Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

5 de jul. de 2019

Loucura Diária



Comitiva bolsonarista na Europa




Guarda Civil da Espanha divulga mais fotos de mala de militar preso com 39 kg de cocaína

Acabou esse negocio do PT fazer "toma lá da cá", "agora é nois"

O cansaço de uma criança explorada.


"Não ao TRABALHO INFANTIL"


No dia em que a comissão especial da reforma da Previdência aprovou o texto-base da proposta, apontada como crucial pela equipe
 econômica do governo,
 o presidente Jair Bolsonaro ignorou o assunto em sua transmissão semanal ao vivo em uma rede social e, entre outros assuntos que tratou, disse que 

o trabalho não prejudica as crianças.


A omissão de Bolsonaro em relação à reforma da Previdência, cujos destaques ao texto principal ainda estavam sendo analisados na comissão, ocorre um dia depois de o presidente entrar em campo sem sucesso em busca de um acordo para amenizar as regras de aposentadoria para policiais no texto da reforma.


Uma obra de arte para o 
momento de Sérgio Moro

por Raisa Pina



Quem dita os discursos, as regras do jogo, tem a intenção de restringir o acesso popular para manter poderes simbólicos e hierarquias sociais



“Não acredito que vocês imbecis realmente compram isso” é o título de uma obra de Banksy, o artista inglês famoso por seus graffiti e intervenções urbanas, feitas em diversas partes do mundo, da Disney à Palestina. O nome da peça está estampado dentro dela mesma. A composição mostra uma cena de leilão de obras de arte, em que homens engravatados e poucas mulheres dão seus lances por um quadro emoldurado em que se vê apenas a frase piadista. No centro da imagem, o valor alcançado até o momento pela venda disputada: $ 750.450 (provavelmente dólares).

No mundo mercadológico das artes, algumas obras alcançam cifras difíceis de serem entendidas – ainda mais em um país desigual como o Brasil, onde famílias inteiras sobrevivem com menos de R$ 1 mil mensais. Entretanto, os casos que ganham notícias nos jornais são exceções à regra geral, em que normalmente artistas pouco vendem e vivem subvalorizados. A arte do dia a dia não é cara e é tão valiosa quanto os grandes nomes pertencentes aos maiores acervos museológicos do mundo, mas ela é menosprezada para que exceções milionárias possam existir. Geralmente quem dita os discursos, as regras do jogo, tem a intenção de restringir o acesso popular para manter poderes simbólicos e hierarquias sociais.

A verdade é que nenhum quadro vale milhões. Pode acreditar. Mas se todos soubessem disso, como ficariam as casas de leilão e as grandes transações, que não raramente favorecem lavagens de dinheiro e corrupções? Tive a sorte de ter um professor que me abriu os olhos para isso um dia: “Mona Lisa nenhuma vale milhões, é apenas uma tela”, ele me disse; justo ele, que é um dos maiores especialistas em museus e instituições de arte do Brasil. Com todo seu conhecimento acumulado e anos de experiência, ele sabe exatamente que os cifrões atribuídos a qualquer obra tem fetiche demais e realidade de menos. Mona Lisa é preciosa porque diz muito sobre seu período e reúne elementos especiais que colaboram com a construção da história da arte que conhecemos, mas isso não deveria vir expresso em cifrões, até porque, ela não está à venda.

Ultimamente temos visto críticas às artes que se baseiam nos argumentos errados. Existe uma lista gigantesca de motivos que de fato merecem questionamentos e contestações, mas o que vemos cada vez mais no Brasil é um desvio do que realmente importa. Os discursos nervosos não são sobre os problemas da deturpação e apropriação capitalista sobre a produção artística, mas sobre expressões contemporâneas que subvertem padrões estéticos tradicionais. Ou seja, para o senso comum, o problema não são as vendas abusivas e quem lucra com isso (quase nunca o artista), mas o produtor da obra, associado a vagabundagens e perversões.

