Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

25 de dez. de 2016

RECEITA DE ANO NOVO


 
Para você ganhar belíssimo Ano Novo

 cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,

 Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido

 (mal vivido talvez ou sem sentido)

 para você ganhar um ano

 não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

 mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;

 novo

 até no coração das coisas menos percebidas

 (a começar pelo seu interior)

 novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,

 mas com ele se come, se passeia,

 se ama, se compreende, se trabalha,

 você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

 não precisa expedir nem receber mensagens

 (planta recebe mensagens?

 passa telegramas?)

 

 Não precisa

 fazer lista de boas intenções

 para arquivá-las na gaveta.

 Não precisa chorar arrependido

 pelas besteiras consumadas

 nem parvamente acreditar

 que por decreto de esperança

 a partir de janeiro as coisas mudem

 e seja tudo claridade, recompensa,

 justiça entre os homens e as nações,

 liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

 direitos respeitados, começando

 pelo direito augusto de viver.

 

 Para ganhar um Ano Novo

 que mereça este nome,

 você, meu caro, tem de merecê-lo,

 tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,

 mas tente, experimente, consciente.

 É dentro de você que o Ano Novo

 cochila e espera desde sempre.



Carlos Drummond de Andrade , "Receita de Ano Novo". Editora Record. 2008.

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