Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

31 de dez. de 2020

Mulheres bonitas

 

CRÔNICAS

Niemeyer no sonho erótico de Darcy

Em: 09 de Dezembro de 2012
Tags: sonho; Darcy Ribeiro
 afrobrasileira
 Oscar Niemeyer

As imagens do enterro de Oscar Niemeyer (1907-2012), nesta sexta feira, me fizeram lembrar um sonho erótico, quase pornográfico, que teve Darcy Ribeiro com o arquiteto. As feministas poderão identificar traços machistas, mas Darcy contava com muito respeito ao corpo feminino. Ele sonhou que o governo brasileiro nomeava a ambos para missão de alto nível na África: selecionar mulheres que queriam migrar para o Brasil. Milhões de belas candidatas negras faziam filas intermináveis que se estendiam por todo o litoral africano, de onde olhavam o Brasil. Como escolhê-las? Os dois examinadores inventaram um teste que era pimba na gorduchinha: o "teste do cheiro".

Mas antes de contar como foi aplicado o tal teste, convém contextualizar o sonho. Darcy passara por Manaus, em 1978, para ministrar um curso organizado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Avisei seu amigo, o poeta Thiago de Mello, que me perguntou:

- Onde ele está hospedado?

- Acho que na Casa Jordão.Era lá, nessa casa de retiro dos Salesianos, no bairro do Aleixo, que acontecia o curso e era lá que estavam alojados todos os participantes. Thiago quis saber se, entre eles, havia mulheres. Diante da resposta negativa, afirmou categoricamente:

- Então Darcy não fica lá. Ele jamais dorme em recinto onde só tem homem. Jamais! Tem que ter mulher debaixo do mesmo teto. Pode ser apenas uma única mulher, jovem ou velha, bonita ou feia, pode até ser freira e se alojar em quarto separado, mas sem sentir cheiro de mulher, no ar, ele não dorme. Não dorme! 

A Casa Jordão, com odor de santidade, estava ocupada exclusivamente por homens. Por isso, de lá se pirulitou Darcy, pecador confesso. Consegui localizá-lo bem longe dali, no Hotel Flamboyant, na Av. Eduardo Ribeiro, onde, enfim, se hospedara. Com Thiago, fomos lá convidá-lo para um show que o poeta dava no Teatro Amazonas em parceria com o cantor Sérgio Ricardo. Foi quando Darcy nos contou que estava esgotado, pois passara a noite toda labutando em árdua missão na África.

Cheio de mundo

Foi na África que pensei quando vi na tv imagens dos dois velórios: o de Brasília, na quinta-feira, e o do Rio, na sexta, porque em ambos havia filas com milhares de pessoas, autoridades, funcionários, estudantes e gente humilde do povo. Cadetes carregavam pela rampa do Palácio do Planalto "un cadáver lleno de mundo", como no poema de Vallejo. Os jornais entrevistam um pedreiro, uma doméstica, uma cobradora de ônibus, um eletricista, vindos de longe, endomingados, enfatiotados, que acenavam com lenços, alguns chorando na despedida ao construtor de Brasília.

No velório do Palácio da Cidade, no Rio, dois padres, um rabino e um pastor luterano oficiaram cerimônia ecumênica rezando pelo arquiteto que, embora ateu convicto, havia projetado igreja, mesquita, templos e casas de reza, com admiração e respeito por aqueles que têm fé e professam algum tipo de religião. "Niemeyer ajudou a entender o significado da passagem bíblica que diz: a fé remove montanhas" - falou o pastor Mozart Noronha.

É que Niemeyer acreditava, como comunista suprapolítico, na igualdade, na justiça e na solidariedade entre os homens. Lutou a vida toda por isso. E se o teólogo Leonardo Boff tiver razão, se Deus significa "entusiasmo" na derivação da palavra grega, então Niemeyer foi um ateu ébrio de Deus. No velório, até comunistas rezaram. A mulher de Luis Carlos Prestes estava lá, com uma bandeira vermelha, cantando o hino da Internacional Socialista.

- Niemeyer foi inabalavelmente comunista por mais de seis décadas - escreveu Jacob Gorender.

Na entrevista dada a um jornal, Maria Elisa Costa, filha de Lúcio Costa, conta que quando tinha três anos de idade, Niemeyer costumava brincar com ela toda vez que a encontrava dizendo: "Você é comunis..." E ela completava: "Tá".

