Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

29 de dez. de 2016

Luar


sAbEr o QUe Eu Ia TeR.
SaBeR, sAbEr, SaBeR o QuE eU ainda NãO tInHa.
NãO, nÃo E nÃo.
SaBeR o QuE eU iA sEr. NãO, nÃo.
SaBeR sÓ sE eU eRa FiLhO dA lUa.
Só O qUe  Eu QuErIa.

28 de dez. de 2016

Cássio acredita que Temer não conclui mandato e defende Cármen Lúcia para presidente


O senador Cássio Cunha Lima (PSDB) declarou nesta quarta-feira (21) que acredita que o presidente Michel Temer (PMDB) não conseguirá concluir o mandato, que vai até 1º de janeiro de 2019. O tucano, que faz parte da base de sustentação do governo Temer, lembrou que sempre defendeu a realização de novas eleições.
“Ele [Michel Temer] vai enfrentar dificuldades [de concluir o mandato]. Eu acho que é importante registrar que eu sempre fui adepto da tese de novas eleições. Eu sempre achei que a nova eleição seria o melhor remédio para distender o país e encontrar legitimidade no que diz respeito à composição de um novo governo”, disse.

 Desde o início do mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o senador paraibano levanta a bandeira que a chapa dela com Temer estaria sujeita à cassação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por suposto abuso de poder político e econômico. Ele lamentou que o TSE ainda não tenha julgado a ação, que tem o PSDB como autor.

“Para que houvesse novas eleições, teria sido necessário que o TSE julgasse as ações que lá tramitam. Infelizmente o TSE não concluiu o julgamento a tempo, o impeachment andou mais rápido e havia também razões objetivas para realização do impeachment, uma vez que presidente Dilma (Rousseff) inegavelmente cometeu os crimes que lhe eram imputados. E veio o impeachmet com o afastamento da presidente da República. Uma nova eleição seria a melhor saída, não tenho a menor dúvida”, declarou.

 Caso Temer deixe o cargo em 2017 ou 2018, deverá ser realização, segundo a Constituição, eleição indireta no Congresso Nacional para a escolha de seu substituto. Cássio ainda defendeu que a realização de eleições diretas.







O senador também surpreendeu ao apontar o nome da presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, como melhor nome para presidir o país.
 
 

26 de dez. de 2016


MEDO É PURA HISTORIA


Lenio Streck:
 
“Bem, parece que, em tempos de “guerra contra a corrupção”,
a noção constitucional do papel do MP tem perdido cada vez mais seu significado.
Procuradores e promotores justiceiros querem combater a corrupção corrompendo a Constituição”:
 

Boaventura

"a luta democrática será considerada uma luta revolucionária;
a luta por Direitos será considerada uma luta subversiva".

25 de dez. de 2016

Robertinho De Recife - Monsters Of Metal


Um fabuloso ninho de víboras

 |Hélio Bernardo Lopes|
As recentes eleições norte-americanas para o Presidente da República, para lá de conduzirem à inesperada vitória de Donald Trump, tiveram o benefício de mostrar o fabuloso ninho de víboras em que se constitui a vida política norte-americana. Uma realidade que, com cambiantes, foi sempre assim e desde há muitíssimo.
 
 Objetivamente, a dita democracia norte-americana quase nada tem de democrática, nem mesmo de Estado de Direito. Basta olhar o modo como Barack Obama, usando os meios do Estado, passeou pelos Estados Unidos a apoiar Hillary Clinton. Ou o deitar mão da recontagem de votos em certos Estados, acabando a mesma por confirmar a vitória de Trump, ou mesmo aumentar os seus votos aí. Ou a utilização da CIA para tentar condicionar o grau de liberdade política de Donald Trump no futuro, inventando a fabulosa mentira dos hackers ao serviço de Vladimir Putin. De facto, os Estados Unidos nada têm de Estado de Direito Democrático, sendo, muito acima de tudo, uma plutocracia.
 
 Tal como há dias referiu John Bolton, a suposta intervenção da Rússia no sistema eleitoral americano, através de ataques de hackers, pode ter sido uma provocação dos próprios serviços de inteligência dos EUA. Esta, em boa verdade, nem a mim mesmo ocorreu, usando aqui certa piada em tempos contada no Instituto Superior Técnico sobre o ilustre Professor António da Silveira.
 
 Este ninho de víboras que é a vida política norte-americana permite que as nossas televisões diariamente nos surjam com o choradinho de Aleppo, ao mesmo tempo que nada dizem sobre os bombardeamentos da Arábia Saudita no Iémen, com centenas de mortos e milhares de feridos. Até Paulo Dentinho, na tarde do juramento de António Guterres na ONU, se referiu ao facto de apenas se falar da Síria e de Aleppo, mas nada se dizer do que depois Guterres viria a referir: hoje, não há paz no mundo.
 
 A tudo isto, soma-se agora o treino que a Alemanha vai passar a dar a oficiais sauditas. Diz-se que a cinco ou seis por ano. Nem entre nós se refere que o regresso dos terroristas do Estado Islâmico a Palmira teve o apoio dos Estados Unidos em termos de fornecer o posicionamento das tropas sírias naquele momento. E não deixa de ser verdadeiramente espetacular que, há breves momentos, na mesa em que escrevo este texto, uma amiga e um amigo, com posições políticas de Direita, tenham dado gargalhadas com os documentários que vão sendo passados – e montados pelo Ocidente – ao redor de crianças queixosas e espevitadas, ou de supostos aflitos de Aleppo!! É um tema em que se impõe um mínimo de tato, porque todos sabem que nas guerras existem e atuam serviços de propaganda. É uma prática que revela um grande amadorismo e que explica a razão dos resultados eleitorais mais recentes em todo o mundo. Todos de há muito perceberam a mentira posta em andamento.
 
 Um dado é certo: o que se vem passando nos Estados Unidos desde a vitória de Donald Trump, de pareceria com a política belicista de Barack Obama – também já foi a de Hillary – mostra bem o fabuloso ninho de víboras que é a vida política dos Estados Unidos. Aliás, a própria sociedade norte-americana, por via da sua formação histórica, foi sempre uma sociedade violenta, onde a regra do salva-te como puderes comandou toda a vida do país.

Emerson, Lake & Palmer - Pictures at an Exhibition (Full) Live 1970 - Remastered


Yes - The Lost Broadcasts ~ Remastered ✔ -

King Crimson - Starless


Yes - Acoustic e +


Adriana Calcanhotto - Traduzir-Se ( De Ferreira Gular) Musica Fagner


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
 
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
 
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
 
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
 
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
 
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
 
Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?


O sensacionista - Fernando Pessoa


Neste crepúsculo das disciplinas, em que as crenças morrem e os cultos se cobrem de pó, as nossas sensações são a única realidade que nos resta. O único escrúpulo que preocupe, a única ciência que satisfaça são os da sensação.


Um decorativismo interior acentua-se-me como o modo superior e esclarecido de dar um destino à nossa vida. Pudesse a minha vida ser vivida em panos de arras do espírito e eu não teria abismos que lamentar.


Pertenço a uma geração — ou antes a uma parte de geração — que perdeu todo o respeito pelo passado e toda a crença ou esperança no futuro. Vivemos por isso do presente com a gana e a fome de quem não tem outra casa. E, como é nas nossas sensações, e sobretudo nos nossos sonhos, sensações inúteis apenas, que encontramos um presente, que não lembra nem o passado nem o futuro, sorrimos à nossa vida interior e desinteressamo-nos com uma sonolência altiva da realidade quantitativa das coisas.


Não somos talvez muito diferentes daqueles que, pela vida, só pensam em divertir-se. Mas o sol da nossa preocupação egoísta está no ocaso, e é em cores de crepúsculo e contradição que o nosso hedonismo se arrefecei.
 

Convalescemos. Em geral somos criaturas que não aprendemos nenhuma arte ou ofício, nem sequer o de gozar a vida. Estranhos a convívios demorados, aborrecemo-nos em geral dos maiores amigos, depois de estarmos com eles meia hora; só ansiamos por os ver quando pensamos em vê-los, e as melhores horas em que os acompanhamos são aquelas em que apenas sonhamos que estamos com eles. Não sei se isto indica pouca amizade. Porventura não indica. O que é certo é que as coisas que mais amamos, ou julgamos amar, só têm o seu pleno valor real quando simplesmente sonhadas.


Não gostamos de espetáculos. Desprezamos atores e dançarmos. Todo o espetáculo é a imitação degradada do que havia apenas de sonhar-se.


Indiferentes — não de origem, mas por uma educação dos sentimentos que várias experiências dolorosas em geral nos obrigam a fazer — à opinião dos outros, sempre corteses para com eles, e gostando deles mesmo, através de uma indiferença interessada, porque toda a gente é interessante e convertível em sonho, em outras pessoas, passamos sem habilidade para amar, antecansam-nos aquelas palavras que seria preciso dizer para se tornar amado. De resto, qual de nós quer ser amado? O “on le fatigait en l’aimant” de René não é o nosso rótulo justo. A própria ideia de sermos amados nos fatiga, nos fatiga até ao alarme.



A minha vida é uma febre perpétua, uma sede sempre renovada. A vida real apoquenta-me como um dia de calor. Há uma certa baixeza no modo como apoquenta.
 
O Livro do Desassossego -  Fernando pessoa. - Ateus.net
 
 

16/17


RECEITA DE ANO NOVO


 
Para você ganhar belíssimo Ano Novo

 cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,

 Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido

 (mal vivido talvez ou sem sentido)

 para você ganhar um ano

 não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

 mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;

 novo

 até no coração das coisas menos percebidas

 (a começar pelo seu interior)

 novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,

 mas com ele se come, se passeia,

 se ama, se compreende, se trabalha,

 você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

 não precisa expedir nem receber mensagens

 (planta recebe mensagens?

 passa telegramas?)

 

 Não precisa

 fazer lista de boas intenções

 para arquivá-las na gaveta.

 Não precisa chorar arrependido

 pelas besteiras consumadas

 nem parvamente acreditar

 que por decreto de esperança

 a partir de janeiro as coisas mudem

 e seja tudo claridade, recompensa,

 justiça entre os homens e as nações,

 liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

 direitos respeitados, começando

 pelo direito augusto de viver.

 

 Para ganhar um Ano Novo

 que mereça este nome,

 você, meu caro, tem de merecê-lo,

 tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,

 mas tente, experimente, consciente.

 É dentro de você que o Ano Novo

 cochila e espera desde sempre.



Carlos Drummond de Andrade , "Receita de Ano Novo". Editora Record. 2008.