(...) Ou seja, a desigualdade social não veio
em processo de redução contínua após 1888, como seria de se esperar caso
aceitássemos a tese do "não existe racismo, os negros são pobres por causa
da escravidão, mas com o tempo tudo vai se acertar". Essa diferença
cresceu e diminuiu em contextos diferentes a partir de decisões políticas. Essa
é a fria verdade que aparece nos dados recolhidos há décadas por historiadores,
sociólogos, etc. A defesa das cotas é a defesa de uma política que priorize a
redução dessas desigualdades. Ela não tem nada de anômala. Aumento e redução da
desigualdade sempre foram fruto de decisões políticas. E estamos defendendo uma
decisão política, enquanto nossos opositores defendem outra. É o jogo de sempre.
Nada de anormal aí.
Encerro com um tópico que infelizmente costuma bagunçar muito esse debate.
Nunca é demais lembrar: nada disso é pessoal. Ninguém está te chamando de burro
ou incapaz que se deu bem só por ser branco. Ninguém está dizendo que todos os
negros são maravilhosos e só não dominam a galáxia por causa do racismo. A luta
a favor das cotas apenas parte do reconhecimento de que ser branco é uma
vantagem, assim como ser homem, ser hétero, etc. Na luta pelo limitado número
de bons postos de trabalho oferecidos pela sociedade capitalista, qualquer uma
dessas vantagens pode fazer a diferença entre pessoas de capacidade semelhante.
A quantidade de melanina na pele é uma dessas vantagens. E é uma das maiores,
por sinal.
Em suma, cotas não tem nada a ver com socialismo, com coitadismo ou coisa do
tipo. É apenas reconhecer que a luta por oportunidades não é uma luta entre
iguais. Portanto, é uma corrida viciada desde o principio. As cotas no fundo
são apenas um passo adiante no aperfeiçoamento do capitalismo, uma luta para
que todos possam competir em igualdade de condições. Nada mais que isso.
Não acho que ela deva ser rotulada de nenhuma forma por causa do número de parceiros sexuais que ela tem. Cada um decide o que fazer com seu corpo, certo? Só que, pra mim, o meu corpo é meu templo. E quando você se envolve com uma pessoa a esse nível, tá trocando uma energia com ela, não tem jeito. Eu gosto de me preservar, não necessariamente todo mundo tem que pensar igual. Antes de tocar meu corpo, o homem que vai pra cama comigo tem que ter tocado minha alma. Não acho legal tanto uma mulher quanto um homem ter um comportamento de não preservar seu próprio corpo, mas isso é da conta deles, não estabeleço nenhum rótulo.
Até de bermuda
parece um gentleman. Robert Plant chega com o The New York Times na mão e sem
indício de ressaca depois da brutal apresentação da noite anterior. Às 10h30 da
manhã e desperto, como provam seus olhos que seguem cada mulher que se move
pela piscina de seu hotel de Cascais. Robert Plant (1948, Inglaterra) sente-se
um sobrevivente de uma época em que o provável, em sua profissão, era bater as
botas. A seus quase 68 anos – que completa em agosto – o vocalista e letrista
do grupo Led Zeppelin (1968-80) continua na estrada a seu ritmo. Desde a
separação do Led Zeppelin, trabalhou com o guitarrista do grupo, Jimmy Page
(1994-98), com a cantora country Alison Krauss (2007-08) e com diversas bandas.
Desde 2012 é acompanhado pela banda Sensational Space Shifters, com quem se
apresenta na quinta-feira 14 de julho em Madri dentro da programação das Noches
del Botánico, “colidindo” o som duro de seu lendário grupo com músicas
africanas e do Mississipi.
Pergunta.
Um astro do rock acordado às 10 da manhã!
Resposta.
Realmente os tempos são outros. Os heróis modernos precisam estar sempre
ativos. Se quer continuar trabalhando nestes dias em que a música passa por
tantas mudanças, tantas inovações, precisa estar acordado, muito atento, e
precisa amar este mundo. Não é mais como nos anos 1970 em Los Angeles.
P.
A época de seu grande sucesso com o Led Zeppelin?
R.