- Eu muito me envergonharia se fosse um homem rico - declarou Niemeyer, que poderia ter acumulado bastante grana se a isso se dedicasse. Viveu sempre honestamente do seu trabalho. Deu-se o prazer de fazer vários projetos sem nada cobrar, como a Biblioteca Comunitária Tobias Barreto, na Vila da Penha, mantida pelo pedreiro Evando dos Santos ou a passarela projetada na comunidade da Rocinha, entre tantos outros. Chegou a doar um apartamento a Prestes. Depois do golpe militar de 64 foi interrogado num Inquérito Policial Militar (IPM) por um general, que queria saber como havia constituído seu razoável patrimônio.

- Dando o fiofó, general - teria respondido, irreverente, o arquiteto, que já era internacionalmente conhecido e requisitado no mundo todo por clientes públicos e privados. Uma resposta à altura da pergunta.

Poeta da Curva

Jornais internacionais deram amplo destaque à morte de Niemeyer. Desde o Granma, de Cuba, que exaltou sua "paixão pelos humildes", até o New York Times, que dedicou uma página inteira ao "poeta da curva", responsável pela identidade do Brasil moderno, passando pelo Le Monde que o chamou de "arquiteto da sensualidade". Mas Niemeyer não estava nem aí, como havia já afirmado em entrevista:

- O sujeito que pensa que é importante, para mim, é um débil mental. O homem está num planeta pequenininho, no fim da galáxia, longe de tudo. Isso dá uma ideia da precariedade do ser humano, que é um fodido. Nasce, morre, como outro bicho qualquer, por isso mesmo deve ser mais modesto, ver a vida com paciência, sabendo que estamos no mesmo barco.

Resposta semelhante deu quando completou cem anos e um jornalista pediu que comentasse frase de Darcy Ribeiro para quem no ano 3.000 Caxias, Marechal Deodoro, Pelé, Gonçalves Dias - toda essa gente estaria esquecida e que o único brasileiro lembrado seria ele, Niemeyer.

- Quem garante que no ano 3.000 ainda existirá Brasil e brasileiros? Quem nos assegura que a espécie humana ainda existirá?

No Cemitério São João Batista, a Banda de Ipanema atacou "Cidade Maravilhosa" e "Carinhoso", de Pixinguinha, que - eu pensei - cairiam muito bem se tivesse tocado também na hora do "teste do cheiro", cuja aplicação prescindiu, infelizmente, de fundo musical. É que Darcy esquecera de convidar para o seu sonho os integrantes da Banda, que no enterro vestiam camisetas, onde estavam impressos desenhos com os traços inconfundíveis de Niemeyer e uma frase dele:

- De curvas é feito todo o universo.

Essas curvas que o mundo inteiro admirou. No bairro de Aparecida, em Manaus, nos anos 1960, atuava um "arquiteto descalço", autodidata, sem diploma, que sequer havia concluído o curso primário no Grupo Escolar Cônego Azevedo. Talentoso, grande desenhista, Edilson, filho da dona Pequenina, mais conhecido como Gaguinho, era contratado para desenhar e projetar as reformas das casas do bairro e adjacências. Foi aí que se apropriou das colunas do Alvorada, presentes em quase tudo que fazia. Era o Niemeyer chegando nos mais longínquos rincões da pátria. 

Uma das melhores sínteses do conjunto da obra de Oscar Niemeyer foi feita pelo jornalista Leonel Kaz, que trabalhou com Darcy Ribeiro:

- A arquitetura é o lugar para deixar a nuvem entrar, como no prédio do Ministério da Educação, é o lugar para o mar mergulhar na gente como das janelas do Museu de Arte Contemporânea de Niterói. A beleza dos traços do arquiteto era leve porque não eram os traços do homem, mas das curvas sinuosas de pedra, ondas do mar, pássaros e lagartos. Ele se apropriou, como homem, do que não era humano exatamente para nos tornar mais humanos.

Teste do cheiro 

O próprio Niemeyer, em declarações anteriores em que defendia as curvas, oferecera motivos para que ficasse conhecido entre os franceses como "o arquiteto da sensualidade":

- Não é a linha reta que me atrai, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual que encontro nas montanhas, no curso sinuoso dos rios, nas nuvens, no corpo da mulher bonita.

