SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se eu li corretamente, ele [Bolsonaro] diz que é melhor alguém estar morto do que ser gay. Isso é bem similar ao pensamento de [Vladimir] Putin, diz Maria Masha Alyokhina, uma das integrantes do coletivo russo Pussy Riot, conhecido pelo ativismo na luta pela liberdade de expressão e pelos direitos da mulher.
29 de jan. de 2020
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se eu li corretamente, ele [Bolsonaro] diz que é melhor alguém estar morto do que ser gay. Isso é bem similar ao pensamento de [Vladimir] Putin, diz Maria Masha Alyokhina, uma das integrantes do coletivo russo Pussy Riot, conhecido pelo ativismo na luta pela liberdade de expressão e pelos direitos da mulher.
Lira Itabirana
Um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), .
I
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
II
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
Publicado em 1984 no jornal Cometa Itabirano, o poema não chegou a ganhar versão subsequente em livro
Escrito em um período em que a dívida externa era um fantasma no horizonte de qualquer tentativa de crescimento no Brasil, Lira Itabirana, com versos curtos e diretos que buscam inspiração nas quadras da poesia popular, faz a comparação entre a atividade mineradora incessante e lucrativa e a dívida "eterna" do país, pouco aplacada mesmo com as toneladas de ferro exportado.
Apesar do aparente tom antecipatório, ele apenas reitera alguns elementos com que o poeta mineiro trabalhou ao longo de toda sua carreira: crítica social e política aliada à evocação nostálgica de uma Minas Gerais que já não existia. Lira Itabirana é apenas um dos exemplos de poemas nos quais Drummond refletia, entre melancólico e alarmado, com os efeitos da mineração em seu Estado natal. Qualquer deles, agora, poderia ser relembrado com o mesmo caráter assombroso.
Não é de estranhar que Drummond fale da Vale em Lira Itabirana. Ambos são conterrâneos. Itabira, a cidade a 104 quilômetros de Belo Horizonte em que Drummond nasceu, em 1902, foi a mesma em que surgiu a Companhia do Vale do Rio Doce, em 1942. Antes disso, nos séculos 18 e 19, a cidade já havia passado por ciclos de mineração de ouro, em pequenas empreitadas sustentadas principalmente por mão de obra escrava. O ouro na região, contudo, era menos abundante do que em outras cidades mineiras, e por isso Itabira não experimentou grande crescimento econômico. O próprio Drummond identificava-se, na saudosa crônica Vila da Utopia, como um "filho da mineração", como todo Itabirano:
"Parecia-me que um destino mineral, de uma geometria dura e inelutável, te prendia, Itabira, ao dorso fatigado da montanha, enquanto outras alegres cidades, banhando-se em rios claros ou no próprio mar infinito, diziam que a vida não é uma pena, mas um prazer. A vida não é um prazer, mas uma pena. Foi esta segunda lição, tão exata como a primeira, que eu aprendi contigo, Itabira, e em vão meus olhos perseguem a paisagem fluvial, a paisagem marítima: eu também sou filho da mineração, e tenho os olhos vacilantes quando saio da escura galeria para o dia claro."
Essa situação mudou depois que a cidade passou a ser o ponto inicial do chamado "quadrilátero ferrífero", a região de extração do ferro que inclui também Mariana, além de Sabará e Ouro Preto, entre outras. A expansão mineradora, contudo, não era feita sem um preço a pagar, algo que Drummond já havia apontado em um poema de 1973. No seu livro Menino Antigo, o poeta exporia sua inquietação com os efeitos da retirada de minério da região, em A Montanha Pulverizada, poema no qual narra o desaparecimento do Pico do Cauê. Outrora cartão postal e marco do município de Itabira, o Pico do Cauê terminou reduzido a nada pela atividade mineradora:
Chego à sacada e vejo a minha serra,
a serra de meu pai e meu avô,
de todos os Andrades que passaram
e passarão, a serra que não passa.
(...)
