Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

14 de mai. de 2014

O brasileiro não vai gostar de colher o que está plantando…


Eu entendo a indignação das pessoas com o excesso de impunidade no Brasil. Seja por incapacidade da polícia, por uma falha no sistema judicial, seja pelas punições brandas para certos crimes. Ou ainda, pelo fato de que, em alguns recônditos das grandes cidades, sequer existe um “Estado” que possa assegurar a lei e a ordem.

Este tipo de indignação gera um sentimento legítimo em muitas pessoas: se o Estado não fará justiça, farei eu. Após um julgamento sumário, muitas vezes sem evidência qualquer, o dito “cidadão de bem” forma seu juízo, profere sua sentença, mune-se de porretes, paus e pedras. Vagando pelas ruas como se fosse um ser puro, iluminado, de onde apenas a justiça mais perfeita pudesse emergir, desce o cacete no primeiro “réu” que aparece em sua frente (antes mesmo do julgamento).

Ingênuo ou ignorante, alheio de que o chamado “amplo direito de defesa” é uma conquista que nos afasta da barbárie, o cidadão de bem não entende que ele pode estar enganado. Ele não entende que o processo de defesa serve, justamente, para que inocentes não sejam punidos. E por não entender isso, o “cidadão de bem” se coloca acima da constituição do Brasil e declara pena de morte àquele cara ali, do outro lado da rua, que disseram que roubou um chiclete.

Uma dona de casa, morreu dois dias após ter sido espancada por dezenas de moradores de Guarujá, no litoral de São Paulo. Segundo a família, ela foi agredida a partir de um boato gerado por uma página em uma rede social que afirmava que a dona de casa sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra. Na verdade, a confundiram com outra mulher.

No Espírito Santo, um homem foi cercado por um grupo armado com pedras, barras de ferro e pedaços de madeira. Momentos depois, ele foi alvo de um espancamento coletivo e morto. Foi acusado de tentar estuprar uma garota. Sendo um doente mental, o irmão garante que ele seria incapaz disso. Um morador, confessa: “Ninguém viu esse tal estupro ou mesmo noticias da suposta vítima”.

E assim, o brasileiro sedento por sangue, prisões, pena de morte, sem perceber, vai transformando seu país exatamente naquilo que ele não deseja.


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