''A
sociedade enlouqueceu: tudo virou motivo para ações violentas''.
A
“Guerra do Rio” acompanhada por todos os brasileiros através do “show
midiático” em novembro de 2010 “faz parte de um projeto que está sendo montado
há muito tempo, o qual não desmonta a estrutura da violência, porque ela está
dentro do próprio aparelho do Estado”, diz José Cláudio Alves à IHU On-Line.
Em
entrevista concedida por telefone, o sociólogo explica que parte significativa
da sociedade civil apoia a repressão e o controle policial nas favelas porque a
concepção de segurança pública está relacionada com o combate ao crime. “Para a
sociedade, bandido bom é bandido morto. Essa é a ideologia predominante, porque
rende dividendos para todos os lados. Quanto mais se matam pobres, negros,
favelados de comunidades pobres – isso em uma sociedade segregada como a nossa
–, mais se gera um rendimento político, porque a sociedade pensa que o Estado
está trabalhando para eliminar o mal, o bandido, o crime organizado”.
A
instalação de Unidades da Polícia Pacificadora – UPPs nas favelas tem um
impacto pequeno no combate à violência, se comparada à adesão de policiais à
“estrutura de corrupção”. “Esta rede rende algo em torno de 11 bilhões de reais
ao Rio de Janeiro. (...) A economia formal também se beneficia com o tráfico de
armas e de drogas. O jogo do bicho, por exemplo, é uma das formas mais bem
estruturadas do crime organizado: uma família pode lucrar, por semana, com o
caça níqueis e o jogo do bicho, dois milhões e meio de reais, algo em torno de
dez milhões de reais por mês. A violência existe porque muitos lucram com ela”,
reitera.
De
acordo com José Cláudio Alves, por trás da imagem de cidade maravilhosa,
configura-se no Rio de Janeiro a cidade segregada, “onde as pessoas sabem
claramente qual é o seu espaço, onde devem estar, que locais podem frequentar,
que horário devem sair, que horas devem voltar”.
José
Cláudio Souza Alves é graduado em Estudos Sociais pela Fundação Educacional de
Brusque. É mestre em sociologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro – PUC-Rio e doutor na mesma área pela Universidade de São Paulo – USP.
Atualmente é professor na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ.