Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

25 de out. de 2018

Somos Índios... (Catia Cernov)



Parte I - 

O Colonialismo



Somos índios...
Vivemos tranquilos em nossas cabanas.
Não mexemos com os outros...
E nem importunamos a vida de ninguém.

Estamos limpando a caça do dia...
Muito contentes com nosso deus Tupã!
Felizes com o jantar saboroso que sairá nessa noite...
E, principalmente, porque hoje haverá casamento!

Mas eis que apareceram uns caras pálidas filhos da mãe...
E estragam a nossa festa!
Surgiram numas canoas esquisitas e muito grandes...
Nos embrenhamos no mato e ficamos espionando aquilo!

Somos índios... e vimos as Caravelas de Cabral
Não temos idéia do que significa aquilo!
Ao mesmo tempo que sentimos medo...
Também achamos que pode ser coisa do Velho Tupã!

Mas eu logo vi... Encrenca!
Justo no dia do meu casamento?
Estava doido por mulher...
E me aparecem esses empatas!

Corremos para nossa Base Verde
Decidimos que vamos atacar com algumas caras feias 
Fomos até a praia e encaramos o provável invasor
Mas vimos, logo de cara, que eram bem maiores.

Não deu certo...
Os inimigos não tinham cara feia
Mas tinham uns equipamentos esquisitos nas mãos
Que soltava fogo e nos deixou apavorados.
Recuamos!

Somos índios... e ouvimos os tiros.
Não temos a mínima idéia do que significa aquilo!
Não compreendemos o sentido da fúria.
Se é sinal de guerra ou enviados pelos deuses
De repente eles queriam apenas oferendas!

Mas eu logo pensei... Domínio!
Por que sempre tem que existir uns caras
Que se acham melhores e querem nos dominar?
Que direito têm eles de invadir nosso território?

Sentei próximo a fogueira e encarei o chegado do Homem:
Por que, Pajé? Por que é assim?!
Mas ele não sabia me responder
E o jeito foi dormir sem saber.

Mas somos os índios da Base Verde ...bravos guerreiros!
E não vamos nos entregar tão fácil assim.
Decidimos que vamos lutar, até a morte se for preciso!
Então armamos nossas flechas.

Também não deu certo...
Os caras resolveram não lutar. Pelo contrário! 
Nos trouxeram presentes...dá pra acreditar?
Talvez os deuses queriam apenas oferendas.

E como somos índios...
Não temos idéia do que aquilo representa. Acreditamos!
Eram coisas ridículas e inúteis
E nós, bestas, aceitamos!

Mas desconfiamos... Barganha!
Aposto como eles também vão querer presentes!
E como não tínhamos nada de tão engraçado como aqueles espelhos...
Nós oferecemos um banquete de peixe, mandioca e farinha. 
Fazer o quê?

E, de fato, eles não gostaram.
Elogiaram mas, logo de manhã, saíram vasculhando a área
A procura de algo bem mais interessante que a farinha.
Desenharam mapas e marcaram os lugares como se fossem seus!
Será que os deuses ainda estavam com fome?

Ficamos indignados... Invasor!
Estão estudando o nosso território, bem debaixo de nossos narizes.
Então deu pra perceber que eles queriam 
Bem mais do que jantares exóticos!

Nós índios... voltamos a Base Verde
Achamos que eles olham muito esquisito para nossas índias.
Que eles acham nosso jeito de viver ridículo.
E querem que sejamos iguais a eles.

Ah! Mas isso não vai ficar assim!
Decidimos questionar as intenções dos inimigos
Para depois negociar com eles.
Mas eles não responderam e nos ameaçaram com seus paus de fogo!

E o jeito foi nós calarmos a boca!
Mas não desistimos...
Resolvemos sabotar o Camões deles.
Fomos lá e escondemos as embarcações menores, que levavam a Canoa-Mãe.

Impedidos de carregarem nossas coisas para sua Base Flutuante
Eles ficaram furiosos e nos perseguiram.
Sabiam que não podiam nos pegar na mata, então atiraram fogo.
Massacraram nosso povo...

Por causa daquilo meu casamento foi, de novo, adiado ...
E a índia é tão gostosa que eu não consigo pensar em outra coisa!
Ela é de uma aldeia vizinha, e conforme a cultura de meus ancestrais
Eu não deveria vê-la antes do casório...
Mas é claro que fui até lá espioná-la, antes de aceitar a proposta!

