O
incrível retro-processo em que o presidente constantemente desmoraliza seus
próprios eleitores
Assim como se instituiu a fake-news da
Ferrari-banhada-a-ouro,
se instituiu a fake-moral ou o popular “moralismo de
goela”
...nunca se viu um governo formado por um amontoado de incompetentes, lunáticos, fundamentalistas ideológicos e familiares contemplados com cargos estratégicos da república, com os mais nocivos personagens da política nacional ditando os rumos da nação pelo parlamentarismo-informal de Rodrigo Maia...
...sem contar com a penca de familiares e amigos de sempre do presidente que ganharam cargos públicos sem que esses tenham a mínima capacidade de comandar seus postos, além dos políticos-arcaicos em todos os grotões do Brasil assumindo postos que até então eram geridos por quadros estritamente técnicos...
...como na escandalosa nomeação do novo diretor geral do Parque Nacional do Caparaó, um político do DEM da pequena Alto Caparaó, que é apenas um dos mais de vinte municípios mineiros e capixabas que compõe o entorno do parque.
Abaixo reproduzo um excelente, e reflexivo, texto com a assinatura do Professor Luciano Rezende Moreira sobre o descarado patrimonialismo político praticado pelo presidente, ao assumir que pretende sim, beneficiar seu filho.
Por Luciano Rezende Moreira
Bolsonaro disse ontem (18/07), em mais uma de suas transmissões
via redes sociais, o seguinte: “Pretendo beneficiar um filho meu, sim”. “Se eu
puder dar um filé mignon para o meu filho, eu dou, sim”, acrescentou ao
justificar a indicação do filho para ocupar o posto de embaixador do Brasil em
Washington.
Pela milésima vez faço a seguinte pergunta: e se fossem
Lula ou Dilma que tivessem indicado um parente qualquer, por mais distante que
fosse, a um cargo de quinta categoria da administração pública direta ou
indireta quando foram presidentes da República?
Certamente os que hoje defendem o “mito” estariam todos
babando pelos cantos da boca, vociferando todo o ódio de classe acumulado ao
longo da vida, tomados pela cegueira e pela seletividade na análise típicas dos
fanáticos.
Mas como é o Bolsonaro, representante mais truculento da
classe média reacionária, porta-voz do histórico “cidadão de bem” moralista
brasileiro que gosta mesmo é do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”,
tudo está permitido.
Chama atenção ao fato que um dos pilares no discurso dessa
gente foi sempre o de acusar os governos petistas de “patrimonialista”. Era
muito comum ouvir a expressão chula de que iam “acabar com a mamata”. Iam por
fim as “tetas do Estado”. E o que assistimos agora, com o mais “ensurdecedor”
silêncio dos bolsonetes? Uma vergonhosa cumplicidade.
De acordo com o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920),
patrimonialismo constitui uma forma de dominação política na qual não existe
diferença entre a esfera pública e a esfera privada. Ou seja, tira-se o filé
mignon do público, para encher a barriga do filhinho do papai.
Nada de mais em os pais darem as mordomias que acharem
necessárias ao filho. Mas desde que seja com recursos próprios. Usar da
influência e o poder de Chefe de Estado, às custas do erário público, é a
prática mais simbólica do patrimonialismo weberiano.
Para Weber, um Estado patrimonial surge quando o príncipe
organiza seu poder político exatamente como exerce seu poder patriarcal -
característica compartilhada por vários impérios até a Idade Moderna.
Bolsonaro é assim. Um representante desta sociedade
patriarcal doentia. Incapaz de pensar como um Estadista. Daí todo o ódio desta
gente à Lula que sempre pecou pelo excesso republicano em que governou um país
com fortes vestígios feudais.
Resta saber até quando os grandes meios de comunicação
serão coniventes com estas aberrações, com o risco de assistirem a
desintegração de nossa nação em vários feudos e o patrimonialismo ser superado
pela barbárie completa.