Larissa Packer, advogada especialista em Direito Ambiental e
integrante da organização não-governamental Grain América Latina, critica o
fato de que mesmo em meio à pandemia, o agronegócio segue sendo privilegiado
pelo Estado brasileiro em detrimento da agricultura familiar.
De acordo com ela, enquanto a produção de commodities está
sendo considerada uma atividade essencial e funcionando a todo vapor, a
agricultura familiar segue enfrentando uma série de limitações assim como os
cidadãos que trabalham para o próprio agronegócio, que seguem pegando o
transporte público e circulando em meio ao isolamento social.
“Com os contratos de exportação de carne e soja para fora, o
setor continua a ter exportações recordes sem nenhum tipo de obstrução ou
limites de medidas sanitárias para isso. Por outro lado, o Estado vem
praticando medidas de restrições nas feiras e nos espaços onde os trabalhadores
rurais colocam seus produtos”, relata Packer.
Em meio à crise, o setor foi agraciado com a renovação de R$
6 bilhões em isenção para agrotóxicos em alguns estados brasileiros.
“Existem milhões de toneladas de alimentos que estão sendo
perdidos por falta de apoio do estado, nessa logística de circuito curto, de
abastecimento alimentar. Encontraremos, cada vez mais, uma restrição da
diversidade alimentar nos mercados. Vamos encontrar um ou dois tipo de feijão,
de arroz, sempre ligados a grandes processos industriais de processamento de
grãos e de animais, que estão nessas atividades sociais e não encontram
barreiras”, continua a ativista.
Packer pontua ainda que há um desequilíbrio das medidas
sanitárias entre os espaços da agricultura familiar e os grandes supermercados.
Nesses locais, vegetais e legumes, por exemplo, não estão ensacados da forma
correta.
Paralelo a esse processo, o incentivo aos deliverys durante
a quarentena reforçam o lucro exclusivo das grandes empresas e marcas
multinacionais, deixando de lado os pequenos agricultores. A advogada ambiental
frisa ainda os aspectos negativos que esse processo pode trazer à saúde
pública.
“O próprio governo está colaborando com a concentração da
cadeia alimentar a favor dos produtos ultra processados e industrializados, com
baixa qualidade nutricional, baseados em poucas variedades de sementes e
legumes, em detrimento de uma produção agroecológica, sem agrotóxicos”.
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