Mulheres bonitas, deslumbrantes, sensuais, cheias de curvas, calipígias, bundas empinadas, peitos ondulados era o que não faltava no sonho que Darcy nos havia contado, no qual Niemeyer foi protagonista. Elas queriam entrar no Brasil, mas tinham de passar por um grande portão na frente do qual estavam os dois futuros construtores do Sambódromo, que eram as sentinelas que detinham a chave para abri-lo.

Duas filas gigantescas de mulheres africanas, totalmente nuas, esperavam para entrar, mas só podiam fazê-lo se aprovadas no "teste do cheiro". As filas avançavam lentamente, primeiro eram examinadas por Darcy e, depois por Niemeyer, que passavam suavemente a mão no sexo de cada uma delas, alisavam, faziam carinho e, em seguida, cheiravam a própria mão, quando então avaliavam:

- Essa pode passar! A seguinte.

Foram milhões de mulheres. Darcy, com seu riso moleque, disse que nenhuma delas foi reprovada. Todas entraram no Brasil. É por isso que o nosso país é tão rico e diversificado. Alguns anos depois, Darcy iria construir com Niemeyer o sambódromo, templo da carnavália. O sonho havia sido tão real que ele, mostrando as mãos ao Thiago, jurava que estavam ainda impregnadas daquele perfume afrodisíaco coletado in loco.

- O que conta não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar - dizia Oscar Niemeyer, já fora do sonho do Darcy, injetando esperanças na arquitetura deste Brasil que ele, mais do que ninguém, ajudou a construir, o que acirrou em todos nós o orgulho da brasilidade. O Brasil já é bonito por natureza. Niemeyer criou beleza nos espaços onde a mão do homem se intrometeu. Merece descansar em paz!

P.S. - A foto é de autoria do cineasta amazonense Aurelio Michilles e foi tirada em Cunha (SP)

26 de dez. de 2020

aum


A natureza da doença:
A doença do corpo é um produto final que tem como ponto de partida a relação rompida do homem com o Espírito e conseqüentemente com o intelecto e a emoção. Enquanto o homem permanecer conectado ao Espírito, a harmonia prevalecerá em todos os níveis de existência e saúde em nosso corpo material. Uma vez que haja um corte, sabemos o que chamamos de doença. Ou seja, falta de vigor. 
A doença, como diz Mestre Bach, é um remédio. Não há punição, ninguém está se vingando de nós, nem a inteligência cósmica está tentando colocá-lo contra nós. A doença é mais uma maneira da alma e da economia da própria Natureza nos mostrar que em algum lugar estamos errados, em algum lugar que nos desviamos de nosso caminho, e no esforço de nos proteger ela implementa uma doença. Outro professor, médico e curandeiro Petar Denoff costumava dizer: 'Um pequeno mal vem para nos salvar de um maior.'
Portanto, a doença, de todos os tipos, é uma bênção oculta para quem pode reconhecê-la e o terapeuta precisa estar sempre atento a ela. É claro que evitar a doença é ainda mais legítimo, pois destaca que o homem aprende por meio da Sabedoria Divina observando a si mesmo, aos outros e à própria vida. 'Melhor prevenir do que curar', disse Hipócrates, e Mestre Bach tinha exatamente a mesma opinião.

Nossa vitória contra a doença depende principalmente do seguinte:
Em primeiro lugar, do reconhecimento da natureza divina de nossa existência e do poder que temos para superar tudo que está errado, em segundo lugar, do conhecimento de que a principal causa de toda doença é a desarmonia entre a personalidade e a alma, em terceiro lugar, de nossa disposição e capacidade para descobrir o erro causado por este conflito e, em quarto lugar, para evitar qualquer erro, cultivando a virtude oposta.
As flores de Bach são um sistema completo de terapia complementar que ajuda de forma suave, natural, harmoniosa e acessível para os seres vivenciarem a harmonia entre Mente, Alma, Corpo e sua conexão com o Espírito em cada momento de sua vida.


23 de dez. de 2020

idéias eugênicas

 

CRÔNICAS

A raça pura:

 que Brasil você quer para o passado?

23 de Setembro de 2018
Tags: Racismo Marielle Franco 
Oga Mitá eugenia  Revista do Brasil








Levanta a mão aí quem já ouviu falar da Revista do Brasil (RB)? Ela era porta-voz da Liga Nacionalista de São Paulo e foi fundada em 1916 por Júlio de Mesquita, dono do Estadão. Estou dando uma de sabichão, mas confesso que ignorava sua existência até a semana passada, quando li o texto de Julieta Figueiredo, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Biociências da UNIRIO. Ela pesquisa o tratamento dado pela revista às políticas de eugenia e de saneamento, com foco na fase em que foi dirigida por Monteiro Lobato, então seu proprietário (1918 a 1925).