Quem aponta primeiro o dedo e reclama dos pecados de uma obra é, geralmente, a família dos bons costumes, ainda entusiasta da beleza e da obediência; aquelas pessoas que vão ver imoralidade onde não existe; as mesmas que provavelmente achariam um disparate o trabalho de Banksy, por mais que ele estampe exatamente com o mesmo argumento levantado nas bandeiras dos tradicionalistas.

A obra de Banksy é irônica por demais. Faz chacota com o próprio mercado da arte, que se apropria do que bem entende para o transformar em capital em excesso; julga ridículos aqueles que entram na onda dos modismos, sem de fato entender certas expressões artísticas; e usa, para isso, o argumento central dos reacionários estéticos. Agora, o que mais me agrada na obra do inglês é a possibilidade de expansão de seu significado para o campo político-governamental

Se a crítica é principalmente sobre modismos e a imbecilidade humana, a peça de Banksy pode resumir bem a sensação das últimas semanas no Brasil, mesmo tendo sido feita do outro lado do Atlântico. Desde que se instalou a Operação Lava Jato, a maioria da população acreditou na propaganda fictícia de um super-herói irreal, fetichizado. Acreditou tanto que comprou a farsa e pagou caro. A revelação das mensagens trocadas entre Sérgio Moro e Dallagnol revelam a verdade e os interesses por trás de uma história mal contada. Se eu pudesse escolher a obra de arte do momento, estamparia Banksy nos ministérios da Esplanada, no lugar dos outdoors cafonas sobre benefícios mentirosos da reforma da Previdência. Obviamente que os envolvidos vão dizer que não há nada demais nas conversas divulgadas pelo Intercept, que a prática é normal. O triste é que tem gente que ainda acredita nas desculpas. O problema do Brasil é a arte e a educação marxista. “Não acredito que vocês imbecis realmente compram isso.”




Raisa Pina é jornalista e pesquisadora em arte, 
cultura e política, doutoranda em História da Arte 
pela Universidade de Brasília

Jornal do Brasil





2 de jul. de 2019

"Irmãos!

Os ansiosos se viram contra meu nome.
Não enviei mensageiros de minha volta.


C
R
E
E
M
!"

Assim Jesus falou em meu sonho.
Serenamente, disse para todos que ali estavam:


 "Creem!"


O que faz o Exercito Brasileiro neste meio?

Bolsonaro ao sinalizar veto a bagagem grátis: 'Eles (o PT) gostam de pobre'

O presidente Jair Bolsonaro polemizou ao dizer que deve vetar a emenda que reintroduz o direito de despachar gratuitamente bagagem de até 23kg em voos domésticos e internacionais, previsto na Medida Provisória (MP) 863/2018. Ao ressaltar que o destaque posto no texto no Congresso foi proposto pelo PT, Bolsonaro declarou que não vetaria apenas por ser uma proposta petista, mas associou a gratuidade ao partido. "Eles gostam de pobre. (Para eles) quanto mais pobre melhor", afirmou, durante a transmissão semanal ao vivo, em sua página no Facebook, na quinta-feira (30/5)





'Foi agora? Bolsonaro nem sabe', diz Heleno sobre prisão de assessor de ministro


A Polícia Federal (PF) prendeu nesta quinta-feira (27/6), em Brasília, Mateus Von Rondon, assessor especial do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, no âmbito da Operação Sufrágio Ostentação, que investiga supostas candidaturas laranjas do PSL em Minas Gerais na eleição de 2018. Também foi preso, em Minas, o ex-coordenador da campanha eleitoral do ministro Roberto Silva Soares. A operação foi deflagrada pela PF de Minas Gerais.


O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, disse não ter conhecimento da prisão de Mateus Von Rondon, assessor especial do ministro do Turismo. Segundo ele, o presidente, Jair Bolsonaro, também não deve ter recebido informação sobre o assunto até o momento.

