Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

24 de out. de 2018

O ANÃO GIGANTE - Virtudes e pecados, dor e prazer, temas banais. O seu e o seu contrário. Depois veremos melhor.


Projecto Díptico Vertical #269


Le Sommeil, Gustave Courbet, c.1866

















Nude, #5, Eleanor Dubinsky e Melanie Maar por Mary Ellen Strom, 2005

Tenho vontade de sair caminhar... Muito tempo imaginando... Você consegue sentir o mesmo?...


SOKO :: First Love Never Die



brincadeirinha



Marcos Monteiro (diário)


Sempre tentando encontrar os caminhos para tantas coisas. 
teófilóprofepenescrit



DIÁRIO DE UMA ELEIÇÃO ESTRANHA

1

ENTRE O BEIJO E A BALA

Essa é a mais estranha das eleições de que participei. Um candidato libera o beijo, o outro promete bala, e eu descubro estarrecido que muitos seres humanos são contra o beijo e a favor da bala. Especialmente os evangélicos. Muito estranho esse evangelho.

Mas tentam me explicar que são contra somente o beijo da estranha Raça de Humanos Exóticos e que
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os evangélicos amam os humanos exóticos. E acho estranho esse modo de amar, em vez de beijo, bala. Os humanos exóticos que conheço têm pai, mãe, amigos, amigas e medo, muito medo.

Tenho muitas amigas e amigos exóticos. Todas estão com medo, muito medo e sou solidário. Por causa disso quero eleger o beijo, nunca a bala. Sem ódio e sem medo, voto Haddad. Voto 13.

Recife, 15 de outubro de 2018



 2

CONTRA A CAÇA DE HUMANOS

Quando Antônio acordou no hospital, estava com a cabeça lascada. Ele é pai de família, alto, mas é negro e dorme na rua, portanto faz parte dessa Raça de Humanos Exóticos. Um caçador aproveitou de seu sono e lançou um paralelepípedo sobre sua cabeça.

Essa eleição é muito estranha. Há um candidato prometendo mais armas e os Caçadores de Humanos
pragmatismopolítico
Exóticos estão exultantes e prometendo caçar como nunca. Se o caçador de Antônio tivesse esperado teria conseguido talvez caçar com mais objetividade.

Conheço Antônio e a sua monstruosa capacidade de trabalho. Ele é coletor de lixo, mas não tem casa, portanto é vulnerável. Não é do tipo de ter medo, mesmo depois do episódio, mas sabe que não pode dormir, porque os caçadores podem chegar a qualquer momento. Portanto, contra a abertura da temporada de caça aos humanos, sem ódio e sem medo, voto Haddad , voto 13.

Recife, 16 de outubro de 2018



3

QUERO MORRER DE AMOR

A conversa surgiu com o passageiro ao lado, do ônibus urbano quase vazio, ele estava triste. A filha havia morrido de depressão há dois meses, mas era história estranha de amor. Morreu porque o marido morreu de câncer e ela não conseguia dormir nem comer e repetia que queria ir se encontrar com ele, e foi.

História de negros e negras, cor da Raça de Humanos Exóticos, a qual enfrenta a violência do
ospontosdevista

racismo, disfarçado ou explícito, mas estranha história de amor à vida e amor ao amor. Pretas e pretos sofrem preconceito, humilhação e violência, simbólica ou explícita, mas amam.


Nessa estranha eleição, em que um candidato faz discursos preconceituosos e faz apologia da tortura e da violência, quero defender somente a tortura da saudade e a violência do amor. Se tenho de morrer um dia, quero morrer amando, quero morrer de amor. Sem ódio e sem medo voto Haddad, voto 13.

Recife, 17 de outubro de 2018



4

PELA ESPIRAL DO AMOR

Encontrei Dom Helder na camisa de Fernando, no supermercado, com a seguinte frase: “Carregar pessoas nos braços não quero, são pesadas, prefiro carregá-las no coração”.

Fernando é um espírita que ama Dom Helder que era católico, bispo chamado de subversivo, porque
javiersánchez
amava 
os pobres e os assim chamados bandidos. Todos dois também fazem parte da Raça de Humanos Exóticos, que não merecem viver, e um dia um matador foi contratado para destruir Dom Helder, mas mudou de ideia, história bonita que muita gente conhece.

