O termo
"terceira via" tem sido associado a Marina pela própria, além de
imprensa e analistas. Entretanto, a expressão reflete um conceito baseado na
reconciliação da direita e esquerda, com políticas sociais progressistas e
ações econômicas ortodoxas. Teve como representantes recentes o ex-primeiro-ministro
britânico Tony Blair, trabalhista, e o ex-presidente americano Bill Clinton,
democrata.
Especialistas veem
Marina mais como uma "terceira opção" à polarização PT x PSDB que tem
dominado o pleito nacional há 20 anos. Bandeira que sua campanha deverá
reforçar ao enfrentar a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves
(PSDB) na eleição presidencial.
"A terceira
via implica algum compromisso entre a socialdemocracia e o neoliberalismo, uma
nova tentativa de achar resultados positivos sociais junto com parcerias com o
setor privado",
"Realmente
não está claro se Marina representa isso. Acho que por enquanto a terceira via
dela representa uma opção diferente com um conteúdo indefinido."
A ex-senadora e
ex-ministra do Meio Ambiente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi
oficializada nesta quarta-feira 21, como candidata do PSB à Presidência,
substituindo o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em um acidente
aéreo há uma semana.
Ruptura
Desde 2010,
quando foi candidata ao Palácio do Planalto pelo Partido Verde - finalizando no
terceiro lugar com cerca de 20 milhões de votos, uma surpresa -, Marina já se
colocava como alternativa à política convencional. Criticava o
"fisiologismo" da "velha política" e defendia uma
"ruptura".
Quando tentou
sair candidata investindo no lançamento do seu próprio partido, a Rede
Sustentabilidade, a ex-senadora disse não ser "nem de esquerda, nem de
direita".
Com o fracasso no
lançamento da legenda, surpreendeu o cenário político se aliando a Campos como
candidata a vice, numa plataforma com pontos favoráveis a investidores. Aliados
de ambos relataram choques de ideais entre os grupos.
"Ela como
pessoa, sem dúvida, é uma terceira via. Agora, uma sustentação conceitual,
programática, de planos de governo, é uma coisa que ainda estamos esperando
para ver".
Ambientalista de
posições firmes, a candidata é vista como defensora do desenvolvimento
econômico com proteção ambiental. O desafio será vender esta postura como
possível.
"O Brasil
pode ter políticas públicas sustentáveis mas também orientadas ao crescimento
forte. Este pode ser um argumento muito interessante."
'Marinês'
Marina é vista
por muitos analistas como herdeira dos votos de eleitores descontentes com o
atual cenário político. Mas muitos creem que os ideais que ela representa ainda
são desconhecidos, gerando incertezas.
Uma pista do que
pensa a futura candidata é dada por aqueles que a cercam, nomes "muito
competentes" assessorando Marina, como os economistas André Lara Resende e
Eduardo Gianetti da Fonseca.
"Mas tem
gente também que tem, do ponto de vista ambientalista, uma visão tão
preservacionista dos recursos naturais que eu acho que é um obstáculo ao tipo de
velocidade e proporção de crescimento econômico que o Brasil precisa".
Os discursos de
Marina passaram a chamar atenção na reta final da campanha de 2010, com o
crescimento dela nas pesquisas. Muitos se depararam com palavras difíceis, com
poucos conceitos ou projetos concretos.
"Não é bem
claro, por exemplo, as políticas públicas que ela quer adotar. As pessoas a
associam com o meio ambiente, mas ela também é associada a políticas mais
conservadoras em temas sociais, por exemplo, contra casamento gay, aborto".
Agora, alçada ao
centro da disputa, com exposição maior na mídia e forçada a participar de
debates com os outros candidatos – que não deverão poupá-la de ataques e
críticas – a atenção será ainda maior.
"Vai haver,
de fato, maior atenção ao que ela diz. É óbvio que para ela subir mais, e se
manter lá em cima nas pesquisas, não é uma coisa banal, porque as contradições
vão começar a aparecer".
"Tanto Dilma
como Aécio já estão sofrendo este tipo de fiscalização há muito tempo já. A
Marina agora vai sofrer isso".