Esta manhã acordo e não a encontro,
britada em bilhões de lascas,
deslizando em correia transportadora
entupindo 150 vagões,
no trem-monstro de cinco locomotivas
- trem maior do mundo, tomem nota -
foge minha serra, vai
deixando no meu corpo a paisagem
mísero pó de ferro, e este não passa.
Escrito em um período em que a dívida externa era um fantasma no horizonte de qualquer tentativa de crescimento no Brasil, Lira Itabirana, com versos curtos e diretos que buscam inspiração nas quadras da poesia popular, faz a comparação entre a atividade mineradora incessante e lucrativa e a dívida "eterna" do país, pouco aplacada mesmo com as toneladas de ferro exportado.
Apesar do aparente tom antecipatório, ele apenas reitera alguns elementos com que o poeta mineiro trabalhou ao longo de toda sua carreira: crítica social e política aliada à evocação nostálgica de uma Minas Gerais que já não existia. Lira Itabirana é apenas um dos exemplos de poemas nos quais Drummond refletia, entre melancólico e alarmado, com os efeitos da mineração em seu Estado natal. Qualquer deles, agora, poderia ser relembrado com o mesmo caráter assombroso.
Não é de estranhar que Drummond fale da Vale em Lira Itabirana. Ambos são conterrâneos. Itabira, a cidade a 104 quilômetros de Belo Horizonte em que Drummond nasceu, em 1902, foi a mesma em que surgiu a Companhia do Vale do Rio Doce, em 1942. Antes disso, nos séculos 18 e 19, a cidade já havia passado por ciclos de mineração de ouro, em pequenas empreitadas sustentadas principalmente por mão de obra escrava. O ouro na região, contudo, era menos abundante do que em outras cidades mineiras, e por isso Itabira não experimentou grande crescimento econômico. O próprio Drummond identificava-se, na saudosa crônica Vila da Utopia, como um "filho da mineração", como todo Itabirano:
"Parecia-me que um destino mineral, de uma geometria dura e inelutável, te prendia, Itabira, ao dorso fatigado da montanha, enquanto outras alegres cidades, banhando-se em rios claros ou no próprio mar infinito, diziam que a vida não é uma pena, mas um prazer. A vida não é um prazer, mas uma pena. Foi esta segunda lição, tão exata como a primeira, que eu aprendi contigo, Itabira, e em vão meus olhos perseguem a paisagem fluvial, a paisagem marítima: eu também sou filho da mineração, e tenho os olhos vacilantes quando saio da escura galeria para o dia claro."
Essa situação mudou depois que a cidade passou a ser o ponto inicial do chamado "quadrilátero ferrífero", a região de extração do ferro que inclui também Mariana, além de Sabará e Ouro Preto, entre outras. A expansão mineradora, contudo, não era feita sem um preço a pagar, algo que Drummond já havia apontado em um poema de 1973. No seu livro Menino Antigo, o poeta exporia sua inquietação com os efeitos da retirada de minério da região, em A Montanha Pulverizada, poema no qual narra o desaparecimento do Pico do Cauê. Outrora cartão postal e marco do município de Itabira, o Pico do Cauê terminou reduzido a nada pela atividade mineradora:
Chego à sacada e vejo a minha serra,
a serra de meu pai e meu avô,
de todos os Andrades que passaram
e passarão, a serra que não passa.
(...)
Esta manhã acordo e não a encontro,
britada em bilhões de lascas,
deslizando em correia transportadora
entupindo 150 vagões,
no trem-monstro de cinco locomotivas
- trem maior do mundo, tomem nota -
foge minha serra, vai
deixando no meu corpo a paisagem
mísero pó de ferro, e este não passa.
Anos depois, em 1984, Drummond faria outra versão desse mesmo poema e a publicaria no jornal Cometa Itabirano - o mesmo no qual saiu também Lira Itabirana.
