Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

24 de ago. de 2020

Lula publicou em sua página pessoal, assim como Dilma, uma resposta ao editorial da Folha de São Paulo comparando Dilma a Bolsonaro.

Neste sábado, 22, a Folha publicou
um editorial que compara
Dilma Rousseff (PT) 
a Jair Bolsonaro. 
A ex-Presidente e o 
ex-Presidente Lula
responderam:




A FALHA DE S.PAULO” 
ATACA OUTRA VEZ?

As afirmações do editorial do jornal a respeito do meu governo são fake news. A Folha falsifica a história, num gesto de desprezo pela memória de seus leitores

22/08/2020 4:30

A Folha tem enorme dificuldade de avaliar o passado e, assim, frequentemente erra ao analisar o presente.

Foi por avaliar mal o passado que a empresa até hoje não explicou porque permitiu que alguns de seus veículos de distribuição de jornal dessem suporte às forças de repressão durante a ditadura militar, como afirma o relatório da Comissão Nacional da Verdade.

Foi por não saber julgar o passado com isenção que cometeu a pusilanimidade de chamar de “ditabranda” um regime que cassou, censurou, fechou o Congresso, suspendeu eleições, expulsou centenas de brasileiros do país, prendeu ilegalmente, torturou e matou opositores.

Os erros mais graves da Folha, como estes, não são de boa-fé. São deliberados e eticamente indefensáveis. Quero deixar claro que falo, sobretudo, do grupo econômico Folha, e não de jornalistas.

Quero lembrar, ainda, a publicação, na primeira página, de uma ficha falsificada do Dops, identificada pelo jornal como se fosse minha, e que uma perícia independente mostrou ter sido montada grosseiramente para sustentar acusação falsa de um site fascista. Mesmo desmascarada pela prova de que era uma fraude, a Folha, de forma maliciosa, depois de admitir que errou ao atribuir ao Dops uma ficha obtida na internet, reconheceu que todos os exames indicavam que a ficha era uma montagem, mas insistiu: “sua autenticidade não pôde ser descartada.”

Quem acredita que as redes sociais inventaram as fake news desconhece o que foi feito pela grande imprensa no Brasil – a Folha inclusive. Não é sem motivo que nas redes sociais a Folha ganhou o apelido de “Falha de São Paulo”.

O editorial de hoje da Folha – sob o título “Jair Rousseff” – é um destes atos deliberados de má-fé. É pior do que um erro. É, mais uma vez, a distorção iníqua que confirma o facciosismo do jornal. A junção grosseira e falsificada é feita para forçar uma simetria que não existe e, por isto, ninguém tem direito de fazer, entre uma presidenta democrática e desenvolvimentista e um governante autoritário, de índole neofascista, sustentado pelos neoliberiais – no caso em questão, a Folha.

Todas as afirmações do editorial a respeito do meu governo são fake news. A Folha falsifica a história recente do país, num gesto de desprezo pela memória de seus próprios leitores.

Repisa a falsa acusação de que o meu governo promoveu gastos excessivos, alegação manipulada apenas para sustentar a narrativa midiática e política que levou ao golpe de 2016. Esquece deliberadamente que a crise política provocada pelos golpistas do “quanto pior, melhor” exerceu grande influência, seja sobre a situação econômica, seja sobre a situação fiscal.

A Folha, naquela época, chegou a pedir a minha renúncia, em editorial de primeira página, antes mesmo do julgamento do impeachment. Criava deliberadamente um ambiente de insegurança política, paralisando decisões de investimento, e aprofundando o conflito político. Estranhamente, a Folha jamais pediu o impeachment do golpista Michel Temer, apesar das provas apresentadas contra ele. Também não pediu o impeachment de Bolsonaro, ainda que ele já tenha sido flagrado em inúmeros atos de afronta à Constituição, e o próprio jornal o responsabilize pela gravidade da pandemia. A Folha continua seletiva em seus erros: Falha sempre contra a democracia, e finge apoiá-la com uma campanha bizarra com o bordão “vista-se de amarelo”.

Um país que, em 2014, registrou o índice de desemprego de apenas 4,8%, praticamente pleno emprego, com blindagem internacional assegurada por um recorde de US$ 380 bilhões de reservas, não estava quebrado, como ainda alega a oposição. Na verdade, a destituição da presidenta precisou do endosso da grande mídia para garantir a difusão desta fake news. O meu mandato nem começara e o impeachment já era assunto preferencial da mídia, embalado pelas pautas bombas e a sabotagem do Congresso, dominado por Eduardo Cunha.

Os dados mostram que a “irresponsabilidade fiscal” que me foi atribuída é uma sórdida mentira, falso argumento para sustentar o golpe em curso. Entre 2011 e 2014, as despesas primárias cresceram 3,7% ao ano, menos do que no segundo mandato de FHC (4,1% ao ano), por exemplo. Em 2015, já sob efeito das pautas bombas, houve retração de 2,5% nessas despesas. As dívidas líquida e bruta do setor público chegaram, em meu mandato, a seus menores patamares desde 2000. Mesmo com a elevação, em 2015, para 35,6% e 71,7%, devido à crise que precedeu o golpe, elas ainda eram muito menores que no final do governo de Temer (53,6% e 87%) ou no primeiro ano de Bolsonaro (55,7% e 88,7%).

