No site da revista Carta Capital encontrei uma matéria que mostra
bem a cara deste Brasil que a elite abastada de nossa sociedade, os políticos corruptos
e a mídia do jabá tentam construir.
Em Curitiba, uma professora foi perseguida
por
pais de alunos por se posicionar
contra o impeachment.
Curitiba, sede da operacao-lava-jato , vê-se às voltas com um episódio de
macarthismo verde amarelo. Uma professora de História dos Movimentos Sociais do
Século XX e História da América Latina, que prefere ter o nome mantido no
anonimato por temer pela segurança de sua família, foi vilipendiada nas redes
sociais por um grupo fechado de mais de 800 pessoas, liderados por pais de
alunos do Colégio Medianeira, da capital paranaense.
Tudo começou
quando ela escreveu em sua página no Facebook que “hoje vi crianças numa
escola, vestindo preto e pedindo golpe. Desprezando a democracia e exalando
ódio (...) parece que não conseguimos escapar do que Marx profetizou (...) que
a história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa”. A reação foi
como um rastilho de pólvora.
Centenas de pais
de alunos cujos filhos manifestaram apoio “ao golpe” contra a presidenta Dilma
Rousseff entupiram as redes sociais chamando-a de "comunista descarada“. Pediam à direção do
colégio sua demissão alegando que “se minha filha aparecer em casa com alguma
ideia esquerdista vai dar confusão”.
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A professora usou uma imagem
do fascismo para ilustrar a
postagemem que criticou a
manifestação dos alunos
(Reprodução / Facebook)
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“[Caso] esses professores ‘dinossauros’
ultrapassados continuem a lecionar, vamos ter problemas!!!!’. Exaltados,
afirmavam que “se eu pegar algum texto comunista no caderno do meu filho eu vou
rasgar e devolver rasgado”.
Segundo a
assessoria de imprensa do colégio, a professora, que leciona há 10 anos na
instituição, sempre teve uma conduta exemplar. Pela natureza das disciplinas
ministradas, os temas debatidos em sala de aula incluíam questões políticas e
sociais como meio-ambiente, pobreza, comunismo, socialismo ou capitalismo, sem
que jamais tivessem aflorado qualquer radicalismo nos debate entre os alunos.
No entanto, dadas
as notícias veiculadas pela mídia nos últimos meses, questões como impeachment, corrupção e Operação Lava Jato
surgiram naturalmente no dia a dia dos adolescentes.
Por decisão dos
alunos, sob a orientação da escola, foi proposto um debate sobre o tema em dias
alternados. Os grupos, divididos em dois, apresentariam no pátio do colégio
seus pontos de vista sobre cada situação.
Os alunos
contrários ao governo da presidenta Dilma vieram trajando roupas pretas; os
demais com o uniforme tradicional da escola onde predomina a cor branca. Não
houve agressões ou brigas. Tudo transcorreu dentro da normalidade esperada. A
gota d’água deu-se com o massacre, pelas redes sociais, à opinião pessoal da
professora em relação aos defensores “do golpe”.
Em nota oficial, a
direção do Medianeira afirmou que a instituição condena “toda e
qualquer incitação ao ódio, difamação e injúria, violência física ou verbal
(...) e reitera o papel da instituição como mediadora na interação entre
alunos, educadores e famílias no afã de edificar uma sociedade mais justa
e igualitária”.
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Alunos protestam em favor da professora
((Reprodução / Facebook)
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Reitera o colégio que repudia a
coação e hostilidade que possam vitimizar os educadores da instituição.
“Reafirmamos nosso compromisso com a liberdade de expressão e a livre
manifestação do pensamento os quais fazem parte do modus operandi de uma
instituição da Rede Jesuíta de Educação”.
Apesar de formalizado o pedido
de demissão, a professora ainda faz parte do quadro de empregados da escola. Os
alunos têm promovido uma série de manifestações pedindo seu retorno, tanto na
escola como pelas redes sociais.
Pais lançaram um
manifesto pela internet de apoio ao colégio, afirmando que “apoiamos a
continuidade de seu projeto político-pedagógico, que é pautado, entre outros
princípios, na busca do diálogo, da livre expressão de ideias, do respeito aos
direitos humanos e do estado democrático”.
Ainda segundo a
assessoria de imprensa do colégio, a expectativa da diretoria é que "ela
retorne à sala de aula para dar continuidade aquilo que melhor sabe fazer:
ensinar e instruir os jovens e adolescentes com lições de conhecimento e
democracia."