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ospontosdevista |
racismo, disfarçado ou explícito, mas estranha história de amor à vida e amor ao amor. Pretas e pretos sofrem preconceito, humilhação e violência, simbólica ou explícita, mas amam.
Nessa estranha eleição, em que um candidato faz discursos preconceituosos e faz apologia da tortura e da violência, quero defender somente a tortura da saudade e a violência do amor. Se tenho de morrer um dia, quero morrer amando, quero morrer de amor. Sem ódio e sem medo voto Haddad, voto 13.
Recife, 17 de outubro de 2018
VOTO EM BRANCO, VOTO EM HADDAD
A preta do metrô estava com o rosto enfadado e dizendo que não tinha quem fizesse ela votar naquele branco debochado. O deboche de um candidato contra toda a Raça de Humanos Exóticos, contra as mulheres, contra os trabalhadores, contra os quilombos, contra os índios, contra os lgbtt, tinha deixado ela com a cara azeda.
Mas então me surpreendeu dizendo que ia votar em branco e lembrei daquela história de que eleição
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sputinikbrasi |
é coisa de branco. E não é mesmo? Negros têm menos acesso à educação, ao trabalho e à política. Têm mais acesso à prisão. Mas também lembrei que na questão educacional, o candidato debochador também debocha das quotas. E talvez ela tenha razão: eles que são brancos que se entendam.
Mas pensei melhor e descobri que tem um branco que quer mais salário, mais educação, mais direitos, mais igualdade, mais justiça para todas e todos, especialmente para os injustiçados por uma civilização escravagista e uma população racista. Então, se é pra votar em branco, votem no branco Haddad. Por mais políticas públicas para mais justiça racial ele tem o meu voto. Sem ódio e sem medo voto em Haddad. Voto 13.
Recife, 19 de outubro de 2018
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UM EXÓTICO CHAMADO SINVAL
Quando vi a transmissão do bacanal do impeachment e ouvi um atual candidato a presidente vociferar a favor da tortura e homenagear o maior torturador que conhecemos, lembrei das ruas de Feira de Santana e do pequeníssimo comércio de Sinval Galeão.
Ele foi torturado na ditadura porque era comunista, fazia parte da Raça de Humanos Exóticos, mas
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santanopolis |
era somente um micro comerciante e um macro amigo meu e de tantas e tantos. Como pedagogia, a tortura demonstrou ser inútil, nem conseguiu informações ou delações, nem destruiu a humanidade e a amorosidade de Sinval, fiel em compromissos e amizades. Conseguiu deformar os seus dedos, sem deformar a sua alma.
Nunca deixou de lutar por um Brasil melhor, mas sofreu um AVC que o levou à morte. No seu enterro os amigos choraram e trouxeram histórias de coragem e ternura. Fui amigo de Sinval, então não tenho condição nenhuma de votar em quem elogia a tortura, e sou amigo do amor e da vida. Portanto, sem nenhum ódio e sem nenhum medo, voto em Haddad. Voto 13.
Recife, 20 de outubro de 2018
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A SOLIDARIEDADE DA INSÔNIA
Tenho muitas amigas e amigos que não conseguem dormir, todas pertencentes à Raça de Humanos Exóticos. Para elas, já está aberta a temporada de caça e se o Caçador Maior for eleito, pensam que vai piorar. Mas tenho outros que dormem tranquilamente porque acreditam que a sua própria humanidade não se encontra ameaçada.
Então, nessa estranha eleição, posso dividir os eleitores entre os que dormem e os que sofrem insônia.
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plataforma21 |
Quando pergunto a alguém se está dormindo bem, praticamente descubro o candidato pela resposta. Eu não estou dormindo bem e minha insônia é solidária. Quando meus amigos se sentem caçados, eu sinto a minha humanidade aviltada e sinto imensamente se você está conseguindo dormir bem.
Estar sempre acordado era vigilância de Zeca, carpinteiro desempregado que dormia na rua de Feira de Santana e de Beto, adolescente homossexual, quando descobriu que o pai comprou um revólver. Zeca era o morador de rua mais esfaqueado de Feira de Santana. Por causa dele e de outras, quero ficar acordado o mais possível, enquanto esse clima de terror estiver presente. Então, pela volta do sono tranquilo, sem ódio e sem medo, voto Haddad, voto 13.
Recife, 21 de outubro de 2018
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UMA ELEIÇÃO DE PERDAS E GANHOS
Não quero perder essa eleição, mas só quero ganhar, na esperança de um mundo em que os dois verbos, perder e ganhar, desapareçam. Fomos educados para competir, suplantar, acumular, e isso se chama ganhar. Na solidariedade, ninguém perde e ninguém ganha, todas e todos vivem o melhor possível.
Os Caçadores de Humanos Exóticos são o subproduto dessa lógica do perde-ganha e uma eleição que
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conceito.de |
poderia ser simplesmente isso, uma escolha, tornou-se uma guerra. A desigualdade social envenena com intolerância e discriminação e impede que a diversidade trazida pela Raça de Humanos Exóticos seja percebida com seu esplendor.
A guerra eleitoral deseja exterminar pessoas e direitos, especialmente das trabalhadoras. Sem o verbo perder ou ganhar, transformados em curiosidade linguística de um português arcaico, todas e todos poderiam escolher, como estou fazendo, sem ódio e sem medo, Haddad 13.
Recife, 22 de outubro de 2018
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OS PARIDORES DE PLANTÃO
As mulheres são metade da humanidade, e fazem parte da Raça de Humanos Exóticos. Pelo que entendi da declaração de um candidato, são os homens que parem a humanidade, sozinhos, as mulheres são recipientes vazios. E só devem parir homens, mulheres só aparecem quando eles fraquejam.
Por serem exóticas devem ganhar menos e não devem receber licença-maternidade (afinal, não são os
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mamaetagarela |
homens os parideiros?). Mais exóticas ainda são as feministas, essas devem sofrer dos caçadores torturas e violências, estupro não, somente para as bonitas.
Quando a opressão dos caçadores sobre a metade da humanidade desaparecer, a igualdade será mais igual e as mulheres terão mais oportunidades de decisão. Contra a chapa de militares autoritários, voto em um professor educado e em uma jornalista feminista inspirada. Sem ódio e sem medo, voto em Haddad 13.
Recife, 23 de outubro de 2018