"Nem sabia. Foi agora? Bolsonaro nem sabe, garanto que ele não sabe", disse Heleno,



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Sobre nós

A Ioto International é a primeira casa de aromas da América Latina, totalmente dedicada ao desenvolvimento, fabricação e comercialização de produtos a serem utilizados nos sistemas de revestimento e argamassa para aplicação no tabaco. Nossa principal fábrica em Campo Magro, Brasil, possui tecnologia de ponta que nos permite atender às necessidades de nossos clientes em todo o mundo. Desde 2008, também estamos operando uma fábrica na Carolina do Norte, EUA. A experiência que oferecemos aos nossos clientes é construída em muitos anos de envolvimento com grandes fabricantes de cigarros e aprimorada por treinamentos permanentes. Estamos muito confiantes em nossa capacidade técnica de desenvolvimento e fabricação de produtos de alta qualidade para a indústria do tabaco. Nossas receitas são compostas por vendas de sabores e embalagens e tabaco reconstituído.

(Revestimento e argamassa 
? Não faço a menor ideia.       para aplicação no tabaco)
-melhor é não ler blogs-

1 de jul. de 2019

Aquífero Guarani - Considerado o maior reservatório subterrâneo de água doce do planeta, óbvio, não vai durar muito.


por Prof. Miguel Jeronymo Filho

Como foi estabelecida a divisão dos estados brasileiros


1534 - Capitanias hereditárias Em 1504, os portugueses começaram a dividir as terras que estavam sob seu controle em 14 capitanias hereditárias. Nomes como Espírito Santo, Pernambuco, Maranhão e Ceará já eram usados na época. 

1789 - Tratado de Madri Em 1750, com o Tratado de Madri, começa a expansão territorial para o interior. São criados Grão-Pará e São Paulo, que posteriormente é dividido e dá origem aos estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. 

1889 - Independência e República Até a Independência, em 1822, havia o contorno de 17 estados, mais a Cisplatina (atual Uruguai). Com a República, em 1889, o mapa fica ainda mais parecido com a configuração atual. 

1943 - Primeira metade do século 20 Em 1904, o Acre é comprado da Bolívia. Em 1942, o governo cria os territórios de Roraima (acima, ainda com nome de Rio Branco), Amapá e Fernando de Noronha. Em 1946, é criado o estado de Rondônia (acima, Guaporé). 

1990 - Transformações recentes Em 1960, Goiás é desmembrado para abrigar a capital, Brasília. Em 1979, um novo desenho dá origem a Mato Grosso do Sul. A Constituição de 1988 define as divisões atuais, indicando a criação de Tocantins para 1989.

As primeiras subdivisões do Brasil ocorreram no século 16, com a criação das capitanias hereditárias. Desde então, decisões políticas orientaram o formato do território nacional até chegarmos aos atuais 26 estados e o Distrito Federal. Hoje, qualquer alteração nesse sentido deve passar pela aprovação popular - em 2011, os eleitores do Pará votaram contra a divisão do estado em mais dois, Tapajós e Carajás - e posteriormente pelo Congresso.

Como funciona o processo de criação de novos estados?

        A divisão do Brasil começou em 1534, quando ainda era uma colônia. Nessa época, foi dividido em 15 faixas, chamadas de capitanias hereditárias. Já em 1709, foi segmentado em sete províncias: Grão-Pará, São Paulo, Maranhão, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Pedro. De lá para cá, aumentou sua extensão e foi redividido por várias vezes. O mapa atual do país é resultado da Constituição de 1988, que manteve a definição de territórios federais, mas acabou com aqueles que existiam. Diferentemente dos estados, os territórios não têm autonomia, pertencem à União, e por isso seus governadores são nomeados pelo presidente, sem eleição. Com a nova legislação, Roraima e Amapá foram transformados em estados, Fernando de Noronha foi incorporado a Pernambuco e Goiás foi desmembrado, dando origem a Tocantins.
       Todas essas mudanças no mapa estão previstas na Constituição, que diz o seguinte: "os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, por meio de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar". Ou seja, para que um novo estado seja criado, é necessário que seja apresentada uma proposta ao Congresso, que pode aprovar a realização de uma consulta popular. Se a população votar pelo sim, o documento volta para o órgão legislativo, onde precisa receber a maioria absoluta dos votos (metade mais um da Casa) para ser aprovado. Depois, o projeto ainda dever passar pelo presidente da República, que poderá sancioná-lo para então entrar em prática. 

