Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

3 de nov. de 2018

"Urbanismo em fim de linha"

Otília Beatriz Fiori Arantes 
Mestre em filosofia pela FFCLH/USP e 
doutora pela Universidade de Paris


"Essa mundialização do capital (...) gera descompassos, segregações, guetos multiculturais e multirraciais, ao mesmo tempo que desterritorializações anárquicas, crescimentos anômalos e
transgressivos – verdadeiros focos explosivos que devem esgotar suas energias numa entropia intransitiva, numa guerra interna generalizada, de facções e gangues, enquanto consomem e exportam formas culturais e religiosas cada vez mais sincréticas, criando uma vaga sensação generalizada de reconciliação democrática. Reposição das diferenças que não é senão sublimação cultural, forjando, na ausência de referências sociais objetivas, identidades meramente simbólicas" (p. 187-188).

2 de nov. de 2018



Para o economista Carlos Eduardo Frickmann Young, do Grupo de Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GEMA-UFRJ), a transformação do ministério do Meio Ambiente em secretaria sinaliza uma concepção de estrutura do Estado antiga e divorciada do mundo atual, onde as mudanças climáticas e a noção de sustentabilidade são nortes não só para as políticas públicas, mas para o mercado.


Carlos Drummond de Andrade >> Contos plausíveis

Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond www.carlosdrummond.com.br

(ESTES CONTOS Há muita coisa a emendar em meus contos. Às vezes eles saem totalmente ao
contrário daquilo que pretendiam contar. Costumam até ficar melhor, mas nem sempre. Certos contos, os mais simples, parecem inverossímeis, e os inverossímeis, pois também escrevi alguns desta natureza, despertam o comentário: “Daí, quem sabe? Tudo pode acontecer”. Tenho a impressão de que tudo pode mesmo acontecer em matéria de contos, ou melhor, no interior deles. Houve um que se recusou a terminar, como se dissesse: “Fica tão bom assim… Só você não percebe isto”...)


Sumário 
13 Nota do autor 
15 Estes contos 
16 A bailarina 
17 A bailarina e o morcego 
18 A beleza total 19 Abotoaduras 
20 A condição geral 
21 A cor de cada um 
22 A cor falante 
23 A escola perfeita 
24 A fala vegetal 
25 A falsa eternidade 
26 A hóspede importuna 
27 A imagem no espelho 
28 A incapacidade de ser verdadeiro 
29 A lanterninha 
30 Alma perdida 
31 A melhor opção 
32 A mesa falante 
33 A moda autoritária 
34 A mudança 
35 A mulher variável 
36 Andorinhas de Atenas 
37 A noite 
38 A noite da revolta 
39 A Opinião em palácio 
40 A orquestra odiosa 
41 A perfeita sabedoria 
42 Aquele bêbado 
43 Aquele casal 
44 Aquele clube 
45 Aquele crime 
46 A salvação da pátria 
47 A solução 
48 As pérolas 
49 As Três Graças 
50 A tapeçaria burlada 
51 A terra do índio 
52 A verdade dividida 
53 A vez dos ferreiros 
54 A 26 a obra-prima 
55 A volta das cabeças 
56 A volta do guerreiro 
57 Bandeira 2 
58 Binóculos 
59 Bom tempo 
60 Bom tempo, sem tempo 
61 Carta extraviada 
62 Casamento por cinco anos 
63 Casos de baleias 
64 Coleguismo 
65 Conversa de correligionários 
66 Convívio 
67 Crime e castigo 
68 Desemprego 
69 Desta água não beberás 
70 Deus quer otimismo 
71 Diálogo das notas 
72 Diálogo de todo dia 
74 Diálogo filosófico 
75 Diálogo final 
76 Duas sombras 
77 Elementos de um conto  
78 Encontro 
79 Entre flores 
80 Episódio veneziano 
81 Essas meninas 
82 Excesso de companhia 
83 Experiência 
84 Fugir do Carnaval 
85 Furto de flor 
86 Garbo e Marlene 
87 Gêmeos 
88 Governar 
89 História mal contada 
90 Histórias para o rei 
91 Idílio funesto 
92 Incêndio 
93 Lavadeiras de Moçoró 
94 Lavadeiras de Moçoró  
95 Leite sem parar 
96 Liberdade 
97 Linguagem do êxtase 
98 Mãe sem dia 
99 Maneira de amar 
100 Medalhas 
101 Meu corvo 
102 Milagre 
103 Na cabeceira do rio 
104 Nasceu uma ninfa 
105 Necessidade de alegria 
106 No interior da baleia 
107 Novo dicionário 
108 O admirador 
109 O admirador  
110 O amor das formigas 
111 O anticirco 
112 O assalto 
113 O banho surpreendido 
114 O bebedor total 
115 O bem mais perigoso 
116 O casamento do século 
117 O casamento secreto 
118 O discurso vivo 
119 Odisseia 
120 O entendimento dos contos 
121 O homem observado 
122 O homem que fazia chover 
123 O intérprete 
124 O lazer da formiga 
125 O locutor esportivo 
126 Onde ninguém entra 
127 O nome 
128 O pão do Diabo 
129 O papagaio premiado 
130 O perguntar e o responder 
131 O poder de uma rabeca 
132 O rei e o feno 
133 O rei e o poeta 
134 O relógio de sol e o de nuvens 
135 Os dados essenciais 
136 Os diferentes 
137 Os esquadrões 
138 O sexto gato 
139 Os licantropos 
140 Os limites da imaginação 
141 O sofrimento de Jó  
142 Os privilegiados da Terra 
143 O tempo na rua 
144 O torcedor 
146 O trabalhador injustiçado 
147 Ou isto ou aquilo 
148 Parabéns por tudo 
149 Poder da etimologia 
150 Poesia sem deuses 
151 Queijo para dois 
152 Rick e a girafa 
153 Saber perguntar 
154 Salvo se 
155 Santo de pau oco 
156 Sinatra 
157 Solange 
158 Subsistência 
159 Tentativa de posse 
160 Tudo bem 
161 Um caso de paixão 
163 Um livro e sua lição 
164 Unidade partidária 
165 Verão excessivo 
166 Volta à casa paterna 
167 Votação inconclusa 
169 Nota da edição 
171 Posfácio 
 Prosa de brinquedo, noemi jaffe 
179 Leituras recomendadas 
180 Cronologia 
186 Créditos das imagens