A RB se antecipou em cem anos ao Jornal Nacional da TV Globo, formulando de uma certa forma a pergunta: Que Brasil você quer para o futuro? Suas páginas abrigavam articulistas, muitos deles da Academia Nacional de Medicina, que em nome da ciência, davam repostas sobre o Brasil do futuro, ou seja, aquele em que agora vivemos. A “solução” para o país seria “melhorar a raça brasileira”, com políticas destinadas a selecionar os tipos eugênicos – os sadios bem nascidos - e separá-los dos degenerados e dos imigrantes africanos e asiáticos. A “nação do futuro” teria o predomínio da “raça branca”.

Como conseguir isso? Em busca de respostas, o movimento desembocou no I Congresso Brasileiro de Eugenia, em 1929, do qual participaram bacteriologistas, microbiologistas, médicos, psiquiatras, antropólogos, engenheiros, agrônomos, jornalistas e professores. Mas a proposta de Azevedo Amaral de proibir a entrada de negros no país foi derrotada por três votos de diferença. O físico Oscar Fontenelle pediu recontagem de votos, defendendo o modelo norte-americano que “protegeu a sua raça de imigração japonesa e negra”.

Falsa ciência

De qualquer forma, cinco anos depois, a Constituição brasileira de 1934, que sofreu influência da política norte-americana do New Deal, em seu artigo 138, estabelecia que a União, os Estados e os Municípios deveriam “estimular a educação eugênica”.

A mulher, considerada incapaz física e organicamente, o negro e o índio foram alvo dos discursos eugênicos apresentados na RB. Os negros aparecem como dotados de “inteligência inferior, falsos, desconfiados, mentirosos e devassos”, os índios como “indolentes e selvagens primitivos”. Os imigrantes não europeus eram “indesejáveis”, com cobrança de multas pesadas aos comandantes de navios que os transportassem. Lobato ampliou a rede de venda da revista em 300 livrarias espalhadas pelo país e quase 2 mil distribuidores em farmácias, padarias e lojas de varejo.

Para atingir um público, cuja população era formada por 75% de analfabetos, a RB usou e abusou de charges e caricaturas racistas ofensivas à inteligência e à espécie humana. Uma delas mostra uma mulher que, espancada pelo marido, se queixa à sua mãe, que lhe diz: “Queres que vingue a bofetada que teu marido te deu? Pois bem, dou-te outra. Porque se ele bateu em minha filha, eu bato também na mulher dele”. Esse era o Brasil que queriam para o futuro. Está aí o Bolsonaro que não me deixa mentir.

A eugenia no Brasil investiu pesado na identidade feminina, com claro viés racista: “Muito sultão tem trocado quatro esposas morenas por uma loira e não consta que tenham se arrependido” garante um articulista no número de 1921 da RB. Monteiro Lobato comentou: “Embora reconhecendo as queixas que a mulher tem do macho, sem o concurso dele nada valeríamos no mundo. Viva o macho forte que suplantou o macho fraco”.

Embora a Revista do Brasil não reservasse espaço para opiniões contrárias, havia, porém, quem discordasse dessas concepções de eugenia, confirmando o que afirma Foulcault: “Onde tem poder, tem resistência”. Um dos opositores foi o médico sergipano Manoel Bonfim, que chamou a eugenia de “falsa ciência”, desmascarando o racismo científico em seu livro “A América Latina: males de origem”. O outro foi o antropólogo Roquette-Pinto para quem “o mestiço tem plenas condições de povoar o país” e que nenhum dos tipos classificados por ele “apresentavam qualquer tipo de degeneração”.

Os degenerados

A doutoranda se apoiou em vários autores com estudos recentes sobre o assunto como Tânia R. de Luca, Maria Inês Campos, Pietra Diwan e outros. Um deles, Valdeir Del Cont (2013), cientista social da Unicamp, dá pistas sobre a fonte inspiradora dos artigos da RB, com uma citação assustadora, que ecoa ainda hoje nas vozes de candidatos a presidente e vice-presidente da República:

“Os ideais eugênicos encontraram nos Estados Unidos terreno fértil para sua proliferação, sob a tutela do geneticista Charles Benedict Davenport. Ele calculava que pelo menos 10% da população americana era formada por degenerados que, por isso, deveriam ser identificados e catalogados, com o objetivo de tomar as devidas precauções para interromper a cadeia reprodutiva, seja por segregação em campos ou fazendas ou por esterilização. Participavam dessa lista: criminosos, surdos, cegos, mudos, débeis mentais, epilépticos, tímidos, introvertidos, calados, gagos e os que falavam inglês de forma incorreta”.

