A humanidade já superou os limites do Planeta. Os níveis de produção e consumo dos seres humanos estão sugando e degradando de forma insustentável os recursos da Terra e as riquezas ambientais transformadas em artigos – essenciais ou de luxo – são descartadas de volta na forma de esgoto, lixo e resíduos sólidos.
A ideia
do desenvolvimento sustentável virou uma ficção tecnocrática, como mostrou
Francisco Caporal, no artigo: “Adeus ao desenvolvimento sustentável”. Os
governos e as empresas usam o termo “desenvolvimento sustentável” para vender
uma falsa ideia de que é possível manter o ritmo atual do modelo de produção e
consumo de energia, bens e serviços. Na prática, o máximo que tem sido feito é
uma maquiagem verde (Greenwashing) para fortalecer o autoengano de que as
futuras gerações poderão continuar mantendo o atual padrão de degradação da
natureza e os vícios do antropocentrismo e do egocentrismo.
O
crescimento econômico está tornando inviável a sobrevivência do meio ambiente e
da biodiversidade, pois as fronteiras planetárias foram ultrapassadas. A
palestra de Margarita Mediavilla: “Retos globales ante los límites al
crecimiento” faz uma revisão os limites do crescimento econômico e os desafios
do crescimento
zero. O “Grupo de Energía y Dinámica de Sistemas da Universidad de Valladolid”
tem elaborado diversas análises mostrando a necessidade de discussão dos
parâmetros do DECRESCIMENTO.
Para
contribuir com este debate, são apresentados abaixo dez pontos para mudar a
ordem econômica internacional e estabelecer um caminho viável para a
convivência pacífica entre os seres humanos, as demais espécies e os
ecossistemas. Trata-se de uma contribuição sintética que se opõe à ideia
simplista do desenvolvimento econômico sustentado e sustentável e pode ser
definida como o DECÁLOGO DA SUSTENTABILIDADE ECOCÊNTRICA:
1) reduzir substancialmente os gastos militares e os instrumentos de violência e guerra (2,5% do do PIB mundial), garantindo a paz local, nacional, regional e mundial;
2)
investir em transporte coletivo e sobretaxar os veículos individuais, garantir
a mobilidade urbana, assim como criar cidades sustentáveis em todos os aspectos
da vida urbana, combatendo a especulação imobiliária, inclusive avançando com
os parques ecológicos, o cuidado dos rios e promovendo a agricultura urbana e
vertical;
3)
sobretaxar, de forma progressiva, o consumo conspícuo em todas as suas formas e
utilizar a ciência e a tecnologia para reduzir a degradação ambiental e
diminuir os impactos das atividades antrópicas;
4) Reduzir
bastante o uso de combustíveis fósseis nas próximas décadas, aumentar a
eficiência energética e fazer a transição para uma matriz energética renovável
e de baixo carbono;
5)
fazer a transição da economia materializada para uma economia mais desmaterializada,
com base no uso de bens intangíveis e imateriais e fortalecer a sociedade do
conhecimento e da cultura;
6)
Aumentar as áreas verdes (florestas e matas), limpar os rios, lagos e oceanos,
aumentar a biodiversidade, iniciar um processo de reselvagerização de
crescentes áreas do mundo, construir uma agricultura sustentável, mais
orgânica, com um uso menor de produtos químicos, além de incentivar uma dieta
vegetariana e defender os direitos dos animais e do Planeta Azul (Gaya,
Pachamama, etc.);
7)
Reduzir os impactos da exploração antrópica e avançar com o reaproveitamento do
esgoto, do lixo e dos resíduos sólidos, além da redução do desperdício em todas
as suas formas;
8)
Erradicar a fome e a pobreza extrema, reduzir as desigualdades sociais em todas
as suas dimensões e formas, garantir a solidariedade orgânica em termos
sociais, a solidariedade interpessoal e avançar com a luta contra o especismo e
o ecocídio;
9)
Garantir a governança global, a democracia, o fim da corrupção e a cooperação
nacional e internacional, avançando com os tratados multilaterais para evitar o
aquecimento global, impedir a exploração econômica do Ártico e da Antártica,
proteger os oceanos contra a degradação e a acidificação e garantir o direito
das águas e a liberdade dos rios;
10) Last
but not least, estabilizar o crescimento populacional mundial até 2050 e manter
uma Taxa de Fecundidade Total (TFT) abaixo do nível de reposição,
possibilitando o decrescimento demo-econômico no longo prazo.
Referências:
CAPORAL, Francisco Roberto. Adeus ao desenvolvimento sustentável, Instituo Carbono, São Paulo, 09/10/2013.
ALVES, JED. Sustentabilidade, Aquecimento Global e o Decrescimento Demo-Econômico. SCRIBD, 29/10/2013
MEDIAVILLA, Margarita. Retos globales ante los límites al crecimiento. Grupo de Energía y Dinámica de Sistemas – Universidad de Valladolid, 22 de septiembre de 2013
José Eustáquio Diniz Alves,
Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do
mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de
Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seuspontos de vista em caráter
pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
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