Como funcionam as 'head shops', tabacarias modernas que vendem acessórios para o fumo - inclusive de maconha
O consumo de maconha é ilegal no país, mas a comercialização de acessórios que podem ser utilizados para o fumo da erva é legalizada. Donos de lojas falam que setor ainda enfrenta muito tabu e que pandemia afetou os negócios, mas que o mercado está crescendo e se recuperando.
Por Clara Velasco, g1
Quem já passeou pelas ruas de Pinheiros, bairro boêmio da Zona Oeste de São Paulo, ou por ruas como a Augusta, que reúnem comércios e pessoas considerados mais liberais, com certeza já passou na frente de uma “head shop”.
Estas tabacarias contemporâneas vendem desde itens mais tradicionais do setor, como charutos e tabacos a granel, até acessórios mais modernos, como bongs, narguilés e piteiras de vidro.
Elas são focadas na “smoke culture”, algo como “cultura do fumo”, e trabalham com a venda de todos os utensílios necessários para que a pessoa consiga fumar o que quiser com qualidade - seja tabaco, rapé, kumbaya ou… maconha.
“A 'head shop' nada mais é que uma tabacaria contemporânea. Uma tabacaria que trabalha sem preconceitos com o que a pessoa consome”, diz Manoel Barreira, proprietário da Diboa Tabacaria, em Pinheiros.
Barreira conta que as 'head shops' brasileiras são muito inspiradas em lojas do estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que atendem um público especializado e voltado para o consumo da cannabis. Tanto o consumo quanto a comercialização de maconha para fins recreativos são legalizados na Califórnia desde 2018.
Muitas lojas surgiram no Brasil, inclusive, com a expectativa criada em torno da discussão sobre a descriminalização do porte de maconha para consumo próprio, que está em pauta no Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2015. Por isso, o país teve um boom de “head shops” nos últimos anos. Só na cidade de São Paulo, mesmo com a pandemia, foram abertas mais de 1.600 tabacarias em 2020.
Enquanto a discussão não avança na Justiça (a votação foi paralisada com o placar de 3 a 0 a favor da descriminalização no STF), o consumo e a venda de maconha continuam criminalizados no Brasil.
Por isso, as “head shops” focam no mercado legal que está por trás do fumante de tabaco, de narguilé ou de outras substâncias. A comercialização de acessórios utilizados para o fumo, por exemplo, é legalizada e regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Aqui, a gente não vende nada que não é legal. Vende o que é permitido e que entra na legislação como produto de tabaco. O cliente coloca o recheio que ele quiser”, diz Erick Pereira, proprietário do Bongada Headshop, na Rua Augusta.
“Por ser uma 'head shop', tem um olhar torto para esse tipo de estabelecimento. Como se a gente estivesse fazendo alguma coisa errada. Mas a gente sabe exatamente quais são as coisas que são aprovadas [pela Anvisa] para não ter esse tipo de problema”, complementa Barreira.
Segundo eles, os produtos que mais são comercializados são os tabacos, geralmente vistos como uma opção de fumo que causa menos danos que os cigarros industrializados convencionais. Sedas e piteiras também são bastante vendidas, já que são usadas no fumo do tabaco. (...)
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