É este o soberbo espetáculo que se
depara, numa bela noite sem nuvens e sem luar, a um observador português, que contemple
o hemisfério boreal. Mas a Via Láctea, cada vez mais luminosa e bela, prossegue
a sua jornada triunfal pelo outro hemisfério, através das constelações do
Centauro, Cruz do Sul e Carena, Velas e Popa do Navio, depois do que diminui de
esplendo nas regiões do Cão Maior, Orion, Touro e Cocheiro, para ressurgir em
Perseu, ponto de partida da nossa volta à abobada celeste.
Quer dizer: a Via Láctea da uma
volta completa ao céu, ao céu que circunda todo o observatório terrestre onde
nos encontramos, e nós, observadores, ocupamos um ponto, num insignificante
ponto dessa maravilhosa cintura de globos incandescentes.
A Via Láctea é particularmente
brilhante na metade do percurso, entre o Navio e o Cisne. O seu brilho decresce
na outra metade, entre o Cisne e o Navio. A largura da Via Láctea, de acordo
com as medições fotométricas do seu brilho aparente, é muito variável: assume
grandes proporções no escorpião e no Sagitário, onde chega a quarenta graus;
decresce consideravelmente de importância no Cacheiro e no Touro.
À vista desarmada, a Via Láctea não permite
que se suspeite dos verdadeiros tesouros que encerra. Se um astrônomo caldeu ou
egípcio, dotado de uma acuidade visual sobre humana, tivesse surpreendido as multidões
de estrelas que estão para alem do alcance normal da vista, bem poderia
afalfar-se a dar notícia delas aos seus conterrâneos: ninguém, por certo, o
tomaria a sério!
Mercê de um telescópio, a poalha
luminosa de Milton resolve em miríades de estrelas. As fotografias de longa
exposição, como as que reproduzimos, dão uma idéia nítida desses longínquos
formigueiros de astros, que parecem estreitamente aglutinados em pequenos espaços,
mas que guardam, entre si, distâncias prodigiosas. É a acumulação de milhares
de milhares de estrelas, muito distantes da Terra para surgirem individualmente
aos nossos olhos, que nos dá a idéia da cintura luminosa a envolver o céu.
Do livro “Historia da Criação dos Mundos” – volume II –
Lisboa – 1955; na pagina 19 (de 1955), tem uma fotografia de Kerolyr que mostra
uma região sombria da Via Láctea, onde se destacam pequenas nebulosidades
brilhantes, a maior das quais é M 78 de Orin.