Atualmente, 22 projetos para a criação de novos estados ou territórios federais tramitam na Câmara dos Deputados. Mas, como alguns deles tratam do mesmo assunto (três deles dizem respeito ao território do Rio Negro), no total, há propostas para dez novos estados (Araguaia, Triângulo, Carajás, Rio Doce, Guanabara, Mato Grosso do Norte, Rio São Francisco, Maranhão do Sul, Tapajós e Gurgueia) e cinco territórios (Pantanal, Oiapoque, Rio Negro, Solimões e Juruá). As justificativas para mudar a divisão territorial brasileira são as mais variadas. No caso do Tapajós, por exemplo, o Pará seria dividido ao meio, já que seu tamanho dificulta a administração. Enquanto isso, os territórios de Solimões, Juruá e Rio Negro serviriam para garantir mais fiscalização e controle sobre a Amazônia. Alguns desses projetos foram apresentados ainda na década de 1990 e até hoje não conseguiram ser aprovados. Mas, se saírem do papel, podem mudar o mapa do Brasil mais uma vez.

Consultoria: Câmara dos Deputados

Arnaldo Antunes


Os buracos do espelho

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí

pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some

a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve

já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira


uma orelha alerta, outra ligada

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora

Confidência dos arigós


Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

(Carlos Drummond de Andrade – Confidência do Itabirano)

Migração – palavra tão desgastada. Incerta em quase tudo que anuncia: peleja – sobretudo. Nome, sem batizado, de quem se põe em passagem. Procissão das gentes que vão em travessias, de paragens em paragens, à procura de um canto no mundo. Canto outro que não é mais o de origem, que não é mais a terra natal – terra falha que, mesmo armada em escombros, é lugar de aconchego, onde nos damos por gente na vida, arrodeado de pai, mãe, irmãos, avós e outros parentes tantos. Da terra para onde vão, estes que chamamos migrantes, não se sabe que arroio será. Nem se dará fruto a vida nestes campos outros. Todavia, intenta-se seguir sempre, numa tessitura de itinerários, os mais distantes, que percorrem o país de ponto a ponta.

Eu mesmo nasci filho de migrantes. Gente que foi para o norte irredento sem saber que desvelos se dariam numa parte ainda não entranhada da Amazônia brasileira. Nasci nas beiradas da Rodovia Transamazônica, estrada inventada pela Ditadura Militar como a promessa de um país próspero. De próspero não havia nada naquelas bandas, porque não se pode chamar de prosperidade a destruição da floresta, a expulsão dos povos indígenas de suas terras e o modo abrupto como foram enganadas incontáveis famílias de colonos que para lá foram em busca de tempos melhores. No entanto, ali, no improviso do abandono, isolados do restante do país, migrantes do nordeste e do sul do Brasil, fincaram os seus sonhos. Muitos, como eu, são filhos desta travessia, gente morena nascida do barro do começo do mundo. Mas algo ali se deu como fato: todos eram migrantes. Gente que veio de fora – como diziam alguns. Forasteiros, assim nos chamavam os que queriam nos diminuir. Desterrados – como se não fôssemos de terra alguma.

Já crescido, na ânsia de embrenhar-me no mundo, tomei-me por migrante, irmão de outros tantos que partem para qualquer paragem que se assemelhe à terra prometida. Subi até Santarém, oeste do Pará, num barco. De Santarém à Belém, capital do estado, foram três dias num navio. Mais dois dias num ônibus de Belém a São Paulo, numa viagem que atravessou os estados do Maranhão, Tocantins, Goiás e Minas Gerais. Isto tudo para chegar na Rodoviária do Tietê, o templo mas infecundo da maior cidade da América do Sul, e contemplar um dia frio e chuvoso, de céu cinza. Na cabeça, entre a curiosidade e a decepção, só restava uma pergunta: que diabos fazer aqui?