Fiquei com meu “pescoço em francês” na mão, bem apertadinho, porque me enquadro em várias dessas categorias de degenerados, inclusive com meu inglês macarrônico. Mas o preconceito do “inglês incorreto” era direcionado ao “black english” falado pelos negros nos Estados Unidos, cuja legitimidade como uma das variantes do inglês americano marcado pelo contato com línguas africanas, foi reconhecida pelos estudos do sociolinguista William Labov, em 1969, que destacou seu papel na música e na literatura.

É phoda!

No Brasil – informa a doutoranda – o médico Renato Kehl, voltou da Alemanha com pensamentos eugênicos radicais, afirmando que o saneamento por si só não resolveria os problemas do nosso país, cujo povo em sua maioria “apresentava uma genética degenerada”. O saneamento, defendido por alguns intelectuais como Roquette Pinto, “não atingia a genética do ser humano” - contrapõe Kehl, que pregava a separação dos tipos eugênicos, o controle da imigração, a esterilização dos degenerados e o branqueamento da população a partir do “matrimônio correto”.

Em carta a Renato Kehl, que era o pai da eugenia no Brasil, Monteiro Lobato diz: “Precisamos lançar, vulgarizar estas ideias. A humanidade precisa de uma coisa só: poda. É como a vinha”. Quando deixou a direção da RB, em 1926, antes de viajar para os Estados Unidos, escreveu “O choque de raças ou o presidente negro”, romance no qual descreve o “conserto do mundo pela eugenia”, onde a “raça branca superior” extermina a “raça negra, inferior”, através da esterilização.

O escritor que alegrou a nossa infância com suas histórias, nos entristece com suas propostas racistas. É phoda mesmo! Cem anos depois da Revista do Brasil defender seu projeto de nação, ao ouvir o capitão Jair Bolsonaro e o general Mourão, podemos dizer que o futuro chegou? Qual o Brasil que você quer para o passado?

P.S.1 - Julieta Brittes Figueiredo. Revista do Brasil: as representações eugênicas/higiênicas da saúde no período lobatiano (1918-1925). Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Biociências da UNIRIO. Banca de qualificação (17/09/2018): Wellington Amorim (orientador), Tânia Maria de Almeida Silva`, Lilian Fernandes Ayres, Fernando Porto e José R. Bessa.



P.S. 2 - Parte deste texto foi apresentado oralmente na sexta-feira (21) durante o Seminário Educação e Resistência comemorativo dos 40 anos da Escola Oga Mitá. Da mesa em homenagem a Marielle Franco, assassinada há 6 meses, sem que até hoje tenham sido identificados os autores do crime, participaram Mônica Sacramento, professora da UFF; Mônica Francisco, cientista social e candidata a deputada estadual (PSOL 50888); e este locutor que vos fala. A mediação foi feita pela escritora Ana Paula Lisboa. Éramos ali, com muita honra, quatro mulheres negras, além da presença de Marielle.



16 de dez. de 2020

Um Estranho na Ceia

Faltavam dois dias para o Natal quando o marido lhe disse: “Convidei um colega para a ceia”.

Nunca o tinha feito antes e nem sequer lhe perguntou.

Estavam casados há doze anos. Desde há cinco que era em casa deles que faziam a festa. Convidavam os pais dele e dela e uma sua tia avó. Não havia crianças. Queriam ter filhos desde que se casaram, mas não conseguia engravidar. Tinham ido ao médico, feito exames. À partida, eram saudáveis, ainda eram jovens, mas a esperança ia diminuindo.

Divagara para algo que a entristecia, quando no momento algo mais recente a incomodava. É que nem sequer lhe perguntou ou pediu a sua opinião. Não. Comunicoulhe que ia trazer o colega. E quem era este colega? Não teria família com quem passar o Natal? Tinha ficado tão estarrecida que nem lhe perguntou.

Durante o dia foi mastigando o sucedido e quando ele voltou do trabalho mal se continha para o confrontar com tudo o que pensara.

