Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

15 de out. de 2020

Fósforo e vela nas mãos/Universo em expansão - BBC News Mundo, e as trilhas humanas



1 - 10 outubro 2020



'Covid-19 não é pandemia, 
mas sindemia': 

o que essa perspectiva científica muda no tratamento

Laura Plitt

O coronavírus tem um efeito mais negativo em indivíduos
 que sofrem de certas doenças que podem ser evitadas


Com o passar dos meses, as medidas para evitar a propagação da covid-19 foram sendo endurecidas ou flexibilizadas em diferentes partes do mundo segundo o aumento ou a diminuição dos casos locais.

 

Enquanto muitos países da Europa estão voltando a restringir atividades sociais e determinando isolamentos após registrarem aumentos recordes de casos, a Nova Zelândia, por exemplo, passou ao seu nível de alerta mais baixo.

 

No entanto, essa estratégia para lidar com o coronavírus é, na opinião de diversos cientistas, limitada demais para deter o avanço da doença.

 

“Todas as nossas intervenções se concentraram em cortar as rotas de transmissão viral para controlar a disseminação do patógeno", escreveu recentemente em um editorial Richard Horton, editor-chefe da prestigiosa revista científica The Lancet.

 

Mas a história de covid-19 não é tão simples.

 

Por um lado, diz Horton, existe o Sars-CoV-2 (o vírus que causa a doença covid-19) e, por outro, uma série de doenças não transmissíveis. E esses dois elementos interagem em um contexto social e ambiental caracterizado por profunda desigualdade social.

 

Essas condições, argumenta Horton, exacerbam o impacto dessas doenças e, portanto, devemos considerar a Covid-19 não como uma pandemia, mas como uma sindemia.

 

Não é uma simples mudança de terminologia: entender a crise de saúde que vivemos a partir de um quadro conceitual mais amplo abre caminho para encontrar soluções mais adequadas.

 

Um mais um é mais do que dois


O termo sindemia (um neologismo que combina sinergia e pandemia) não tão novo assim.

 

Foi cunhado pelo antropólogo médico americano Merrill Singer na década de 1990 para explicar uma situação em que “duas ou mais doenças interagem de tal forma que causam danos maiores do que a mera soma dessas duas doenças”.

 

“O impacto dessa interação também é facilitado pelas condições sociais e ambientais que, de alguma forma, aproximam essas duas doenças ou tornam a população mais vulnerável ao seu impacto”, explica Singer em entrevista à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC).

 

A pandemia covid-19 não se resolve apenas por
 vias médicas, acreditam cientistas que analisam a
 situação atual a partir do arcabouço conceitual da sindemia

A interação com o aspecto social é o que faz com que não seja apenas uma comorbidade.

 

O conceito surgiu quando o cientista e seus colegas estavam pesquisando o uso de drogas em comunidades de baixa renda nos Estados Unidos, há mais de duas décadas.

 

Eles descobriram que muitos dos usuários de drogas injetáveis ​​sofriam de uma série de outras doenças (tuberculose, doenças sexualmente transmissíveis, entre outras), e os pesquisadores começaram a se perguntar como estas coexistiam no corpo. Acabaram concluindo que, em alguns casos, a combinação amplificou o dano.

 

No caso da covid-19, "vemos como ela interage com uma variedade de condições pré-existentes (diabetes, câncer, problemas cardíacos e muitos outros fatores) e vemos uma taxa desproporcional de resultados adversos em comunidades desfavorecidas, de baixa renda e de minorias étnicas", explica Singer.

 

Doenças como diabetes ou obesidades — que são fatores de risco para a covid-19 — são mais comuns em indivíduos de baixa renda, afirma Tiff-Annie Kenny, pesquisadora da Universidade Laval, no Canadá, em entrevista à BBC News Mundo. Ela trabalha no no Ártico com populações afetadas por insegurança alimentar, mudanças climáticas e condições de moradia que dificultam o cumprimento das recomendações sanitárias, como lavar as mãos ou manter distância social.

 

Mas não é esse o caso da maioria das doenças? Na maioria das vezes, elas não têm um impacto maior em grupos sociais com acesso menor a saúde, alimentação, educação e higiene? Elas não são quase sempre ampliadas quando combinadas com outras ou com uma condição médica presente?

