Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

5 de dez. de 2020

JOSÉ DIRCEU

 A tempestade que se avizinha

Tendência é de agravamento

Impulsionado por desgoverno



Nuvem carregada trará ao Brasil combinação
 de crise social, econômica e institucional

A tendência é um agravamento do cenário político-institucional e das condições econômicas e sociais para o país que vai atingir a todos, indistintamente, o governo e seus apoiadores –a extrema direita, a direita liberal, as elites empresariais e financeiras e a mídia monopolista. Nem mesmo a esquerda, a única que faz o confronto frontal ao governo Bolsonaro, vai escapar. Só um programa de reformas profundas no sistema tributário e financeiro associado à uma revolução social pode salvar o país.

Com certeza, caminhamos em direção a um agravamento geral politico-institucional, social e econômico. Nada de crescimento nos próximos anos. Recessão neste ano, com o fim do auxilio emergencial e o crescente desemprego, que é desigual e atinge mais os jovens, as mulheres e os negros. A pandemia continua a ser tratada, na prática, como inexistente pelo governo, embora, como nos indica o que acontece na Europa e nos Estados Unidos, poderá se agravar levando de roldão a economia. Suas consequências, que não podemos prever hoje, certamente levarão a uma maior crise social com repercussões imediatas no ambiente político-institucional.

O desprezo absoluto ao meio ambiente, à educação e à cultura, o fundamentalismo religioso e o obscurantismo caminham de mãos dadas –e o mais grave– como política de Estado. Há uma rapinagem sobre os ativos acumulados por gerações com muito trabalho, perdas humanas, sofrimento, pobreza e miséria, agora vendidos na bacia das almas via negociatas que fazem da privataria da era FHC um pequeno negócio. Não há pudor e muito menos temor. O governo e as elites econômicas e financeiras expropriam a renda do trabalho sem sofisticação, simplesmente retiram direitos e cortam gastos públicos sociais como se não fosse já gravíssima a situação social da maioria do povo brasileiro.

Insistem e persistem numa política, dita de austeridade, para os trabalhadores e classes médias, que não deu certo em nenhum lugar do mundo e que hoje é contestada até pelo FMI. Enquanto a Europa e os Estados Unidos retomam a política de endividamento e emissão de moeda via dívida pública, e seus bancos centrais e os governos mantêm a renda e o emprego, investem e financiam as empresas, aqui só se fala em teto de gastos, em dívida pública, em juros mais altos. Chegamos ao absurdo de cortar salários e aumentar impostos, não sobre a renda, a riqueza e o patrimônio, sobre lucros e dividendos, lucro sobre o capital próprio, grandes fortunas, heranças e doações, mas sobre bens e serviços, agravando ainda mais nossa estrutura tributária injusta, indireta e regressiva.

REVOLUÇÃO SOCIAL

O momento atual exige exatamente o oposto do que faz o governo Bolsonaro. Requer uma revolução social, com uma ampla reforma tributária e do sistema financeiro bancário. Não há mais tempo a perder. O Brasil reclama um plano mínimo de emergência já. Renda básica mensal imediata de R$ 600 para os inscritos no Cadastro Único e aumento imediato do valor do Bolsa Família em pelo menos 50%.

O país não pode vacilar em sustentar o investimento público em infraestrutura, habitação, saneamento, saúde e educação e inovação. Os orçamentos de 2020 e 2021 devem ser revistos para ter mais créditos extraordinários para saúde, educação e ciência e tecnologia. Com o BNDES e os investimentos públicos, podemos sustentar um programa de socorro imediato às micro, pequenas e médias empresas e fazer os investimentos que a médio prazo garantam o crescimento econômico e evitem o desastre iminente no caminho seguido pelo governo.

