Os limites da democracia brasileira
(O golpe do impeachment se fez à base de corrupção e traições, numa
negociata envolvendo financiamentos e partilhas com partidos e deputados
migrando da coalizão com a presidenta Dilma para uma outra, sob liderança do
vice Temer, do PMDB. Aqui está o terceiro déficit fundador de nossa democracia:
a conciliação como estratégia de conquista do poder político e da
governabilidade, formando maiorias nada programáticas e ideologicamente
articuladas. No Executivo e nos parlamentos forjam-se maiorias com compra de lealdades
momentâneas e loteamento do Estado. A negociata foi a tal “agenda de reformas”,
com garantia de limitar as investigações de corrupção. As reformas são, na
verdade, um desmonte da Constituição de 1988 e de direitos conquistados e
consagrados. Ela já avançou perigosamente e talvez já destruiu o essencial em
termos de uma democracia que mereça tal nome. Tudo vem sendo feito em nome de
um projeto de futuro que nos remete ao capitalismo selvagem. Não se trata
somente de menos Estado, mas de um Estado forte para favorecer as forças brutas
do mercado, contra direitos. Sei que a afirmação é forte, mas precisamos
encarar as mudanças em curso como estratégias que podem levar a uma instauração
do fascismo… por via democrática, como foi na Alemanha com Hitler e na Itália
com Mussolini.) (...) Le Monde
Brasil *Cândido
Grzybowski é sociólogo e assessor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas (Ibase).
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