Carrapateira, maxixe ou coronavírus?
Ciduca Barros
O que está me
massacrando não é o tédio da porra desse marasmo. O que está me incomodando é
que, com a mesmice provocada pela quarentena, a minha mente se recusa a pensar
no presente ou no futuro. Por quê? Porque parece que a minha memória dá uma
rebobinada e surge, limpidamente, as “coisas” e “causos” de nossa despreocupada
e feliz mocidade lá “para as bandas do Seridó”.
Eu gostaria de concitar
as pessoas da minha geração para, depois que esta tempestade passar, revermos
esta história de que somos da “melhor idade”. Eu nunca concordei com essa
enganação. Que “melhor idade” é essa que foi preciso esconder os velhos para um
bicho não pegar? Estou avisando, se o bicho não me pegar, quero voltar a ser da
Terceira Idade e não aceito negociar.
Não estou vendo mais os
noticiários televisivos, pois nunca vi tantas informações desencontradas,
absurdas e, muitas vezes, exageradas, que só servem para formar a histeria
coletiva que tomou conta do Brasil. Sem contar com as “briguinhas” políticas
entre a Presidência da República e os Governadores Estaduais. Uma zorra!
Que fique patente que
eu não estou aqui tentando minimizar o grave problema dessa epidemia. Sabemos
que é séria e que mata. Ponto. No entanto, troquei a nossa televisão infectada
por bons e velhos filmes do passado – sintam a minha mente voltando, outra vez.
Voltei a assistir “Os Brutos Também Amam”, “Cinema Paradiso” (que tem a cara do
Cinema Pax, de seu Clóvis Medeiros), “Rio Lobo”, “O Homem que sabia demais” e
“As Pontes do Rio Kwai”. Ainda posso assistir: “Sissi – A Imperatriz”, “Rio
Vermelho” e a porrada de filmes mudos de Charles Spencer Chaplin (Carlitos).
Alguém deve estar se perguntando: onde ele está conseguindo estas velhas
películas? Eu respondo: alguns filmes são do meu acervo, outros vejo
(pessimamente) no You Tube.
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Carrapateira |
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Maxixe |
Mas, quando eu ainda
estava com nossa televisão ligada, todas as vezes que vinham aquelas notícias
alarmantes, sempre mostrando a forma do “coronavírus”, minha cabeça dava um
retrocesso e só via na minha frente “maxixe” e “carrapateira”. E recordando
maxixe, sentia o cheiro da maxixada que D. Chiquinha, a finada minha mãe, fazia
e do “feijão verde” que Dona Neném do Ó, a finada minha avó, preparava com máxime
e muito esmero.
Passado o aroma
daquelas iguarias, minha memória, ainda estacionada no passado, vê os pés de
mamona (carrapateiras) que existiam às margens do Rio Seridó (não sei se ainda
existem), em Caicó. E era lá que, com nossas mãos cheias, fazíamos uma guerra com aquelas sementes que,
só muitos anos depois, soubemos que dalas é extraído o óleo, conhecido como
óleo de mamona, ou ainda óleo de rícino (olhem nosso passado aqui novamente,
lembrando os purgativos que tomávamos na infância), utilizado na indústria
química e como matéria prima para produção de biodiesel.
Valha-me, Deus! Ou a
porra dessa quarentena se acaba ou eu volto a ser moleque outra vez!
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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