 

Quanto à interação biológica, nem sempre é assim, enfatiza a cientista.

 

"Há cada vez mais evidências de que a gripe e o resfriado comum são contra-sindêmicos. Ou seja, a situação não piora. Se uma pessoa está infectada com os dois vírus, uma das doenças não se desenvolve."

 

E quanto ao aspecto social, o elemento-chave no caso de uma sindemia é que ela agrega a interação de doenças.

 

Mudança de estratégia


Analisar a situação pelas lentes da sindemia, diz Kenny, permite passar da abordagem clássica da epidemiologia ao risco de transmissão para uma visão da pessoa em seu contexto social.

 

Merrill Singer cunhou o termo 'sindemia' na década
 de 1990 enquanto estudava impacto do consumo de drogas


É uma posição compartilhada por muitos cientistas que acreditam que, para conter o avanço e o impacto do coronavírus, é fundamental atentar para as condições sociais que tornam certos grupos mais vulneráveis ​​à doença.

 

"Se realmente quisermos acabar com esta pandemia cujos efeitos têm sido devastadores nas pessoas, na saúde, na economia ou com futuras pandemias de doenças infecciosas (vimos uma após a outra cada vez mais frequente: Aids, ebola, Sars, zika e agora covid-19), a lição é que temos que lidar com as condições subjacentes que tornam um sindicato possível", diz Singer.

 

“Temos que lidar com os fatores estruturais que dificultam o acesso dos pobres à saúde ou a uma alimentação adequada”, acrescenta.

 

"O risco de não fazer isso é enfrentar outra pandemia como a covid-19 no tempo que leva para uma doença existente escapar do mundo animal e passar para os humanos, como foi o caso do ebola e do zika, e que continuará a ocorrer à medida que continuarmos a invadir o espaço das espécies selvagens, ou como resultado da mudança climática e do desmatamento."

 

O editor do Lancet, Richard Horton, é conclusivo: "Não importa quão eficaz seja um tratamento ou quão protetora seja uma vacina, a busca por uma solução puramente biomédica contra a covid-19 vai falhar."

 

E ele conclui: "A menos que os governos elaborem políticas e programas para reverter profundas disparidades sociais, nossas sociedades nunca estarão verdadeiramente protegidas da covid-19."




2 - 14 outubro 2020


'Há uma epidemia que está agravando a crise da covid-19: 
nos alimentarmos com comida de baixa qualidade'

Analía Llorente



Uma boa nutrição é fundamental para prevenir doenças. E a covid-19 não seria uma exceção

 

"A alimentação é o maior risco do coronavírus e ninguém está falando disso."

 

A afirmação é da endocrinologista argentino-americana Mariela Glandt, que acaba de publicar o livro How To Eat In The Time Of Covid-19: Begin Improving Your Metabolic Health (Como comer nos tempos de covid-19: Comece a Melhorar Sua Saúde Metabólica, em tradução livre)

 

Glandt, que se formou nas universidades de Harvard e Columbia, nos Estados Unidos, é especialista em diabetes, uma das condições médicas que, junto com doenças cardiovasculares, obesidade e problemas respiratórios, fazem com que as pessoas infectadas com covid-19 corram mais risco de morrer.

 

A exemplo do que vários outros pesquisadores que estudam o vírus desde o início da pandemia dizem, ela acredita que nosso sistema imunológico deve ser fortalecido para que, se contrairmos a covid-19, as consequências sejam muito mais leves.


E, para fortalecer nosso sistema imunológico, a chave está na alimentação. Para saber como comer durante a pandemia, conversamos com Mariela Grandt.

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Por que você diz que existe um risco do coronavírus que ninguém fala? Qual é esse risco?

 

O risco é a síndrome metabólica.

 

Vemos que quem tem mais chances de ir para UTIs são as pessoas, além dos idosos, com hipertensão, doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes.

 

Eles sofrem de síndrome metabólica. E isso aparece repetidamente como fator de risco para morte por coronavírus.