É uma perigosa aventura o engodo de que a pandemia passou, com seus efeitos devastadores sobre a vida e a economia, ignorando a nova onda de contaminação, ainda vigorosa, pelo coronavírus em vários países. Tão perigosa quanto a insistência na crença de que a austeridade, as privatizações e a reforma administrativa trazem de volta o crescimento econômico mesmo sem distribuição de renda.

Os fatos desmentem o fervor messiânico no neoliberalismo, que perde força no mundo. Há um novo consenso mundial sobre o papel do Estado e do investimento público e, agora, a Europa e os próprios Estados Unidos estão trilhando esse caminho. Sem pôr um fim na atual estrutura tributária e ao cartel bancário, o Brasil continuará à margem do crescimento com bem-estar social. Pior, só vai reforçar a concentração de riqueza via a expropriação da renda e do salário por juros reais absurdos e impostos regressivos.

Não venham com a desculpa do déficit e da dívida pública ou com a propaganda que estamos emitindo dinheiro inflacionário para justificar o injustificável –mais concentração de riqueza. Além do papel do BNDES e da dívida pública, temos o superávit financeiro do BC via operações cambiais que pode sustentar o programa emergencial de renda mínimo e Bolsa Família. Fora o fato de que nosso endividamento é menor que o da maioria dos países desenvolvidos, incluindo aí os Estados Unidos.

A questão central é que, enquanto no mundo se paga juros mínimos ou mesmo negativos, aqui pagamos juros reais absurdos e gastamos 5%,6% do PIB com o serviço da dívida. Muito menos é preciso vender as reservas internacionais que acumulamos durante a era Lula para equilibrar as contas públicas. Ao contrário, elas devem garantir que nosso país suporte qualquer agravamento internacional do comércio e dos empréstimos e investimentos.

Já somos prisioneiros, aqui e no mundo, do sistema bancário e financeiro. Por isso mesmo, em hipótese alguma devemos aceitar a chamada independência do Banco Central com mandatos fixos, o que representa, na prática, tornar seus diretores inamovíveis, retirando do Executivo qualquer decisão sobre política monetária e, consequentemente no cenário atual, fiscal e econômico. Já basta o poder quase total da banca sobre as últimas diretorias do BC.

ELITES CONIVENTES

Por fim, uma palavra sobre a degradação política do governo Bolsonaro, sob o olhar conivente e conciliador da maioria da elite econômica e política do país, incluindo aí a mídia monopolista, na ilusão de que o capitão continuará popular e já se adapta aos bons modos do jogo político do Centrão e da oposição liberal de direita, do “Estado de Direito” regido pelo STF. Nem mesmo as evidentes e públicas provas dadas pelo presidente de uma incapacidade para o cargo, a perigosa e nefasta presença de sua família e os riscos da volta do militarismo fazem nossa elite política, judicial e empresarial acordar para os riscos que a democracia e a nação correm.

A tempestade que se avizinha, numa combinação de crise social, econômica e institucional, colocará todos à prova. Ninguém vai escapar, mesmo a esquerda, única que se mantém em oposição frontal a este desgoverno a que estamos sendo submetidos.

https://www.poder360.com.br/opiniao/brasil/a-tempestade-que-se-avizinha-preve-jose-dirceu/

27.out.2020 (terça-feira)

Mudanças para brasileira ver



Tem uma coisa que eu aprendi faz tempo: a única coisa certa na vida são as mudanças. Por isso tento ser otimista com relação a isso, não adianta resistir. Se você adia a mudança, quando ela chega é 

para te derrubar, não vem suave. Por isso até prefiro ir atrás das mudanças. Já que elas são inevitáveis, vamos atrás delas.

