o
noise [a música de ruídos], a improvisação e a composição são uma coisa só,
cada um sendo parte de um todo. O grande desafio do noise ainda hoje é lidar
com o estranhamento do ouvinte. É possível fazer noise com uma orquestra, por
exemplo, apesar mais
altas/agudas dos instrumentos.de que o público
que em geral se dispõe a ir a um concerto não está preparado para ouvi-lo.
Nesta peça, por
exemplo, o grupo do sopro reclamou que estava tudo sempre nas partes mais altas/agudas
dos instrumentos.
Feiler relata que os músicos ficaram apreensivos
com a peça, expressando o medo de que o público achasse que eles estavam
tocando errado. Mas, para ele, este é um exemplo de que é preciso aceitar
mudanças na música e enxergá-la de uma nova maneira. Existe o clichê na música
contemporânea de que tudo deve ser tocado junto e em Maavak tudo é
apresentado um pouco depois.
Já em 2008, The
Bavarian Radio Symphony Orchestra de Munique encomendou uma peça a Feiler. Ele
compôs Halat Hisar, uma obra para uma flauta baixo, piano preparado e uma
orquestra com 90 pessoas tocando. duas horas antes da estreia os músicos
disseram que não iriam tocar, alegando que a peça toda era muito alta. Segundo
Feiler, nenhum dos instrumentos tinha amplificação, exceto a flauta. Ele teve
que ir pra casa sem esta primeira performance
Ondinonnk é
Resultado de uma pesquisa de Feiler sobre as pessoas que tocam nas ruas,
especialmente aquelas que não tocam bem. Seu raciocínio foi que, em nossa
sociedade, pedintes e mendigos são considerados as pessoas de mais baixa
estima. E essas pessoas que tocam são pedintes de algum modo, mas elas ainda
fazem e nos dão algo em troca. Foi coletando por muitos e muitos anos vídeos
destes músicos ao longo de todo o mundo – México, Guatemala, Colombia, Rússia,
etc. - que surgiu Ondinonnk. A palavra significa, em uma língua indígena
americana, a linguagem dos desejos não realizados.
Nas figuras
reunidas, vemos um senhor em Guadalajara que toca uma mesma melodia, andando
por todos os lugares. Sua frase musical aparece com destaque no começo e no
final do vídeo como predominante. Em contraponto, Feiler acompanhou um cara no
violão em Bogotá por anos, constatando que ele sempre estava sempre no mesmo
lugar.
Em Santa Aurelia,
na fronteira do México com a Guatemala, diz que escutou a música mais estranha
de toda sua vida. Era o som de um grupo em uma igreja – que aparece em destaque
no alto do vídeo, do lado direito, no minuto 6:32’. Segundo Feiler, o grupo
tentava tocar mas não conseguia. Outra figura interessante do vídeo é um cara
que canta uma única frase o dia todo: “Por que amor? Amor por que? ”. Ele
aparece em destaque logo depois da igreja, também do lado direito do vídeo, aos
6:45’.
Assim, a peça
consiste na gravação destas pessoas e na montagem de um vídeo que ora as
destaca em 16 canais, ora sobrepõe estas pessoas, com suas imagens e sons
absolutamente diversos, formando o que Feiler considera uma fuga de Bach ao
contrário..
Leia na íntegra: musica-e-confronto-dror-feiler-no-ii-fime
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