Marina sinaliza neutralidade e vê futuro na 3a via
Por Carmen Munari e Brian Winter (trechos da entrevista)
É muito provável que os eleitores não vejam Marina em nenhum dos dois palanques no segundo turno. Ela sinalizou que deverá ficar neutra, independente da decisão do PV no próximo domingo.
Marina, a ambientalista que ficou em terceiro lugar na eleição de 3 de outubro com quase 20 milhões de votos, se sente frustrada com o tom agressivo dos dois candidatos e reiterou que não vê grande diferença entre eles.
"Ambos são muito parecidos. Ambos têm uma visão desenvolvimentista. Eles têm um perfil gerencial. O Brasil não precisa de gerente, precisa de quem tem visão estratégica", disse Marina.
Ela acredita que tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), demonstraram visão estratégica ao se colocar à frente de projetos sociais e de programas para conter a inflação, respectivamente.
"O Brasil continua precisando de visão estratégica. Quando você tem visão estratégica, você consegue os melhores gerentes. Quando você é apenas um gerente, a gente pode perder o rumo do que precisa ser feito", declarou.
Por enquanto, o PV está em conversas com as equipes de Dilma e Serra tendo como base documento com dez propostas dos verdes. A aceitação dos itens é vista como condição para a decisão de apoio.
TERCEIRA VIA
A senadora evitou detalhar seu futuro. Disse que não há decisão "a priori", mas deixou claro que vai continuar em busca de uma terceira via, distinta dos principais partidos majoritários.
Citando o pensador francês Edgar Morin, afirmou que faz parte de uma "comunidade de pensamento", termo indicado por ele.
"Eu me disponho a fazer parte desta comunidade de pensamento. Espero que essa nova visão da política seja relevante para o Brasil e que não se disperse essa sinalização embrionária que foi dada nessas eleições, de que temos a possibilidade de construir uma terceira via", disse.
Sentada ao lado de um exemplar da Bíblia, Marina, evangélica da Assembléia de Deus, disse que sentiu preconceito durante o primeiro turno da eleição já que apenas a ela eram feitos questionamentos sobre religião. Agora que está fora da disputa, viu o tema crescer e atingir os dois candidatos.
Marina se emocionou apenas uma vez na entrevista, quando foi questionada sobre se tinha virado "moda". Ela respondeu que sua fama é resultado do trabalho de toda uma geração que luta em favor do meio ambiente.
"Isso é fruto do trabalho de muita gente ao longo de 30 anos. Eu não posso me apropriar individualmente disso. Quando as pessoas fazem um referência à questão ambiental ou a mim eu sei que estão se referenciando nesses 30 anos de luta sócio-ambiental do Brasil, onde vi o Chico Mendes ser assassinado", afirmou. Seringueiro e ativista, Chico Mendes foi assassinado em 1988.