Logo ao tomar o poder ilegalmente, os golpistas aproveitaram-se de sua maioria no Congresso e do apoio da mídia e do mercado para aprovar a emenda do Teto de Gastos, um dos maiores atentados já cometidos contra o povo brasileiro e a democracia em nossa história, pois, por 20 anos, tirou o povo do Orçamento e também do processo de decisão sobre os gastos públicos. Criou uma “camisa de força” para a economia, barrando o investimento em infraestrutura e os gastos sociais, e “constitucionalizando” o austericídio. O Teto de Gastos bloqueia o Brasil, impede o País de sair da crise gerada pela perversão neoliberal que tomou o poder com o golpe de 2016 e a prisão do ex-presidente Lula. E, a partir da pandemia, tornará ainda mais inviável qualquer saída para o crescimento do emprego, da renda e do desenvolvimento.

Se a intenção da Folha é tutelar e pressionar Bolsonaro para que ele entregue a devastação neoliberal, que tenha pelo menos a dignidade de não falsificar a história recente. Aprenda a avaliar o passado e admita seus erros deliberados, se quiser ter alguma autoridade para analisar um presente sombrio de cuja construção participou diretamente.

DILMA ROUSSEFF


PEDIDO DIREITO DE RESPOSTA À FOLHA

Pedido foi enviado ontem à direção do jornal, com base no que dispõem os artigos 3 e 4 da lei 13.188

À direção de redação da Folha de S. Paulo.
A/C do jornalista Sérgio Dávila.
c/c para a seção de editoriais.

Venho por meio desta solicitar a V.Sa., com base nos artigos 3 e 4 da lei 13.188, que dispõe sobre o direito de resposta ou retificação do ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social, que seja publicada por este jornal o texto em anexo, por meio do qual exerço o direito de responder ao principal editorial da edição de hoje, sábado, 22 de agosto, com chamada de destaque na primeira página, intitulado “Jair Rousseff”.

A comparação feita pelo texto, desde o título, é falsa e indevida. Assim, em nome da verdade, da pluralidade e do direito ao contraditório, solicito à Folha de S. Paulo a publicação do meu direito de resposta ao seu editorial. Em anexo, envio o texto a ser publicado, de acordo com a legislação.

DILMA ROUSSEFF





A FOLHA DOS COVARDES
POR LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

O editorial da Folha de S. Paulo de sábado (22) é uma ofensa à presidenta Dilma Rousseff, uma agressão à verdade histórica e um desrespeito, mais um, aos leitores do jornal e à sociedade brasileira.

Dilma Rousseff, uma pessoa honesta e dedicada ao Brasil, foi vítima de uma campanha de mentiras e seu governo foi alvo de uma sabotagem articulada por setores inconformados com o resultado das urnas de 2014.

A Folha teve papel decisivo naquela articulação, colocando-se mais uma vez a serviço do que há de pior em nosso país: a ganância dos extremamente ricos numa sociedade desigual e injusta; a intolerância dos poderosos diante de qualquer projeto de transformação desta sociedade.

A presidenta Dilma já deu ao infame editorial a resposta indignada que se espera de uma pessoa mais do que injustamente ofendida. Expôs a verdade dos números e dos fatos sobre seu governo. Pôs a nu as mentiras da Folha neste e em outros episódios que deveriam envergonhar os donos de qualquer jornal.

Participei de todas as eleições presidenciais no Brasil desde 1989 e posso afirmar que nenhum outro candidato sofreu igual perseguição e preconceito por parte da Folha, como aconteceu com Dilma Rousseff.

Diante de uma candidata que lutou contra a ditadura, a Folha publicou uma ficha falsa do DOPS e chegou a inventar um atentado contra um ministro para criminalizar, no presente, a resistência corajosa da jovem Dilma num passado em que o jornal apoiava os torturadores em seus textos e até materialmente.

A Folha que insistiu na mentira sobre uma jovem militante dos anos 1970 é a mesma que, nas eleições de 2018, tratou como irrelevante o passado de um candidato que, assim como o jornal, apoiou os torturadores. Um candidato que confessou ter tramado um atentado terrorista no centro do Rio de Janeiro quando o Brasil já vivia a redemocratização que ele nunca aceitou.

Não tenho dúvidas em afirmar que o ódio dos donos da Folha a Dilma passa por sua condição de mulher. Não pode haver outro motivo para o jornal ter publicado uma ordem proibindo chamá-la de presidenta, no feminino, até nas cartas de leitores, quando Dilma passou a assinar atos oficiais desta forma.

A realidade é que os donos do jornal jamais toleraram a eleição e o governo de uma mulher que enfrentou a ditadura dos torturadores no passado e hoje enfrenta a ditadura da mentira que veículos de comunicação como a Folha querem impor.

Sempre soubemos de que lado está um jornal que defende o teto de gastos, o suicídio fiscal que condena a educação, a saúde e o investimento público. De que lado está quem defende a agenda neoliberal de Paulo Guedes, a privatização selvagem, a demolição dos direitos dos trabalhadores.

A Folha está com Bolsonaro e contra Dilma e o projeto de país que ela representa, sempre esteve. Depois deste editorial infame, muitos ficaram sabendo também que os donos deste jornal são covardes e misóginos, porque para defender seus interesses não vacilam em atacar uma mulher honesta e digna como eles nunca foram.

Luiz Inácio Lula da Silva


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