Nigel Amon - Cubisme Africain

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25 de dez. de 2016

Um fabuloso ninho de víboras

 |Hélio Bernardo Lopes|
As recentes eleições norte-americanas para o Presidente da República, para lá de conduzirem à inesperada vitória de Donald Trump, tiveram o benefício de mostrar o fabuloso ninho de víboras em que se constitui a vida política norte-americana. Uma realidade que, com cambiantes, foi sempre assim e desde há muitíssimo.
 
 Objetivamente, a dita democracia norte-americana quase nada tem de democrática, nem mesmo de Estado de Direito. Basta olhar o modo como Barack Obama, usando os meios do Estado, passeou pelos Estados Unidos a apoiar Hillary Clinton. Ou o deitar mão da recontagem de votos em certos Estados, acabando a mesma por confirmar a vitória de Trump, ou mesmo aumentar os seus votos aí. Ou a utilização da CIA para tentar condicionar o grau de liberdade política de Donald Trump no futuro, inventando a fabulosa mentira dos hackers ao serviço de Vladimir Putin. De facto, os Estados Unidos nada têm de Estado de Direito Democrático, sendo, muito acima de tudo, uma plutocracia.
 
 Tal como há dias referiu John Bolton, a suposta intervenção da Rússia no sistema eleitoral americano, através de ataques de hackers, pode ter sido uma provocação dos próprios serviços de inteligência dos EUA. Esta, em boa verdade, nem a mim mesmo ocorreu, usando aqui certa piada em tempos contada no Instituto Superior Técnico sobre o ilustre Professor António da Silveira.
 
 Este ninho de víboras que é a vida política norte-americana permite que as nossas televisões diariamente nos surjam com o choradinho de Aleppo, ao mesmo tempo que nada dizem sobre os bombardeamentos da Arábia Saudita no Iémen, com centenas de mortos e milhares de feridos. Até Paulo Dentinho, na tarde do juramento de António Guterres na ONU, se referiu ao facto de apenas se falar da Síria e de Aleppo, mas nada se dizer do que depois Guterres viria a referir: hoje, não há paz no mundo.
 
 A tudo isto, soma-se agora o treino que a Alemanha vai passar a dar a oficiais sauditas. Diz-se que a cinco ou seis por ano. Nem entre nós se refere que o regresso dos terroristas do Estado Islâmico a Palmira teve o apoio dos Estados Unidos em termos de fornecer o posicionamento das tropas sírias naquele momento. E não deixa de ser verdadeiramente espetacular que, há breves momentos, na mesa em que escrevo este texto, uma amiga e um amigo, com posições políticas de Direita, tenham dado gargalhadas com os documentários que vão sendo passados – e montados pelo Ocidente – ao redor de crianças queixosas e espevitadas, ou de supostos aflitos de Aleppo!! É um tema em que se impõe um mínimo de tato, porque todos sabem que nas guerras existem e atuam serviços de propaganda. É uma prática que revela um grande amadorismo e que explica a razão dos resultados eleitorais mais recentes em todo o mundo. Todos de há muito perceberam a mentira posta em andamento.
 
 Um dado é certo: o que se vem passando nos Estados Unidos desde a vitória de Donald Trump, de pareceria com a política belicista de Barack Obama – também já foi a de Hillary – mostra bem o fabuloso ninho de víboras que é a vida política dos Estados Unidos. Aliás, a própria sociedade norte-americana, por via da sua formação histórica, foi sempre uma sociedade violenta, onde a regra do salva-te como puderes comandou toda a vida do país.

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