Mariela Glandt é edocrinologista especializada em diabetes e acaba de publicar o livro 'Como comer nos tempos de covid-19'

 

Podemos controlar esses riscos com muito mais facilidade do que você pensa e podemos reverter isso em quatro semanas.

 

Existem bons estudos que demonstram isso e tenho centenas de pacientes que comprovam.

 

No momento, estamos todos petrificados pensando em como evitar ser mais uma vítima da covid-19. Aproximadamente 80% das pessoas infectadas não ficam bem, mas também não morrem. Entretanto, 20% apresentam complicações graves.

 

O objetivo é ajudar as pessoas a melhorar o sistema imunológico para serem capazes de combater o coronavírus caso sejam infectadas.

 

A síndrome metabólica é definida quando uma pessoa apresenta 3 destes 5 elementos: pressão alta, açúcar alto, obesidade, triglicerídeos altos e colesterol bom baixo.

 

Apenas 12% dos adultos americanos não apresentam nenhum desses sintomas, de acordo com pesquisas. Pelo menos entre 60% e 70% da população têm essa síndrome.

 

Há uma epidemia que está agravando o coronavírus, que é a comida de má qualidade que ingerimos.

 

Nos últimos anos, comemos alimentos com tanto açúcar e tantos óleos vegetais que não são realmente alimentos. Isso nos deixou doentes.

 

Então, estamos com pressão alta, obesidade, diabetes galopante, ou pré-diabetes muito alta, por causa do que comemos. E a isso é somado um vírus.

 

Quando a síndrome metabólica está presente, ela causa uma inflamação crônica. Se você já está em um estado de inflamação crônica, então você não pode obter a defesa que precisa contra o vírus.

 

Se o vírus se instala em um corpo que não está nas melhores condições, ficamos gravemente doentes.

 

Como comer em tempos de covid-19?


O mais importante é começar a comer comida real, de verdade.

 

Quando você vai ao supermercado, tudo o que está perto das paredes geralmente é comida de verdade. E tudo no meio é geralmente mais industrial.

Nos corredores nas laterais do supermercado geralmente estão os alimentos dos quais precisamos, diz Glandt

 

O que quero dizer com isto? Coma vegetais, frango, peixe, carne, ovos, laticínios e gordura.

 

Tudo o que tem baixo teor de gordura tem alto teor de açúcar e isso não é bom para nós. Você pode adicionar café... mas quase não precisará ir até o meio do supermercado.

 

Como comer hoje quando muitas vezes você não sabe o que a comida tem, como é feita e às vezes não conseguimos decifrar os rótulos

 

Estamos em uma crise.

 

Eu apoio comer orgânicos sempre que possível. É caro, mas é um bom investimento. Vale a pena porque a qualidade da comida é importante.

 

Se você não consegue ler o que está escrito na embalagem, não compre. Não vai te fazer bem. Essa é minha regra.

 

Por que você diz que devemos evitar sucos de frutas?

 

Nada aumenta seu açúcar mais rápido do que um smoothie ou suco de fruta.

 

Por exemplo, você toma um suco de laranja e há 5 laranjas espremidas que são puro açúcar e água.

 

Pergunte a um diabético o que acontece quando ele bebe um copo de suco de laranja. O nível de açúcar no sangue dispara.

 

O pior é a concepção de acreditar que você está tomando algo que te faz bem.

 

Primeiro, é melhor comer a fruta do que tomá-la. E em segundo lugar, não coma tanta fruta. Quando trato meus pacientes, eu as elimino completamente. É o doce da natureza.


Consumir sucos de frutas aumenta significativamente o nível de açúcar no sangue

 

Alguma outra dica para melhorar nossa dieta em meio à pandemia?

 

Tomar consciência do que você coloca em seu corpo.

 

Não existem carboidratos essenciais. O corpo sabe exatamente como produzir todo o açúcar que ele necessita. O cérebro sabe exatamente como viver sem comer carboidratos.

 

Claro que não precisa ser assim a vida toda.

 

Desde o surgimento da agricultura, começamos a comer mais carboidratos, mas não açúcar. O açúcar estava apenas nas frutas e no mel.

 

Isso de comer açúcar todo o tempo está nos adoecendo.

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