Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

28 de mar. de 2018

Você sabe o nome do mau ladrão?



Estamos em plena Semana Santa. Todos nós, cristãos e tementes a Deus, conhecemos, desde crianças, quando aprendemos em nossas aulas de Catecismo, lá em Caicó do passado, sobre a brilhante e triste passagem de Jesus Cristo, filho de Deus, pela terra. Ele teve realmente uma vida brilhante e pura, pregando o bem e condenando o mau, mas, infelizmente, nós, pobres mortais, o fizemos sofrer e até o condenamos à morte. 

O mundo inteiro conhece a vida e a morte do Messias e todos, nessa época do ano, ficam compungidos e tristes e o veneram com mais ardor. Durante a Páscoa, quando nosso coração fica mais sensível, a nossa adoração ao Filho de Deus fica mais patente, quando isto deveria ocorrer em todos os dias do ano. Não devemos esquecer de que Jesus Cristo foi crucificado para nos dar a vida.

Contudo, vamos nos focar na injusta e imerecida condenação de Jesus Cristo, depois de uma delação remunerada de Judas Iscariotes. 

Pôncio Pilatos, prefeito da província romana da Judeia, numa grande, monumental e histórica “diarreia mental”, lavou as mãos e, para ficar politicamente numa boa com o Sinédrio (assembleia judia, muito parecida com o nosso Congresso Nacional, formada também por anciãos da classe dominante que tinha funções políticas, religiosas, legislativas e educacionais) cheio de ciúmes (frescura de políticos) porque o povo chamava Jesus Cristo de Rei dos Judeus, resolveu interromper a sua trajetória santa na terra, exigindo a sua morte. 

Primeiramente, Pilatos que era um autêntico político, escroto e cheio de vaselina, com medo de tomar decisões (idêntico aos nossos políticos), valendo-se de uma tradição judaica, concedeu ao povo o direito de escolher qual dos dois acusados deveria ser solto e o outro crucificado.  Jesus Cristo ou Barrabás? Quem era Barrabás? Um ladrão, salteador e homicida, que estava preso, mais uma vez. E qual dos dois o povo escolheu? Fazendo escola para o eleitorado, brasileiro que vota mal paca, o povo escolheu soltar Barrabás, um cara que tinha o perfil de se filiar em qualquer partido político brasileiro da atualidade. 



Alguns historiadores dizem que houve uma forte influência do Sinédrio e, se verdadeiro, vemos aqui mais uma semelhança com o nosso magnânimo Congresso Nacional: um lobby para aprovar uma sacanagem contra um inocente, em proveito da velharia que tinha o mando político da Judeia.

Segundo, nós sabemos o desfecho desta triste história: no gólgota, com flagelamento, sofrimento e humilhação, culminado com a crucificação e morte de Jesus Cristo, em praça pública entre dois ladrões. 

Segundo o Evangelho, um dos marginais que estava ao lado de Jesus Cristo no calvário, mostrando que ainda lhe restava um resquício de dignidade e honra, convertendo-se, pediu: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino” (Lucas 23:42).

Esse convertido é hoje mundialmente conhecido por todos os cristãos, que jamais esqueceram o seu nome: Dimas, o bom ladrão!

Como seria bom para o Brasil, e muito menos trabalhoso para o Judiciário Brasileiro e menos gente nas cadeias, se esses ladrões da política brasileira, de repete, inspirados em Dimas, o bom ladrão, parassem de espoliar o erário público e se tornassem também “bons ladrões”. 

Voltemos ao Evangelho. Dimas, o bom ladrão, toda a cristandade sabe o seu nome. E o outro larápio? Aquele que, segundo alguns historiadores ficou à esquerda de Jesus e zombou dele dizendo: “se és Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós” (Lucas 23:39).  Todos nós o conhecemos como o mau ladrão, mas qual era o seu verdadeiro nome?

