A princípio, nada,
responderia um idiota da objetividade.
Não é bem assim.
Uma adolescente de
16 anos contou que acordou nua domingo no Rio com dezenas de homens ao seu
redor. “Mais de 30 [a] engravidou [sic]'', contabilizou um deles na internet,
onde foi veiculado vídeo em que o grupo de agressores se regozija com o estupro
da garota.
Na quarta-feira, o
ator Alexandre Frota foi recebido em audiência pelo ministro da Educação,
Mendonça Filho. Um dos líderes do movimento pró-impeachment acompanhava o
protagonista de filmes pornô. Frota escreveu: “Estive com o ministro da
Educação hoje e pude colocar algumas ideias para ajudar um país que eu amo''.
Das ditas ideias constam sugestões fascistoides, inspiradoras da lei que, na
terra de Zumbi dos Palmares, permite demitir professor que criticar a
escravidão.
Há erros de foco nas
críticas ao encontro no Ministério. Elas se salpicam de moralismo ou falso
moralismo, devido à atividade profissional do ator. A despeito de o cidadão
Frota ser porta-estandarte de valores e atitudes abomináveis, o escândalo mais
grave não é dele, e sim de um dos principais mandachuvas do governo Michel
Temer.
Mendonça Filho
aceitou recepcionar um sujeito que se gabou na televisão por ter feito sexo sem
consentimento com uma mãe de santo. Desprezando o eufemismo, estuprando-a.
Narrou a “façanha'' diante de gargalhadas do apresentador Rafinha Bastos,
aplausos da plateia e urros de admiração nas redes. Ao ser violentada, a mulher
desmaiou. Mais tarde, Frota alegou que o relato não passara de ficção, um
número de show. Mas, na TV, esclarecera a natureza do “espetáculo'': “Eu
contando várias histórias que aconteceram na minha vida''.
Ao reagir a uma
servidora pública que o censurou, o ator deu queixa à polícia e publicou na
internet, em tom de ameaça: “Você não precisa se desgastar, ativista de merda.
Só eu vou falar. Não tenho medo de ativista, de Ministério Público. Não me
intimido com você, nem com sua amiguinha nojenta. Se precisar serei, sim,
fundamentalista, homofóbico, a porra que for, mas essa onda você não vai
surfar. (…) Estou aqui esperando o camburão. Não veio me buscar até agora.
Ativista aproveitadora. Enquanto sua página em 43 dias conseguiu 6 mil
curtidas, a minha, em 48 horas, teve 11.600 de apoio. Veja bem, o dobro. Eu
nunca vou te esquecer. Essa página foi criada para que você sempre se lembre de
mim”.
Foi tal ser
medieval, protagonista desse episódio conhecidíssimo, de vasta repercussão, que
o ministro atendeu de braços abertos. São chapas, companheiros da campanha pelo
impeachment da presidente constitucional Dilma Rousseff. Prestigiando Frota,
Mendonça Filho endossa a cultura de permissividade. Permissividade com a
barbárie, com a cultura do estupro. A cultura em que a mulher é sempre
considerada culpada. Como já se observa em manifestações cretinas
responsabilizando a jovem pelo crime de que foi vítima.
Prócer do DEM,
Mendonça Filho é o tal “Mendoncinha'' citado por Renan Calheiros em conversa
gravada por Sérgio Machado. O ex-presidente da Transpetro sentenciou: “Um cara
mais corrupto que aquele não existe, Pauderney Avelino''. Renan emendou: “Pauderney
Avelino, Mendoncinha''.
O tapete vermelho
oferecido a Alexandre Frota é um recado ao Brasil: faça o que fizer, diga o que
disser, este governo estará ao seu lado. O ministro dá exemplo. Valoriza quem
se vangloria e ri por ter feito o que fez ou falado que fez. Os algozes da
adolescente também riram e se vangloriaram. No Brasil, uma mulher é estuprada a
cada 11 minutos.
Em meio ao barulho
provocado por tamanhas insensatez e covardia, a Secretaria dos Direitos Humanos
mantém o silêncio sobre a audiência a Alexandre Frota. Ao aceitar o cargo de
secretária, Flávia Piovesan chancelou o rebaixamento do status do Ministério,
que virou secretaria. Pelo visto, não foi o único rebaixamento. Noutros tempos,
Piovesan teria repudiado a presença do ator no Ministério da Educação.
Também noutros
tempos, nem tanto tempo assim, a confraternização entre o ministro da Educação
_da Educação!_ e Alexandre Frota teria merecido primeiras páginas e ao menos
menção nos noticiários televisivos noturnos.
Noutros tempos.
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