Mas como somos índios...
Não percebemos que, devagar, ele foram depredando nossas terras.
Não entendemos porque ficaram tão radiantes
Diante daquelas pedras inúteis e tão brilhantes.

Aí observamos... Que História mal escrita!
Os panacas inventam umas embarcações jóias 
Sofrem as tormentas do mar para chegarem ao paraíso
E ficam deslumbrados com pedras bestas? Quem entende?

De volta a Base Verde...
Nós índios notamos que ele estão levando nossos tesouros
Não só as pedras bestas... mas nossa união e respeito.
E, junto, estão carregando nossas índias.
Que aproveitadores!

Então decidimos que não vamos nos entregar
E resolvemos estudar o território do inimigo!
Remamos até a Base Flutuante
Mas demos de cara com equipamentos maiores
Que soltaram fogo, ainda mais poderosos, de suas bocas de ferro.

Nos ferramos...
Remamos rápidos de volta e revemos nossas estratégias!
Mas não é que eles nos fecharam o cerco?
Conquistaram toda a atenção da Aldeia e se impuseram como deuses?!

Mas como índios... tínhamos a ingenuidade.
Não enxergamos que aqueles deuses queriam nos comprar!
E cedemos as nossas pedras e as nossas origens
E, logrados em nossa fé, entregamos nosso destino!

Aí os caras entraram numa que deveríamos rezar igual a eles
E nos apresentaram um Deus, que também tinha o nome com quatro letras!
Não parecia fazer muita diferença... (Deus, Buda, Tupã, Alah)
Mas eles cismaram que o deles era melhor!
Que crise!

E lá vai nós aprendermos a língua deles,
Seguirmos os costumes deles.
Pensarmos como eles,
Pecarmos como eles...
E matarmos como eles.

Nunca antes conhecemos a cobiça e a vaidade
Nem sabíamos o que era ambição e luxúria.
Mas como eles disseram que o mundo funcionava assim
Nós, índios... Acreditamos e aceitamos!

Impuseram mais que sua língua e sua miscigenação!
Levaram minha índia bonita e gostosa...
E eu fiquei na mão...
Suspirando de desejos e paixão!

Louco de saudades de uma cabana solitária
Só eu e ela, deitados numa rede...
Um riacho para tomarmos banho sob a luz do luar...
Depois do amor e da almejada concepção!

Eu só queria um filho para ensinar a caçar e pescar...
Fazer a previsão do tempo sem máquinas complicadas!
Mas eles vieram...
E carregaram, também, nossos sonhos!

E, não satisfeitos, os caras ainda acharam que deveríamos produzir...
Até aí tudo bem!
Mas não explicaram que deveríamos trabalhar para produzir...
Os frutos que ficariam nas mãos deles!
E que pagaríamos impostos pela nossa miséria.

E nós, índios, que sequer temos noção de demanda, concordamos.
Aprendemos, a força, a plantar e a colher em maior escala
Matar e demarcar terras, fazer mais inimigos
E rezar para um deus que não compreendíamos...

Todos eles eram muito estranhos...
Eles devastaram a floresta, cheia de frutos...
E tudo isso para semear mais alimentos! 
Quem consegue entender uma coisa dessas?!

Mas nós, índios, obedecemos...
Porque eles disseram que são melhores e os sabe-tudos!
E como não entendemos nada de mercantilismo ou balança comercial
Nos designamos sem compreender!

Mas a Base Verde nos espera...
E conseguimos captar que eles já nos dominaram
Mas mesmo assim, resolvemos lutar sem tréguas
E não entregar a nossa Aldeia.

Então nos escravizaram...
Nos acorrentaram e nos levaram.
Nos castigaram...
Pelo simples motivo de querermos só levar nossas vidas.

Aí eu pensei ... Exploração!
Por que sempre tem que existir um mais forte
Para dominar o mais fraco que mal sabe o que está acontecendo?
Procurei o Pajé, mas ele se escondeu... 
Desconhecia tais respostas!