Eu sei, mas antes de declinar o seu nome, quero jogar uma pitada de suspense e fazer uma ponderação. Quantos maus ladrões nós temos na política brasileira? Ladrões anônimos, que vêm dilapidando o dinheiro público e nós, pobres contribuintes, não sabemos os seus nomes. Para mim esses são os mais perigosos. Silentes e sorrateiramente pilham diariamente o Brasil. De quando em quando, alguém sai do anonimato e se transforma num ladrão conhecido publicamente, mas, nem sempre é, convenientemente, punido. Como exemplos, citemos aquele que foi filmado correndo com uma mala com dinheiro de propina, aquele outro que foi filmado enchendo a cueca com dinheiro subtraído fraudulentamente e um outro que lotou um apartamento com milhões de reais surrupiados dos nossos impostos. Outros ladrões anônimos, mais cedo ou mais tarde, fatalmente, irão pisar na bola e perder o anonimato para a Justiça Brasileira e para o povo que paga seus altos salários. 

Vamos desejar a todos os brasileiros (cristãos ou não) uma Feliz Pascoa e peçamos a São Dimas, o bom ladrão, que interceda pelo povo brasileiro junto a Jesus Cristo, para que Ele continue nos ajudando a revelar nossos maus e anônimos ladrões para as autoridades judiciais.

O nome do mau ladrão era Gesta!


Yehudi Menuhin, Ravi Shankar, Jean-Pierre Rampal - Improvisations


internacional



#习近平会见金正恩#【视频:习近平同金正恩举行会谈】应中共中央总书记、国家主席习近平邀请,朝鲜劳动党委员长、国务委员会委员长金正恩于3月25日至28日对我国进行非正式访问。访问期间,习近平在人民大


      Assista:     http://t.cn/RnHZVu5






Kim Jong-un se encontra com Xi Jinping em visita secreta à China
 O ditador norte-coreano, Kim Jong-un, cumprimenta
o dirigente chinês, Xi Jinping, durante visita a
Pequim - Ju Peng/Xinhua

君子兰Tao


"Uma pessoa que não se valoriza é difícil ser feliz "   

Trabalhador domestico precisa de 15 anos de contribuição para garantir aposentadoria: aos 60 anos para mulher e 65 para os homens.


Mesmo que até o momento não tenha contribuído com nada, homes e mulheres que se ocupam no trabalho domestico também podem se aposentar. Basta que procurem o INSS e façam o cadastro de contribuinte para garantir a aposentadoria após 15 anos de contribuição. Podem não ter carteira assinada, mas trabalham muito a vida toda. E todos têm direito à aposentadoria do INSS, mesmo que tenham passado a maior parte do tempo sem contribuir. É possível, em qualquer idade, começar a fazer isso. Precisam começar a contribuir como seguradas facultativas. Essa contribuição mensal pode começar a qualquer momento. A exigência principal é que os pagamentos sejam feitos por pelo menos 15 anos.
Quem nunca contribuiu deverá primeiro se cadastrar no INSS. A filiação pode ser feita pelo telefone 135 ou pelo site (Clique em "cidadão, "inscrição" e, depois, em "filiado"). Nesse cadastro, não é preciso apresentar documentos, apenas informar os dados pessoais para gerar um número de inscrição.  Após essa etapa, é possível começar a recolher.

Para receber aposentadoria de um salário mínimo –

Contribuição de 5% sobre o salário mínimo.

Essa opção é para homens e mulheres de famílias de baixa renda que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico em sua casa.

Contribuição: 5% do salário mínimo por mês (R$ 47,70, em 2018).

Aposentadoria: É possível se aposentar por idade com 15 anos de contribuição e 65 anos de idade, no caso dos homens, ou 60 anos, no das mulheres.

Valor da aposentadoria: um salário mínimo (R$ 954, em 2018).

 Código de recolhimento mensal: 1929.

Exigências: não podem ter renda própria de nenhum tipo, incluindo aluguel e pensão. Também devem ter renda familiar de até dois salários mínimos (R$ 1.908, em 2018) e estar inscritos no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal) com a situação atualizada nos últimos dois anos

Leia:
https://aposentadoria-dona-de-casa-inss-regras

Mega-Sena

A chance de acertar as seis dezenas da 
Mega Sena com um jogo simples é de uma 
em 50.063.860 possibilidades de combinações

Os dez maiores prêmios dos concursos regulares da Mega:

