O que atropelava a verdade era a roupa, o
impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem
vestido. O cinema americano informará.
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e
amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos
traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.
Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem
coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano,
fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.
Uma consciência participante, uma
rítmica religiosa.
Contra todos os importadores de consciência
enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr.
Lévy-Bruhl estudar.
Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a
Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do
homem. Sem n6s a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos
do homem.
A idade de ouro anunciada pela América. A idade
de ouro. E todas as girls.
Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori Villegaignon print terre. Montaig-ne. O homem natural. Rousseau. Da
Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução
Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos..
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um
direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.
Mas nunca admitimos o nascimento da lógica
entre nós.
Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro
empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe : ponha isso no
papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro.
Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.
O espírito recusa-se a conceber o espírito sem
o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o
equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.
Só podemos atender ao mundo orecular.
Tínhamos a justiça codificação da vingança. A
ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu
em totem.
Contra o mundo reversível e as idéias
objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo
vitima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E
o esquecimento das conquistas interiores.
Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.
Roteiros. Roteiros. Roteiros.
O instinto Caraíba.
Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte
do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência.
Conhecimento. Antropofagia.
Contra as elites vegetais. Em comunicação com
o solo.
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval.
O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas
óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.
Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua
surrealista. A idade de ouro.
Catiti Catiti
Imara Notiá
Notiá Imara
Ipeju*
A magia e a vida. Tínhamos a relação e a
distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos
transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais.
Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele
me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem
chamava-se Galli Mathias. Comia.
Só não há determinismo onde há mistério. Mas
que temos nós com isso?
Contra as histórias do homem que começam no
Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão.
Sem César.
A fixação do progresso por meio de catálogos e
aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue.
Contra as sublimações antagônicas. Trazidas
nas caravelas.
Contra a verdade dos povos missionários,
definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira
muitas vezes repetida.
Mas não foram cruzados que vieram. Foram
fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e
vingativos como o Jabuti.
Se Deus é a consciênda do Universo Incriado,
Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais.
Não tivemos especulação. Mas tínhamos
adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um
sistema social-planetário.
As migrações. A fuga dos estados tediosos.
Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o
tédio especulativo.
De William James e Voronoff. A transfiguração
do Tabu em totem. Antropofagia.
O pater famílias e a criação da Moral da
Cegonha: Ignorância real das coisas+ fala de imaginação + sentimento de
autoridade ante a prole curiosa.
É preciso partir de um profundo ateísmo para se
chegar à idéia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci.
O objetivo criado reage com os Anjos da Queda.
Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso?
Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o
Brasil tinha descoberto a felicidade.
Contra o índio de tocheiro. O índio filho de
Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz.
A alegria é a prova dos nove.
No matriarcado de Pindorama.
Contra a Memória fonte do costume. A
experiência pessoal renovada.
Somos concretistas. As idéias tomam conta,
reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimarnos as idéias e as outras
paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e
nas estrelas.
Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de
D. João VI.
A alegria é a prova dos nove.
A luta entre o que se chamaria Incriado e a
Criatura – ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor
cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo
sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade.
Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz
em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por
Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual.
É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna
eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e
transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos
pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos
chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos
agindo. Antropófagos.
Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do
céu, na terra de Iracema, – o patriarca João Ramalho fundador de
São Paulo.
A nossa independência ainda não foi proclamada.
Frape típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes
que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o
espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.
Contra a realidade social, vestida e opressora,
cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem
prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.