Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

10 de ago. de 2017

5 razões para votar nulo

Estava conversando com o cara e falávamos sobre o voto obrigatório no Brasil. Sensação muito estranha é essa de votar pela democracia sabendo que essa mesma democracia já te impõem. Na urna eletrônica tem uma opção sobre a qual não se ouve falar muito: “a tecla branca”. Ela está ali para ser usada quando o eleitor não consegue confiar o suficiente em nenhum dos candidatos apresentados. Ainda não usei a tal tecla. Insisto em votar em candidatos que nunca vão representar o que defendo. Faço assim unicamente para não ficar sem votar. Minha cabeça está cheia de: “votar é exercer sua cidadania”. Esta ideia de ser cidadão sempre me fascinou, estou é cansado de ser um cidadão do NADA. De visita há um blog que sempre leio, deixo aqui o .Link,, encontrei esse texto que agora posto pra você.  Pode ser uma solução imediata, mas pode levar a uma reflexão.







1 - Uma questão de consciência

Se em minha consciência o sistema político brasileiro é altamente propenso à corrupção, e se a realidade me mostra que a simples substituição dos atores não muda o enredo da peça, neste caso eu deveria me abster de votar. Ora, que tipo de consciência é a minha que fica indignada com a corrupção, mas que não se constrange em votar em candidatos a corruptos? Ninguém que preserva em si um pouco de dignidade moral deveria votar num potencial ladrão. Reclamos da ladroagem e nos revoltamos com a roubalheira na política, mas ignoramos, sem o menor senso do pudor, que eles estão lá exatamente porque os elegemos.

Dirá então alguém: Mas nem todo político é ladrão!!!

Sim, é verdade!  

Certamente deve haver um ou outro político que não se deixou corromper e que ainda não entregou sua alma a empreiteiros gananciosos; todavia, pela própria forma como se organiza a política vigente, tal homem público apenas serve de álibi para a manutenção desta estrutura podre e devassa. É bem verdade que em todo ofício ou ocupação há maus profissionais, contudo, esses são sempre a exceção; na política, ao contrário, a exceção são justamente os bons, os honestos, os que de fato fazem da política o que ela deveria ser, ou seja: a ciência da boa organização, direção e administração de nações ou Estados. No Brasil, o sentimento de impunidade aliado aos meios de acesso à corrupção, transforma potencialmente um cidadão honesto num político corrupto.

Dirá também alguém: Mas o voto nulo vai resolver o problema?

Não! O voto nulo tem esta finalidade.

Quando votamos nulo demonstramos com clareza que não estamos satisfeitos com a maneira atual de se fazer política no Brasil, e que exigimos mudanças mais profundas, com mais rigor à impunidade e mais controle às ações dos políticos. O voto nulo é uma das maneiras de o cidadão manifestar sua repulsa, não à política em si, mas ao modo como ele é exercida em nosso país.  É, portanto, uma forma de ação política.


2 - Uma forma de pressão

No âmbito do consumo, o boicote já se mostrou altamente eficaz, levando muitos comerciantes e indústrias a mudarem suas condutas e melhorarem seus produtos e serviços. Quando votamos nulo, anunciamos em alto e bom som que o “produto” político brasileiro que nos é oferecido está em péssimas condições e que precisa ser melhorado. Não podemos nos conformar com esta estrutura política de conveniências, em que os interesses pessoais e partidários de políticos permanecem acima dos interesses da coletividade.  Não podemos tolerar uma estrutura em que as leis que beneficiam os agentes públicos sejam feitas e aprovadas por eles mesmos, sem qualquer consulta popular. Um exemplo emblemático refere-se ao famigerado “Foro Privilegiado”, inserido na Constituição Republicana do remoto ano de 1891 e ampliado pelos políticos na última Constituição de 1988. 


3 - Uma exigência ao Voto Facultativo

Nas últimas eleições uma campanha do TSE ostentava para si o pomposo slogan de "O Tribunal da Democracia". Ora, que tipo de Democracia é essa que obriga um cidadão a deixar sua casa, contra sua própria vontade, para votar? A incoerência e de uma proporção tão absurda que transforma o sentido de "democracia" exatamente no seu oposto, ou seja: "ditadura". Enquanto o voto facultativo é preceito essencial nos países desenvolvidos, o voto obrigatório é característica típica de países autoritários. O voto obrigatório, no Brasil, é um dos muitos resquícios de leis restritivas que ainda prevalecem. É o que sobrou do velho sistema coronelista, sob uma nova roupagem. Antes tínhamos o voto de cabresto, hoje temos o voto obrigatório. Na prática, portanto, o voto obrigatório, que teve a chancela do ditador Getúlio Vargas, nada mais é do que uma forma de controle das massas, interessante apenas a políticos que, a depender das consciências livres e pensantes, jamais alçariam ao poder. 


4 - Uma demonstração de desprezo

É comum entre os que se opõem ao voto nulo argumentarem que votando assim a pessoa estará "desperdiçando seu voto", como se o simples ato de votar fosse em si mesmo uma ação proveitosa ou benéfica para a sociedade. Ora, qual tem sido, afinal, o resultado prático dos nossos votos ao longo de toda essa democracia? Mesmo supondo que o candidato escolhido seja aparentemente honesto, ainda assim e em termos funcionais, o que resultou disso para a melhoria da ética na nossa política? Nada! E por uma razão basilar e própria da cultura política brasileira: o que interessa para o candidato é tirar vantagens pessoais e políticas da sua candidatura. Da forma como as leis funcionam para os políticos, pelo o modo como eles são punidos e pela facilidade de se deixarem corromper, mesmo o “honesto” não costuma resistir ao primeiro “olhar bondoso” de um empreiteiro. Sim, pois: o sistema político brasileiro atual é bem semelhante ao nosso sistema carcerário: botamos um ladrão de galinha lá, e ele sairá um perito em roubo a banco. Quando votamos nulo mostramos o nosso desprezo pela forma de se fazer política no Brasil e, consequentemente, exigimos mudanças claras no modo de se punir aqueles que cospem nas caras de seus próprios eleitores, os quais não honram a função que ocupam, nem estão preocupados com o desenvolvimento do país.


5 - Uma opção e nada mais

Além de qualquer argumento contra ou a favor, o voto nulo pode ser apenas uma opção de quem não se interessa por política, seja por alienação, seja por indiferença, seja enfim, pela simples liberdade de não votar, sem qualquer razão ou motivo. É assim que funciona uma verdadeira Democracia.

É isso!

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Por: Iba Mendes

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