Porém, foi exatamente aqui, que dei por certo ter vindo de uma terra inexistente, algum lugar que está no imaginário da maioria das pessoas como campo minado, distante de tudo. Que acima de Minas tudo é nordeste. Que a partir daquele instante, quando pisei aqui, não me era mais cabido ser amazônida. Descobri que somos todos nordestinos quando chegamos aqui, mesmo sem sequer conhecermos o sertão e a caatinga. E mais ainda: somos todos baianos, abaianados, mocorongos, arigós e paraíbas quando chegamos aqui. Isto num sentido pejorativo, desdenhoso, infantilizado e humilhante. Representamos a força do atraso, um país rústico, simples, pobre e desprovido da cultura das grandes metrópoles. Mal sabem eles que nada está mais próximo das origens que o arcaico. Descobri que a partir daquele instante, quando pisei aqui, nunca mais poderia abrir a boca sem que me dissessem: Você-não-é-de-São-Paulo. Descobri que a partir daquele instante, quando pisei aqui, sempre me perseguiria o mantra: Por que você veio de tão longe? Por que não ficou lá a comer jambu, beiju, pirarucu? Descobri que aqui nós, “os baianos”, somos a maioria de pretos, moradores de comunidade periféricas. Formamos o grande exército dos serviços gerais, dos ônibus e trens lotados, dos hospitais, igrejas e escolas públicas. E talvez – infelizmente – estejamos também na lista duma maioria que habita as cadeias. Isto tudo a contragosto dos programas televisivos que nos põem a obrigação de uma vitória desenhada e assistida: aquele que venceu na vida. Eles debocham de nossas histórias e nos põem em seus quadros e nos dizem quase que diretamente: voltem para as suas terras.

Assim, na condição dos que incomodam, dos não vitimizados, degredados filhos de Eva, é que raio a raio nós, “os baianos”, compomos auroras e cingimos a cidade com aquilo que em nós é fé e peleja, que em nós é ofício e festa, que em nós se transfigura como canto de andorinha, como canto de arigó. Esta ave de arribação que habita as lagoas do sertão nordestino.

Depois de dez anos em São Paulo, tudo que veio em mim está em mim mais que antes, às vezes como confissão de itabirano, de itaitubense. Mais que antes a consciência donde vim germina em mim e me move. Não como saudosismo ou nostalgia bucólica. Todavia, com a certeza de que não sou daqui. E é exatamente esta certeza que me faz atravessar o Viaduto do Chá com a convicção que fiz desta outra terra a minha morada e ela me interpela, me aponta caminhos no turbilhão de tudo que é e representa.

É desta completude da Amazônia distante (e presente) e da minha cidade, terra outra, com seu concreto a encher os olhos, que atento para o perigo da palavra e tento a composição do poema. Decerto, não seria o mesmo poeta se não tivesse migrado. Decerto, não teria a mesma coragem se não tivesse posto aqui os pés e o resto do corpo, se não enfrentasse a dizimação encantatória que só as terras outras podem oferecer. Com isso, não me vergonho do que sou, da minha fala, do meu rosto, do meu corpo, do meu ser, pois tudo em mim trás os descaminhos de onde vim, de onde estou e para onde vou – mesmo que não saiba. São as travessias que nos movem, nos envolvem e nos enamoram que nos fazem sentir saudades da vida que foi e estar por vir. A vida, esta doida da praça, desmiolada inquieta, é que nos põe a gostar do mundo. Não fosse o amor pela vida, espécie de paixão desmesurada, não poríamos os pés fora de casa, ficaríamos o tempo todo na cama. É a vida que nos atravessa resguardando que vivamos nesta ou noutras terras, como bons arigós que somos.

Rudinei Borges