Em O Maior Trem do Mundo - mais tarde compilado em Poesia Errante, Drummond repete o mote do trem que leva embora não apenas a riqueza mineral extraída da terra, mas a própria terra e seu coração. O poema foi escrito em uma época em que a economia de Itabira já começava a dar mostras de colapso, sem que a cidade tivesse se beneficiado da riqueza gerada pelo empreendimento. O poema de Drummond aborda, com melancolia, a possibilidade de esgotamento dos veios minerados na cidade e seu abandono previsível quando não houver mais o que tirar do coração da terra:
O maior trem do mundo
Leva minha terra
Para a Alemanha
Leva minha terra
Para o Canadá
Leva minha terra
Para o Japão
O maior trem do mundo
Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel
Engatadas geminadas desembestadas
Leva meu tempo, minha infância, minha vida
Triturada em 163 vagões de minério e destruição
O maior trem do mundo
Transporta a coisa mínima do mundo
Meu coração itabirano
Lá vai o trem maior do mundo
Vai serpenteando, vai sumindo
E um dia, eu sei não voltará
Pois nem terra nem coração existem mais.
Em O Maior Trem do Mundo - mais tarde compilado em Poesia Errante, Drummond repete o mote do trem que leva embora não apenas a riqueza mineral extraída da terra, mas a própria terra e seu coração. O poema foi escrito em uma época em que a economia de Itabira já começava a dar mostras de colapso, sem que a cidade tivesse se beneficiado da riqueza gerada pelo empreendimento. O poema de Drummond aborda, com melancolia, a possibilidade de esgotamento dos veios minerados na cidade e seu abandono previsível quando não houver mais o que tirar do coração da terra:
O maior trem do mundo
Leva minha terra
Para a Alemanha
Leva minha terra
Para o Canadá
Leva minha terra
Para o Japão
O maior trem do mundo
Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel
Engatadas geminadas desembestadas
Leva meu tempo, minha infância, minha vida
Triturada em 163 vagões de minério e destruição
O maior trem do mundo
Transporta a coisa mínima do mundo
Meu coração itabirano
Lá vai o trem maior do mundo
Vai serpenteando, vai sumindo
E um dia, eu sei não voltará
Pois nem terra nem coração existem mais.
De acordo com a pesquisadora Letícia Malard, autora do livro No Vasto Mundo de Drummond (Editora UFMG, 2005), a "corrosão" é uma metáfora forte e recorrente na poesia de Drummond: "uma corrosão no sentido literal, socioeconômico - a serra sendo corroída pela retirada do minério - e uma corrosão metafórica - a alma corroída do itabirano, uma vez que procura a 'sua' serra, a qual lhe parecia eterna, e não mais a encontra."
Logo, a preocupação de Drummond com os efeitos da mineração em sua região nada tinha de profética. E se agora ela surpreende, é porque, infelizmente, ninguém estava prestando atenção.
Logo, a preocupação de Drummond com os efeitos da mineração em sua região nada tinha de profética. E se agora ela surpreende, é porque, infelizmente, ninguém estava prestando atenção.
*Zero Hora
https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/ultimas-noticias/
27 de jan. de 2020
25 de jan. de 2020
Só mesmo um burro pra pensar assim
Cara! Sou tão burro,
pensava que a igualdade fosse vontade de todos.
Cara!
Uai!
Me dei mau.
A foto misteriosa de Carluxo
Carlos Bolsonaro publicou há pouco em seu Twitter uma foto sua diante de um varal, sem nenhum texto acompanhando.
Neste momento, especialistas estão muito empenhados em entender.
(..."e há paz após a sacanagem. ") /Sacanagem\
INSTITUTO CULTURAL FILARMÔNICA
O Instituto Cultural Filarmônica é uma associação civil sem fins lucrativos que tem como tarefas estruturar e manter a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e promover a difusão da música clássica. O Instituto tem também o compromisso de zelar pela eficiência e transparência da gestão da Orquestra e pelo fiel cumprimento de seus objetivos culturais, garantindo à sociedade acesso às informações referentes à gestão de recursos.
