Queria fazer duas mil
bibliotecas novas
17.12.1995
Semana desagradável: o
Ministério do Bresser divulga que sou um dos “marajás”[1] da República. Se
fosse piada, não teria graça. Um desatento listou funcionários que ganhariam
mais do que o presidente da República. Surrealismo puro: primeiro é mentira. E para
o cúmulo do ridículo, estou entre os seguintes “marajás” listados pela
imprensa: João Cabral de Mello Neto, Darcy Ribeiro, Heloisa Buarque. Mandei um
fax ao Bresser e à Casa Civil. No dia seguinte, ele se desculpou pelos jornais.
Mas é um dano irreparável para uma leitura apressada dos fatos. O que pensar
das notícias que saem nos jornais? Fiz uma crônica a respeito: Eu, Marajá.
Mando para dúzias de jornais além de O Globo. Roberto da Matta, indignado com a
lista, dá o apoio e faz violento artigo no Jornal da Tarde — Da lista de
Schindler à lista do Affonso.
01.01.1996
Fomos à casa de Baena Soares na
Avenida Atlântica. Um equívoco. Tônia Carrero me deu o endereço do Roberto
Dávila equivocado. E acabei noutro endereço, noutra festa.
30.01.1996
Depois de cinco anos, consegui
que o Prêmio Camões fosse entregue em Brasília, no Palácio. Não sei quantas
vezes fui ao Itamaraty, ao Palácio, ao MinC, às embaixadas falar da necessidade
de se fazer isso. Agora deu certo. Saramago e Pilar felicíssimos. Pedi a ele o
discurso autografado para a seção de Obras Raras da BN. Jantamos com ele, no
Veccia Cuccina.
14.02.1996
Nesses dias, Marina no terraço
diz às 17 horas: “Hoje, 3 de fevereiro de 1996, Affonso nunca mais terá 58 anos
nem verá jamais essa tarde”. Referia-se à FBN que me devora. Deixou um bilhete
com algo sobre isso escrito. E com razão. Eu vou me cansando de estar
ligadíssimo, lutar como um leão, a ponto de as pessoas do meu próprio gabinete
acharem que deveria trabalhar menos.
Queria fazer duas mil
bibliotecas novas, informatizar a instituição, construir o Anexo, etc.
24.08.1996 até dia 31
Fui demitido da FBN por Weffort
em 12.7.1996. Tinha ido para uma reunião em Brasília no MinC, com Tomás,
diretor de administração da FBN. Antes houve uma conversa com a assessora do
Weffort (Dely), que já sabia da demissão, mas tratou comigo das coisas burocráticas
normalmente. Weffort me chama ao gabinete antes da reunião programada: aquela
conversa torta, de que precisava do meu cargo. Queria que eu ficasse
figurativamente mais um tempo enquanto ele arrumava as coisas. Disse-lhe: “Faço
questão que me demita para que isso entre para o seu currículo”.
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