A verdade dividida

A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou 

conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
 

Ted Chiang


Tenho uma birra com o Capitalismo, assim como certas pessoas têm birra com o inverno ou com o verão. Ou seja: como não posso fazer nada para mudá-lo, fico falando mal, pra liberar pressão.

Faço muitas críticas a esse sistema, mas me criei dentro dele e consigo viver assim, numa boa. Sou um subproduto dele. Mesmo sabendo que o Capitalismo, pelo menos em suas pulsações mais ousadas dos tempos mais recentes, está destruindo o mundo.

mundofantasmo

.


29 de out. de 2018

A quem interessa confundir tanto? Aos brasileiros, claro que não.



ACONTECEU!



104.838.275 milhões de brasileiros votaram no dia 28. 


55%  DOS

ELEITORES

BRASILEIROS

ELEGERAM

BOLSONARO




45%  Disseram

Ele Não!





Senador Evangélico
Magno Malta
derrotado nas eleições
faz oração da vitória 
ao lado de bolsonaro
e ao lado do deputado eleito
ator pornô Alexandre Frota
  
diz que  Brasil e um país



 >>>>>CRISTÃO<<<<<


formado por

EVANGÉLICOS 
CATÓLICOS
>>>>>JUDEUS<<<<<


Nem tudo anda azul   na América do Sul



27 de out. de 2018

"Para uma pessoa chega a um estágio de ser torturado, deve ter feito uma coisa muito séria. Entonce s para uma pessoa a tornar-se torturado, é para o bem maior ,






Com a pistola semiautomática .380 e capacidade para 19 tiros, Nascimento defende a idéia de libertar a posse e posse de armas no Brasil, limitada por lei desde 2003.

"Se eu pudesse carregar uma arma dessas, me sentiria muito melhor andando nas ruas, com mais segurança", diz ele na sala de sua casa em Treze de Maio , no sul do estado de Santa Catarina.


Em 1914 o Estado demarcada terra para quilombolas, comunidades tradicionais afro-brasileiras protegidas por lei, mas de acordo com o governo federal, "os negros foram posteriormente expulsos por imigrantes italianos" no município.

The end of the world?
Não, é o Brasil ameaçado

Blue moon, foi um exercício poético, feito a partir de um pedido de fotos da Lua, no facebook, do local onde meus amigos estivessem. Para cada foto recebida fiz um texto, em poema ou prosa poética, no mesmo momento em que recebia a foto. No total, foram sete fotos recebidas.

Blue Moon VII

















Lua em São Paulo, por Judith Muniz


"Não havia dúvidas, ela veio pra uma aviso. Não importava se o céu não era breu, nem o brilho das estrelas ficarem em segundo plano. Não importava nem se era no céu cinza da cidade de pedra. Ela vinha trazendo anil pra colorir tudo a sua volta."

E como você sabia que era pra uma aviso, Mãe?

Ela veio tão brilhante, que só víamos uma Estrela D'alva!

E o que mudou, mãezinha!

A alma da gente, filha. A alma da gente...

Joakim Antonio



Bolsonaro “amigo de Israel”


Apoio de empresários judeus ajuda a construir imagem


Antes era quase natural pensar que por terem sofrido o Holocausto os judeus, para serem solidários com todos aqueles que sofrem igual exclusão, deveriam ser de esquerda

Aproximação causou uma crise na comunidade judaica 
entre os defensores dos direitos humanos



Por que votamos em Hitler

Por que a Alemanha, o país com um dos melhores sistemas de educação pública e a maior concentração de doutores do mundo na época, sucumbiu a um charlatão fascista?


(...)De fato, uma análise mais objetiva mostra que, justamente quando era mais necessário defender a democracia, os alemães caíram na tentação fácil de um demagogo patético que fornecia uma falsa sensação de segurança e muito poucas propostas concretas de como lidar com os problemas da Alemanha em 1932. Diferentemente do que se ouve hoje em dia, Hitler não era um gênio. Não passava de um charlatão oportunista que identificou e explorou uma profunda insegurança na sociedade alemã.

Leia matéria na íntegra: https://brasil.elpais.com/brasil

...Marcos Monteiro (diário 12 e 13)


Sempre tentando encontrar os caminhos para tantas coisas. 
teófilóprofepenescrit



DIÁRIO DE UMA ELEIÇÃO ESTRANHA

12

MAIS DIREITOS PARA TRABALHADORES

Tirar mais direitos de trabalhadores e trabalhadoras tem sido projeto antigo. Cobra-se muito de quem não tem e quase nada de quem tem, podem pesquisar. Defender a soberania e nossas riquezas naturais nunca foi o forte dos governos brasileiros, e o petróleo está cada vez mais vulnerável depois da descoberta do pré-sal. Esse projeto econômico ultraliberal nunca deu certo em lugar nenhum e podemos retomar o projeto desenvolvimentista com algumas correções.

Os trabalhadores e trabalhadoras também podem ser classificadas como Humanos Exóticos, e a caça é aos
seus direitos. O governo do PT foi um capitalismo de centro e não o comunismo de que vem sendo acusado. Aliás, nunca existiu a aplicação de um projeto realmente socialista, o que chamamos de socialismo real foi um tipo de imperialismo classificado de diversas maneiras por diversos estudiosos, mas dentro do imaginário capitalista.

Pois bem, a receita econômica que se segue é de um capitalismo predador, devorador de direitos e conquistas dos trabalhadores, como aposentadoria, férias e décimo-terceiro. Sempre se põe a culpa no trabalhador, mas a história mostra que distribuição de renda é melhor para a economia do que acumulação desenfreada. Então, por mais direitos para os trabalhadores e trabalhadoras, sem ódio e sem medo, voto em Hadad, voto 13.

Recife, 26 de outubro de 2018



13

O CAMPO EXISTENCIAL DOS HUMANOS EXÓTICOS

Essa estranha eleição desenhou um campo existencial de muita vulnerabilidade, porque parece que um grupo de Caçadores se organiza de diversos modos para buscar o extermínio dessa população diversificada e muito grande, a Raça de Humanos Exóticos.

Merecem sofrer violência, bandidos, homossexuais e feministas, à margem da lei ou de códigos
comportamentais; negros, índios e outras etnias identificáveis, á margem de padrões étnico-raciais; sem-terras, sem-tetos, sem-direitos, especialmente quando se organizam e lutam; e todas e todos que se identificam com alguns ou algumas dessas, e até os trabalhadores, ameaçados em direitos adquiridos.

São muitos os seres humanos vivendo sentimentos de apreensão e terror por pertencerem a algum desses grupos. Mas há muita gente lutando contra esse estado de sofrimento e desejando construir um mundo melhor. Nesse campo, eu me identifico também como um humano exótico. Afinal, eu sou pastor batista e sou socialista, e apoio todas e todos que sofrem e lutam por mais amor e mais justiça. Por tudo isso, sem medo e sem ódio, voto Haddad, voto 13.

Recife, 27 de outubro de 2018


25 de out. de 2018

...Marcos Monteiro (diário)


Sempre tentando encontrar os caminhos para tantas coisas. 
teófilóprofepenescrit



DIÁRIO DE UMA ELEIÇÃO ESTRANHA

10

PARA APRENDER A AMAR

A ira é um dos sentimentos naturais e em uma sociedade capitalista, em que o mérito, o narcisismo e o consumismo são valores e a competição, o individualismo e o sucesso são processos de crescimento, a ira se torna estrutural, quase ontológica. O ódio é o cultivo e o aperfeiçoamento da ira.


Nesse tipo de sociedade, estamos irados contra a desigualdade econômica que nos atinge, contra o poder que


nos esmaga e contra a solidão que nos ameaça. A ira é uma emoção perigosa e fomos convidadas a aplicar a ira, aprendendo a odiar. Nos ensinaram a odiar o PT, depois aos homossexuais, aos negros, aos índios, às feministas, aos sem-terra, aos sem-teto, aos sem-direitos.

Mas o que queríamos mesmo era mais igualdade salarial, mais poder de decisão e mais amor, muito mais amor. Então precisamos urgente reaprender a amar e vencer esse clima de insegurança e intolerância. Para retomar o caminho do amor, sem medo e sem ódio, voto em Haddad, voto 13.