Nos cegaram, convencendo que sua civilização era superior
E que não temos direitos porque somos pagões.
Que os interesses da Metrópole estavam acima de Tupã
E os deuses-reis precisavam de nossa força-trabalho

Mas na Base Verde pensamos ao contrário...
Que aquilo tudo era uma grande besteira!
Somos felizes... como índios! E daí?!
Que importa essa coisa de produzir, não destruímos!

Fomos a luta...
Protestamos contra a perda da dignidade humana.
Rogamos por nossas terras de volta
Levantamos nosso direito a vida e a comida!

Mas eles não estavam nem aí...
Nos prometem um espaço em sua sociedade
Nos incluíram em suas leis absurdas e esquisitas e... o que fizeram?
Nos denominaram silvícolas num tal Código Civil!

Logo hoje! Que avistei uma linda índia indo buscar água no riacho!
Com seu pote de barro, ela debruçou-se sobre o espelho d'água...
Seu colar de sementes se soltou e foi levado pela correnteza...
E a ondulação da água me fez delirar!

Espero que ela aceite e atenda os meus anseios...
Porque já estou começando a achar...
A sexagenária esposa do Pajé até bonitinha!
Péssimo sinal! Meu Deus-Tupã! Preciso de uma mulher!

O final desta história é que ... insistimos na nossa luta!
E eu fiquei sem mulher...

Mas, para calar as nossas bocas, os índios da Base Verde
Fomos escolhidos para conhecer os outros mundos.
Seguimos na Base Flutuante até terras desconhecidas ...

E eu achava que iria encontrar uma civilização superior...
Lá seus deuses falavam da multiplicação do pão;
Mas suas leis multiplicavam os famintos.


Ainda Somos Índios...


Parte II - 

Neo- Colonialismo


Ainda somos índios...
Vivemos tranquilos em nossos barracos
Não mexemos com os outros
E nem importunamos a vida de ninguém.

Estamos catando os restos da feira do dia..
Felizes com a lata que ferve macarrão e batata nessa noite!
Muito contentes porque nem sempre temos esse privilégio...
E, principalmente, porque hoje não teve tiroteio no morro!

Mas eis que apareceram uns caras fardados filhas da mãe...
E estragam a nossa festa!
Surgiram numas patrulhas esquisitas e cheias de luzes piscantes...
Nos embrenhamos no Gueto e ficamos espionando aquilo.

Ainda somos índios... e vimos as Caravelas da Globalização
Mas já sabemos o que significa aquilo!
Ao mesmo tempo que sentimos medo
Também achamos que eles não vão nos prender!

Mas eu logo vi... Encrenca!
Logo no dia em que a Teresa topou tomar uma cerveja comigo?
Estava doido por mulher...
E me aparecem essas autoridades!

Corremos para nossa Base Suburbana
Decidimos que vamos atacar com algumas caras feias 
Fomos até a Candelária e encaramos o território hostil 
Mas vimos, logo de cara, que eram bem maiores.

Não deu certo...
Embora os inimigos tivessem cara feia
Também tinham uns equipamentos melhores que o nosso
Que soltava fogo e nos deixou encurralados. 
Ah! Mas um dos nossos conseguiu escapar!

Somos ainda índios... e ouvimos os tiros.
Temos ideia do que significa aquilo!
Que é fogo dos homens dominadores
Que é sinal de guerra.
Compreendemos e fomos a luta

Mas eu logo pensei... Exterminadores!
Por que sempre tem que existir uns caras
Que se acham melhores e querem nos molestar?
Que direito têm eles de invadir nosso Quilombo?

Sentei no meu Opala e encarei o chegado do homem:
Por que, Henry Ford? Por que é assim?!
Mas o motor não sabia me responder
E o jeito foi fugir sem saber.

Mas somos os índios da Base Suburbana ... bravos guerreiros!
E não vamos nos entregar tão fácil assim.
Decidimos que vamos lutar, até a morte se for preciso!
Então armamos nossos 38.

Também não deu certo...
Os caras resolveram não lutar.Pelo contrário!
Nos trouxeram promessas.Dá pra acreditar?
Novos deuses vinham nos salvar da miséria.

E como continuamos a ser índios...
Ainda não temos tanta ideia do que aquilo representa. Acreditamos!
Eram santinhos e camisetas de clube de futebol...
E nós, bestas, aceitamos!

