Um estudo recente
publicado pela revista Science e conduzido pela universidade sueca de Uppsala
alertou que algumas espécies marinhas estavam a começar a incluir plásticos na
sua dieta. As larvas dessas espécies, acrescentou o estudo, quando cresciam, convertiam-se
em espécimes adultos "mais pequenos e mais lentos".
Até há pouco
tempo, pensava-se que os animais que ingeriam esses plásticos presentes nos
nossos mares e oceanos o faziam de forma acidental, mas novas pesquisas mostram
que não é assim, que esses resíduos exercem uma atração irresistível para
alguns peixes devido ao seu odor. Aparentemente, ao entrar em contacto com a
água salgada, os plásticos começam a emitir um cheiro semelhante ao krill ou
ao plâncton, o que leva as espécies marinhas a comê-los. E o que é pior, como
demonstrado pelo estudo da Universidade de Uppsala, literalmente, as espécies
entusiasmam-se com a sua ingestão. Oona Lonnstedt, diretora da pesquisa, disse
que "o plástico possui propriedades químicas ou físicas que geram uma
necessidade particular de alimentação nesses peixes. Eles acreditam
erroneamente que se trata de alimento de alto valor energético e que precisam
de comer muito. É semelhante ao que acontece com a comida “fast food” nos
adolescentes: não resistem a encher-se dela".
O problema, longe
de ser resolvido, aumenta a cada ano com o despejo de oito milhões de toneladas
de plásticos nos oceanos. Há pesquisadores que asseguram que em 2050 haverá
mais plástico do que peixes nos mares. Um desastre ambiental que pode tornar-se
irreversível se não agirmos a tempo. Algumas dessas ações estão no campo
puramente reivindicativo, como a promoção de uma organização que visa converter
a grande ilha de resíduos plásticos encontrada no Oceano Pacífico (e que tem
uma superfície semelhante à da França) num estado independente. Eles já têm a
sua própria bandeira, nome (Ilha do Lixo) e moeda. Mas há muitas outras
iniciativas científicas e tecnológicas que podem ajudar os oceanos a continuar
a ser, como até agora, um pilar indispensável para a vida no nosso planeta.
Uma das mais
engenhosas é a iniciativa desenvolvida pela “Seabin”, uma empresa fundada por
Andrew Turton e Pete Ceglinski, dois apaixonados pelo mar capazes de arriscar
tudo num projeto cuja genialidade reside na sua aparente simplicidade, já que
se trata de instalar cestos no mar capazes de recolher os plásticos flutuantes.
O início, diz Ceglinski, não foi fácil: "Em 2015 deixei o meu emprego e
com todo o dinheiro que poupei aluguei a fábrica em que estamos. Gastei tudo o
que tinha para a preparar e vivi lá durante um ano e meio porque não podia
pagar uma casa". Dois anos depois, a Seabin possui uma equipa de
especialistas e já comprovou que os seus produtos funcionam. O desafio a partir
de agora, quando está prestes a começar a sua comercialização, é conseguir que
esses recipientes sejam capazes de recolher nanoplásticos e microfibras, muito
mais difíceis de apanhar devido ao seu tamanho pequeno. A tecnologia da Seabin
pode ajudar a reduzir o problema da poluição marítima, mas, como reconhece
Ceglinski, a única solução definitiva é "ensinar crianças e jovens a não
comprar plásticos descartáveis, a não os atirar ao mar, a reciclar. Assim, não
precisaremos dos nossos cestos porque o problema deixará de existir. A
verdadeira solução não é a tecnologia, mas a educação".
Texto: José L.
Álvarez Cedena
http://www.dn.pt/
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