AGENDA DE
CONCERTOS
Próximos Concertos:
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A Sala Minas Gerais é um espaço de escuta sensível, capaz de
ampliar a experiência com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.
Venha que a casa também é sua.
|
13 fevereiro, 2020
20h30
A Sala Minas Gerais está localizada em uma região com acessos privilegiados pelos principais corredores viários da cidade. Não importa o meio de transporte, sua comodidade está garantida.
20h30
A Sala Minas Gerais está localizada em uma região com acessos privilegiados pelos principais corredores viários da cidade. Não importa o meio de transporte, sua comodidade está garantida.
LINHAS DE ÔNIBUS
2104, 2151, 1404, 1502, 1505, 1509, 1510, 4031, SC01A, SC03A e outros.
2104, 2151, 1404, 1502, 1505, 1509, 1510, 4031, SC01A, SC03A e outros.
ACESSIBILIDADE
A Sala Minas Gerais dispõe de lugares para cadeirantes. Para saber como comprar os ingressos para esses espaços, envie um e-mail para contato@filarmonica.art.br ou ligue para (31) 3219-9000. A Sala também está equipada com rampas de acesso, elevadores e banheiros adaptados.
A Sala Minas Gerais dispõe de lugares para cadeirantes. Para saber como comprar os ingressos para esses espaços, envie um e-mail para contato@filarmonica.art.br ou ligue para (31) 3219-9000. A Sala também está equipada com rampas de acesso, elevadores e banheiros adaptados.
BILHETERIA
A bilheteria da Sala Minas Gerais funciona de terça a sexta, de 12h a 20h, e no sábado, de 12h a 18h. Saiba mais sobre a venda de ingressos.
A bilheteria da Sala Minas Gerais funciona de terça a sexta, de 12h a 20h, e no sábado, de 12h a 18h. Saiba mais sobre a venda de ingressos.
ESTACIONAMENTO*
O estacionamento fica na Rua Alvarenga Peixoto, entre a Tenente Brito Melo e a Uberaba. Para quem vai assistir aos concertos, será cobrada uma taxa fixa de 20 reais nos seguintes períodos:
quintas e sextas-feiras, das 19h às 24h
sábados, das 16h às 21h
domingos, das 9h às 14h
Importante: é preciso apresentar o ingresso na hora do pagamento.
O estacionamento fica na Rua Alvarenga Peixoto, entre a Tenente Brito Melo e a Uberaba. Para quem vai assistir aos concertos, será cobrada uma taxa fixa de 20 reais nos seguintes períodos:
quintas e sextas-feiras, das 19h às 24h
sábados, das 16h às 21h
domingos, das 9h às 14h
Importante: é preciso apresentar o ingresso na hora do pagamento.
https://super.abril.com.br/
A
ciência do palavrão
Os
xingamentos mostram a evolução da linguagem e os podres das sociedades. De
quebra, ajudam a desvendar nosso cérebro
Por Pedro Burgos
Por que diabos “merda” é palavrão? Aliás, por que a
palavra “diabos”, indizível décadas atrás, deixou de ser um? Outra: você já
deve ter tropeçado numa pedra e, para revidar, xingou-a de algo como
Pois é: há mais mistérios no universo dos palavrões
do que o senso comum imagina. Mas a ciência ajuda a desvendá-los. Pesquisas
recentes mostram que as palavras sujas nascem em um mundo à parte dentro do
cérebro. Enquanto a linguagem comum e o pensamento consciente ficam a cargo da
parte mais sofisticada da massa cinzenta, o neocórtex, os palavrões “moram” nos
porões da cabeça. Mais exatamente no sistema límbico. É o fundo do cérebro, a
parte que controla nossas emoções. Trata-se de uma zona primitiva: se o nosso
neocórtex é mais avantajado que o dos outros mamíferos, o sistema límbico é bem
parecido. Nossa parte animal fica lá.
