O modelo está
esgotado, mas a economia brasileira está longe do caos. A afirmação é de Luiz
Carlos Bresser Pereira, ex-ministro da Fazenda, da Administração Federal e
Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia. “Há uma sensação de fracasso no
campo da economia, mas caos é quando há hiperinflação. Estivemos perto disso,
por exemplo, no fim do governo Sarney”, disse, nesta segunda-feira (22), em
atividade do Ciclo de Debates Que Brasil é Este?, na capital paulista.
O economista contou
com a companhia de Leda Paulani (professora da Faculdade de Economia e
Administração da Universidade de São Paulo e ex-secretária Municipal de
Planejamento da cidade de São Paulo) e Guilherme Mello (professor do Instituto
de Economia da Unicamp e colaborador da Fundação Perseu Abramo). Ambos
concordam com Bresser Pereira que não há caos, mas os três têm visões
particulares sobre a derrocada que lançou o país à crise.
Falta de
investimento, excesso de responsabilidade fiscal e a 'armadilha macroeconômica'
da alta taxa de juros aliada ao crédito apreciado a longo prazo são alguns dos
fatores que explicam o péssimo momento, segundo Bresser Pereira. Para ele, a
regressão vivida pelo país aumenta a sensação de fracasso da política
econômica.
“É verdade que
milhões foram tirados da pobreza, mas falhamos na política econômica. “Deixar
de ser um país industrial para ser um país exportador de commodities é
condenar-se ao retrocesso”, decreta. “Em oito anos de Lula e dois de Dilma,
tudo foi relativamente bem. Por que, então, explode a crise? Não foi por
irresponsabilidade fiscal, mas responsabilidade em demasia. Governo deveria ter
expandido investimentos”.
O economista é
crítico ao binarismo que opõe a austeridade da direita e a pauta fiscal da
esquerda. Em sua avaliação, é um erro pensar que as esquerdas podem governar
nesses termos. “Ou fazemos uma revolução socialista ou, se formos viver no
capitalismo, precisamos que os empresários invistam. Desenvolvimento econômico
depende de investimento, taxa que tem sido muito baixa”.
A “terrível” taxa de
juros também é um grande obstáculo para o país, defende Bresser Pereira.
“Capitalistas rentistas têm uma senhoriagem da ordem de 6% do Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro. Isso é uma violência contra o desenvolvimento
econômico”, dispara. “Para que haja investimento, é preciso haver equilíbrio
entre taxa e juros e taxa de lucro”.
O ex-ministro também
chama a atenção para a intensificação da crise política como fator de
agravamento da turbulência econômica. “A atual crise política é antinacional e
antipatriótica”, opina. “O país precisa de união para enfrentar a recessão”.
A classe média
parece ter ficado à deriva enquanto os mais ricos e o mais pobres se
beneficiaram mutuamente dos governos petistas, reflete. “Me parece que, por
causa disso, houve uma guinada das classes médias para a direita,
principalmente a partir de 2013. E é um processo movido pelo ódio”.
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