As únicas mudanças que realmente não suporto são as de casa. Faz doze anos que moro no mesmo apartamento em Sampa, mas em um ano de Inglaterra mudei três vezes. Cheguei aqui com duas malas e tudo deu cria: roupas, panelas, pratos, toalhas, lençóis, nunca vi tanta coisa, minha vida aqui é tão espartana, tudo tão temporário mas preciso de umas vinte malas para colocar tudo que eu tenho. A notícia boa é que todas as mudanças foram para melhor. Quando mudei do apartamento que dividia com os hooligans, morei com cinco indianas que eram bem organizadas. Todas vegetarianas. Aprendi que tem muito vegetariano que só come pizza, batata frita e pão com a desculpa de não comer carne, mas legumes, frutas e saladas que é bom nem pensar. O que eles deveriam ser é carboidratianos.
Por nosso acabei virando o bicho estranho lá, elas sempre espionavam o que eu estava comendo. Tinha uma que dava blitz na cozinha todas as vezes que eu tomava café da manhã para perguntar tudo sobre minha dieta. Isto incluía também as carnes que eu preparava, nunca me senti tão carnívora com os meus frangos, perus e peixes. Elas cresciam tanto o olho nos meus assados que eu até oferecia, mas a religião não permitia, claro. Vai ver que elas queriam saber como preparava para comer escondido depois.
Agora mudei de novo, estou morando longe do centro, mas tem um lado bem interessante de experimentar a vida local. Tenho uma rotina, vou para academia, supermercado e acabo presenciando briga de vizinhos, gritaria no supermercado, discussão e palavrões nos ônibus, bêbados em toda a parte, tudo muito longe do conceito de gentleman inglês que eu sempre tive.
Outro dia o motorista do ônibus parou no ponto e um carro estacionou na frente. No lugar de dar a volta, resolveu semear a discórdia com um buzinaço sem fim. A mulher que estava no carro falava no celular e por isso nem se mexeu. Quando se movimentou foi para sair do carro e falar umas poucas e boas para o motorista, nunca vi tanta criatividade para falar tantos palavrões em tão poucos minutos, alguns eu nem conhecia. Todos no ônibus fizeram: ohhhhh!! Aí veio o guarda, os três discutiram, foi uma beleza. Por isso me divirto, cada baixaria que eu pensava que só acontecia na periferia de São Paulo acontece em todo os lugares aqui. Tudo isso para a brasileira ver.....

3 de dez. de 2020

Israel...

 



Israel planejou assassinato de cientista iraniano, diz oficial dos EUA 



cientista iraniano Mohsen Fakhrizadeh,
 morto em Teerã, após seu veículo ser
 atacado por atiradores
Imagem: West Asia News Agency/Reuters


Imagem: West Asia News Agency/Reuters 

Israel está por trás do assassinato do cientista iraniano Mohsen Fakhrizadeh, segundo um funcionário do alto escalão do governo dos Estados Unidos. As informações foram divulgadas pela CNN americana. O oficial se recusou a dar detalhes sobre o caso, incluindo se o governo de Donald Trump sabia sobre o ataque ou se forneceu algum apoio. Mohsen Fakhrizadeh, principal cientista nuclear do Irã, foi assassinado na última sexta-feira (27) quando foi alvejado por balas em uma rodovia próxima de Teerã.

Desde o assassinato, Irã vem acusando, sem evidências, Israel pela autoria do crime. O líder supremo aiatolá Seyyed Ali Khamenei e outros prometeram vingança. Até o momento, Israel não negou nem reivindicou o ataque.

Apesar de não detalhar o caso, o oficial americano ressaltou que, no passado, os israelenses compartilhavam informações sobre alvos e operações secretas com os Estados Unidos. Segundo ele, o cientista iraniano é alvo de Israel há muito tempo.

Na última semana, o New York Times também noticiou que Israel seria o responsável por planejar a morte de Mohsen Fakhrizadeh. As informações seriam de outro funcionário do governo americano.


O cientista nuclear iraniano, assassinado na semana passada, foi baleado por uma metralhadora controlada por controle remoto e operada de um carro, à distância, segundo informou ontem a agência de notícias semioficial Fars.