Dom Helder gostava de falar contra a espiral de violência e eu carrego Dom Helder no coração, contra essa espiral de ódio dessa estranha eleição, e penso na necessidade de uma nova, a espiral do amor. Então, sem ódio e sem medo voto Haddad. Voto 13.

Recife, 18 de outubro de 2018



5

VOTO EM BRANCO, VOTO EM HADDAD

A preta do metrô estava com o rosto enfadado e dizendo que não tinha quem fizesse ela votar naquele branco debochado. O deboche de um candidato contra toda a Raça de Humanos Exóticos, contra as mulheres, contra os trabalhadores, contra os quilombos, contra os índios, contra os lgbtt, tinha deixado ela com a cara azeda.

Mas então me surpreendeu dizendo que ia votar em branco e lembrei daquela história de que eleição
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é coisa de branco. E não é mesmo? Negros têm menos acesso à educação, ao trabalho e à política. Têm mais acesso à prisão. Mas também lembrei que na questão educacional, o candidato debochador também debocha das quotas. E talvez ela tenha razão: eles que são brancos que se entendam.

Mas pensei melhor e descobri que tem um branco que quer mais salário, mais educação, mais direitos, mais igualdade, mais justiça para todas e todos, especialmente para os injustiçados por uma civilização escravagista e uma população racista. Então, se é pra votar em branco, votem no branco Haddad. Por mais políticas públicas para mais justiça racial ele tem o meu voto. Sem ódio e sem medo voto em Haddad. Voto 13.

Recife, 19 de outubro de 2018



6

UM EXÓTICO CHAMADO SINVAL

Quando vi a transmissão do bacanal do impeachment e ouvi um atual candidato a presidente vociferar a favor da tortura e homenagear o maior torturador que conhecemos, lembrei das ruas de Feira de Santana e do pequeníssimo comércio de Sinval Galeão.

Ele foi torturado na ditadura porque era comunista, fazia parte da Raça de Humanos Exóticos, mas
santanopolis
era somente um micro comerciante e um macro amigo meu e de tantas e tantos. Como pedagogia, a tortura demonstrou ser inútil, nem conseguiu informações ou delações, nem destruiu a humanidade e a amorosidade de Sinval, fiel em compromissos e amizades. Conseguiu deformar os seus dedos, sem deformar a sua alma.

Nunca deixou de lutar por um Brasil melhor, mas sofreu um AVC que o levou à morte. No seu enterro os amigos choraram e trouxeram histórias de coragem e ternura. Fui amigo de Sinval, então não tenho condição nenhuma de votar em quem elogia a tortura, e sou amigo do amor e da vida. Portanto, sem nenhum ódio e sem nenhum medo, voto em Haddad. Voto 13.

Recife, 20 de outubro de 2018



7

A SOLIDARIEDADE DA INSÔNIA

Tenho muitas amigas e amigos que não conseguem dormir, todas pertencentes à Raça de Humanos Exóticos. Para elas, já está aberta a temporada de caça e se o Caçador Maior for eleito, pensam que vai piorar. Mas tenho outros que dormem tranquilamente porque acreditam que a sua própria humanidade não se encontra ameaçada.

Então, nessa estranha eleição, posso dividir os eleitores entre os que dormem e os que sofrem insônia.
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Quando pergunto a alguém se está dormindo bem, praticamente descubro o candidato pela resposta. Eu não estou dormindo bem e minha insônia é solidária. Quando meus amigos se sentem caçados, eu sinto a minha humanidade aviltada e sinto imensamente se você está conseguindo dormir bem.

Estar sempre acordado era vigilância de Zeca, carpinteiro desempregado que dormia na rua de Feira de Santana e de Beto, adolescente homossexual, quando descobriu que o pai comprou um revólver. Zeca era o morador de rua mais esfaqueado de Feira de Santana. Por causa dele e de outras, quero ficar acordado o mais possível, enquanto esse clima de terror estiver presente. Então, pela volta do sono tranquilo, sem ódio e sem medo, voto Haddad, voto 13.

