Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

18 de nov. de 2016

Alguém já ouviu falar dos Adulteens?



São marmanjos(as) que acreditam que não envelheceram. Que trocaram o pijama listrado pela hidroginástica. Nunca leram Philip Roth. Eles apostam todas as fichas num treco chamado “qualidade de vida” e querem prolongar essa mesma vida (de merda) até os 150 anos.

A ciência - que se diz evoluída - trabalha em função dessa perspectiva. Vejam só. Em vez de diminuir o tempo de sofrimento do ser humano sobre a face da terra, os cientistas esticam as decrepitudes dos adulteens até a última granola de morfina.

Não dá para entender: essa gente respirou o mesmo ar de Tarso de Castro, Vinicius de Moraes, Fausto Wollf e tantos outros. Tiveram acesso a boa informação e podiam fumar e beber tranquilamente sem que ninguém lhes enchesse o saco. Não seria o caso de dizer que traíram o tempo em que viveram?

No lugar da rabujice, o anal bleaching, as saladinhas orgânicas.

Vivemos uma época redundante e excêntrica. Você anda pelas ruas e se depara com essa “gente do bem" atrás de seus poodles ... catar cocô de mendigo ninguém quer, né?

Tive notícia de um “ateliê de tatoos” especializado na "melhor idade" que – pasmem - funciona no mesmo endereço de uma “clínica de reposição hormonal”. Não é brincadeira, não.

Tem mais. Depois de "malhar", as madames e os "madamos" vão tomar cafezinho em livraria. Para os Adulteens, Maitê Proença e Adriana Calcanhoto são intelectuais de alto calibre. São eles que batem cartão na Flip a fim de tietar escritores que nunca leram, os mesmos que adquirem cuecas sujas de traficante colombiano em leilão do Jockey Club ( pré-adolescentes com mais de trinta e cinco anos decerto lembram desse episódio).

Enquanto a economia ia bem eram de esquerda, hoje acompanham os netos nas passeatas e pedem a volta de Gengis Khan. 

Assim – fingindo o que não são apenas para serem iguais às farsas que representam – desfilam suas pelancas recauchutadas e roupas de grife nos coquetéis da ocasião e, com o mesmo empenho que protestam nas ruas, organizam mutirões para aliviar o sofrimento dos fodidos e mal pagos.

Não teve enchente? O que não falta é causa pra defender, basta trocar os desabrigados de Niterói pelos degolados da Síria ou pelos monges indefesos do Tibete... e por aí vai.

As madames e madamos são capazes de fazer qualquer negócio para interagir, menos dar um copo d'água pro mendigo que ousou defecar na calçada onde desfilam seus poodles.

É esse tipo de gente que sonega imposto de renda, e torce para o Elton John voltar ao Brasil. Se Jesus não volta, Elton John voltará - retificado!

Penso que a conjunção disso tudo - e mais a pizza de chocolate com borda recheada – aponta para a evidência incontestável de que o ser humano está cada vez ... eu não diria cada vez mais “Teen” ... digamos, cada vez mais asshole. 
 

Por Marcelo Mirisola

NEM FOI CULPA MINHA

 
  Tudo já era noite e o dia indo, já tão distante. A cidade, iluminada meio a uma névoa e o cristo brilhando como uma estrela. Brilhava e eu olhava, com o pensamento distante buscando lugares tão cheios de esperanças, mas que não se pode chegar. Lá do morro da colina, que já subimos tantas vezes, nos cuidando, e hoje só, olhando lá de cima vendo ali o Tupinambás e lá o Paraibuna. Que coisa bonita de olhar! Mas, fome é um troço danado que dá em qualquer lugar. Ali, eu me confundia. Dor e fome. Vou contar só pra relaxar: - A Lanchonete do outro lado da rua me parecia coisa de ontem, bem recente, pois ainda não tinha visto. Uma novidade que eu não soube evitar. Uma latinha e uma empada, e era a última, eu tinha que pegar. Um copo, latinha, empada e mesas com cadeiras vazias, um convite que também não pude evitar. Uma televisão, ligada, mostrava o Ratinho , de frente, não pude ficar. Um jornal vermelho, encima de uma mesa me atraiu. Pequei e li. Achei tão raro, que brincando, zoando, fotografei e hoje estou publicando. Uma capa tão original e nem foi culpa minha.