E sai de vez em quando, na forma de palavrões. A
medicina ajuda a entender isso. Veja o caso da síndrome de Tourette. Essa
doença acomete pessoas que sofreram danos no gânglio basal, a parte do cérebro
cuja função é manter o sistema límbico comportado. Elas passam a ter tiques
nervosos o tempo todo. E, às vezes, mais do que isso. De 10 a 20% dos pacientes
ficam com uma característica inusitada: não param de falar palavrão. Isso
mostra que, sem o gânglio basal para tomar conta, o sistema límbico se solta
todo. E os palavrões saem como se fossem tiques nervosos na forma de palavras.
Mas você não precisa ter lesão nenhuma para se
descontrolar de vez em quando, claro. Como dissemos, basta tropeçar numa pedra
para que ela corra o sério risco de ouvir um desaforo. Se dependesse do
pensamento consciente, ninguém nunca ofenderia uma coisa inanimada. Mas o
sistema límbico é burro. Burro e sincero. Justamente por não pensar, quando
essa parte animal do cérebro “fala”, ela consegue traduzir certas emoções com
uma intensidade inigualável. Os palavrões, por esse ponto de vista, são poesia
no sentido mais profundo da palavra. Duvida
Então pense em uma palavra
forte. “Paixão”, por exemplo. Ela tem substância, sim, mas está longe de
transmitir toda a carga emocional da paixão propriamente dita. Mas com um
grande e gordo “puta que o pariu” a história é outra. Ele vai direto ao ponto,
transmite a emoção do sistema límbico de quem fala direto para o de quem ouve.
Por isso mesmo, alguns pesquisadores consideram o palavrão até mais sofisticado
que a linguagem comum.
É o que pensa o psicólogo
cognitivo Steven Pinker, da Universidade Harvard. Em seu livro mais
recente, Stuff of Thought (“Coisas do Pensamento”, inédito em
português), ele escreveu: “Mais do que qualquer outra forma de linguagem,
xingar recruta nossas faculdades de expressão ao máximo: o poder de combinação
da sintaxe; a força evocativa da metáfora e a carga emocional das nossas
atitudes, tanto as pensadas quanto impensadas”. Traduzindo: palavrões são f*.
Tão f* que nem os usamos só para
xingar. Eles expressam qualquer emoção indizível, seja ruim, seja boa. Então,
se um jogador de futebol grita palavrões depois de marcar um gol, ele não o faz
por ser mal-educado, mas porque só uma palavra saída direto do sistema límbico
consegue transmitir o que ele está sentindo. Outra prova de eficácia é que eles
estreitam nossos laços sociais. Se você xingar alguém gratuitamente e o sujeito
não ficar bravo, significa que ele é seu amigo. Daí que grupos de homens adoram
usar cumprimentos como “Fala, cuzão!” Isso deixa claro que todos ali são
íntimos. “Perceber o xingamento como agressão ou ferramenta social depende do
contexto”, disse o psicólogo Timothy Jay, da Faculdade de Artes Liberais de
Massachusetts, para a revista americana New Scientist. “Num vestiário
masculino, por exemplo, quem não xinga é o ‘panaca’”.
Timothy Jay sabe do que está
falando. É um expert em palavrões. Ele passou as últimas 3 décadas anotando as
sujeiras que ouvia em lugares públicos. Juntou mais de 10 mil ocorrências. E
colocou em números cientificamente rigorosos (na medida do possível) aquilo que
você já sabia: “foda” e “merda” (ou “fuck” e “shit”) correspondem à metade de
todos os palavrões ditos – sem contar suas variantes.
Não é à toa. Como os palavrões
nascem na parte primitiva do cérebro, quase todos versam sobre as duas coisas
mais básicas da existência:
Sexo e excrementos
Veja só. “Merda” é um palavrão
mais ofensivo que “mijo”, por sua vez mais pesado que “cuspe”, que nem palavrão
é. Se você fosse excretar alguma dessas coisas na rua, essa também seria a
ordem de impacto nas outras pessoas – do mais para o menos chocante.
