Os americanos têm um tipo peculiar
de convivência com a morte. Como são um império, a morte lhes é próxima nos
campos de batalha. E nas sombras do terror.
Agora, uma notícia reforça essa
observação: nunca tantos americanos se suicidaram. No período de 1999 a 2010, o
suicídio de americanos entre 35 e 64 anos cresceu quase 30%. Atualmente, mais
pessoas morrem nos Estados Unidos em suicídio do que em acidentes de carro. Na
faixa dos 50 anos, a taxa de suicídio cresceu 50%.
Especialistas apontam algumas
razões para explicar o fato. Uma delas é a desintegração familiar. E, aqui, não
se confunda com a crescente opção para viver só. Morar só, mas com afeto
estabelecido logo ali. Outra leitura é a invenção mais impactante desde o
automóvel: a internet. A web se volta para o indivíduo solitário. Não junta o
casal ou a família. Mesmo com redes sociais que aproximam pessoas.
Esse traço de personalidade é
diferente do suicídio praticado por japoneses, por exemplo. No Japão, o ato é
perpetrado por vergonha. De um ato imoral. Ou pela pressão social decorrente de
intensa competição. Desde o vestibular.
Os americanos são um povo criativo.
Produziram o soft power. Que inclui a afirmação influente de cinema, música e
literatura no resto do mundo. Inventaram o jazz, o piano de Hancock e o trumpet
de Marsalis. Inscreveram o romance de Hemingway e a poesia de Frost. Desenharam
a beleza de Marilyn e o talento de Al Pacino. As canções de Cole Porter e a voz
de Ella Fitzgerald.
Mesmo com tanta alegria, não
conseguem revogar a mão que subtrai vida a si próprio. Que o amor às coisas
bonitas lhes dê força para viver. E não, a matar ou morrer.