Fonte: ESPANCA, Florbela. A mensageira das violetas:
antologia. Seleção e edição de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 1999.
(Pocket).
MENTIRAS
Ai quem me dera uma feliz
mentira que fosse uma verdade para mim! J. DANTAS
Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no
meu?
Pois julgas que eu não sei o que
tu sentes?
Qual a imagem que alberga o
peito meu?
Ai, se o sei, meu amor! Em bem
distingo
O bom sonho da feroz
realidade...
Não palpita d´amor, um coração
Que anda vogando em ondas de
saudade!
Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de
granito...
Mas finjo-me enganada, meu
encanto,
Que um engano feliz vale bem
mais
Que um desengano que nos custa
tanto!
ERRANTE
Meu coração da cor dos rubros vinhos
Rasga a mortalha do meu peito brando
E vai fugindo, e tonto vai andando
A perder-se nas brumas dos
caminhos.
Meu coração o místico profeta,
O paladino audaz da desventura,
Que sonha ser um santo e um
poeta,
Vai procurar o Paço da Ventura...
Meu coração não chega lá
decerto...
Não conhece o caminho nem o
trilho,
Nem há memória desse sítio
incerto...
Eu tecerei uns sonhos irreais...
Como essa mãe que viu partir o
filho,
Como esse filho que não voltou
mais!
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