1.764, 25/11/2015;          uma aposta vencedora; premiação total:   
R$ 205.329.753,89
1.772, 22/12/2015;          2 apostas vencedoras; premiação total:     
R$ 197.377.949,52
1.655, 22/11/2014;          2 apostas vencedoras; premiação total:     
R$ 135.315.118,96
1.220, 06/10/2010;          uma aposta vencedora; premiação total:    
R$ 119.142.144,27
 1.575,19/02/2014;          uma aposta vencedora; premiação total:   
R$ 111.503.902,49
1.953, 29/07/2017;          uma aposta vencedora; premiação total:    
R$ 107.956.102,12
2.015, 17/02/2018;          uma aposta vencedora; premiação total:    
R$ 104.545.829,37
1.924, 26/04/2017,          uma aposta vencedora; premiação total:    
R$ 101.484.527,44
1.211, 04/09/2010;          7 apostas vencedoras; premiação total:     
R$   92.522.954,23
1.810, 20/04/2016;          uma aposta vencedora; premiação total:    
R$   92.303.225,84

27 de mar. de 2018

Lembrança adormecida


Batalhou até se tornar a pessoa mais rica do mundo. Logo depois, gastou sua fortuna para que conseguissem inventar uma máquina, onde você pudesse escolher a lembrança que queria de volta. E logicamente, foi o primeiro a usá-la.


Nesse dia, chegou usando chinelo de dedo, uma regata e calção de futebol. Sentou-se calmamente na cadeira do aparelho. Sorriu pra todos e piscou maroto para uma cientista na platéia. Fez um aceno de sim com a cabeça e ligaram o aparelho. Houve um pequeno alvoroço. Logo o cientista e inventor, pediu silêncio absoluto e fez a pergunta primordial.

Qual é a lembrança que o senhor mais deseja na vida?

E ele, fechando os olhos, respondeu:

O cheiro da minha Mãe!

Joakim Antonio


Imagem: By Alejandro Alvarez

Vestido de Papel - Brincadeira Alada - ZenOrigami MK


25 de mar. de 2018

Vamu!



Delação premiada existe desde a Idade Média e foi usada na Inconfidência Mineira


Um dos principais mecanismos utilizados pela Operação Lava Jato, a delação premiada tem origens nos tempos da Idade Média. Os registros vêm desde a época da Inquisição, quando a Igreja Católica perseguiu praticantes de outras religiões, que eram considerados hereges.
Além das denúncias, que podiam ter como base rumores ou acusações públicas, o sistema inquisitório dava extrema importância para a confissão do acusado, que podia ser alcançada por meio de uma promessa de recompensa ou até mesmo pelo uso da tortura. Quem delatava sob tortura, inclusive, era bem visto pela sociedade.
"Na Inquisição, a ideia era de que o autor do crime era inimigo do inquisidor, portanto ele podia usar todos os poderes para obter uma confissão, inclusive utilizando tortura", explica Gustavo Badaró, professor de Processo Penal da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo).

Para Badaró, o conceito moderno da delação premiada que é o utilizado na Lava Jato tem "uma clara inspiração inquisitória ao utilizar o autor do crime para provar a ocorrência do delito cometido por ele e seus comparsas". "Na verdade, a delação da Lava Jato é algo vintage", brinca Badaró.

"Havia [na Inquisição] uma pressão psicológica. A pessoa sabia que, se não contasse algo que interessasse ao inquisidor, ela corria riscos - como queimar na fogueira, inclusive", destaca o professor.

E hoje, a delação é feita nesse mesmo contexto? Para Badaró, existe uma "tortura moderna, uma tortura psicológica" por trás da relação existente entre prisões cautelares e a confissão por meio da delação.

"Esse é um problema sério - caso de pessoas que estavam presas, fizeram inúmeros pedidos de liberdade provisória e assim que acenam a possibilidade de firmar um acordo de delação premiada são postas em liberdade”, defende o professor. É esse o caso, por exemplo, do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que deixou a cadeia em 2016, após passar um ano e meio em cárcere.

As delações na História

No Brasil, segundo Badaró, o primeiro registro oficial do conceito que conhecemos hoje como delação premiada é de 1603, nas Ordenações Filipinas, conjunto de leis espanholas que vigorou em terras brasileiras durante o período da União Ibérica.