A reportagem do Fars News —e reproduzida pela rede de TV americana CNN— diz que Fakhrizadeh estava viajando com sua esposa em um carro à prova de balas, ao lado de outros três veículos que faziam a sua segurança. Quando ele ouviu o que parecia ser uma bala atingindo um dos veículos, saiu do carro para verificar o que havia ocorrido. Ao sair, diz a reportagem, uma metralhadora de controle remoto abriu fogo de um Nissan parado a cerca de 150 metros do carro de Fakhrizadeh. O cientista teria sido atingido pelo menos três vezes. Um dos seguranças também foi baleado. Uma explosão também foi ouvida durante o ataque.

A agência cita o ministro da Defesa iraniano, Amir Hatami, como uma das fontes. "Com base em relatórios recebidos de membros de sua equipe de segurança, o veículo do Sr. Fakhrizadeh foi inicialmente alvejado por tiros, após o que um veículo Nissan carregado com explosivos foi detonado nas proximidades deles como tiros, visando seu veículo, estava continuando", afirmou Hatami à agência


"Também já fui brasileiro"

 

Eu também já fui brasileiro

Moreno como vocês.

Ponteei viola, guiei forde

e aprendi na mesa dos bares

que o nacionalismo é uma virtude

Mas há uma hora em que os bares se fecham


e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.

Bastava olhar para mulher,

pensava logo nas estrelas

e outros substantivos celestes.

Mas eram tantas, o céu tamanho,

minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo.

Fazia isto, dizia aquilo.

E meus amigos me queriam,

meus inimigos me odiavam.

Eu irônico deslizava

satisfeito de ter meu ritmo.

Mas acabei confundindo tudo.

Hoje não deslizo mais não,

não sou irónico mais não,

não tenho ritmo mais não.

 

De Alguma poesia (1930)

Carlos Drummond de Andrade

Caetano Veloso - Fora Da Ordem

 


30 de nov. de 2020

Diego Maradona: O mais humano dos deuses | 26 de novembro de 2020

 

Diego Maradona: O mais humano dos deuses, do Município de Vosinakis


"A vida de Maradona é tão rica, tão cheia de nuances diferentes, que eu não mudaria nada, mesmo se estivesse fazendo um filme de ficção sobre ele."
Emir Kusturica


Aos 37 anos, tenho que trabalhar muito para me lembrar novamente de uma reverência tão universal a um homem que já faleceu.. Políticos, atletas, músicos, intelectuais, artistas, conhecidos e desconhecidos, todos tinham algo a dizer sobre ele. A lenda do futebol argentino, Diego Maradona, conseguiu isso sem nem tentar. Nascido em Buenos Aires em 1960, ele cresceu em uma casa empobrecida (algo parecida) em Villa Fiorito, a poucos quilômetros ao sul do estádio de sua amada Boca em extrema pobreza. Quando havia comida ele comia, ele e seus (então) 3 irmãos, quando não havia comida ele apenas continuava a jogar futebol de manhã à noite com algo parecido com bolas. Desde jovem tinha dois sonhos: Jogar uma Copa do Mundo e vencê-la. Ele conquistou ambos em 1986 com ênfase em campo no México, quando a Argentina estava no topo do mundo por causa dele,

Provavelmente, ele mesmo nunca percebeu que foi encontrado nos campos do NE nos maiores estádios do mundo. De Estrella Roja, de 8 anos, aos Los Cebollitas, o time infantil do Argentinos Juniors, ao Boca Juniors, Barcelona e Napoli, o time do empobrecido sul da Itália que ficou na sombra do norte rico e acabou se juntando do que qualquer outro. Maradona sempre teve um caso com a bola e é por isso que a deusa redonda fez uma reverência para ele. As pessoas que tiveram a sorte de apreciá-lo ao vivo o adoraram nos momentos brilhantes, mas também nos maus momentos de sua carreira. Mas, novamente, a questão chave permanece? Mas como um cara que só conhece o tom do baile se torna um convidado do Papa, uma música de Manu Chao,documentários de Kusturica, tatuagens em corpos de celebridades e graffiti em todos os cantos do globo? E como ele consegue antecipar a era das mídias sociais para interagir com seu público?

Ele tinha dado a resposta: "Eu posso ser branco, posso ser negro, não posso ser cinza". E isso ficou evidente não nas grandes vitórias, quando todos procuravam se enquadrar e tirar uma foto com ele, mas nas grandes decepções. Em suas escolhas destrutivas. Na dependência de longo prazo da coca, álcool e sexo. No dinheiro infinito que gastou em besteiras até perder tudo, para recuperar o suficiente para perdê-lo ainda mais rápido, ainda mais fácil, ainda mais trágico. Nas urgências de hospitais, tribunais e clínicas de desintoxicação. Maradona pode ter sido um marido horrível, um pai inadequado, egoísta como amigo e terrivelmente tolo ao administrar suas finanças. Mas foi autêntico. E como jogador de futebol, e como pessoa, E isso tem faltado em muitos e muitos pelo que parece. Porque nenhum ser humano pode e não deve ser perfeito. Porque somos seres humanos, todos e cada um com as nossas paixões, dependências, vantagens e desvantagens. Porque no mundo real não existe amigo perfeito. Ele prospera em grandes quantidades apenas na Internet.

Eu poderia escrever muito sobre seu caráter não convencional. Contar a história de 1984 sobre sua iniciativa de fazer um jogo beneficente com o time do Napoli em um dos bairros mais pobres da cidade, apenas para arrecadar dinheiro para a intervenção de uma criança enquanto a gestão da equipe era totalmente negativa . Eventualmente a partida aconteceu, Maradona entrou em um campo cheio de lama e deu tudo de si como se estivesse jogando a partida de sua vida. Permitam-me que vos conte o amor especial que sentia pelo Che e por Cuba, que o abraçou, cuidou dele e deu-lhe uma segunda e terceira oportunidades, quando a própria Argentina o esqueceu. E, ao mesmo tempo, deixe-me lembrá-lo das manobras que ele fez com pressa e para o tiro com armas de ar em 6 jornalistas em 1994. Para cada movimento mágico que ele fez com a bola nos pés, você também pode encontrar algo negativo em sua vida pessoal. Mafias, conversas, apostas. Uma paixão sem fim e uma vontade indomável de vida de um lado, um joelho quebrado e um coração fraco do outro. Na mesma embalagem e no mesmo corpo.

Lendo sua autobiografia intitulada "A mão de Deus", ele nos diz: "Diego Ariado Maradona, o homem que marcou dois gols na Inglaterra e um dos poucos argentinos que sabem o quão pesado é a Copa do Mundo. Você sabe que tipo de jogador de futebol eu seria se não tivesse usado drogas? Eu seria Diego Maradona do México por muitos e muitos anos. Foi o momento de maior felicidade que já senti em campo. Meu velho nunca me fez escorregar e raramente me dizia "Que bom que você acertou a bola" ou "Que bom que você deu". Mas depois da partida com a Inglaterra, quando nos encontramos, ele me abraçou e disse: "Meu filho, hoje, na verdade, você colocou uma coleira!". A Copa do Mundo no México, em 1986, foi realmente uma página especial na história do esporte porque um homem em 90 minutos mostrou os dois lados:

Poucas pessoas podem transmitir popularidade autêntica sem serem resilientes e sem fingir. Maradona podia tomar uma cerveja com todos, desde os favelados em que cresceu até os aristocratas ricos que o queriam em seu time e falar sobre futebol, política e música sem se sentir desconfortável por um momento. Sem esconder suas crenças políticas e visões heréticas. E agora que ele se aposentou deste mundo, parece que esses modelos são especiais porque são raros. Como escreveu o escritor uruguaio Eduardo Galeano, "Diego Maradona era adorado não apenas por seu malabarismo único, mas porque era um deus sujo e pecador. O mais humano dos deuses ”.