Sim, mas também com experiências dramáticas. Sofri um acidente de carro muito
grave; perdi um filho de cinco anos... Não fiquei apegado ao país das maravilhas;
não acredito que seja possível se esconder da realidade... Mas, de repente,
você se torna mais consciente de seu talento, do que consegue fazer e do que
não. Compreendi que não podia ser apenas um cantor, que tinha de ser algo mais
para me estimular mesmo. Não espero que ninguém o faça por mim.
P.
Sua voz, escolhida em várias ocasiões como uma das melhores da história do
rock, continua intacta. Não me diga que toma mel antes de deitar-se?
R.
Claro que sim. Mel, limão e gengibre toda noite. Mas também estou com um grupo
que deixa espaço para que eu me expresse e eu deixo espaço para que eles
cresçam, por isso posso visitar velhas canções e mudá-las de cima a baixo.
Ainda são incríveis, mas aparecem de diferentes ângulos, com outra energia, e
isso faz cantar com esse dinamismo. Quando você chega a determinado ponto da
vida, precisa dar sentido ao que diz. E precisa saber repeti-lo com a mesma
energia sempre, precisa ser crível. Precisa conquistar as pessoas.
P.
Dezesseis apresentações em oito países só em julho. Muito para seu corpo?
R.
Não, esta é uma das turnês fáceis. Não é o trabalho de um herói, é o trabalho
de um pragmático. Se demorar muito entre um show e outro, você perde a
motivação, o ritmo, a adrenalina das apresentações. Esta é uma turnê tranquila,
mas como obviamente não sou mais jovem, para mim está bom assim.
P.
O formato atual dos festivais é muito diferente de uma apresentação exclusiva
para seus fãs. É mais complicado se conectar com o público?
R. É verdade que em
festivais onde há tanta mistura de grupos, as pessoas muitas vezes não conhecem
essa música. É preciso entender quem está ali na frente. É como um mágico que
vai tirando os elementos da cartola. Com o Sensational Space Shifters cada um
faz seu papel.
P. Entre o rock duro
do Led Zeppelin e a sensibilidade do Raising Sand com Alice Krauss há vários
mundos. Como se chega a essa transformação?
R. Um dia meus
filhos me disseram: “Pai, você vem para Ibiza?”, e eu respondi: “Não, vou a
Louisiana”. Minha obsessão é encontrar os rastros da história da música
norte-americana, a música cajun, tipo Bon Ton Roulá, as últimos sombras desse
black blues extraordinário que se fez nos anos 1940 e 1950, Carl Perkins,
música dos montes Apalaches, e juntar com sons mais contemporâneos. Você tem um
tecladista como o do Massive Attack e um cara que toca um violino de uma só
corda. Consegue uma colisão, não está compondo aquela merda de música bonita,
mas uma colisão incrível.
P. O que resta do
seu lado inglês?
R. Quando fui à
América, bebi daquela música afro-americana, voltei e deixei de lado os
ingleses, a pobre, velha e esgotada Inglaterra, com todos os seus pecados e
seus ridículos. Deixei o chá das cinco, o futebol e voltei a trabalhar neste
projeto com a Sensational, onde misturamos tudo.
P. Um grande salto,
em todo caso...
R. Veja só, eu posso
fazer coisas muito diferentes e trabalhar em qualquer parte do mundo. Não dá
para trazer a Alice Krauss a um festival que reúne uma multidão e tocar música
de violino, seria perigoso. Isto é energia pura; mas nós trabalhamos muito bem
juntos. Eu gosto de cantar com mulheres.
P. Todo artista luta
entre duas forças antagônicas: continuar fazendo o que pedem os fãs ou entrar
no desconhecido. Como lida com isso?
R. É verdade. O mais
importante é a criatividade; a autossatisfação vem em primeiro lugar; o público
é só um voyeur. Pode olhar e ficar com o que vê ou deixar para lá. Um artista
precisa ser honesto e poderoso e precisa misturar. Conheço, e é muito triste,
muita gente famosa que me diz “Robert, você pode fazer isso, você é livre”‘. E
é verdade.
P. Sempre foi livre?
R. Fui livre durante
os últimos 36 anos [desde a separação do Led Zeppelin em 1980], quando comecei
a estabelecer minhas próprias regras.
P. Há anos lhe
ofereceram um cheque de 200 milhões de dólares para fazer uma turnê com o Led
Zeppelin e você recusou; mas não se recusa a cantar músicas de seu antigo
grupo.
R. Claro, fiz um bom
trabalho no Led Zeppelin. Eu sou Led Zeppelin, cantei, escrevi as letras...
P. Há algumas
semanas foi absolvido de plágio pela emblemática Stairway to Heaven...
R. Foi uma loucura,
uma insanidade, uma tremenda perda de tempo. Existem doze notas fundamentais na
música ocidental, e você se dedica a movê-las. Não precisávamos ter chegado aos
tribunais, mas era nossa música. Falei com o Jimmy [Page, coautor da música] e
dissemos: “Vamos enfrentá-los”. Se você não defender seus direitos, o que vai
fazer? Nunca imagina que vai passar por isso. Você se senta de um lado da colina,
olha as montanhas, escreve uma música e 45 anos depois saem com essa. Deus do
céu!
P. Como lida com a
Internet, a pirataria...?
R. Não me importo
com a pirataria. Faz parte de como tudo está se abrindo. Adoro o desconhecido e
a Internet ajuda porque permite descobrir coisas que você não vai ouvir no
rádio nem na mídia internacional; música dark, muito bonita, que você não vai
escrever porque é underground, e aí começou o Led Zeppelin. A pirataria não é o
fim do mundo.
P. Mas não pagam?
R. Hehehe, eu já fui
pago. Agora meu pagamento é sentir-me bem com o que faço. Certamente, para mim,
é fácil dizê-lo.
Se você não lê
livros regularmente, trouxemos alguns motivos que vão mudar a sua cabeça.
Confira:
Exercício Mental
Atividades como
leitura podem diminuir o risco de desenvolver o Alzheimer em cerca de 30%,
segundo médico norte americano Gary Small. Manter o cérebro ativo previne a
perda de força e ajuda mantê-lo forte e saudável.
Diminui o Stress
Apesar de todos os
problemas que você tenha na vida, quando você lê uma boa história, tudo isso
parece mais distante. Um bom livro pode te levar para outros mundos. Esqueça um
pouco dos problemas e se permita relaxar um pouco.
Conhecimento
Tudo que você lê é
absorvido como conhecimento, e você nunca sabe quando isso pode te ajudar algum
dia. É como dizem: Conhecimento é poder!
Uma coisa é certa,
você pode perder tudo na vida, mas nunca perde conhecimento.
Expande seu
vocabulário
Quanto mais você
ler, mais estará em contato com novas palavras, e passará a agregar essas
palavras ao seu dia a dia. Falar bem e ser articulado são características muito
boas para todo tipo de trabalho e relacionamento.
Boa memória
Quando você está
lendo um livro, você quer saber sobre as personagens e sobre o enredo da
história que você está lendo. Para ler o livro até o final, o seu cérebro é
ferramenta certa para te ajudar a lembrar de cada detalhe apresentado na
história.
Melhora seu
pensamento crítico
Você também pode
conseguir falar sobre os livros, saber se foi bem escrito e se as personagens
estão bem desenvolvidas. Em discussões com outros leitores você vai poder dar
sua opinião mais claramente.
Ter uma melhor
concentração
No mundo de hoje
se tem que fazer várias coisas ao mesmo tempo, isso aumenta o estresse e
diminui a produtividade. Já quando se está lendo, você está prestando atenção
apenas na história, o hábito de ler melhora muito sua concentração.
Escrever melhor
Quanto mais você
ler, mais fica exposto às palavras, e assim, consegue escrever mais e melhor.
Você melhora sua escrita sendo influenciado por outros escritores.
Tranquilidade
Além de relaxar, você fica em paz e tranquilo enquanto lê.
Leia com frequência.
Existem histórias para todos os gostos. Você pode conhecer outros lugares,
viver outras vidas e sentir novas emoções, tudo isso no sofá da sua casa.
O psicanalista afirma que o neoliberalismo cria
sofrimento e ensina o indivíduo a administrá-lo para gerar mais produtividade
SÉRGIO
GARCIA, DE PARATY
Ao lado da argentina radicada no Rio de Janeiro Paula
Sibilia, o psicanalista brasileiro Christian Dunker participou de uma
das palestras que mais repercutiram nesta 14ª edição da Flip. Eles
criticaram a espetacularização da vida pessoal e fazem coro que a ocupação de
escolas seja o início de uma nova era no ensino. Autor da tese do “narcisismo
à brasileira”, Dunker diz que aqui se tem enorme dificuldade de lidar com a
derrota, que é fundamental para o amadurecimento. Depois do encontro na Tenda
dos Autores, ele autografou o livro Mal-estar, sofrimento e sintoma e
em seguida conversou com ÉPOCA.
O
psicanalista Christian Dunker. "A rede social criou uma ilusão de
que no fundo você é a majestade" (Foto: Walter Craveiro)
ÉPOCA – O senhor cunhou a expressão "narcisismo à brasileira"
para se referir a um determinado comportamento que temos aqui. Quais os
componentes genuinamente nacionais desse narcisismo?
Christian Dunker – Estudei um fenômeno contemporâneo, a partir dos anos
1970, que tem a ver com a solução para um Estado que não conseguiu dar conta de
um projeto que ele mesmo criou de ocupar o norte e organizar as cidades que se
urbanizavam e recebiam muitos imigrantes. Isso gerou um narcisismo à
brasileira, que se revela em alguns elementos. Criou-se um mundo isolado
materialmente entre as pessoas. Você então se refugia nele e pensa que ali terá
uma vida viável. Isso vai acontecer nos condomínios das grandes
cidades, por exemplo, mas não só. Há outras áreas em que o Estado também vai se
demitir de sua função, como nas favelas. É como se dissesse: urbanização, nós
estamos fora, e vocês, moradores, é que vão dar seu jeito. Outro local são as prisões.
O Estado levanta muros, e os presos lá dentro que se virem. E, por fim, os shoppings,
que adquiriram uma função educativa de ser um berçário da classe média. Todos
esses lugares ganham leis próprias. E isso é típico do narcisismo à brasileira:
põe muro, põe síndico, e daí temos outro fenômeno, que é a hipertrofia da lei,
em que se vai criando lei com base em exceções. Temos uma Constituição gigantesca,
com códigos de todo tipo e que a gente está sempre desobedecendo.
ÉPOCA – O escritor americano Benjamin Moser, um estudioso do Brasil, disse
numa roda da Flip que se surpreendeu ao chegar ao país, há 20 anos, e ver que,
ao contrário da imagem padrão, o povo daqui é triste e que está sempre se
decepcionando com as expectativas criadas. Concorda?
Dunker – Aí tem um detalhe clínico. Esse narcisismo à brasileira não é
alegre nem triste, ele é maníaco. Axé, euforia, Carnaval, estar sempre up não é
alegria. Esse estado de agitação e euforia só secundariamente é acompanhado da
verdadeira alegria e também da verdadeira tristeza, que é uma coisa que nos
falta muito. Durante um evento como o 7 a 1 para a Alemanha, é
muito saliente para um analista que não tenha havido luto por aqui. Aquela
coisa: vamos enterrar a CBF, nos despedir desse tipo de técnico, vamos
repensar que morreu um certo futebol que a gente tinha. E ninguém falou nisso,
porque não há espaço para luto, não há espaço para a derrota. A derrota é
antinarcísica: eu não consegui ser forte o suficiente. Um país que não sabe
lidar com perdas não consegue se reconstruir. Para nós, a tristeza virou
frustração, virou impotência. Se você está triste é porque você perdeu, no
sentido de que seu narcisismo foi abalado. Aqui tem essa confusão da tristeza
com a depressão. Se você não deu certo é porque não conseguiu fazer as escolhas
corretas do ponto de vista do show de seu eu.
Dunker – Aí tem uma coisa interessante, que é o fato de o Brasil já
estar no divã faz muito tempo, devido a um fato histórico que é pouco
pronunciado e estudado. A psicanálise entrou em nossa universidade e em nossa
psiquiatria nos anos 1920, 1930, que é quando o Brasil estava começando a se
pensar. As grandes narrativas do Brasil ainda são desse período. É Sérgio
Buarque de Hollanda,Gilberto Freyre, Caio Prado. Todos eles vieram depois do Freud.
O Brasil começou a se pensar com a psicanálise. Isso não aconteceu naArgentina, nos Estados
Unidos, na África do Sul ou na Austrália. E somos um país muito
peculiar do ponto de vista da psicanálise, que continua dando certo por aqui. A
psicanálise não é só a solução, é um sintoma do Brasil.
ÉPOCA – Como as redes sociais entram nessa história do narcisismo à
brasileira?
Dunker – Na rede social, o Google e o Facebook vão
lhe sugerindo amigos que são como você, vão instruindo pessoas que pensam como
você. Ao contrário do que se pensa, o mundo não vai se ampliando, ele vai
diminuindo de tamanho. Você vai compactando o narcisismo. E o que acontece
quando a pessoa acha que o mundo inteiro é feito de gente como ela? Fica
corajosa para caramba. Essa soberba e o desdém pelo outro são muito
potencializados quando se está no ambiente virtual. E o sofrimento decorrente
disso também é brutal. O cara vai vivendo numa bolha e, quando sai da internet,
tem uma descompressão narcísica que dá embolia. Se você saiu da internet e as
massas não se levantaram a seu favor, é porque você tem um problema. E no fundo
o neoliberalismo está inoculando a ideia de que você dá errado por
sua causa.
Dunker – Exatamente. É isso que estamos estudando na USP agora.
O neoliberalismo cria um sofrimento e mostra como você deve administrá-lo para
gerar mais produtividade. E, quando não consegue, você cai em depressão, fica
excluído do sistema e vai para o depósito. Essa ideia está apoiada numa outra
de que todo mundo deve se pensar como empresa. A educação tem de se pensar como
empresa. E, se pensar educação como empresa, isso vai terminar mal.
ÉPOCA – Você citou uma expressão de Freud para determinar quem era a
autoridade da casa: “sua majestade, o bebê”. A gente pode parodiar que, hoje,
nas redes sociais vale o “sua majestade, o soberbo”?
Dunker – Exatamente. A rede social criou uma ilusão de que no fundo
você é a majestade. Você detona os inimigos, dá opiniões que vão se espalhar
pelo mundo. É uma ilusão.
O presidente
norte-americano Barack Obama, numa entrevista coletiva ao lado do
primeiro-ministro britânico David Cameron, fez a seguinte declaração em julho
de 2010: “Nunca é demais enfatizar: os Estados Unidos e o Reino Unido têm uma
relação muito especial. Nós temos o mesmo legado. Compartilhamos os mesmos
valores. . . . Acima de tudo, nossa aliança prospera porque promove nossos
interesses em comum. . . . Quando os Estados Unidos e o Reino Unido estão
juntos, nosso povo — e as pessoas do mundo todo — fica mais seguro e prospera
mais. Resumindo, os Estados Unidos não têm um aliado mais unido e um parceiro
mais forte do que a Grã-Bretanha.”
Em meio a ressalvas
de farmacêuticos, temores de segurança e promessas de lucros, o Uruguai
colocará em prática no próximo mês a venda de maconha em farmácias.
Em 25 de julho,
"com uma margem de erro de dez dias para mais ou para menos", a
cannabis para uso recreativo será ofertada nos estabelecimentos, afirmou à BBC
Brasil, Milton Romani, secretário-geral da Junta Nacional de Drogas.
O órgão
interministerial é o responsável por levar adiante a política concebida no
governo de José Mujica, e que tem continuidade na gestão do atual presidente,
Tabaré Vázquez.
Essa é a terceira e
última etapa da implantação da lei, aprovada em 2013, que determina a
estatização da maconha recreativa nas etapas de produção, distribuição e venda.
As duas primeiras
fases, já implementadas, foram a liberação do cultivo doméstico e da criação
dos clubes canábicos, mediante registro nos órgãos governamentais.
Em meados de julho,
o país dará início ao registro de consumidores que desejam obter a droga nas
farmácias - o procedimento será realizado nos Correios do país e será feito por
meio do registro das impressões digitais dos interessados.
E, no final do mês,
50 estabelecimentos em todo o território darão início à venda, em sistema
experimental. A maioria dos postos de distribuição se concentrará em Montevidéu
e em Canelones, departamento (Estado) vizinho à capital.
Para adquirir, o
usuário não precisará dizer o nome nem mostrar nenhum documento. Apenas deverá
passar os dedos por uma máquina de leitura de impressões digitais, que
informará ao farmacêutico que a pessoa possui o registro.