Discutiram. Ele acabou por lhe dar razão, mas o mal estava feito. Não ia agora dizer ao rapaz que já não era para vir. Estava longe da família, convidou-o para que não passasse o Natal sozinho.

E o rapaz veio. Chamava-se Manuel, teria trinta e tal anos e usava barba, o que o fazia mais velho. Os seus pais, sogros e tia, gostaram dele: era uma novidade. Ele não falava muito, mas ouvia com atenção o que lhe diziam. Ajudou a servir e depois a lavar os pratos. Gostou de tudo o que lhe serviram.

Afinal era Natal. Já quase perdoara ao marido e ao Manuel a sua vinda quando no final do jantar ele apareceu com umas prendas. Uma garrafa de vinho para o marido, postais antigos para os mais velhos, pais, sogros e tia. E para ela não tinha nada. Sentiuse como uma criança, primeiro entusiasmada com a ideia de ganhar uma oferta não esperada, depois decepcionada, mas não o querendo mostrar, porque era uma mulher adulta.

Nas despedidas, o Manuel falou baixinho e só ela ouviu, “no próximo Natal vai estar aqui uma criança”.

Pensou depois se teria ouvido bem, ou se estaria com uma alucinação auditiva, quiçá pelo vinho do Porto que bebera, mas fora só meio cálice. Algo lhe dizia, no entanto, que poderia ser essa a sua prenda de Natal. Não queria alimentar a esperança, para não ter outra decepção, mas algum tempo depois veio a confirmação, estava grávida.

Não podia haver nenhuma relação, de certeza que não. Todavia, como quem não quer nada, perguntou ao marido:

- E o teu colega, como vai?

- Qual colega?

- O Manuel.

- Olha, despediu-se e mudou de cidade. Se calhar voltou para a Terra dele.

- Onde é a Terra dele?

- Não tenho ideia e o número que deixou foi cancelado. Engraçado falares nele. Era bom tipo, mas um bocado estranho.

Ela não o disse, mas pensou-o. Lembrou-se do poema sobre “quando o mundo for o espaço onde cabe um só abraço.”

No Natal seguinte, e nos que depois vieram, além do seu filho, passaram a ter sempre mais alguém. Passou a fazer parte da celebração convidarem um estranho, sem família ou amigos com quem pudesse estar, para cear com eles.


Fonte perdida

15 de dez. de 2020

Sónia Braga é nossa

Declaração de amor e de interesses: escrevo sobre a Sónia Braga que foi doada a Portugal pelo foral da Gabriela. Escrevo, pois, em interesse próprio. Ainda que Sónia Braga seja respeitada dos dois lados do Atlântico, só em Portugal é venerada. Se forem pelas ruas de qualquer cidade ou aldeia portuguesa e baterem às portas das casas perguntando aos homens se deixariam tudo para beijar chão que ela pisasse, não há um único português que diga que não, a não ser que ainda seja tuga. Sim, porque o português deixou ser tuga, esse diminutivo inventado no Brasil e usado, ao longo dos tempos, e simultaneamente, com as propriedades do amor e do carinho, mas também da sobranceria e da ignorância, pois, entre outras razões, o português deixou de ser tuga quando a Gabriela nos entrou nas casas. A Gabriela garantiu-nos, finalmente, a liberdade conquistada em Abril e reforçada e temperada em Novembro. Só nesse dia o português ficou livre, deixou de ver apenas rectas e ângulos rectos e passou a ver morenas açucaradas. Era uma segunda-feira, 16 de Maio de 1977, três escassos dias depois do 13 de Maio, em Fátima, três escassos anos depois da revolução. E, apesar da curva e do corpo da morena, do cheiro tropical das imagens e da pouca roupa da Gabriela, foram os avôs e avós de Portugal os primeiros a levantar a mão para que se fizesse silêncio e nada fosse perdido, passando pelos deputados que não deliberavam ou votavam durante a novela, até ao épico último episódio, numa quarta-feira, 16 de Novembro de 1977, que deixou Portugal de ressaca. O Brasil tinha uma história antes de Gabriela. O Portugal moderno não. Daí que Sónia Braga seja nossa e não se fale mais no assunto. 