Mas eu desconfiei... Barganha!
Aposto como eles também vão querer algo em troca!
E como não tínhamos nada de melhor como aquelas cestas básicas
Nós oferecemos o voto em troca do benefício. 
Fazer o quê?

E, de fato, eles não gostaram.
Não ganharam as eleições e, logo de manhã saíram vasculhando a área
A procura de algo bem mais interessante que urnas eletrônicas
Desenharam estatísticas e pesquisas nuns gráficos engraçados!
Será que os deuses tinham fome de números?

Nós já ficamos indignados... Corruptor!
Estão estudando o nosso território, bem debaixo de nossos narizes.
Então deu pra perceber que eles queriam 
Bem mais do que lobbys e "Capitalismo de Compadres"!

Voltamos a Base Suburbana!
Achamos que eles olham muito esquisito para nossas minas...
Que eles acham que elas valem uma boa grana...
E lhes darão lucros no tráfego internacional da prostituição infantil!

Ah! Mas isso não vai ficar assim!
Decidimos questionar as intenções dos inimigos
Para depois negociar com eles.
Mas eles não nos responderam nos ameaçaram com os porões das delegacias.

E o jeito foi nós calarmos a boca!
Mas não desistimos...
Resolvemos sabotar os camburões deles.
Fomos lá e furamos os pneus das patrulhas.

Impedidos de carregarem nossos manos para sua Base Bangu II
Eles ficaram furiosos e nos perseguiram.
Sabiam que não podiam nos pegar nas quebradas e atiraram 
E o massacre foi Vigário Geral...

Por causa daquilo a gostosa da Teresa não me esperou
E o baile funk prosseguiu com ela e sem mim!
Ela é da favela vizinha, seu irmão é olheiro da boca do Curió
E, conforme as leis do morro, eu não deveria me meter com ela
Mas, é claro, que os boqueiros de cá foram juntos para me dar cobertura!

Mas como continuamos a ser índios...
Não percebemos que, devagar, eles foram monopolizando nossas mentes.
Não entendemos porque ficaram tão radiantes
Diante da imposição de seu idioma e sua cultura fast-food

Aí observamos... Que História mal escrita!
Os panacas inventam umas propagandas jóias 
Sofreram as tormentas do mercado de risco para chegarem aqui
E ficam deslumbrados com gráficos de vendas de refrigerantes? Quem entende?

De volta a Base Suburbana
Nós índios notamos que eles estão levando nossos tesouros
Não só os manufaturados sem as etiquetas... mas nossa língua e união.
E, junto, estão carregando nossas meninas de tranças.
Que aproveitadores!

Então decidimos que não vamos nos entregar
E resolvemos estudar o território do inimigo!
Descemos para o asfalto, rumo a Base Ianque
Mas demos de cara com câmeras maiores
Tocavam um Rap ainda mais poderoso, de suas letras Hollywood.

Nos ferramos...
Voltamos rápidos de volta e revemos nossas estratégias!
Mas não é que eles nos fecharam o cerco?
Conquistaram toda a atenção do mundo e se impuseram como deuses?!

Mas como índios... ainda temos a ingenuidade!
Não enxergamos que aqueles deuses queriam nos comprar!
E cedemos as nossas virtudes e nossos sentidos
E, na cegueira urbana, entregamos nosso quintal!

Aí os caras entraram numa que deveríamos agir igual a eles...
E nos apresentaram um deus, que tinha o nome com cinco letras!
E não com quatro como pensávamos antes...
Dólar!
Que crise!

E lá vai nós, tudo de novo, aprendermos a língua deles,
Seguirmos os costumes deles.
Pensarmos como eles,
Pecarmos como eles...
Matarmos como eles.

Nunca antes conhecemos que a Barbie era melhor de todas.
Nem sabíamos que comer hambúrguer nos fariam mais espertos
Mas como eles disseram que o mundo era Mac/feliz assim...
Nós, índios... Acreditamos e aceitamos!

Impuseram mais que sua língua, mas sua superioridade falsa.
Levaram minha Teresa para desfilar como objeto de desejo
Eu fiquei na mão... 
Suspirando de desejos e paixão!

Louco de saudades de um puxadinho no barraco da Rocinha.
Só eu e ela, deitados no colchão de molas velho
O Teitê para tomarmos banho sob a luz poluída do luar...
Depois do amor, a esperança que a camisinha não tenha furado!

