- Na página
da Revista Brasileiros , em 18/06/20, encontrei este texto (entrevistando Armando Boito Jr.) assinado
por Mauricio Puls.
O que o professor sustenta é bastante interessante. Por enquanto, tudo aí.
(...) Quem são os
grandes beneficiários do golpe?
A grande burguesia internacional e grande parte
da burguesia brasileira. Mas não foram eles que se mobilizaram na Paulista, na
zona sul do Rio, no Farol da Barra em Salvador. Quem se mobilizou contra Dilma,
quem foi às ruas foi a classe média, e particularmente a fração superior da
classe média, a classe média abastada. Eles se mobilizaram porque são
antipetistas. Eles convergiram com a burguesia internacional no antipetismo,
mas a política que eles defendem não é necessariamente a que o Temer vai fazer.
Eles definiram o PT como inimigo principal: não queriam mais a política social
do PT porque esta política estava reduzindo as diferenças entre a classe média
e as classes populares, e isso os incomodava muito. Mas eles não querem uma
política recessiva, um ajuste fiscal que destrua empregos, que reduza o poder
aquisitivo deles. E eles podem acabar tendo exatamente isso. A política
econômica do Temer vai produzir recessão e perda de empregos. Então a situação
é complicada: eles não estão mais nas ruas, mas puseram as barbas de molho.
Eles não eram a favor do Temer. Eles eram contra o PT. É diferente.
A Lava Jato é um
setor da burocracia do Estado que passou a vocalizar os interesses e a ideologia
dessa classe média abastada. Esse setor passou a agir como um grupo político
perseguindo o PT, a Petrobras e as empresas nacionais da construção pesada. Daí
o caráter seletivo das investigações. Quando o combate à corrupção é seletivo,
isso significa que existe um critério para fazer a seleção. Esse critério é
combater o PT e a sua política. Por que esse setor da burocracia de Estado
converteu-se numa espécie de partido político da alta classe média? Os
delegados da Polícia Federal, os procuradores e os juízes gozam de uma situação
que nenhum outro trabalhador brasileiro goza. Uma juíza de Campinas, segundo
reportagem da Caros Amigos, recebia mais de R$ 100 mil por mês. O teto
salarial é R$ 33,5 mil, mas eles têm auxílio-paletó, auxílio-moradia, auxílio-viagem,
auxílios de todo tipo. E gozam de uma autonomia que nenhum outro segmento do
funcionalismo tem. São segmentos privilegiados no corpo dos funcionários
públicos que se identificam muito com a parcela mais rica da sociedade
brasileira e que constituem uma barreira contra qualquer governo reformista no
Brasil. São, enquanto integrantes da burocracia do Estado, funcionários da
ordem: não são como os professores ou o pessoal da saúde cuja função é prestar
serviço e assistência à população. Há indícios de que delegados, promotores e
juízes preferem, na média, a política de ordem autoritária dos governos do PSDB
à política de ordem mais flexível dos governos do PT. Judiciário, Ministério
Público e Polícia Federal estão se convertendo em uma verdadeira trincheira do
conservadorismo no Brasil. Dentro do Estado, eles podem boicotar ou combater
qualquer governo reformista no Brasil. Foi o que eles fizeram com o PT. (...)
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