Vem isto a propósito da Sónia Braga a beirar os 70 anos que protagoniza o pujante filme Aquarius, de 2016, e que é um justa consagração. Quando ela amarra o cabelo e deixa ver a parte de trás do pescoço, é ainda a menina de há quarenta anos. Aliás, ela é a menina de há quarenta anos em tudo, não só na parte de trás do pescoço, e não se fala mais nisso. A forma como se move, a forma como nos olha naquele olhar castanho-nogal que o sol do Recife inflama. Não há um único pormenor em Sónia Braga que denote que o tempo passou, e seria pérfido quem viesse lembrar algum detalhe irrelevante. Quando ela pega nos mesmo vinis - dos Queen, do Roberto Carlos, do John Lenon, do Gilberto Gil - que nós cutivámos, sabemos que este é o culto perfeito e definitivo. Por mim, deixo a passageira afirmação de que aqui está a eternidade dela, isso e o remate de um mito, que Portugal bem merecia - finalmente houve um realizador à altura para nos dar isto, que devia ser obrigatório para a nossa geração e para a anterior, a passageira afirmação de que "Aquarius" é um grandíssimo e imprescindível filme que nos vinga a alma no tempo do passado recente e no presente, glorificando Sónia Braga pela eternidade como a cena de abertura do filme da Gabriela, com que encerro este, e depois da qual nos poderíamos encomendar ao criador. E a menos passageira afirmação de que a nudez da Gabriela não é menor do que a de Clara, à porta dos setenta, e nós desejamos sem culpa a mulher que nos fez homens da mesma forma que há quarenta anos, e todos nós beijaríamos hoje e para todo o sempre o chão que Sónia Braga pisa. Amém.        PG-M 2017

https://ignorancia.blogspot.

13 de dez. de 2020

Esperar que Rodrigo Maia ainda aceite a abertura de pedido de impeachment de Bolsonaro antes de deixar a precedência da câmara, seria esperar muito, não é? Mas é uma chance que ele tem de ter seu único ato patriótico

 


MAIS UMA DENÚNCIA FAKE CONTRA LULA ARQUIVADA - O juiz Diego Paes Moreira, da 6ª Vara Federal de São Paulo, determinou nesta semana o arquivamento da investigação aberta contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu filho Luis Claudio Lula da Silva a partir da delação premiada de Alexandrino Alencar, executivo da Odebrecht, e de Emílio Odebrecht e Os delatores falaram sobre aportes à empresa Touchdown, do filho de Lula. O JUDICIÁRIO ENTENDEU QUE NÃO ESTARIAM CONFIGURADOS OS CRIMES DE TRÁFICO DE INFLUÊNCIA E LAVAGEM DE DINHEIRO PORQUE LULA, NA ÉPOCA DOS FATOS, NÃO OCUPAVA CARGO PÚBLICO. É a sétima investigação contra Lula que é encerrada por falta de provas. O ex-presidente foi condenado apenas em processos abertos na Operação Lava Jato de Curitiba, conduzidos pelo então juiz Sergio Moro.

 

Hoje soube que o primeiro cristo redentor do País foi inaugurado em 1926, em São Cristóvão SE - quarta cidade mais antiga do Brasil. O Cristo carioca só veio a ser inaugurado em 1931.

 


São Cristovam - SE

12 de dez. de 2020

 

Nasa e pesquisadores desenvolvem sistemas para produzir oxigênio em Marte

Novas técnicas serão testadas

Uma aproveita o ar marciano

A outra usa água salgada

Meta: viabilizar missão tripulada

A Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço) quer levar astronautas a Marte na década de 2030. Mas o transporte de oxigênio necessário para sustentar a missão não é viável.

Por isso, a agência espacial criou um sistema que converte dióxido de carbono em oxigênio. Cientistas independentes elaboraram uma nova técnica para o funcionamento desse sistema, o que pode resolver o problema de uma vez por todas.

Uma nova técnica ajudará um sistema já existente a transformar dióxido de carbono em oxigênio


Continuar Lendo: https://www.poder360.

7 de dez. de 2020

Controlar política

ESPECIAL-Bolsonaro coloca militares na Anvisa para controlar política de vacinas contra coronavírus Por Gabriel Stargardter e Anthony Boadle

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro está agindo para garantir o controle da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em articulação que alguns especialistas em saúde temem que irá politizar o órgão regulador e dar ao presidente, um dos mais proeminentes céticos em relação ao coronavírus no mundo, as rédeas sobre aprovações de vacinas contra a Covid-19.