Eu só queria um telhado de zinco para morar. Feijão, farinha...
Amar a Teresa, fazer-lhe um filho, um trampo bom...
Mas eles vieram...
E carregaram, também, nossos sonhos!

E, não satisfeitos, os caras ainda acharam que deveríamos assinar um ALCordo
Até aí tudo bem!
Mas não explicaram que deveríamos trabalhar para produzir
Os lucros e dividendos que ficariam nas mãos deles!
E pagaríamos royalties pela nossa miséria.

E nós, índios, que sequer temos noção de Mercado Livre, concordamos.
Aprendemos, a força, a se virar vendendo chicletes no sinal vermelho...
Parangas nas bocas e laranjas descascadas nas rodoviárias...
Mas não deu, e os zome do estrangeiro combateram o Mercado Informal.

Mas havia algo de estranho naquilo...
Eles devastaram uma floresta cheia de recursos...
E tudo para nos cobrar, mais tarde, que não cuidamos de nossa biodiversidade!
Quem consegue entender uma coisa dessas?!

Mas nós, ainda índios, obedecemos...
Porque eles disseram que são melhores e os sabe-tudos!
E como não entendemos nada de Globalização e Neoliberalismo
Nos designamos sem compreender!

Mas a Base Suburbana nos espera...
E conseguimos captar que eles já nos subjulgaram
Mas mesmo assim, resolvemos lutar sem tréguas
E não entregar a nossa Comunidade.

Então nos escravizaram...
Meus amigos se tornaram traficantes.
Outros, assaltantes ...
E, o último, sob liberdade condicional, não pode mais lutar.

Aí eu pensei ... Exploração!
Como podem fazer de minha cultura um Capital,
Para comprar o mais fraco que nem sabe o porquê?
Procurei meu Opalão, mas o encontrei no cemitério de automóveis
Foi leiloado como comportamento ultrapassado!

Nos cegaram, convencendo que sua civilização era superior...
E que não temos direitos porque somos atrasados!
Mas não fomos nós que furamos a camada de ozônio...
E nem derretemos os pólos, onde agora as focas agonizam!

Mas na Base Suburbana pensamos ao contrário...
Que tudo isso é uma ALCA, uma grande mentira!
Somos felizes... como índios! E daí?!
Não queremos mais produzir para os outros... Não destruímos!

Fomos a luta...
Protestamos contra a perda do trabalho.
Rogamos por nossas terras de volta...
Levantamos nosso direito a vida e a comida!

Mas eles não estão nem aí...
Nos prometem um espaço em sua sociedade.
Nos incluíram em suas leis absurdas e esquisitas e... o que fizeram?
Nos denominaram Terceiro Mundo na geopolítica internacional!

Logo hoje! Que avistei uma reunião de cúpula do G-8!
Com seus portes de ferro, pensam que são mais fortes...
Mas seus colares de medalhas foram levados pela correnteza...
E a turbulência da água me fez rir!

Espero que eles aceitem que também são homens, imagens e semelhanças...
Porque já estou começando a achar...
Que o circo de papel vai ser molhado pela tempestade!
Péssimo sinal! Meu deu$/Trade...! Preciso de uma consciência!

O fim dessa história é que... insistimos na nossa luta!
E eu fiquei sem mulher...

Mas, para calar as nossas bocas, os índios da Base Suburbana...
Fomos convidados a participar de um reality-show!
Ao vivo e em cadeia nacional ...

E eu achava que iria encontrar uma civilização superior...
Lá seus monumentos celebravam a liberdade;
Mas sua ciência gerava mais escravidão.

(Floresta Amazônica, 22 de novembro 2005)



24 de out. de 2018

Cinco lados de uma só lebre



Assim é linda 


Assim é cientifico


Assim é politicamente incorreto


Assim é politicamente incorreto.


Assim é uma delicia.


O ANÃO GIGANTE - Virtudes e pecados, dor e prazer, temas banais. O seu e o seu contrário. Depois veremos melhor.


Projecto Díptico Vertical #269


Le Sommeil, Gustave Courbet, c.1866

















Nude, #5, Eleanor Dubinsky e Melanie Maar por Mary Ellen Strom, 2005

Tenho vontade de sair caminhar... Muito tempo imaginando... Você consegue sentir o mesmo?...


