
Por
Marco Gaspari
A safra
de LSD produzida e distribuída por Owsley Stanley em São Francisco naquele ano
de 1967 devia ser das melhores, porque os freaks da cidade simplesmente
alucinaram quando viram nas lojas aquele disco incomum, cuja capa mostrava um
detalhe do quadro “O Jardim das Delícias” do pintor flamengo Hyeronimus Bosch.
O nome
do disco era One Nation Underground, estréia da banda Pearls Before Swine, que
na contracapa não fornecia nada mais além das letras de algumas músicas. Nada
de ficha técnica, nada de foto da banda, um mistério que só serviu para
alimentar as especulações da população hippie que já havia chapado com o último
disco dos Beatles: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.
Como o
som era algo que hoje podemos rotular de acid folk melódico, e os arranjos
traziam exóticos instrumentos árabes e asiáticos sobre um farfisa garageiro, o
cérebro fritado em banha ácida da comunidade hippie começou a viajar e boatos
foram levantados de que aquele disco deveria ser uma não creditada parceria
entre ninguém menos do que Bob Dylan e os Beatles.
Bom, as
letras eram originais, poéticas, desarticuladas e longe do estilo dylanesco, o
que não impediu que justificassem como letras de outra pessoa na voz de Mr.
Zimmerman. E quanto aos arranjos sofisticados, eles até que tinham um pedigree
que se encaixava na árvore genealógica dos rapazes de Liverpool, mas a viagem
não acabava por aí. A alucinação bateu forte por causa do selo que lançou o
disco: o novaiorquino ESP Records, com certeza o selo mais anticomercial
daquela época, que já havia lançado dois discos da banda The Fugs e vários
álbuns experimentais de free jazz. Se dois dos maiores expoentes da música
jovem de então quisessem documentar uma parceria e escapar dos problemas
contratuais com suas gravadoras, nada melhor do que um disco fantasma lançado
pelo mais underground dos selos. Na cabeça de todo pirado que habitasse entre o
distrito de Haigh-Ashbury, em São Francisco, e o bairro do SoHo, em Nova
York, tudo se encaixava e One Nation
Underground vendeu na época cerca de 200 mil unidades. É até hoje o disco mais
vendido da história da ESP Records
Du Tury pra você >
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