Em 12 de novembro, Bolsonaro indicou o tenente-coronel reformado do Exército Jorge Luiz Kormann para assumir um dos cinco cargos de diretoria da Anvisa. Sem experiência em medicina ou desenvolvimento de vacinas, Kormann deve liderar a unidade encarregada em dar sinal verde aos imunizantes. Caso o nome seja confirmado pelo Senado, como se espera, aliados de Bolsonaro ocuparão três das cinco diretorias da Anvisa, o que lhes dará maioria em todas as decisões da agência.

Leia na íntegra militares

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ANVISA 

VERDE-OLIVA

Em meio às suspeitas de interferência política na Anvisa, Jair Bolsonaro resolveu colocar mais lenha na fogueira. Ontem, o presidente encaminhou ao Senado sua indicação para a diretoria da agência que fica vaga em dezembro – e hoje é responsável pelo registro das vacinas. Ele pretende colocar por lá mais um militar sem experiência em regulação e que, ainda por cima, tem compartilhado nas redes sociais seus tuítes contra a CoronaVac.

O fardado da vez é o tenente-coronel do Exército Jorge Luiz Kormann. Ele desembarcou no Ministério da Saúde em maio, no contexto da ocupação militar que buscava tutelar a gestão Nelson Teich. Em junho, já sob Pazuello, ele foi alçado ao cargo de secretário executivo adjunto, um dos mais importantes do ministério. É claro que Kormann não possui formação em saúde, mas em ‘ciências militares’

Tem mais: Kormann endossa nas redes sociais um conjunto de conteúdos problemáticos para alguém que pode acabar supervisionando a Gerência Geral de Medicamentos, como a propaganda da hidroxicloroquina. O levantamento feito pelo Estadão também concluiu que ele compartilha bastante Olavo de Carvalho e Guilherme Fiuza, jornalista que voltou sua atuação para a direita brasileira. Uma das curtidas do tenente-coronel foi dada em um post de Fiuza que afirma que lockdown não tem base na ciência, atribuindo essa decisão de prevenir o espalhamento do vírus como fruto da “parceria saudável” entre a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a “ditadura chinesa”.

Leia na íntegra  anvisaverdeoliva/

TERRA YANOMAMI - Dados levantados por lideranças Yanomami e Ye'kwana e rede de pesquisadores estimam que 10 mil indígenas podem ter sido expostos ao vírus. Entre agosto e outubro, número de infectados saltou de 335 para 1.202, conforme o documento.

 

Coronavírus avança 250% em três meses na Terra Yanomami e relatório cita 'total descontrole'


Valéria Oliveira, G1 RR — Boa Vista

Relatório inédito produzido por uma rede de pesquisadores e líderes Yanomami e Ye'kwana indica que a pandemia de coronavírus avançou 250% em três meses dentro da Terra Indígena Yanomami. Um em cada três moradores da região pode ter sido contaminado, segundo o documento. A situação é descrita como "total descontrole."


Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami fica entre os estados de Roraima e Amazonas, e em boa parte da fronteira com a Venezuela. Mais de 26,7 mil índios - incluindo grupos isolados - habitam a região em cerca de 360 aldeias.

O número de casos confirmados no território saltou de 335 para 1.202 entre agosto e outubro, conforme o documento intitulado "Xawara: rastros da Covid-19 na Terra Indígena Yanomami e a omissão do Estado".

Monitoramento da ONG Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana, que integra o relatório divulgado nessa quarta-feira (18), contabiliza 23 mortes, entre confirmados e suspeitos de Covid-19, de indígenas da etnia.

Os primeiros casos da doença na região foram registrados em... (Continue lendo)

STF BARRA POSSIBILIDADE DE REELEIÇÃO DE RODRIGO MAIA E DAVI ALCOLUMBRE >> Se o impeachment da chapa Bolsonaro/Morão sair até 31 de dezembro, teríamos uma eleição geral para presidente em 2021. Pouco provável, uma vez que beneficiaria a esquerda. Saindo após o 1 de janeiro de 2021, também teríamos uma eleição em 2021, porém seria uma eleição congressual. Como presidente da Câmara e seu amigo Alcolumbre, o presidente do Senado, ficava fácil para Maia ter o seu nome escolhido pelos congressistas. Maia seria o presidente do Brasil. Por isso segurou os pedidos de impeachment. Esta era a jogada de Maia. Mas e agora? Estou achando que, como no caso Temer, o impeachment de Bolsonaro também pode não interessar a mais ‘ninguém’. Vamos ver. “Fora Bolsonaro!!!!!!”