Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

20 de jun. de 2016

Michelangelo


Pietá  

Michelangelo esculpiu esta cena ('Piedade') quando tinha 23 anos. Ao saber que um apreciador recusara-se a acreditar que alguém tão jovem pudesse esculpir obra de tal magnitude, Michelangelo talhou seu nome na faixa que atravessa o seio da Virgem. Foi a sua única escultura assinada. O tema da Mãe com seu Filho morto ao colo é um dos mais dramáticos da iconografia cristã.
A beleza trágica do grupo deriva de seu classicismo, onde se somam a angústia do momento com a serenidade da composição triangular, e especialmente na postura contida da Virgem. Há um clima de melancolia, de profundo pesar, mas sem o sofrimento que caracterizou inúmeras outras representações da mesma cena, feitas por outros artistas. Tecnicamente, o trabalho de talha do mármore é perfeito, o acabamento polido, até que a superfície branca da pedra parecesse translúcida. Contribuem para a qualidade da anatomia do corpo de Cristo os inúmeros estudos que Michelangelo realizou com cadáveres.

Técnica preferida: a talha em mármore

Embora pintasse magistralmente, compusesse poemas e projetasse em arquitetura, a técnica preferida de Michelangelo era a escultura em mármore. Michelangelo chegou mesmo a declarar que a pintura era uma "arte menor". Utilizando os tradicionais equipamentos da talha em pedra, cinzéis e pua, Michelangelo era dono de extraordinária técnica, desde a escolha dos blocos de pedra até o esmerado polimento final.

 A pedra de mármore própria para a escultura não pode ser extraída da pedreira atavés de explosões. A utilização de explosivos, tão comum nas pedreiras nos dias de hoje, esfacela o núcleo da pedra, criando trincas e rachaduras que comprometem a consistência da rocha. Para ser esculpida, a pedra deve ser cortada no método tradicional, isto é, inicialmente realizando uma série de furos profundos, em linha reta, sobre a superfície da qual se pretende destacar o bloco. Depois, com a colocação de cunhas em cada furo, ir martelando até que o bloco desejado se destaque da pedra.

A talha também exige certos cuidados. O trabalho do desbaste deve ser realizado com batidas nos cinzéis de forma rítmica, isto é, cada batida da marreta no cinzel deve seguir uma cadência fixa. A razão disso é que cada batida realizada sobre a rocha cria ondas de reverberação que percorrem toda a pedra. Se as batidas não forem rítmicas, duas seqüências de reverberações em momentos distintos podem trincar a pedra internamente.

Também a planificação da escultura deve ser precisa, pois a pedra não permite retoques. Uma vez talhada equivocadamente, não é possível realizar colagens ou remendos. Michelangelo trabalhava a pedra diretamente, "libertando" a figura de dentro da rocha, como ele mesmo dizia. Algumas de suas esculturas ele as deixou inacabadas, como alguns Escravos, assim como algumas Pietás. O objetivo expressivo havia sido alcançado sem a necessidade dos acabamentos finais. 

Finalmente, o acabamento era uma das mais desgastantes e penosas experiências do ato criativo. Todo desbaste final, sutil, deveria ser feito com a utilização de pedras abrasivas, lenta e progressivamente, eliminando toda marca de cinzel que houvesse ficado. Nos dias de hoje, utilizamo-nos de esmerilhadeiras e lixadeiras elétricas, o que facilita em muito tais atividades

Davi

Michelangelo esculpiu esta obra quando tinha apenas 26 anos. O imenso bloco de mármore havia sido encomendado para que o escultor Duccio ali talhasse a figura de um profeta. Com o falecimento deste repentinamente, a pedra ficou à espera de outro escultor. Quando Michelangelo terminou a escultura, um grupo de artistas - entre os quais estavam Leonardo, Botticelli, Filippino Lippi e Perugino - foi indagar de Michelangelo onde deveria ficar a estátua. O mestre indicou a praça central de Florença. O povo da cidade, chocado com a nudez da figura, lapidou a estátua, em nome da moral.

Perfeita, tanto do ponto de vista técnico quanto anatômico, a obra se transformou num símbolo de Florença. Hoje, ela foi substituída na praça por uma cópia. Davi olha ao longe como se o combate com o gigante estivesse prestes a acontecer. A ausência da cabeça de Golias – algo comum em representações da mesma cena por outros artistas - concorda com esta interpretação. O rapaz está tenso, mas não angustiado. Seu ar desafiador mostra a 'ação em suspenso' que era característica das esculturas de Michelangelo.

Nos olhos pode-se ver uma das provas da imensa genialidade do mestre. Ele perfurou a região da pupila dos olhos em forma de (V), como um casco de cavalo, de maneira que quando a luz incide sobre os olhos transversalmente, ilumina mais a área ressaltada (o V), deixando na penumbra a região cavada. Isto dá um efeito extremamente realista aos olhos, que parecem brilhar com o espírito do Rei guerreiro.

 Texto de João Werner

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