Recife, 24 de outubro de 2018




11

EDUCAÇÃO INFANTIL

Ítalo tinha quatro anos quando não se coube em si. E não teve ninguém seduzindo, nem igreja, nem amigas, amigos, escola ou igreja lhe compreendendo. Quem consegue? Pai e mãe se desesperavam e Ítalo queria se matar. O pai desistiu e saiu de casa, mas a mãe foi acompanhando até aceitar, ajudar e admitir que Ítalo se cabia melhor como Talia e tem dezoito anos agora, livre, leve e linda.

Educação sexual é luta de educador há muitos anos, contra uma sociedade que não se entende.
Bernadete apanhou o que pode e o que não pode até se tornar Belisário e se sentir mais humano. E não teve escola, nem igreja, foi luta solitária, por cuja causa leva cicatrizes no corpo e na alma. Não se ensina ninguém a ser gay, lésbica, travesti ou trans, o que se pode ensinar é a respeitar e a se amar as pessoas e as crianças em seu longo processo de descoberta de corpo e de identidade sexual.

Sou amigo de muitas LGBTT e já ouvi histórias o suficiente de tentativas de exorcismo, tentativas de cura e tentativas de suicídio, mas também testemunhos de libertação pela autorização do amor exótico. Esse grupo grande de Humanos Exóticos tem sido o alvo principal de caçadores e o Brasil é o país que mais mata homossexuais. Eles estão com muito medo. A educação é o projeto de ensinar crianças a amar, não a atirar. Pelas mães de crianças exóticas, sem medo e sem ódio, eu voto em Hadad, voto 13.

Recife, 25 de outubro de 2018


Um campo imenso de possibilidades


Dostoiévski: 

"Se Deus não existisse, tudo seria permitido"

Dostoiévski 

Dostoiévski escreveu em “Os Irmãos Karamazov”:“Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. A frase tem sido glosada de muitas formas e feitios.

Jean-Paul Sartre escreveu que “tudo é permitido se Deus não existe". Não existindo Deus, "o homem está desamparado", porque não encontra "nenhuma possibilidade de se agarrar, nem em si, bem fora de si”. Esse «desamparamento» é o princípio do existencialismo. Sem Deus, não existe causa nem fim. O homem é liberto e livre. Assim pensa o existencialismo ateu.

Simone de Beauvoir reflecte na mesma linha de Sartre, com algumas nuances, mas contra Dostoiévski. Não existe Deus, a liberdade é maior, a responsabilidade é total. “Bem longe de a ausência de Deus autorizar toda a licença, é pelo contrário porque o homem está desamparado sobre a Terra que os seus actos são compromissos definitivos, absolutos. Ele carrega a responsabilidade de um mundo que não é obra de uma potência estrangeira, mas de si mesmo onde se inscrevem tanto as suas derrotas como as suas vitórias. Um Deus pode perdoar, apagar, compensar; mas, se Deus não existir, as faltas do homem são inexpiáveis”.

George Perros, cómico e escritor (1923-1978), acrescenta, porém: “Eu acho que o que assusta, é que tudo seja permitido mesmo que Ele exista”.

Por fim, Jacques Lacan (1901-1991), apoiando-se na sua prática de psicanalista, diz o contrário de Dostoiévski: “Se Deus não existe, então já nada mais é permitido. As nevroses demonstram-no diariamente”.

Também eu gostava de acrescentar um pensamento a estes ilustres franceses (adaptei as frases de um livro de Jérôme Duhamel e Jean Mouttapa, “Dicionário inesperado de Deus”, na Editorial Notícias): Se Deus existe, tudo é permitido. Não falo do poder de Deus, falo do poder dos homens. Na verdade, este pensamento não é original. Agostinho de Hipona escreveu há 1600 anos: “Ama e faz o que quiseres”. É sensivelmente o mesmo. Ama porque Deus existe. Faz o que quiseres porque daí brota um campo imenso de possibilidades.



Somos Índios... (Catia Cernov)



Parte I - 

O Colonialismo



Somos índios...
Vivemos tranquilos em nossas cabanas.
Não mexemos com os outros...
E nem importunamos a vida de ninguém.

Estamos limpando a caça do dia...
Muito contentes com nosso deus Tupã!
Felizes com o jantar saboroso que sairá nessa noite...
E, principalmente, porque hoje haverá casamento!

Mas eis que apareceram uns caras pálidas filhos da mãe...
E estragam a nossa festa!
Surgiram numas canoas esquisitas e muito grandes...
Nos embrenhamos no mato e ficamos espionando aquilo!

Somos índios... e vimos as Caravelas de Cabral
Não temos idéia do que significa aquilo!
Ao mesmo tempo que sentimos medo...
Também achamos que pode ser coisa do Velho Tupã!

Mas eu logo vi... Encrenca!
Justo no dia do meu casamento?
Estava doido por mulher...
E me aparecem esses empatas!