Coincidência? “Não. Não é por acaso que as substâncias que mais dão nojo também
sejam vetores de doenças. A reação de repulsa à palavra é o desejo de não tocar
ou comer a coisa”, afirma o médico americano Val Curtis no livro Is
Hygiene in Our Genes? (“A Higiene Está nos Nossos Genes?”, sem tradução
para português).
Se é fácil entender por que
excrescências são palavrões, não dá para dizer o mesmo sobre os termos ligados
ao sexo. Afinal, sexo é bom, não? Não necessariamente. “Ele traz altos riscos,
incluindo doenças, exploração, pedofilia e estupro. Esses males deixaram marcas
nos nossos costumes e emoções”, diz Pinker. Foquemos em “estupro”. Pegar
mulheres à força permitia que um macho fizesse dezenas, centenas de filhos,
coisa que contou pontos no jogo da evolução. Já para as mulheres isso é o
inferno. Então selecionar o pai é fundamental, e engravidar de alguém que a
violentou, um baita prejuízo.
Daí foi natural que a expressão
“foder alguém” virasse sinônimo de “fazer um grande mal”. Para entender isso
melhor, complete a frase “Fernando ___ Paula” para mostrar que eles transaram,
usando apenas uma palavra. Quase todas as opções para preencher a lacuna são
palavrões. Já os termos leves para relação sexual sempre carregam a preposição
“com”: você pode dizer que Fernando fez amor com Paula, dormiu com, fez sexo
com, transou com… Todos os exemplos indicam que Fernando e Paula participaram
do sexo de igual para igual. Com os palavrões, a história é outra. Eles deixam
claro: Paula está sempre numa posição inferior.
Note que a origem de “fodido” e
seus equivalente não envolve o sexo apenas como uma ferramenta de submissão de
homens contra mulheres. Mas de homens contra homens também. O estupro
homossexual sempre foi, e segue sendo, uma forma eficaz de deixar claro num
bando de machos quem é o chefe – a violência sexual dentro dos presídios está
aí para provar. A coisa é tão arraigada que até uma palavra inocente hoje, como
“coitado” ou “tadinho”, sua variante mais fofa, significa “aquele que sofreu o
coito”.
Mas espera aí: como algo tão
barra-pesada vira uma palavra até bonitinha? É o que vamos ver.
A vida e a morte de um palavrão
“Que se dane!”, “diabos” ou “vá
para o inferno” já foi algo mais impactante. Claro: até décadas atrás não havia
prognóstico pior que não ir para o céu quando morresse. Então, quando a idéia
era insultar para valer, nada melhor que mandar alguém para o inferno. “A perda
de eficácia das palavras tabus relacionadas à religião é uma óbvia conseqüência
da secularização da cultura ocidental”, afirma Pinker.
Outra: quando “câncer” era
sinônimo de morte, também não podia ser dita livremente. Nos obituários, a
pessoa não morria de câncer, mas de “uma longa enfermidade”. Com os avanços no
tratamento, a coisa mudou de figura, e câncer, apesar de ainda dar calafrios,
virou uma palavra bem mais corriqueira. As doenças em geral, na verdade,
passaram por um processo parecido. Em Romeu e Julieta, de Shakespeare, por
exemplo, há uma passagem dizendo: “Que a peste invada as casas de ambos!” Uma
baita ofensa no século 16, quando a peste bubônica ainda era uma ameaça na
Europa. Mas agora, no mundo limpo e cheio de antibióticos que a gente conhece,
o xingamento shakespeariano parece inócuo.
E também há o inverso: palavras
normais que viram tabu. Em algum momento da história do português um sujeito
chamou pênis de “pau”. E uma palavra originalmente “pura” enveredava para o mau
caminho. Nada mais comum: hoje ninguém se lembra mais de “caralho” como sendo a
cestinha que ficava no alto do mastro dos navios, ou “boceta” como uma caixa
pequena e redonda. “A palavra vira tabu quando ganha um sentido simbólico”,
afirma o etimólogo Deoníoso da Silva, da Universidade Estácio de Sá.