Estava previsto nessas leis o crime de lesa-majestade, descrito como "traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real Estado". Existia também o perdão ao delator, como descreve o texto: "por isso [delação] lhe deve ser feita mercê [favor, benefício], segundo o caso merecer, se ele não foi o principal tratador desse conselho e confederação" –ou seja, caso o delator não fosse o líder do movimento conspiratório.

Badaró explica que foi dessa lei que se valeu o coronel Joaquim Silvério dos Reis, que estava endividado com a Coroa e decidiu delatar os inconfidentes mineiros para ter sua dívida perdoada.

"Além de não ser punido com a pena de morte, dois anos depois foi a Lisboa e recebeu o foro de fidalgo da Casa Real, além de uma pensão anual de quatrocentos mil réis", conta o professor.

Outros registros importantes aparecem já nos anos 90, com as leis dos Crimes Hediondos, dos Crimes Contra Ordens Tributárias e a Lei de Lavagem de Dinheiro.

"[Essas leis] que tratavam da delação premiada se limitavam ao benefício, à redução da pena, que ao final do processo o juiz podia aplicar a quem delatou", ressalta Badaró, destacando que não havia um consenso sobre qual procedimento deveria ser seguido pelas duas partes - o delator e o Ministério Público.

Isso mudou apenas em 2013, com a Lei 12.850, que definiu as organizações criminosas e mudou a regulamentação dos acordos de delação.

"Houve maior amplitude desse procedimento e maior liberdade de negociação. Se antes só se falava em redução de pena, agora se fala da possibilidade de aplicação de regimes diversos. Além disso, agora existe o pré-acordo e a necessidade da homologação", afirma Alamiro Velludo, professor de Direito Penal da Faculdade de Direito da USP.

Essas mudanças, segundo ambos os professores, dão mais segurança para que tanto o delator quanto o Ministério Público possam fazer uso da delação premiada.


por 
 Ana Carla Bermúdez
Do UOL, em São Paulo

24 de mar. de 2018

4253) Como descobri que não sou fã de nada (18.7.2017)






















Não foi propriamente assim que aconteceu. Estou apenas traçando uma versão mais aerodinâmica, para simplificar o relato.

Eu estava num evento ligado a Bob Dylan, abertura de uma exposição em São Paulo dedicada ao bardo de Minnesotta. Teve DJ, teve som ao vivo, teve um coquetel. Eu conversava numa roda de conhecidos, e de repente me vi diante de uma moça simpática, jovem, que falava de um jeito que eu achei bem interessante. O diálogo era a respeito de alguma outra coisa, mas a certa altura ela perguntou:

– E você, é fã de Dylan?

– Claro – eu respondi.

– Diga sua música preferida. Não!... Ninguém tem uma só, todo mundo tem muitas. – Eu já achei inteligente essa ressalva, e me animei todo. – Diga uma que você gosta.

Puxei de uma cartola qualquer um coelho aleatório.

– “Desolation Row”.

Os olhos dela se iluminaram.

– Que maravilha! Eu também. Deixe ver... você gosta mais das versões antigas tipo Royal Albert Hall e Dublin, ou das mais recentes, tipo Locarno, Oslo...?

Comigo não tem tempo ruim, de modo que eu dei um gole da bebida e respondi, na cara de pau:

– Eu acho que eu gosto da versão original, do disco.

Ela me olhou com um misto de dó, magnanimidade e irrisão. E disse:

– Ah. Então você não é um fã. Você é um ouvinte casual.

O país das artes é vizinho do país das religiões, e o trânsito através de suas fronteiras, em ambas as direções, é intenso. Às vezes a gente pensa que está num deles, e quando vê, todo mundo em volta está falando o idioma do outro.

O fã não é alguém que se limita a gostar, é alguém que desenvolve um culto voraz. Camões dizia, erradamente ao meu ver, que “transforma-se o amador na coisa amada”. Eu acho que o amador, e o fã nada mais é que isto, transforma o mundo na coisa amada. Pra onde ele se vira, só enxerga aquilo.

