Para o escritor e
religioso,
um dos fundadores do
PT,
Moro prestou um
serviço ao partido
Para Frei Betto, um
dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e integrante do primeiro mandato do
então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a condução coercitiva do
ex-presidente pela Polícia Federal, na última sexta-feira, foi um “abuso de
autoridade” e deu mais fôlego ao partido, que estava com a autoestima baixa
devido às denúncias de corrupção.
Coordenador do
Programa Fome Zero, que ainda no começo do Governo Lula foi substituído pelo
atual Bolsa Família, ele escreveu dois livros em que analisou os Governos
petistas: A Mosca Azul – Reflexão Sobre o Poder e Calendário do Poder. De
Quito, para onde foi nesta semana para ministrar palestras, ele respondeu por
e-mail aos questionamentos do EL PAÍS sobre o momento político atual.
Pergunta. Como
avalia a condução coercitiva do ex-presidente Lula?
Resposta. Vejo como
um abuso de autoridade. O juiz Sérgio Moro tem o dever de respeitar os
ex-presidentes da República, inclusive Lula. O Ministério Público e a Polícia
Federal poderiam ter interrogado Lula em sua casa, não havia necessidade
daquela pirotecnia de carro de polícia, homens armados etc. A ditadura militar
tratou melhor o ex-presidente Juscelino Kubitschek, ao inquiri-lo, do que Lula
foi tratado em plena democracia.
P. Como viu a reação
do PT de pedir a mobilização de seus filiados nas ruas? Acredita que a
polarização entre os lados pode se tornar algo grave para o país?
R. O juiz Sérgio
Moro prestou um serviço ao PT que, devido às denúncias de corrupção que
envolvem alguns de seus dirigentes, andava com baixa autoestima. O apoio de
amplos setores da população ao Lula demonstra que ele continua a ser um líder
de massa, talvez o único hoje no Brasil. Não creio que haverá polarizações
graves, além de bate-bocas e empurrões e alguns socos. Porém, me preocupa o
fato de o PT não ter aproveitado seus 12 anos no Governo para politizar a
nação. Por isso, hoje o debate político é mais emocional que racional.
P. Você acha que a
base do PT ainda está disposta a defender Lula, mesmo diante das suspeitas de
corrupção e dos cortes feitos pelo Governo Dilma?
R. Sim, a base do PT
é integrada pelo movimento sindical, movimentos populares, setores das
pastorais populares da Igreja Católica e amplo contingente de eleitores. Embora
crítica à desastrosa política de ajuste fiscal do Governo Dilma, essa base se
mobiliza quando se trata de evitar o impeachment e a volta da direita no
Executivo federal.
P. Você acredita na
inocência do ex-presidente Lula?
R. Não tenho nenhuma
razão para duvidar da integridade de Lula. Ele seria muito burro se, com uma
trajetória de vida tão exposta, tentasse esconder algo indevido.
P. Como vê o fato de
o ex-presidente morar e usar com frequência imóveis de amigos?
R. É uma opção dele,
e isso nada tem de ilegal, ilícito ou imoral.
P. Como vê o futuro
do PT? O que o partido precisa fazer para sair dessa crise?
R. Precisa fazer uma
profunda autocrítica. Embora os Governos Lula e o primeiro mandato de Dilma
tenham sido os melhores de nossa história republicana, muitos equívocos foram
cometidos nesses 12 anos de Governo. Um deles, ter priorizado o acesso dos
brasileiros a bens pessoais, como carro, linha branca (geladeira, fogão,
micro-ondas etc), TV a cores, celular etc. Deveria ter priorizado o acesso aos
bens sociais, como educação, saúde, moradia, saneamento, transporte, segurança
etc. Resultado: criou-se uma nação de consumistas e não de cidadãos. Daí a
raiva de amplos setores que, sacrificados pela alta da inflação e do desemprego
(que já superam dois dígitos), já não pode comprar como antes.
P. Lula já se lançou
como candidato para 2018. Ele deve mesmo concorrer ou acha que é o momento de o
PT se afastar do poder e se reestruturar?
R. Lula só não será
candidato a presidente em 2018 se morrer antes ou se Dilma concluir seu Governo
com menos de 10% de aprovação.
P. Qual o caminho
para o Governo Rousseff?
R. Mudar a política
econômica, mobilizar o apoio dos movimentos sociais, promover reformas
estruturais, como as política, agrária e tributária.
P. Mudar a política
econômica significa voltar ao desenvolvimentismo? Economistas acreditam que
isso pode ser perigoso para o país, neste momento.
R. Perigosa é essa
recessão agravada pelo aumento da inflação e do desemprego. Não sou economista,
mas se é para fazer ajuste fiscal o Governo deveria, primeiro, exigir
sacrifícios de quem tem mais. Promover uma reforma tributária que obrigue os
mais ricos, as 5.000 famílias brasileiras que detêm 49% do PIB, a contribuírem
mais. Há que impor um sistema tributário justo.
http://redirector.kioskoymas.com/portada/elpais/2317
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