Hasta Siempre Diego!

Cerca de 200 milhões de trabalhadores entraram em greve na Índia na quinta-feira em protesto contra a decisão do governo de reduzir seus benefícios de aposentadoria, uma mudança que entraria em vigor em outubro. O pacote de reformas inclui novas leis trabalhistas, maior flexibilidade nas regulamentações relacionadas à segurança e saúde no trabalho e no setor agrícola, bem como privatizações no setor público.

 

A maior greve 

do mundo:

200 milhões de trabalhadores paralisam a Índia


Fôlego! Inspiração em Tiradentes.

 












Quem conta um conto, aumenta um ponto

 Cultura e sociedade


Esopo, La Fontaine e Monteiro Lobato sobre “A cigarra e a formiga”


A cigarra e a formiga 


  Esopo (versão Ruth Rocha)

A cigarra passou o verão cantando, enquanto a formiga juntava seus grãos.

Quando chegou o inverno, a cigarra veio à casa da formiga para pedir que lhe desse o que comer.

A formiga então perguntou a ela:
— E o que é que você fez durante todo o verão?
— Durante o verão eu cantei — disse a cigarra.
E a formiga respondeu:— Muito bem, pois agora dance!

“MORAL DA HISTÓRIA: Trabalhemos para nos livrarmos do suplício da cigarra, e não aturarmos a zombaria das formigas.”

– Esopo, em “Fábulas de Esopo”. [tradução Ruth Rocha]. São Paulo: Salamandra, 2010.


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La Fontaine  (versão Bocage*)


Tendo a cigarra em cantigas
Folgado todo o Verão
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.

Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.

Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brilho,
Algum grão com que manter-se
Té voltar o aceso Estio.

«Amiga, diz a cigarra,
Prometo, à fé d’animal,
Pagar-vos antes d’Agosto
Os juros e o principal.»

A formiga nunca empresta,
Nunca dá, por isso junta.
«No Verão em que lidavas?»
À pedinte ela pergunta.

Responde a outra: «Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora.»
«Oh! bravo!», torna a formiga.
– Cantavas? Pois dança agora!»

“LIÇÃO DE VIDA: Os que não pensam no dia de amanhã, pagam sempre um alto preço por sua imprevidência.”

– La Fontaine em “Fábulas de La Fontaine”. 
[tradução Bocage, Rio de Janeiro: Editora Brasil- América, 1985.

*Bocage
Manuel Maria de Barbosa l’Hedois du Bocage (Setúbal, 15 de Setembro de 1765 — Lisboa, 21 de Dezembro de 1805), Poeta português, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano. Árcade e pré-romântico, sonetista notável, um dos precursores da modernidade em seu país.


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– Monteiro Lobato

Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé dum formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.

Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos, arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas.

A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.

Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro.

Bateu – tique, tique, tique…

Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.

– Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.

– Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu…

A formiga olhou-a de alto a baixo.

– E o que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?

A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse.

– Eu cantava, bem sabe…

– Ah! … exclamou a formiga recordando-se. Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?

– Isso mesmo, era eu…

– Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho.

Dizíamos sempre: que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora! Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.

A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.

“Moral da História: Os artistas: poetas, pintores, músicos, são as cigarras da humanidade.”


– Monteiro Lobato, em “Fábulas”. São Paulo: Brasiliense, 1995.


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Sem barra – (versão poética de José Paulo Paes)

Enquanto a formiga
Carrega a comida
Para o formigueiro,
A cigarra canta,
Canta o dia inteiro.

A formiga é só trabalho.
A cigarra é só cantiga.

Mas sem a cantiga
da cigarra
que distrai da fadiga,
seria uma barra
o trabalho da formiga.


– José Paulo Paes, em “Poemas para brincar”. São Paulo: Ática, 1989.