SOKO :: First Love Never Die



brincadeirinha



Marcos Monteiro (diário)


Sempre tentando encontrar os caminhos para tantas coisas. 
teófilóprofepenescrit



DIÁRIO DE UMA ELEIÇÃO ESTRANHA

1

ENTRE O BEIJO E A BALA

Essa é a mais estranha das eleições de que participei. Um candidato libera o beijo, o outro promete bala, e eu descubro estarrecido que muitos seres humanos são contra o beijo e a favor da bala. Especialmente os evangélicos. Muito estranho esse evangelho.

Mas tentam me explicar que são contra somente o beijo da estranha Raça de Humanos Exóticos e que
crks
os evangélicos amam os humanos exóticos. E acho estranho esse modo de amar, em vez de beijo, bala. Os humanos exóticos que conheço têm pai, mãe, amigos, amigas e medo, muito medo.

Tenho muitas amigas e amigos exóticos. Todas estão com medo, muito medo e sou solidário. Por causa disso quero eleger o beijo, nunca a bala. Sem ódio e sem medo, voto Haddad. Voto 13.

Recife, 15 de outubro de 2018



 2

CONTRA A CAÇA DE HUMANOS

Quando Antônio acordou no hospital, estava com a cabeça lascada. Ele é pai de família, alto, mas é negro e dorme na rua, portanto faz parte dessa Raça de Humanos Exóticos. Um caçador aproveitou de seu sono e lançou um paralelepípedo sobre sua cabeça.

Essa eleição é muito estranha. Há um candidato prometendo mais armas e os Caçadores de Humanos
pragmatismopolítico
Exóticos estão exultantes e prometendo caçar como nunca. Se o caçador de Antônio tivesse esperado teria conseguido talvez caçar com mais objetividade.

Conheço Antônio e a sua monstruosa capacidade de trabalho. Ele é coletor de lixo, mas não tem casa, portanto é vulnerável. Não é do tipo de ter medo, mesmo depois do episódio, mas sabe que não pode dormir, porque os caçadores podem chegar a qualquer momento. Portanto, contra a abertura da temporada de caça aos humanos, sem ódio e sem medo, voto Haddad , voto 13.

Recife, 16 de outubro de 2018



3

QUERO MORRER DE AMOR

A conversa surgiu com o passageiro ao lado, do ônibus urbano quase vazio, ele estava triste. A filha havia morrido de depressão há dois meses, mas era história estranha de amor. Morreu porque o marido morreu de câncer e ela não conseguia dormir nem comer e repetia que queria ir se encontrar com ele, e foi.

História de negros e negras, cor da Raça de Humanos Exóticos, a qual enfrenta a violência do
ospontosdevista

racismo, disfarçado ou explícito, mas estranha história de amor à vida e amor ao amor. Pretas e pretos sofrem preconceito, humilhação e violência, simbólica ou explícita, mas amam.


Nessa estranha eleição, em que um candidato faz discursos preconceituosos e faz apologia da tortura e da violência, quero defender somente a tortura da saudade e a violência do amor. Se tenho de morrer um dia, quero morrer amando, quero morrer de amor. Sem ódio e sem medo voto Haddad, voto 13.

Recife, 17 de outubro de 2018



4

PELA ESPIRAL DO AMOR

Encontrei Dom Helder na camisa de Fernando, no supermercado, com a seguinte frase: “Carregar pessoas nos braços não quero, são pesadas, prefiro carregá-las no coração”.

Fernando é um espírita que ama Dom Helder que era católico, bispo chamado de subversivo, porque
javiersánchez
amava 
os pobres e os assim chamados bandidos. Todos dois também fazem parte da Raça de Humanos Exóticos, que não merecem viver, e um dia um matador foi contratado para destruir Dom Helder, mas mudou de ideia, história bonita que muita gente conhece.

Dom Helder gostava de falar contra a espiral de violência e eu carrego Dom Helder no coração, contra essa espiral de ódio dessa estranha eleição, e penso na necessidade de uma nova, a espiral do amor. Então, sem ódio e sem medo voto Haddad. Voto 13.

