Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

22 de ago. de 2014

"TERCEIRA VIA" - A candidata à Presidência da República, Marina Silva entra na corrida oficial.


O termo "terceira via" tem sido associado a Marina pela própria, além de imprensa e analistas. Entretanto, a expressão reflete um conceito baseado na reconciliação da direita e esquerda, com políticas sociais progressistas e ações econômicas ortodoxas. Teve como representantes recentes o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, trabalhista, e o ex-presidente americano Bill Clinton, democrata.

Especialistas veem Marina mais como uma "terceira opção" à polarização PT x PSDB que tem dominado o pleito nacional há 20 anos. Bandeira que sua campanha deverá reforçar ao enfrentar a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) na eleição presidencial.

"A terceira via implica algum compromisso entre a socialdemocracia e o neoliberalismo, uma nova tentativa de achar resultados positivos sociais junto com parcerias com o setor privado",

"Realmente não está claro se Marina representa isso. Acho que por enquanto a terceira via dela representa uma opção diferente com um conteúdo indefinido."

A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi oficializada nesta quarta-feira 21, como candidata do PSB à Presidência, substituindo o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo há uma semana.

Ruptura

Desde 2010, quando foi candidata ao Palácio do Planalto pelo Partido Verde - finalizando no terceiro lugar com cerca de 20 milhões de votos, uma surpresa -, Marina já se colocava como alternativa à política convencional. Criticava o "fisiologismo" da "velha política" e defendia uma "ruptura".

Quando tentou sair candidata investindo no lançamento do seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade, a ex-senadora disse não ser "nem de esquerda, nem de direita".

Com o fracasso no lançamento da legenda, surpreendeu o cenário político se aliando a Campos como candidata a vice, numa plataforma com pontos favoráveis a investidores. Aliados de ambos relataram choques de ideais entre os grupos.

"Ela como pessoa, sem dúvida, é uma terceira via. Agora, uma sustentação conceitual, programática, de planos de governo, é uma coisa que ainda estamos esperando para ver".

Ambientalista de posições firmes, a candidata é vista como defensora do desenvolvimento econômico com proteção ambiental. O desafio será vender esta postura como possível.

"O Brasil pode ter políticas públicas sustentáveis mas também orientadas ao crescimento forte. Este pode ser um argumento muito interessante."
 

'Marinês'

Marina é vista por muitos analistas como herdeira dos votos de eleitores descontentes com o atual cenário político. Mas muitos creem que os ideais que ela representa ainda são desconhecidos, gerando incertezas.

Uma pista do que pensa a futura candidata é dada por aqueles que a cercam, nomes "muito competentes" assessorando Marina, como os economistas André Lara Resende e Eduardo Gianetti da Fonseca.

"Mas tem gente também que tem, do ponto de vista ambientalista, uma visão tão preservacionista dos recursos naturais que eu acho que é um obstáculo ao tipo de velocidade e proporção de crescimento econômico que o Brasil precisa".

Os discursos de Marina passaram a chamar atenção na reta final da campanha de 2010, com o crescimento dela nas pesquisas. Muitos se depararam com palavras difíceis, com poucos conceitos ou projetos concretos.

"Não é bem claro, por exemplo, as políticas públicas que ela quer adotar. As pessoas a associam com o meio ambiente, mas ela também é associada a políticas mais conservadoras em temas sociais, por exemplo, contra casamento gay, aborto".

Agora, alçada ao centro da disputa, com exposição maior na mídia e forçada a participar de debates com os outros candidatos – que não deverão poupá-la de ataques e críticas – a atenção será ainda maior.

"Vai haver, de fato, maior atenção ao que ela diz. É óbvio que para ela subir mais, e se manter lá em cima nas pesquisas, não é uma coisa banal, porque as contradições vão começar a aparecer".

"Tanto Dilma como Aécio já estão sofrendo este tipo de fiscalização há muito tempo já. A Marina agora vai sofrer isso".

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