Estava conversando com o cara e falávamos sobre o voto
obrigatório no Brasil. Sensação muito estranha é essa de votar pela democracia
sabendo que essa mesma democracia já te impõem. Na urna eletrônica tem uma opção
sobre a qual não se ouve falar muito: “a tecla branca”. Ela está ali para ser
usada quando o eleitor não consegue confiar o suficiente em nenhum dos
candidatos apresentados. Ainda não usei a tal tecla. Insisto em votar em
candidatos que nunca vão representar o que defendo. Faço assim unicamente para
não ficar sem votar. Minha cabeça está cheia de: “votar é exercer sua cidadania”.
Esta ideia de ser cidadão sempre me fascinou, estou é cansado de ser um cidadão
do NADA. De visita há um blog que sempre leio, deixo aqui o .Link,,
encontrei esse texto que agora posto pra você. Pode ser uma solução imediata, mas pode levar
a uma reflexão.
1 - Uma questão de
consciência
Se em minha consciência o sistema político brasileiro é altamente propenso à
corrupção, e se a realidade me mostra que a simples substituição dos atores não
muda o enredo da peça, neste caso eu deveria me abster de votar. Ora, que tipo
de consciência é a minha que fica indignada com a corrupção, mas que não se
constrange em votar em candidatos a corruptos? Ninguém que preserva em si um
pouco de dignidade moral deveria votar num potencial ladrão. Reclamos da
ladroagem e nos revoltamos com a roubalheira na política, mas ignoramos, sem o
menor senso do pudor, que eles estão lá exatamente porque os elegemos.
Dirá então
alguém: Mas nem todo político é ladrão!!!
Sim, é verdade!
Certamente deve
haver um ou outro político que não se deixou corromper e que ainda não entregou
sua alma a empreiteiros gananciosos; todavia, pela própria forma como se
organiza a política vigente, tal homem público apenas serve de álibi para a
manutenção desta estrutura podre e devassa. É bem verdade que em todo ofício ou
ocupação há maus profissionais, contudo, esses são sempre a exceção; na
política, ao contrário, a exceção são justamente os bons, os honestos, os que
de fato fazem da política o que ela deveria ser, ou seja: a ciência da boa organização,
direção e administração de nações ou Estados. No Brasil, o sentimento de
impunidade aliado aos meios de acesso à corrupção, transforma potencialmente um
cidadão honesto num político corrupto.
Dirá também
alguém: Mas o voto nulo vai resolver o problema?
Não! O voto nulo
tem esta finalidade.
Quando votamos
nulo demonstramos com clareza que não estamos satisfeitos com a maneira atual
de se fazer política no Brasil, e que exigimos mudanças mais profundas, com
mais rigor à impunidade e mais controle às ações dos políticos. O voto nulo é
uma das maneiras de o cidadão manifestar sua repulsa, não à política em si, mas
ao modo como ele é exercida em nosso país. É, portanto, uma forma de ação
política.
2 - Uma forma de pressão
No âmbito do consumo, o boicote já se mostrou altamente eficaz, levando muitos
comerciantes e indústrias a mudarem suas condutas e melhorarem seus produtos e
serviços. Quando votamos nulo, anunciamos em alto e bom som que o “produto”
político brasileiro que nos é oferecido está em péssimas condições e que
precisa ser melhorado. Não podemos nos conformar com esta estrutura política de
conveniências, em que os interesses pessoais e partidários de políticos
permanecem acima dos interesses da coletividade. Não podemos tolerar uma
estrutura em que as leis que beneficiam os agentes públicos sejam feitas e
aprovadas por eles mesmos, sem qualquer consulta popular. Um exemplo
emblemático refere-se ao famigerado “Foro Privilegiado”, inserido na
Constituição Republicana do remoto ano de 1891 e ampliado pelos políticos na
última Constituição de 1988.
3 - Uma exigência ao Voto Facultativo
Nas últimas eleições uma campanha do TSE ostentava para si o pomposo slogan de
"O Tribunal da Democracia". Ora, que tipo de Democracia é essa que
obriga um cidadão a deixar sua casa, contra sua própria vontade, para votar? A
incoerência e de uma proporção tão absurda que transforma o sentido de
"democracia" exatamente no seu oposto, ou seja: "ditadura".
Enquanto o voto facultativo é preceito essencial nos países desenvolvidos, o
voto obrigatório é característica típica de países autoritários. O voto
obrigatório, no Brasil, é um dos muitos resquícios de leis restritivas que
ainda prevalecem. É o que sobrou do velho sistema coronelista, sob uma nova
roupagem. Antes tínhamos o voto de cabresto, hoje temos o voto obrigatório. Na
prática, portanto, o voto obrigatório, que teve a chancela do ditador Getúlio
Vargas, nada mais é do que uma forma de controle das massas, interessante
apenas a políticos que, a depender das consciências livres e pensantes, jamais
alçariam ao poder.
4 - Uma demonstração de desprezo
É comum entre os que se opõem ao voto nulo argumentarem que votando assim a
pessoa estará "desperdiçando seu voto", como se o simples ato de
votar fosse em si mesmo uma ação proveitosa ou benéfica para a sociedade. Ora,
qual tem sido, afinal, o resultado prático dos nossos votos ao longo de toda
essa democracia? Mesmo supondo que o candidato escolhido seja aparentemente
honesto, ainda assim e em termos funcionais, o que resultou disso para a
melhoria da ética na nossa política? Nada! E por uma razão basilar e própria da
cultura política brasileira: o que interessa para o candidato é tirar vantagens
pessoais e políticas da sua candidatura. Da forma como as leis funcionam para
os políticos, pelo o modo como eles são punidos e pela facilidade de se
deixarem corromper, mesmo o “honesto” não costuma resistir ao primeiro “olhar
bondoso” de um empreiteiro. Sim, pois: o sistema político brasileiro atual é
bem semelhante ao nosso sistema carcerário: botamos um ladrão de galinha lá, e
ele sairá um perito em roubo a banco. Quando votamos nulo mostramos o nosso
desprezo pela forma de se fazer política no Brasil e, consequentemente,
exigimos mudanças claras no modo de se punir aqueles que cospem nas caras de
seus próprios eleitores, os quais não honram a função que ocupam, nem estão
preocupados com o desenvolvimento do país.
5 - Uma opção e nada mais
Além de qualquer argumento contra ou a favor, o voto nulo pode ser apenas uma
opção de quem não se interessa por política, seja por alienação, seja por
indiferença, seja enfim, pela simples liberdade de não votar, sem qualquer
razão ou motivo. É assim que funciona uma verdadeira Democracia.
É isso!
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Por: Iba Mendes