Recife, 18 de outubro de 2018



5

VOTO EM BRANCO, VOTO EM HADDAD

A preta do metrô estava com o rosto enfadado e dizendo que não tinha quem fizesse ela votar naquele branco debochado. O deboche de um candidato contra toda a Raça de Humanos Exóticos, contra as mulheres, contra os trabalhadores, contra os quilombos, contra os índios, contra os lgbtt, tinha deixado ela com a cara azeda.

Mas então me surpreendeu dizendo que ia votar em branco e lembrei daquela história de que eleição
sputinikbrasi
é coisa de branco. E não é mesmo? Negros têm menos acesso à educação, ao trabalho e à política. Têm mais acesso à prisão. Mas também lembrei que na questão educacional, o candidato debochador também debocha das quotas. E talvez ela tenha razão: eles que são brancos que se entendam.

Mas pensei melhor e descobri que tem um branco que quer mais salário, mais educação, mais direitos, mais igualdade, mais justiça para todas e todos, especialmente para os injustiçados por uma civilização escravagista e uma população racista. Então, se é pra votar em branco, votem no branco Haddad. Por mais políticas públicas para mais justiça racial ele tem o meu voto. Sem ódio e sem medo voto em Haddad. Voto 13.

Recife, 19 de outubro de 2018



6

UM EXÓTICO CHAMADO SINVAL

Quando vi a transmissão do bacanal do impeachment e ouvi um atual candidato a presidente vociferar a favor da tortura e homenagear o maior torturador que conhecemos, lembrei das ruas de Feira de Santana e do pequeníssimo comércio de Sinval Galeão.

Ele foi torturado na ditadura porque era comunista, fazia parte da Raça de Humanos Exóticos, mas
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era somente um micro comerciante e um macro amigo meu e de tantas e tantos. Como pedagogia, a tortura demonstrou ser inútil, nem conseguiu informações ou delações, nem destruiu a humanidade e a amorosidade de Sinval, fiel em compromissos e amizades. Conseguiu deformar os seus dedos, sem deformar a sua alma.

Nunca deixou de lutar por um Brasil melhor, mas sofreu um AVC que o levou à morte. No seu enterro os amigos choraram e trouxeram histórias de coragem e ternura. Fui amigo de Sinval, então não tenho condição nenhuma de votar em quem elogia a tortura, e sou amigo do amor e da vida. Portanto, sem nenhum ódio e sem nenhum medo, voto em Haddad. Voto 13.

Recife, 20 de outubro de 2018



7

A SOLIDARIEDADE DA INSÔNIA

Tenho muitas amigas e amigos que não conseguem dormir, todas pertencentes à Raça de Humanos Exóticos. Para elas, já está aberta a temporada de caça e se o Caçador Maior for eleito, pensam que vai piorar. Mas tenho outros que dormem tranquilamente porque acreditam que a sua própria humanidade não se encontra ameaçada.

Então, nessa estranha eleição, posso dividir os eleitores entre os que dormem e os que sofrem insônia.
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Quando pergunto a alguém se está dormindo bem, praticamente descubro o candidato pela resposta. Eu não estou dormindo bem e minha insônia é solidária. Quando meus amigos se sentem caçados, eu sinto a minha humanidade aviltada e sinto imensamente se você está conseguindo dormir bem.

Estar sempre acordado era vigilância de Zeca, carpinteiro desempregado que dormia na rua de Feira de Santana e de Beto, adolescente homossexual, quando descobriu que o pai comprou um revólver. Zeca era o morador de rua mais esfaqueado de Feira de Santana. Por causa dele e de outras, quero ficar acordado o mais possível, enquanto esse clima de terror estiver presente. Então, pela volta do sono tranquilo, sem ódio e sem medo, voto Haddad, voto 13.

Recife, 21 de outubro de 2018



8

UMA ELEIÇÃO DE PERDAS E GANHOS

Não quero perder essa eleição, mas só quero ganhar, na esperança de um mundo em que os dois verbos, perder e ganhar, desapareçam. Fomos educados para competir, suplantar, acumular, e isso se chama ganhar. Na solidariedade, ninguém perde e ninguém ganha, todas e todos vivem o melhor possível.

Os Caçadores de Humanos Exóticos são o subproduto dessa lógica do perde-ganha e uma eleição que
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poderia ser simplesmente isso, uma escolha, tornou-se uma guerra. A desigualdade social envenena com intolerância e discriminação e impede que a diversidade trazida pela Raça de Humanos Exóticos seja percebida com seu esplendor.