Corremos para nossa Base Verde
Decidimos que vamos atacar com algumas caras feias 
Fomos até a praia e encaramos o provável invasor
Mas vimos, logo de cara, que eram bem maiores.

Não deu certo...
Os inimigos não tinham cara feia
Mas tinham uns equipamentos esquisitos nas mãos
Que soltava fogo e nos deixou apavorados.
Recuamos!

Somos índios... e ouvimos os tiros.
Não temos a mínima idéia do que significa aquilo!
Não compreendemos o sentido da fúria.
Se é sinal de guerra ou enviados pelos deuses
De repente eles queriam apenas oferendas!

Mas eu logo pensei... Domínio!
Por que sempre tem que existir uns caras
Que se acham melhores e querem nos dominar?
Que direito têm eles de invadir nosso território?

Sentei próximo a fogueira e encarei o chegado do Homem:
Por que, Pajé? Por que é assim?!
Mas ele não sabia me responder
E o jeito foi dormir sem saber.

Mas somos os índios da Base Verde ...bravos guerreiros!
E não vamos nos entregar tão fácil assim.
Decidimos que vamos lutar, até a morte se for preciso!
Então armamos nossas flechas.

Também não deu certo...
Os caras resolveram não lutar. Pelo contrário! 
Nos trouxeram presentes...dá pra acreditar?
Talvez os deuses queriam apenas oferendas.

E como somos índios...
Não temos idéia do que aquilo representa. Acreditamos!
Eram coisas ridículas e inúteis
E nós, bestas, aceitamos!

Mas desconfiamos... Barganha!
Aposto como eles também vão querer presentes!
E como não tínhamos nada de tão engraçado como aqueles espelhos...
Nós oferecemos um banquete de peixe, mandioca e farinha. 
Fazer o quê?

E, de fato, eles não gostaram.
Elogiaram mas, logo de manhã, saíram vasculhando a área
A procura de algo bem mais interessante que a farinha.
Desenharam mapas e marcaram os lugares como se fossem seus!
Será que os deuses ainda estavam com fome?

Ficamos indignados... Invasor!
Estão estudando o nosso território, bem debaixo de nossos narizes.
Então deu pra perceber que eles queriam 
Bem mais do que jantares exóticos!

Nós índios... voltamos a Base Verde
Achamos que eles olham muito esquisito para nossas índias.
Que eles acham nosso jeito de viver ridículo.
E querem que sejamos iguais a eles.

Ah! Mas isso não vai ficar assim!
Decidimos questionar as intenções dos inimigos
Para depois negociar com eles.
Mas eles não responderam e nos ameaçaram com seus paus de fogo!

E o jeito foi nós calarmos a boca!
Mas não desistimos...
Resolvemos sabotar o Camões deles.
Fomos lá e escondemos as embarcações menores, que levavam a Canoa-Mãe.

Impedidos de carregarem nossas coisas para sua Base Flutuante
Eles ficaram furiosos e nos perseguiram.
Sabiam que não podiam nos pegar na mata, então atiraram fogo.
Massacraram nosso povo...

Por causa daquilo meu casamento foi, de novo, adiado ...
E a índia é tão gostosa que eu não consigo pensar em outra coisa!
Ela é de uma aldeia vizinha, e conforme a cultura de meus ancestrais
Eu não deveria vê-la antes do casório...
Mas é claro que fui até lá espioná-la, antes de aceitar a proposta!

Mas como somos índios...
Não percebemos que, devagar, ele foram depredando nossas terras.
Não entendemos porque ficaram tão radiantes
Diante daquelas pedras inúteis e tão brilhantes.

Aí observamos... Que História mal escrita!
Os panacas inventam umas embarcações jóias 
Sofrem as tormentas do mar para chegarem ao paraíso
E ficam deslumbrados com pedras bestas? Quem entende?

De volta a Base Verde...
Nós índios notamos que ele estão levando nossos tesouros
Não só as pedras bestas... mas nossa união e respeito.
E, junto, estão carregando nossas índias.
Que aproveitadores!

Então decidimos que não vamos nos entregar
E resolvemos estudar o território do inimigo!
Remamos até a Base Flutuante
Mas demos de cara com equipamentos maiores
Que soltaram fogo, ainda mais poderosos, de suas bocas de ferro.

Nos ferramos...
Remamos rápidos de volta e revemos nossas estratégias!
Mas não é que eles nos fecharam o cerco?
Conquistaram toda a atenção da Aldeia e se impuseram como deuses?!

Mas como índios... tínhamos a ingenuidade.
Não enxergamos que aqueles deuses queriam nos comprar!
E cedemos as nossas pedras e as nossas origens
E, logrados em nossa fé, entregamos nosso destino!

Aí os caras entraram numa que deveríamos rezar igual a eles
E nos apresentaram um Deus, que também tinha o nome com quatro letras!
Não parecia fazer muita diferença... (Deus, Buda, Tupã, Alah)
Mas eles cismaram que o deles era melhor!
Que crise!

E lá vai nós aprendermos a língua deles,
Seguirmos os costumes deles.
Pensarmos como eles,
Pecarmos como eles...
E matarmos como eles.

Nunca antes conhecemos a cobiça e a vaidade
Nem sabíamos o que era ambição e luxúria.
Mas como eles disseram que o mundo funcionava assim
Nós, índios... Acreditamos e aceitamos!

Impuseram mais que sua língua e sua miscigenação!
Levaram minha índia bonita e gostosa...
E eu fiquei na mão...
Suspirando de desejos e paixão!

Louco de saudades de uma cabana solitária
Só eu e ela, deitados numa rede...
Um riacho para tomarmos banho sob a luz do luar...
Depois do amor e da almejada concepção!

Eu só queria um filho para ensinar a caçar e pescar...
Fazer a previsão do tempo sem máquinas complicadas!
Mas eles vieram...
E carregaram, também, nossos sonhos!

E, não satisfeitos, os caras ainda acharam que deveríamos produzir...
Até aí tudo bem!
Mas não explicaram que deveríamos trabalhar para produzir...
Os frutos que ficariam nas mãos deles!
E que pagaríamos impostos pela nossa miséria.

E nós, índios, que sequer temos noção de demanda, concordamos.
Aprendemos, a força, a plantar e a colher em maior escala
Matar e demarcar terras, fazer mais inimigos
E rezar para um deus que não compreendíamos...

Todos eles eram muito estranhos...
Eles devastaram a floresta, cheia de frutos...
E tudo isso para semear mais alimentos! 
Quem consegue entender uma coisa dessas?!

Mas nós, índios, obedecemos...
Porque eles disseram que são melhores e os sabe-tudos!
E como não entendemos nada de mercantilismo ou balança comercial
Nos designamos sem compreender!

Mas a Base Verde nos espera...
E conseguimos captar que eles já nos dominaram
Mas mesmo assim, resolvemos lutar sem tréguas
E não entregar a nossa Aldeia.

Então nos escravizaram...
Nos acorrentaram e nos levaram.
Nos castigaram...
Pelo simples motivo de querermos só levar nossas vidas.

Aí eu pensei ... Exploração!
Por que sempre tem que existir um mais forte
Para dominar o mais fraco que mal sabe o que está acontecendo?
Procurei o Pajé, mas ele se escondeu... 
Desconhecia tais respostas!

Nos cegaram, convencendo que sua civilização era superior
E que não temos direitos porque somos pagões.
Que os interesses da Metrópole estavam acima de Tupã
E os deuses-reis precisavam de nossa força-trabalho

Mas na Base Verde pensamos ao contrário...
Que aquilo tudo era uma grande besteira!
Somos felizes... como índios! E daí?!
Que importa essa coisa de produzir, não destruímos!

Fomos a luta...
Protestamos contra a perda da dignidade humana.
Rogamos por nossas terras de volta
Levantamos nosso direito a vida e a comida!

Mas eles não estavam nem aí...
Nos prometem um espaço em sua sociedade
Nos incluíram em suas leis absurdas e esquisitas e... o que fizeram?
Nos denominaram silvícolas num tal Código Civil!

Logo hoje! Que avistei uma linda índia indo buscar água no riacho!
Com seu pote de barro, ela debruçou-se sobre o espelho d'água...
Seu colar de sementes se soltou e foi levado pela correnteza...
E a ondulação da água me fez delirar!

Espero que ela aceite e atenda os meus anseios...
Porque já estou começando a achar...
A sexagenária esposa do Pajé até bonitinha!
Péssimo sinal! Meu Deus-Tupã! Preciso de uma mulher!

O final desta história é que ... insistimos na nossa luta!
E eu fiquei sem mulher...

Mas, para calar as nossas bocas, os índios da Base Verde
Fomos escolhidos para conhecer os outros mundos.
Seguimos na Base Flutuante até terras desconhecidas ...

E eu achava que iria encontrar uma civilização superior...
Lá seus deuses falavam da multiplicação do pão;
Mas suas leis multiplicavam os famintos.


Ainda Somos Índios...


Parte II - 

Neo- Colonialismo


Ainda somos índios...
Vivemos tranquilos em nossos barracos
Não mexemos com os outros
E nem importunamos a vida de ninguém.

Estamos catando os restos da feira do dia..
Felizes com a lata que ferve macarrão e batata nessa noite!
Muito contentes porque nem sempre temos esse privilégio...
E, principalmente, porque hoje não teve tiroteio no morro!

Mas eis que apareceram uns caras fardados filhas da mãe...
E estragam a nossa festa!
Surgiram numas patrulhas esquisitas e cheias de luzes piscantes...
Nos embrenhamos no Gueto e ficamos espionando aquilo.

Ainda somos índios... e vimos as Caravelas da Globalização
Mas já sabemos o que significa aquilo!
Ao mesmo tempo que sentimos medo
Também achamos que eles não vão nos prender!

Mas eu logo vi... Encrenca!
Logo no dia em que a Teresa topou tomar uma cerveja comigo?
Estava doido por mulher...
E me aparecem essas autoridades!

Corremos para nossa Base Suburbana
Decidimos que vamos atacar com algumas caras feias 
Fomos até a Candelária e encaramos o território hostil 
Mas vimos, logo de cara, que eram bem maiores.

Não deu certo...
Embora os inimigos tivessem cara feia
Também tinham uns equipamentos melhores que o nosso
Que soltava fogo e nos deixou encurralados. 
Ah! Mas um dos nossos conseguiu escapar!

Somos ainda índios... e ouvimos os tiros.
Temos ideia do que significa aquilo!
Que é fogo dos homens dominadores
Que é sinal de guerra.
Compreendemos e fomos a luta

Mas eu logo pensei... Exterminadores!
Por que sempre tem que existir uns caras
Que se acham melhores e querem nos molestar?
Que direito têm eles de invadir nosso Quilombo?

Sentei no meu Opala e encarei o chegado do homem:
Por que, Henry Ford? Por que é assim?!
Mas o motor não sabia me responder
E o jeito foi fugir sem saber.

Mas somos os índios da Base Suburbana ... bravos guerreiros!
E não vamos nos entregar tão fácil assim.
Decidimos que vamos lutar, até a morte se for preciso!
Então armamos nossos 38.

Também não deu certo...
Os caras resolveram não lutar.Pelo contrário!
Nos trouxeram promessas.Dá pra acreditar?
Novos deuses vinham nos salvar da miséria.

E como continuamos a ser índios...
Ainda não temos tanta ideia do que aquilo representa. Acreditamos!
Eram santinhos e camisetas de clube de futebol...
E nós, bestas, aceitamos!

Mas eu desconfiei... Barganha!
Aposto como eles também vão querer algo em troca!
E como não tínhamos nada de melhor como aquelas cestas básicas
Nós oferecemos o voto em troca do benefício. 
Fazer o quê?

E, de fato, eles não gostaram.
Não ganharam as eleições e, logo de manhã saíram vasculhando a área
A procura de algo bem mais interessante que urnas eletrônicas
Desenharam estatísticas e pesquisas nuns gráficos engraçados!
Será que os deuses tinham fome de números?

Nós já ficamos indignados... Corruptor!
Estão estudando o nosso território, bem debaixo de nossos narizes.
Então deu pra perceber que eles queriam 
Bem mais do que lobbys e "Capitalismo de Compadres"!

Voltamos a Base Suburbana!
Achamos que eles olham muito esquisito para nossas minas...
Que eles acham que elas valem uma boa grana...
E lhes darão lucros no tráfego internacional da prostituição infantil!

Ah! Mas isso não vai ficar assim!
Decidimos questionar as intenções dos inimigos
Para depois negociar com eles.
Mas eles não nos responderam nos ameaçaram com os porões das delegacias.

E o jeito foi nós calarmos a boca!
Mas não desistimos...
Resolvemos sabotar os camburões deles.
Fomos lá e furamos os pneus das patrulhas.

Impedidos de carregarem nossos manos para sua Base Bangu II
Eles ficaram furiosos e nos perseguiram.
Sabiam que não podiam nos pegar nas quebradas e atiraram 
E o massacre foi Vigário Geral...

Por causa daquilo a gostosa da Teresa não me esperou
E o baile funk prosseguiu com ela e sem mim!
Ela é da favela vizinha, seu irmão é olheiro da boca do Curió
E, conforme as leis do morro, eu não deveria me meter com ela
Mas, é claro, que os boqueiros de cá foram juntos para me dar cobertura!

Mas como continuamos a ser índios...
Não percebemos que, devagar, eles foram monopolizando nossas mentes.
Não entendemos porque ficaram tão radiantes
Diante da imposição de seu idioma e sua cultura fast-food

Aí observamos... Que História mal escrita!
Os panacas inventam umas propagandas jóias 
Sofreram as tormentas do mercado de risco para chegarem aqui
E ficam deslumbrados com gráficos de vendas de refrigerantes? Quem entende?

De volta a Base Suburbana
Nós índios notamos que eles estão levando nossos tesouros
Não só os manufaturados sem as etiquetas... mas nossa língua e união.
E, junto, estão carregando nossas meninas de tranças.
Que aproveitadores!

Então decidimos que não vamos nos entregar
E resolvemos estudar o território do inimigo!
Descemos para o asfalto, rumo a Base Ianque
Mas demos de cara com câmeras maiores
Tocavam um Rap ainda mais poderoso, de suas letras Hollywood.

Nos ferramos...
Voltamos rápidos de volta e revemos nossas estratégias!
Mas não é que eles nos fecharam o cerco?
Conquistaram toda a atenção do mundo e se impuseram como deuses?!

Mas como índios... ainda temos a ingenuidade!
Não enxergamos que aqueles deuses queriam nos comprar!
E cedemos as nossas virtudes e nossos sentidos
E, na cegueira urbana, entregamos nosso quintal!

Aí os caras entraram numa que deveríamos agir igual a eles...
E nos apresentaram um deus, que tinha o nome com cinco letras!
E não com quatro como pensávamos antes...
Dólar!
Que crise!

E lá vai nós, tudo de novo, aprendermos a língua deles,
Seguirmos os costumes deles.
Pensarmos como eles,
Pecarmos como eles...
Matarmos como eles.

Nunca antes conhecemos que a Barbie era melhor de todas.
Nem sabíamos que comer hambúrguer nos fariam mais espertos
Mas como eles disseram que o mundo era Mac/feliz assim...
Nós, índios... Acreditamos e aceitamos!

Impuseram mais que sua língua, mas sua superioridade falsa.
Levaram minha Teresa para desfilar como objeto de desejo
Eu fiquei na mão... 
Suspirando de desejos e paixão!

Louco de saudades de um puxadinho no barraco da Rocinha.
Só eu e ela, deitados no colchão de molas velho
O Teitê para tomarmos banho sob a luz poluída do luar...
Depois do amor, a esperança que a camisinha não tenha furado!

Eu só queria um telhado de zinco para morar. Feijão, farinha...
Amar a Teresa, fazer-lhe um filho, um trampo bom...
Mas eles vieram...
E carregaram, também, nossos sonhos!

E, não satisfeitos, os caras ainda acharam que deveríamos assinar um ALCordo
Até aí tudo bem!
Mas não explicaram que deveríamos trabalhar para produzir
Os lucros e dividendos que ficariam nas mãos deles!
E pagaríamos royalties pela nossa miséria.

E nós, índios, que sequer temos noção de Mercado Livre, concordamos.
Aprendemos, a força, a se virar vendendo chicletes no sinal vermelho...
Parangas nas bocas e laranjas descascadas nas rodoviárias...
Mas não deu, e os zome do estrangeiro combateram o Mercado Informal.

Mas havia algo de estranho naquilo...
Eles devastaram uma floresta cheia de recursos...
E tudo para nos cobrar, mais tarde, que não cuidamos de nossa biodiversidade!
Quem consegue entender uma coisa dessas?!

Mas nós, ainda índios, obedecemos...
Porque eles disseram que são melhores e os sabe-tudos!
E como não entendemos nada de Globalização e Neoliberalismo
Nos designamos sem compreender!

Mas a Base Suburbana nos espera...
E conseguimos captar que eles já nos subjulgaram
Mas mesmo assim, resolvemos lutar sem tréguas
E não entregar a nossa Comunidade.

Então nos escravizaram...
Meus amigos se tornaram traficantes.
Outros, assaltantes ...
E, o último, sob liberdade condicional, não pode mais lutar.

Aí eu pensei ... Exploração!
Como podem fazer de minha cultura um Capital,
Para comprar o mais fraco que nem sabe o porquê?
Procurei meu Opalão, mas o encontrei no cemitério de automóveis
Foi leiloado como comportamento ultrapassado!

Nos cegaram, convencendo que sua civilização era superior...
E que não temos direitos porque somos atrasados!
Mas não fomos nós que furamos a camada de ozônio...
E nem derretemos os pólos, onde agora as focas agonizam!

Mas na Base Suburbana pensamos ao contrário...
Que tudo isso é uma ALCA, uma grande mentira!
Somos felizes... como índios! E daí?!
Não queremos mais produzir para os outros... Não destruímos!

Fomos a luta...
Protestamos contra a perda do trabalho.
Rogamos por nossas terras de volta...
Levantamos nosso direito a vida e a comida!

Mas eles não estão nem aí...
Nos prometem um espaço em sua sociedade.
Nos incluíram em suas leis absurdas e esquisitas e... o que fizeram?
Nos denominaram Terceiro Mundo na geopolítica internacional!

Logo hoje! Que avistei uma reunião de cúpula do G-8!
Com seus portes de ferro, pensam que são mais fortes...
Mas seus colares de medalhas foram levados pela correnteza...
E a turbulência da água me fez rir!

Espero que eles aceitem que também são homens, imagens e semelhanças...
Porque já estou começando a achar...
Que o circo de papel vai ser molhado pela tempestade!
Péssimo sinal! Meu deu$/Trade...! Preciso de uma consciência!

O fim dessa história é que... insistimos na nossa luta!
E eu fiquei sem mulher...

Mas, para calar as nossas bocas, os índios da Base Suburbana...
Fomos convidados a participar de um reality-show!
Ao vivo e em cadeia nacional ...

E eu achava que iria encontrar uma civilização superior...
Lá seus monumentos celebravam a liberdade;
Mas sua ciência gerava mais escravidão.

(Floresta Amazônica, 22 de novembro 2005)