Mais uma mostra de como os
palavrões flutuam com o espírito do tempo são as expressões que são tabu num
lugar e não têm nada de mais em outro. Se você for a Portugal, vai ver que eles
preferem cu e rabo para referirem-se às nádegas, e que coram quando alguém fala
“broche” (o termo sujo para sexo oral).
Mas quem decide o que é palavrão
e o que não é? “Isso depende dos mecanismos de conservação da língua, que são o
ensino, os meios de comunicação e os dicionários. As palavras relacionadas a
sexo que não são palavrões são quase todas da literatura científica, como pênis
e ânus”, explica a lingüista Wânia de Aragão, da Universidade de Brasília. Não
que isso impeça termos científicos de hoje, como “pedófilo”, de virar palavra
suja um dia. A palavra “esquizofrênico”, por exemplo, nasceu na ciência, mas
agora, com o aumento dos dignósticos de doenças mentais, caiu na boca do povo.
E está virando xingamento.
Mas saber quais serão os
palavrões do futuro é tão impossível quanto prever o futuro da tecnologia, da
humanidade ou do Corinthians. O escritor e comediante inglês Douglas Adams,
resumiu isso bem no clássico O Guia do Mochileiro das Galáxias. O livro
diz que o palavrão mais sujo entre os habitantes dos outros planetas da Via
Láctea é uma expressão bem conhecida dos terráqueos: “Bélgica”.
UOL
Jamil Chade
Colunista do UOL
21/01/2020 17h11
Colunista do UOL
21/01/2020 17h11
O relator da ONU sobre liberdade de expressão, David Kaye, vai cobrar do governo brasileiro explicações sobre a denúncia que o Ministério Público apresentou contra o jornalista Glenn Greenwald.
À coluna, o relator explicou que recebeu as informações sobre a investigação contra o jornalista americano. "Dado o papel de Greenwald como um jornalista cobrindo o governo brasileiro e questões políticas, eu acho extremamente preocupante que isso possa fazer parte de um esforço para intimidá-lo para que pare de fazer jornalismo", disse relator-da-onu-alerta 3&uact=3
24 de jan. de 2020
Só mesmo um burro pra pensar assim
"bolsonaro convida a maior
estrela da rede globo para ser a
secretária de cultura du seu governo"
12 de jan. de 2020
Vício maldito
Bivar diz que dinheiro público foi real motivo de racha no PSL
Com a eleição de 52 deputados, o PSL passou
da condição de nanico para detentor da segunda
da condição de nanico para detentor da segunda
maior fatia do Fundo Partidário
Presidente nacional do PSL, o deputado Luciano Bivar (PE) sustenta que foi o dinheiro público destinado ao partido o real motivo do racha entre os grupos liderados por ele e pelo presidente Jair Bolsonaro.
Com a eleição de 52 deputados, o PSL passou da condição de nanico para detentor da segunda maior fatia do Fundo Partidário — só em 2019, a legenda recebeu mais de R$ 87 milhões, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“A cúpula do governo ficou ensandecida para pegar esse dinheiro”, disse Bivar
Na última quinta-feira, Bolsonaro disse que lançaria uma campanha para que os eleitores não votem em candidatos que utilizem o fundão
Bolsonaro já criticou várias vezes o uso de recursos públicos em campanhas eleitorais. Inclusive, em transmissão ao vivo na última quinta-feira (9), disse que lançaria uma campanha para que os eleitores não votem em candidatos que usem o fundão.
Na sexta-feira, ele defendeu a apresentação de um projeto para que os R$ 2 bilhões aprovados para o fundo sejam destinados às Santas Casas,
Porém
O estatuto do Aliança pelo Brasil, partido criado pelo presidente Jair Bolsonaro, prevê o financiamento com recursos públicos provenientes do Fundão Eleitoral, do fundo partidário e também doações por outras siglas que fazem uso da verba.
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