O fã transforma a coisa amada num labirinto fractal onde cada detalhe se subdivide e se supermultiplica em um milhão de outros. Não basta ser fã de (vá lá) Camões. É preciso rastrear todas as versões que o soneto de Jacó e Labão já teve, é preciso saber na ponta da língua todos os endereços onde o poeta pendurou seu casaco, é preciso colecionar memorabilia, é preciso ter uma coleção de perguntas de algibeira para dinamitar as pretensões dos incautos.

Lembro do saudoso crítico de cinema André Setaro, de Salvador, meu parceiro etílico e meu contemporâneo, que assinava críticas na Tribuna da Bahia quando eu fazia o mesmo, com mais rapidez e menos perspicácia, no Correio da Bahia.

Um dia entro eu num daqueles velhos cinemas nos arredores do Pelourinho para assistir, se não me engano, Trama Macabra, o derradeiro filme de Hitchcock, quando esbarro com Setaro. Cruzei a cortina e encontrei-o de pé, junto àquele tradicional balcão de metro e meio de altura que protegia a fila mais afastada da tela. Conversamos ali enquanto iam sendo exibidos o Canal 100 e os trailers. Quando surgiu a ponteira indicativa do filme, falei:

– É o filme agora. Bora sentar?

Ele me olhou com cara de fã ofendido e disse apenas:

– Filme de Hitchcock assiste-se de pé, em sinal de respeito.

E fê-lo. Talvez só o tenha feito porque sentei poucas filas à frente e o fiquei vigiando com o rabo do olho, e ele então não teve outro jeito senão manter a pose; mas fê-lo, ora que diabo.

O fã se confunde muitas vezes com o colecionador, porque uma coisa conduz à outra com a mesma fluidez com que ser noivo conduz a ser marido. O colecionador é um cara que casou com uma missão, e muitas vezes essa missão nem é um ser específico, com cara na foto e nome no cartório; é um mero conceito abstrato.

Meu pai tinha um amigo que colecionava qualquer exemplar de qualquer periódico, desde que fosse o “ano 1, número 1”. De tudo que saía em Campina, Seu Nilo comprava um exemplar e remetia para esse cidadão, cujo nome minha incúria não guardou para a posteridade. E se considerarmos o índice de mortalidade infantil das publicações brasileiras, as literárias em especial, penso nas raridades valiosíssimas que ele terá amealhado no correr das décadas.

Porque existe um mercado subterrâneo para alimentar o fã-colecionador. Algum tempo atrás eu estava bebendo no Amarelinho da Cinelândia, numa mesa grande onde havia um ou dois amigos e outros caras que conheci na hora. Passou uma garota lindinha, meio hippie, distribuindo filipetas de shows de rock que ia haver no Teatro Odisséia e no Circo Voador. Um cara ao meu lado chamou a garota e pediu uma filipeta de cada e pôs na mesa, junto do pacotinho de amendoim. Estranhei um pouco porque o cara tinha jeitão de quem gosta de ver shows de Dona Ivone Lara, não do Macaco Bong.

– Você vai ver esses shows? – perguntei.

Ele deu um gole do chope, leu com atenção todas as filipetas, e guardou no bolso da jaqueta, enquanto respondia:

– Eu não vejo os shows, eu coleciono isso.

– Você é fã de rock?

– Eu mesmo não – disse. – Mas conheço fã de rock. No ano passado eu vendi uma filipeta dessa, do primeiro show dos Paralamas do Sucesso, por cinco mil reais.

Como disse um economista amador, demanda gera oferta e oferta gera demanda. Um rabisco a carvão feito por Van Gogh, cujo valor estético roça o zero, é vendido por milhões de dólares para um fã que vai... expô-lo no Metropolitan? Não, trancá-lo num cofre, junto com a certeza de possuí-lo.

Diante disso, nós, “ouvintes casuais” (não, não esqueci, moça, continua encravado, e doendo) temos apenas que nos recolher à carapaça da nossa ignorância e prosseguir rastejando no chão desse oceano de possibilidades. Por mais que a gente pense que ama Luís Buñuel ou The Incredible String Band ou Ellery Queen sempre vai aparecer à nossa frente um indivíduo blasé perguntando se a gente sabe a marca de talharim que o ídolo preferia.