A guerra eleitoral deseja exterminar pessoas e direitos, especialmente das trabalhadoras. Sem o verbo perder ou ganhar, transformados em curiosidade linguística de um português arcaico, todas e todos poderiam escolher, como estou fazendo, sem ódio e sem medo, Haddad 13.

Recife, 22 de outubro de 2018



9

OS PARIDORES DE PLANTÃO

As mulheres são metade da humanidade, e fazem parte da Raça de Humanos Exóticos. Pelo que entendi da declaração de um candidato, são os homens que parem a humanidade, sozinhos, as mulheres são recipientes vazios. E só devem parir homens, mulheres só aparecem quando eles fraquejam.

Por serem exóticas devem ganhar menos e não devem receber licença-maternidade (afinal, não são os
mamaetagarela
homens os parideiros?). Mais exóticas ainda são as feministas, essas devem sofrer dos caçadores torturas e violências, estupro não, somente para as bonitas.

Quando a opressão dos caçadores sobre a metade da humanidade desaparecer, a igualdade será mais igual e as mulheres terão mais oportunidades de decisão. Contra a chapa de militares autoritários, voto em um professor educado e em uma jornalista feminista inspirada. Sem ódio e sem medo, voto em Haddad 13.

Recife, 23 de outubro de 2018





Postado por José María Souza Costa



O lado outro do rio


Do outro lado do rio
tem um pé de ingá
moitas de criviri
e os encantos de sinhá.


Quase no meio do rio
dois peitinhos a boiar
basta fazer caretinhas 
e correr pro pé de ingá.

Coisas de beira de rio
sempre deixa um despertar
de meninos e meninas 
que se juntam pra banhar.
--


Oficina sob o lema da minha campanha: «Liberdade Incondicional. >>Manuela Gonzaga.


Fragmento texto Fátima Gabriel - Bom dia Vida… Bom dia Amor

Estou presa, confinada a quatro paredes, Este espaço deixa-me em pânico. Sou claustrofóbica. Parece que acordei de um sonho. Sinto-me abafar. Sinto que vou morrer, e não quero. Amo a vida e vou lutar por ela. Porque estou aqui?! Há quanto tempo e quanto mais estarei? Nem me sinto só, tal é o turbilhão de sentimentos e pensamentos. Penso: «E agora?» Olho pela janela pequena, acima da cama estreita e vejo o sol. Paro, admirando esta liberdade que ele tem e me transmite. Percebendi que a vida está fora, à minha espera. Vou reencontrá-la.


22 de out. de 2018

Vamos sair deste mundo? Alguns minutos assistindo clipes de chimpanzés

A TV Record é acusada de pressionar jornalistas para favorecer Bolsonaro.

SEGUNDO O SINDICATO DE JORNALISTAS DE
 SÃO PAULO, OS PROFISSIONAIS DA 
EMISSORA ESTÃO SOFRENDO 
PRESSÕES ABUSIVAS.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP) divulgou uma nota nesta sexta-feira (19) afirmando ter recebido denúncias de vários jornalistas da Rede Record (televisão, rádio e portal R7) que disseram estar sofrendo pressão permanente da direção da emissora para que o noticiário beneficie Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência da República, e prejudique Fernando Haddad, do PT.

“A entidade torna público, como exige seu dever de representação da categoria, o inconformismo desses profissionais com as pressões inaceitáveis e descabidas em uma empresa de comunicação”, disse o sindicato no comunicado.
O sindicato ressalta ainda que a pressão interna para o favorecimento de Bolsonaro tem origem no apoio público de Edir Macedo, dono da emissora. No dia 30 de setembro, o líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) declarou apoio ao capitão reformado na corrida presidencial.

Leia matéria completa: >>>>>>>>>/a-tv-record-e-acusada-de-pressionar.

Inquilino >>>>>>( Melhor ir dormir. Não leia isso)


Você mora de aluguel?
Sente-se infeliz?
Então talvez lhe conforte saber que existem pessoas em situação pior que a sua.

Um exemplo: ele mora com milhões de irmãos na casa do cacete.
O apartamento é um ovo.
O prédio é um saco.
Os vizinhos da frente, uns pentelhos.
O de traz, só faz merda.
E o proprietário, quando fica duro, bota todo mundo pra fora.