Eu também já fui
brasileiro
Moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos
bares
que o nacionalismo é uma
virtude
Mas há uma hora em que os
bares se fecham
e todas as virtudes se negam.
Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos
celestes.
Mas eram tantas, o céu
tamanho,
minha poesia perturbou-se.
Eu também já tive meu
ritmo.
Fazia isto, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu
ritmo.
Mas acabei confundindo
tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irónico mais não,
não tenho ritmo mais não.
De Alguma poesia (1930)
Carlos Drummond de Andrade
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