Terminei de fazer uma oração e de conversar
com minha amiga que faleceu e foi sepultada sábado. Estas coisas que o homem faz
pensando que faz por está completamente convicto de estar fazendo a coisa
certa:
“Queria que você pudesse ver o que acaba de proporcionar
à nossa velha e pobre sociedade - Como você mesma dizia - Todas aquelas
criticas feitas a você a respeito de suas atitudes que tanto te chateavam sem
que você se permitisse um só ato de repúdio transformou-se inexplicavelmente em
exaltados gestos de elogios e citações de responsabilidades pela forma como
você se mostrava ser uma ótima mãe ótima filha ótima irmã ótima amiga
carinhosa, responsável...”
-
Dizia sem que nenhum sinal de que ela estivesse ouvindo fosse percebido por mim
Naquele momento me achando um iluminado por
ser capaz de me comunicar com uma amiga que se foi mesmo que na verdade
conversava comigo mesmo fui invadido por lembranças de nossa última conversa
quando caminhávamos pela calçada rumo ao trabalho naquela quarta-feira:
Eu – Oi - tudo bem
Amiga - Tudo
E – Vamos trabalhar um pouco
A – É - fazer o que né
E – E lá tudo tranquilo
A – Tá - Não me espanto com mais nada - Não espero mais nada daquilo ali
- Faço o que tenho que fazer e tá bom
E – Estou me cansando
A – Não adianta não sô - Melhor é deixar eles - A gente faz a nossa
parte e deixa pra lá
E - É meio falso
A – É - é falso - mas fazer o que né
E - Eu vou pra cá - té mais
A - Até
Pensando bem hoje o que ficou e bastante
forte de toda a nossa última conversa foi a palavra Falso - Com certeza uma palavra
que não faz lembrar em nada a minha amiga