Um rapaz estava numa festa na mansão da família de um amigo de faculdade. Lá pelas tantas, começou a conversar com a avó do amigo, uma senhora setentona, simpática, boa de papo. Depois de alguns minutos, a senhora suspirou e disse:

– Mas o que é isso, o senhor tão jovem, a festa cheia de gente jovem, e eu aqui lhe incomodando... Vá circular, se divertir.

– Qual nada – acudiu ele de imediato. – Estou gostando muito de conversar com a senhora.

– Ninguém da família conversa comigo – confidenciou ela. – Eles dizem que eu sou doida.

– Não é possível. A senhora, tão lúcida, tão inteligente. Por que eles dizem isso?

– Porque eu gosto muito de pão-de-ló.

O moço se surpreendeu:

– Pão de ló? Mas isso não tem nada de mais. Eu também adoro pão-de-ló.

Os olhos da madame chamejaram e ela cravou no braço dele cinco dedos de ferro:

– Então vamos lá em cima no meu quarto. Eu tenho vinte e cinco malas cheias de pão de ló.

Ela era uma fã.



(Pensava ser um fã de Braulio Tavares. Genial. Ele mesmo tratou de livrar-me deste ‘incômodo’. Descubro que não sou fã nem de papai Noel.)

corpo-a-corpo



20 de mar. de 2018

Por biapicchia | 03/19/2018 | Mitologias do Feminino, Símbolos Mitos Rituais


O Feminino e o Sagradoum jeito de olhar o mundo


Na noite da chegada, a multidão de 2000 pessoas entra em Elêusis de tochas acesas.



Nesse momento as sacerdotisas responsáveis pelas ceras das tochas e pelo hidromel, as condutoras dos mistérios, que eram as sacerdotisas-abelhas chamadas  Melissaes, surgem cobertas de mel e de pó de ouro para se destacarem na multidão e brilharem na luz das tochas.  Elas dançam em frente das fontes sagradas de Elêusis.



Você pode imaginar cena mais linda?

O mito de Elêusis fala de Demeter, uma mãe cuja filha foi raptada pelo deus Hades e que ficou muito zangada. Como ela é a Grande Deusa da Terra Cultivada, sua zanga é catastrófica: ela faz com que nenhum grão nasça até a filha Perséfone ser devolvida.

E quando ela volta Demeter dá aos seres humanos o grão da vida, representado pelo grão de trigo. A Deusa os ensina a plantar, colher e fazer o pão com esse grão e ainda institui esse ritual,  Os mistérios de Elêusis. Sua fundamentação era a morte simbólica, a semente que morre no seio da terra e se transmuta em novos rebentos.

Isso quer dizer que  um ritual iniciático que trata da morte e renascimento não apenas do grão mas também dos homens. O que os Mistérios prometiam era a bem-aventurança após a morte. E  o que ele promovia não era uma informação racional mas sim uma epifania, um evento fortemente transformador da personalidade e de ampliação de consciência.



Sua ligação com vida-morte e com a Deusa o torna um ritual de cunho profundamente feminino.Outro aspecto é que havia muitas sacerdotisas envolvidas nos rituais, como as Melissaes.

Podemos ver esse aspecto feminino também pela inclusividade do ritual, que era aberto a todos: mulheres, estrangeiros, escravos. As 2 únicas condições para participar eram que a pessoa precisava conhecer a língua grega e não podia ter cometido um crime de morte.

Na porta do templo de Elêusis estava escrito: Agora é hora de celebrar o encontro de Demeter com Perséfone.

Apesar de ainda ter muito a lutar, talvez já possamos agora comemorar os encontros de um antigo feminino, arcaico e forte, com nossas conquistas contemporâneas e quem sabe também com um futuro melhor para nossas filhas e netas. Para todas nós.
Informações recolhidas em Junito Brandão e no curso do Rodrigo Lopez

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19 de mar. de 2018

Por que o Sul é anti-Lula? E mais: as fake news contra Marielle Franco


Jornalistas da Gazeta do Povo debatem 
o início da caravana do ex-presidente pelo
 maior reduto anti-PT do Brasil. 
E mais: 
as fake news contra Marielle Franco e 
a busca do governo por dinheiro para a
 intervenção no Rio