Marajá, Saramago, réveillon equivocado - Por AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA




Queria fazer duas mil bibliotecas novas
17.12.1995
Semana desagradável: o Ministério do Bresser divulga que sou um dos “marajás”[1] da República. Se fosse piada, não teria graça. Um desatento listou funcionários que ganhariam mais do que o presidente da República. Surrealismo puro: primeiro é mentira. E para o cúmulo do ridículo, estou entre os seguintes “marajás” listados pela imprensa: João Cabral de Mello Neto, Darcy Ribeiro, Heloisa Buarque. Mandei um fax ao Bresser e à Casa Civil. No dia seguinte, ele se desculpou pelos jornais. Mas é um dano irreparável para uma leitura apressada dos fatos. O que pensar das notícias que saem nos jornais? Fiz uma crônica a respeito: Eu, Marajá. Mando para dúzias de jornais além de O Globo. Roberto da Matta, indignado com a lista, dá o apoio e faz violento artigo no Jornal da Tarde — Da lista de Schindler à lista do Affonso.
 
01.01.1996
Fomos à casa de Baena Soares na Avenida Atlântica. Um equívoco. Tônia Carrero me deu o endereço do Roberto Dávila equivocado. E acabei noutro endereço, noutra festa.
 Vista excelente para a praia. Lá o Bambino (Sebastião do Rego Barros), Tite (Cristina), Saraiva Guerreiro, Luís Felipe Lampreia e Ligia Marina.
 Entramos no réveillon errado. Nos desculpamos, já era tarde. Ainda bem que eram todos amigos… Vou fazer uma crônica sobre essas coisas engraçadas e mandar uma carta ao Baena, que conheço[2].
 
30.01.1996
Depois de cinco anos, consegui que o Prêmio Camões fosse entregue em Brasília, no Palácio. Não sei quantas vezes fui ao Itamaraty, ao Palácio, ao MinC, às embaixadas falar da necessidade de se fazer isso. Agora deu certo. Saramago e Pilar felicíssimos. Pedi a ele o discurso autografado para a seção de Obras Raras da BN. Jantamos com ele, no Veccia Cuccina.
 Conferência de Saramago no auditório da embaixada de Portugal em Brasília, cheíssima. Ele falando, contando sobre sua peça, sobre Camões sobre seus textos transformados em ópera. Um escritor de sucesso. Que começou aos 53 anos, quando perdeu o emprego no Diário de Notícias.
 Pilar é bonita e inteligente. O jantar terminou com eles cantando a Internacional em espanhol, Saramago com a letra de Portugal; Zélia e Jorge, na letra brasileira. Comunistas. Recordar é viver. Mas ali comentávamos esse hino. Havia um toque de saudosismo e deboche. Mudam-se os tempos.
 
14.02.1996
Nesses dias, Marina no terraço diz às 17 horas: “Hoje, 3 de fevereiro de 1996, Affonso nunca mais terá 58 anos nem verá jamais essa tarde”. Referia-se à FBN que me devora. Deixou um bilhete com algo sobre isso escrito. E com razão. Eu vou me cansando de estar ligadíssimo, lutar como um leão, a ponto de as pessoas do meu próprio gabinete acharem que deveria trabalhar menos.
Queria fazer duas mil bibliotecas novas, informatizar a instituição, construir o Anexo, etc.
 Às vezes, me desanimo. Lembro frase do Carlos Nascimento Silva ( meu ex-aluno e romancista): “Você fica aí deixando sua literatura de lado, depois vem outro e desfaz tudo o que você fez na BN”.
 Olho para os três anos que faltam como um peso nos ombros. E não sei se esse o governo vai realizar o que planejei. A conversa é sempre a mesma: falta de dinheiro, equilíbrio do orçamento.
 
24.08.1996 até dia 31
Fui demitido da FBN por Weffort em 12.7.1996. Tinha ido para uma reunião em Brasília no MinC, com Tomás, diretor de administração da FBN. Antes houve uma conversa com a assessora do Weffort (Dely), que já sabia da demissão, mas tratou comigo das coisas burocráticas normalmente. Weffort me chama ao gabinete antes da reunião programada: aquela conversa torta, de que precisava do meu cargo. Queria que eu ficasse figurativamente mais um tempo enquanto ele arrumava as coisas. Disse-lhe: “Faço questão que me demita para que isso entre para o seu currículo”.
 E na conversa, evidentemente desagradável, lhe disse: “Você não sabe da cagada que está aprontando, os planos que serão interrompidos nacional e internacionalmente”.
 Ele ainda falou aquela coisa imbecil que se fala nessas ocasiões: “Espero poder encontrá-lo futuramente noutra situação”.
 
 

14 de nov. de 2016

Mangabeira Unger

 
 
"O Brasil é o país do mundo mais parecido
 
com os Estados Unidos. A tragédia dos
 
dois é negar instrumentos e oportunidades
 
à maioria, que é cheia de energia,
 
mas sem condições de
transformá-la em ação fecunda."
Roberto Mangabeira Unger (Rio de Janeiro, 24 de março de 1947) é um filósofo e teórico social brasileiro. Por duas vezes foi ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República do Brasil.
O professor, que deu aula para o atual presidente americano, Barack Obama, em 1971, tornou-se um dos mais jovens professores da Universidade Harvard.