Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

24 de fev. de 2016

Terrorismo midiático amplifica a crise

charge-do-Duke-14


O modelo está esgotado, mas a economia brasileira está longe do caos. A afirmação é de Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro da Fazenda, da Administração Federal e Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia. “Há uma sensação de fracasso no campo da economia, mas caos é quando há hiperinflação. Estivemos perto disso, por exemplo, no fim do governo Sarney”, disse, nesta segunda-feira (22), em atividade do Ciclo de Debates Que Brasil é Este?, na capital paulista.
O economista contou com a companhia de Leda Paulani (professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo e ex-secretária Municipal de Planejamento da cidade de São Paulo) e Guilherme Mello (professor do Instituto de Economia da Unicamp e colaborador da Fundação Perseu Abramo). Ambos concordam com Bresser Pereira que não há caos, mas os três têm visões particulares sobre a derrocada que lançou o país à crise.
 
Falta de investimento, excesso de responsabilidade fiscal e a 'armadilha macroeconômica' da alta taxa de juros aliada ao crédito apreciado a longo prazo são alguns dos fatores que explicam o péssimo momento, segundo Bresser Pereira. Para ele, a regressão vivida pelo país aumenta a sensação de fracasso da política econômica.
 
“É verdade que milhões foram tirados da pobreza, mas falhamos na política econômica. “Deixar de ser um país industrial para ser um país exportador de commodities é condenar-se ao retrocesso”, decreta. “Em oito anos de Lula e dois de Dilma, tudo foi relativamente bem. Por que, então, explode a crise? Não foi por irresponsabilidade fiscal, mas responsabilidade em demasia. Governo deveria ter expandido investimentos”.

O economista é crítico ao binarismo que opõe a austeridade da direita e a pauta fiscal da esquerda. Em sua avaliação, é um erro pensar que as esquerdas podem governar nesses termos. “Ou fazemos uma revolução socialista ou, se formos viver no capitalismo, precisamos que os empresários invistam. Desenvolvimento econômico depende de investimento, taxa que tem sido muito baixa”.
A “terrível” taxa de juros também é um grande obstáculo para o país, defende Bresser Pereira. “Capitalistas rentistas têm uma senhoriagem da ordem de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Isso é uma violência contra o desenvolvimento econômico”, dispara. “Para que haja investimento, é preciso haver equilíbrio entre taxa e juros e taxa de lucro”.

O ex-ministro também chama a atenção para a intensificação da crise política como fator de agravamento da turbulência econômica. “A atual crise política é antinacional e antipatriótica”, opina. “O país precisa de união para enfrentar a recessão”.
A classe média parece ter ficado à deriva enquanto os mais ricos e o mais pobres se beneficiaram mutuamente dos governos petistas, reflete. “Me parece que, por causa disso, houve uma guinada das classes médias para a direita, principalmente a partir de 2013. E é um processo movido pelo ódio”.
Foto: Felipe Bianchi/Barão de Itararé

Nenhum comentário: