Apesar de muito cultuada nas religiões
afro-brasileiras e também pelos católicos, pouco se sabe sobre a vida e
martírio da escrava Anastácia, a qual possui milhares de devotos espalhados no
Brasil e até pelo mundo. Aqui transcrevo as duas versões principais sobre sua
origem.
Primeira Versão
A escrava Anastácia seria filha de Delminda, uma bela
princesa banto que foi trazida como escrava para o Brasil num navio negreiro e,
depois de vendida, foi violentada por seu dono, engravidando.
Anastácia, nome grego que significa
"Ressurreição, teria nascido em 12 de maio de 1741. Era uma mulata dotada
de rara beleza, tinha os olhos azuis, era muito inteligente e tinha o dom da
cura, apenas impunha as mãos e as doenças desapareciam. A beleza e bondade de
Anastácia incomodavam as mulheres brancas, que com inveja começaram a
persegui-la.
Os homens a perseguiam, tentando roubar sua
virgindade. Mas Anastácia era protegida pelo senhor Joaquim Antônio, filho da
senhora do engenho, Joaquina Pompeu, e não permitia que ninguém abusasse dela.
Mas Joaquim estava há muito tempo apaixonado por Anastácia e começou a
assediá-la, rogando um amor que lhe era negado. Então, seu amor transformou-se
em ódio, e Joaquim mandou que se colocasse em Anastácia uma máscara de folha de
flandres, usada nas minas para que os escravos não engolissem as pepitas de
ouro. Anastácia viveu assim amordaçada durante anos, só lhe sendo retirada a
máscara para comer. Por fim a bela escrava adoeceu gravemente, e mesmo antes de
morrer ainda curou seu algoz de uma doença pulmonar grave. Anastácia morreu
vítima de gangrena em seu pescoço e boca. Então desde essa data se espalharam
pelo país relatos de curas e graças alcançadas por sua intercessão.
Segunda Versão
Tendo sido descoberto o Brasil no ano de 1500, e não suportando
os índios nativos os trabalhos pesados, logo os colonizadores e governantes
precisaram importar escravos para a lavoura e outros afazeres. Daí vieram os
célebres navios negreiros, aprisionando os pobres negros africanos, que eram
capturados em sua terra para aqui serem vendidos como escravos.
Eram os desventurados negros oriundos, em sua maioria,
de Guiné, Congo e Angola. Entre eles veio uma princesa Bantu de nome Anastácia,
que se destacava pelo seu porte altivo, beleza dos traços fisionômicos e sua
juventude.
Era bonita de dentes alvos e lábios sensuais, olhos
azuis onde sempre se notava uma lágrima a rolar silenciosa. Teria sido mucama
de uma família nobre que, ao regressar a Portugal, a teria vendido a um rico
senhor de engenho. Foi levada por seu novo dono para uma fazenda perto do Rio
de Janeiro, onde sua vida passou por uma brutal transformação.
Cobiçada pelos homens, invejada pelas mulheres, foi
amada e respeitada pelos demais escravos, nos quais encontravam uma conselheira
amiga e alguém que tinha poderes de cura para os males do corpo e da alma.
Estoica, serena, submissa aos algozes até morrer,
assim ela viveu até o fim. Chamavam-na Anastácia pois esse foi o nome que
recebeu no batismo católico. Trabalhava na lavoura, e um dia, ao comer um
torrão de açúcar, foi vista pelo malvado feitor que, chamando-a de ladra,
colocou-lhe uma mordaça na boca. Esse castigo era infame e chamou a atenção da
Sinhá Moça que, vaidosa e ciumenta da beleza da escrava, tinha receio que seu
marido se apaixonasse por ela, mandando colocar também uma gargantilha de ferro
em Anastácia.
Um dia, o filho do casal cai doente sem que ninguém o
consiga curar, em desespero os pais recorrem a escrava Anastácia e pedem sua
cura, que se realiza para o espanto de todos. Mas Anastácia já estava muito
doente, com gangrena, por causa da tortura que lhe fora imposta, e veio a
falecer pouco depois, embora tenha sido levada para o Rio de Janeiro para ser
tratada.
O feitor, a Sinhá Moça e o marido desta ficaram com
tanto remorso, que fizeram o velório de Anastácia na capela da fazenda.
Declaram-na forra depois de morta e sepultaram-na na igreja. Tarde demais se arrependeram...