Poderão ser
comprados 10 gramas por semana - o limite para cada consumidor é de 40 gramas
por mês.
Desconfiança e lucro
O Ircca (Instituto
de Regulação e Controle da Cannabis) assinou um acordo de adesão com as
entidades que representam donos de farmácias, incluindo as duas principais
redes do setor, para a venda nesta etapa inicial ou depois que o sistema
estiver totalmente implantado.
Há resistências por
parte de algumas empresas e de farmacêuticos à frente dos estabelecimentos, que
manifestam temores especialmente quanto à segurança das farmácias - sobretudo
em regiões onde o narcotráfico é mais atuante.
O governo oferece
aos comerciantes uma margem de lucro de 30% sobre o preço básico de venda, e os
empresários do setor estão negociando remunerações extras para os farmacêuticos
à frente dos lugares que vendam maconha.
Cálculos do governo
estimam que o comércio aumentará a renda dos estabelecimentos em US$ 2 mil (cerca
de R$ 6,8 mil) por mês. A droga chegará às farmácias por US$ 0,90 por grama
(aproximadamente R$ 3) e será vendida ao consumidor por US$ 1,17 por grama
(cerca de R$ 4).
"Em farmácias
do interior, surgiu a questão de que muitos donos temem que o consumidor
frequente não queira adquirir seus medicamentos ao lado de um 'maconheiro' que
esteja ali no balcão, no mesmo momento. Isso vem aparecendo. E também há uma
certa desconfiança, muita gente acha que não vamos implantar o sistema",
diz o secretário-geral.
"Se as
farmácias continuarem conosco, muito bem. Se não, usaremos outro sistema de
distribuição. Vamos cumprir a lei. Em Washington e no Colorado, há o livre
mercado. Nós não estamos de acordo com isso. Queremos que a venda seja regulada
e controlada, e que se crie uma relação confiável entre o usuário e os
provedores."
A atual etapa de
implantação da lei é considerada a mais complexa por vários fatores: segurança,
logística, adesão de farmácias e por causa da mudança cultural exigida de boa
parte dos frequentadores de farmácias no Uruguai.
Mas o principal
desafio consiste em se tornar a modalidade de acesso à droga que deverá ser
procurada pela maioria dos consumidores do país.
De acordo com
levantamento da Associação de Estudos de Cannabis do Uruguai, 80% dos
consumidores de maconha no país (128 mil pessoas) deverão utilizar essa opção
de compra. Segundo estimativas oficiais, há um total de 160 mil usuários
regulares no Uruguai.
"Nosso enfoque
é de saúde e de proteção de direitos. Primeiro, deixamos de estigmatizar o
usuário. Obviamente que o consumo traz seus riscos, mas sabemos também que há
consumidores de cannabis que não apresentam grandes problemas. E, se há
problemas, é preferível que haja uma relação transparente com o Estado, e não
persecutória", diz Romani.
"Não estamos
regulando a cannabis porque se trate de um doce. Estamos regulando justamente
porque se trata de uma droga perigosa. O controle penal proibicionista vem
gerando mais danos do que a própria droga em si."
Nova licitação
A colheita dos
primeiros lotes já está sendo realizada pelas empresas ICCorp e Simbiosys,
vencedoras da licitação para essa etapa inicial.
Como essa produção
não será suficiente para abastecer o mercado local, o governo deverá
selecionar, mediante uma segunda licitação, novas companhias interessadas em
plantar, colher e processar maconha no país.
"Vamos proceder
de forma paulatina. É a primeira vez que se faz isso no mundo. Nosso temor é que,
por ter pressa, cometamos erros e não possamos avançar depois. O que começa
agora será um plano piloto", diz o secretário-geral.
A maconha será
vendida como uma "variedade vegetal com índice psicoativo". Romani
afirma que a droga não poderá estar exposta dentro das farmácias, e que haverá
três variedades de cannabis, que serão oferecidas por grau de intensidade.
A venda será
permitida apenas a maiores de 18 anos, uruguaios ou estrangeiros com mais de
dois anos de residência no país e que tenham registro prévio efetuado nos
Correios.
Desde 1974, é
permitida no Uruguai a posse de qualquer tipo de droga para consumo próprio.
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