Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

5 de fev. de 2018

Terremoto em Lisboa.













Pesquisando sobre o grande terremoto de Lisboa, em 1755, encontrei uma matéria sobre a Exposição de João Glama Stöberle, intitulada Anatomia de um Quadro, no Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa. Lá, o quadro  O Terramoto de 1755,

[A importância dessa pintura ultrapassa-a. O terramoto de 1755 uma catástrofe que destruiu Lisboa ecoou por toda a Europa com enormes repercussões no mundo filosófico, científico e político. Aconteceu numa época de grandes transformações sociais quando o iluminismo e o capitalismo lançavam as bases das sociedades modernas nalguns países da Europa Ocidental.

Os primeiros embates em Portugal foram entre os jesuítas e o Marquês de Pombal. Os jesuítas dominavam o país espiritual e temporalmente. Controlavam o ensino, opondo-se às reformas do marquês que introduziam a investigação experimental e as ciências da natureza de acordo com os padrões científicos mais avançados na Europa. Tinham um imenso poder económico, sobretudo no Brasil, em que se subtraíam aos impostos do Estado. O terramoto abriu um campo de batalha privilegiado. O jesuíta Malagrida escreveu um panfleto “Juízo da Verdadeira Causa do Terramoto” em que atribuía a catástrofe a um castigo de Deus pelas políticas do reino, ameaçando quem não contribuísse generosamente para os cofres religiosos com novos castigos divinos. Contrariava frontalmente o Marquês de Pombal que tinha proclamado que o sismo era um fenómeno natural, não tinha nada de religioso. O embate era sobretudo político, acabaria com a expulsão dos jesuítas e o reforço dos poderes do marquês. No estrangeiro o debate era sobretudo filosófico. Rousseau e Kant procuraram explicações científicas para o sucedido, destruindo as especulações religiosas, os significados supersticiosos. Voltaire no “Poema sobre o Desastre de Lisboa” refuta as teorias de Poppe e Leibnitz de o terramoto ser uma consequência inelutável da natureza humana submetida à justiça de Deus. Em “Cândido ou o Optimismo” faz desembarcar os protagonistas, Cândido e o seu mestre Dr. Pangloss, em Lisboa no dia do terramoto. O jovem acredita que é o Dia do Juízo Final, o mestre uma questão vulcânica. Uma alegoria sobre a ingenuidade e a exploração da ingenuidade.


A pintura de João Glama é uma obra inacabada depois de trinta e seis anos de trabalho. É uma panorâmica de todas as catástrofes que destruíram Lisboa. Pessoas de todas as condições sociais, abismam-se com o tremor de terra, os incêndios, o maremoto. São mortos, moribundos, gente paralisada pelo terror e que socorre os sobreviventes, chora os mortos num cenário de ruínas.

O quadro restaurado por Teresa Serra e Moura, técnica de conservação e restauro do MNAA, que dada a escassez das figurações tem sido o mais utilizado para o representar o terramoto, está em exposição na Sala do Tecto Pintado do museu, apoiado num profundo e esclarecedor estudo de Alexandra Markl e Celina Bastos que determinaram que o pintor se encontrava em Lisboa, na Igreja das Chagas tendo fugido para um descampado onde está agora localizada a Associação Nacional de Farmácias. Concluem as historiadoras, baseadas na muita documentação consultada, que João Glama começou a pintar o quadro imediatamente, quase sem desenhos preparatórios recuperando alguns dos personagens de estudos muito anteriores, alguns feitos quando estava em Roma. O propósito do pintor era “escrever” uma narrativa feita de fragmentárias narrativas em que também participa. Dar uma ideia “cinematográfica” do acontecimento num cenário de destruição e desolamento que o tratamento das ruínas acentua. Em tantos anos de trabalho Glama vai mudando perspectivas e personagens, como as análises de raio-X revelaram. Provavelmente o impacto do terramoto em Portugal e no mundo, conduzem-no a alterações que não sendo substantivas não deixam de ser relevantes].

Nenhum comentário: