Se a credibilidade da
grande mídia brasileira no geral definha a cada a dia, a da Veja já passou
dessa fase: esvaiu-se completamente faz tempo - a não ser para o público
ultrarreacionário que cevou ao longo dos últimos anos, logicamente.
Como não fazem mais
jornalismo faz tempo, os veículos conservadores de mídia sobrevivem de sua parceria
com o sistema de justiça, mais especificamente dos vazamentos da Lava Jato.
O último vazamento da
Lava Jato para a Veja revelou que a delação de Marcelo Odebrecht incluirá o
repasse de R$ 10 milhões em dinheiro vivo ao PMDB, a pedido de Temer. A Justiça
Eleitoral exigia que os recursos doados legalmente pelas empresas fossem
depositados na conta do partido e, segundo o vazamento, o dinheiro vivo
repassado ao PMDB foi contabilizado no caixa paralelo da Odebrecht.
Trata-se de mais uma
delação arrancada após meses de verdadeira tortura prisional, o que é
lamentável mesmo que atinja o governo golpista. Não é algo a se comemorar.
O vazamento prejudicial a
Temer aparentemente serve a dois propósitos.
O primeiro é o já
clássico método da Lava Jato: de vez em quando vazar algum trecho de delação
contra um tucano ou peemedebista para dar credibilidade à operação e disfarçar
o seu viés político.
Como bem analisou o
Miguel aqui, esse objetivo fica explícito porque não acontece nada com
os integrantes dos partidos golpistas citados. Não há condução coercitiva
de Aécio Neves ou prisão de tesoureiro do PMDB, apesar das muitas e graves
acusações de delatores.
A operação Lava Jato
atua em parceria com a mídia oligopolizada. Esta faz um julgamento prévio dos
acusados no seu tribunal paralelo, manipulando a opinião pública para garantir
legitimidade à operação e assim minar os questionamentos aos abusos autoritários
dos procuradores do MPF e de Sérgio Moro.
Como a mídia tem lado, o
processo fica totalmente desequilibrado. Enquanto delações contra petistas
ganham manchetes e forte repercussão, as que envolvem os aliados são citadas
sem destaque e logo enterradas.
Serra chegou a ganhar
capa da Folha neste fim de semana por causa do vazamento de outro trecho da
delação de Marcelo Odebrecht segundo o qual o garoto da Chevron teria recebido
R$ 23 milhões da construtora via caixa dois, mas o assunto provavelmente morrerá
e não acontecerá nada com o ministro golpista.
O outro propósito do
vazamento contra o presidente usurpador é o de manter o governo acuado.
Às castas judiciais
interessa um governo fraco para que este não se atreva a tentar diminuir o
poder dos procuradores.
"Se
tentarem 'estancar a sangria' da Lava Jato ou diminuir o poder do
Ministério Público haverá retaliação" é o recado.
A ameaça ao governo
interino também tem a ver com a economia.
A
mídia quer ver o seu projeto neoliberal para o país implementado a
qualquer custo.
Como os políticos
dependem de apoio popular e parlamentar para se manter no poder, o corte
radical de gastos e direitos exigido pelos patrocinadores do golpe
não parece ser uma ideia das mais interessantes para Temer, ao menos não
na profundidade desejada por aqueles.
O aumento do gasto
público com a concessão de reajustes a algumas categorias e com a liberação
de verbas a parlamentares para pagar a conta do impeachment já não
vinha agradando aos artífices do golpe.
Após Rodrigo Maia
levantar a hipótese de Temer concorrer à reeleição em 2018, então, a mídia
entrou em polvorosa.
Merval Pereira, o porta
voz número um dos Marinho, criticou o "populismo barato"
e escreveu que Temer só provará ser um estadista se adotar medidas
impopulares, as mesmas prometidas por Aécio ao empresariado em 2014.
Nota da coluna Painel da
Folha de hoje afirma que as concessões de Temer na área fiscal põem em risco a
lua de mel entre o mercado e o governo interino:
Pé atrás Em
lua de mel com o governo interino, a elite do mercado financeiro começa a se
preocupar com a gestão Temer. Os sucessivos aumentos de gastos para contemplar
o funcionalismo somados à ambição do Congresso em usar projetos prioritários
para ampliar despesas — como as flexibilizações no texto da renegociação das
dívidas — têm gerado desconfiança. O temor é que o Planalto, ao se despedir da
interinidade, sinta-se forte o suficiente para relaxar nos seus compromissos
fiscais.
Um governo fraco
interessa, portanto, tanto à mídia golpista, por motivos econômicos, quanto aos
meganhas da Lava Jato, por motivos de disputa de poder. Um presidente sem
legitimidade, apoio popular e pretensões eleitorais é o ideal. Rodrigo Maia
saiu do script ao ventilar a candidatura de Temer e a resposta não tardou.
Mídia, procuradores,
delatores e governo têm interesses diferentes no jogo das delações da Lava
Jato.
Mas todos
esses interesses estão relacionados ao jogo político. A justiça é
só um detalhe solenemente ignorado.