Recife, 21 de outubro de 2018



8

UMA ELEIÇÃO DE PERDAS E GANHOS

Não quero perder essa eleição, mas só quero ganhar, na esperança de um mundo em que os dois verbos, perder e ganhar, desapareçam. Fomos educados para competir, suplantar, acumular, e isso se chama ganhar. Na solidariedade, ninguém perde e ninguém ganha, todas e todos vivem o melhor possível.

Os Caçadores de Humanos Exóticos são o subproduto dessa lógica do perde-ganha e uma eleição que
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poderia ser simplesmente isso, uma escolha, tornou-se uma guerra. A desigualdade social envenena com intolerância e discriminação e impede que a diversidade trazida pela Raça de Humanos Exóticos seja percebida com seu esplendor.

A guerra eleitoral deseja exterminar pessoas e direitos, especialmente das trabalhadoras. Sem o verbo perder ou ganhar, transformados em curiosidade linguística de um português arcaico, todas e todos poderiam escolher, como estou fazendo, sem ódio e sem medo, Haddad 13.

Recife, 22 de outubro de 2018



9

OS PARIDORES DE PLANTÃO

As mulheres são metade da humanidade, e fazem parte da Raça de Humanos Exóticos. Pelo que entendi da declaração de um candidato, são os homens que parem a humanidade, sozinhos, as mulheres são recipientes vazios. E só devem parir homens, mulheres só aparecem quando eles fraquejam.

Por serem exóticas devem ganhar menos e não devem receber licença-maternidade (afinal, não são os
mamaetagarela
homens os parideiros?). Mais exóticas ainda são as feministas, essas devem sofrer dos caçadores torturas e violências, estupro não, somente para as bonitas.

Quando a opressão dos caçadores sobre a metade da humanidade desaparecer, a igualdade será mais igual e as mulheres terão mais oportunidades de decisão. Contra a chapa de militares autoritários, voto em um professor educado e em uma jornalista feminista inspirada. Sem ódio e sem medo, voto em Haddad 13.

Recife, 23 de outubro de 2018





Postado por José María Souza Costa



O lado outro do rio


Do outro lado do rio
tem um pé de ingá
moitas de criviri
e os encantos de sinhá.


Quase no meio do rio
dois peitinhos a boiar
basta fazer caretinhas 
e correr pro pé de ingá.

Coisas de beira de rio
sempre deixa um despertar
de meninos e meninas 
que se juntam pra banhar.
--


Oficina sob o lema da minha campanha: «Liberdade Incondicional. >>Manuela Gonzaga.


Fragmento texto Fátima Gabriel - Bom dia Vida… Bom dia Amor

Estou presa, confinada a quatro paredes, Este espaço deixa-me em pânico. Sou claustrofóbica. Parece que acordei de um sonho. Sinto-me abafar. Sinto que vou morrer, e não quero. Amo a vida e vou lutar por ela. Porque estou aqui?! Há quanto tempo e quanto mais estarei? Nem me sinto só, tal é o turbilhão de sentimentos e pensamentos. Penso: «E agora?» Olho pela janela pequena, acima da cama estreita e vejo o sol. Paro, admirando esta liberdade que ele tem e me transmite. Percebendi que a vida está fora, à minha espera. Vou reencontrá-la.


22 de out. de 2018

Vamos sair deste mundo? Alguns minutos assistindo clipes de chimpanzés

A TV Record é acusada de pressionar jornalistas para favorecer Bolsonaro.

SEGUNDO O SINDICATO DE JORNALISTAS DE
 SÃO PAULO, OS PROFISSIONAIS DA 
EMISSORA ESTÃO SOFRENDO 
PRESSÕES ABUSIVAS.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP) divulgou uma nota nesta sexta-feira (19) afirmando ter recebido denúncias de vários jornalistas da Rede Record (televisão, rádio e portal R7) que disseram estar sofrendo pressão permanente da direção da emissora para que o noticiário beneficie Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência da República, e prejudique Fernando Haddad, do PT.

“A entidade torna público, como exige seu dever de representação da categoria, o inconformismo desses profissionais com as pressões inaceitáveis e descabidas em uma empresa de comunicação”, disse o sindicato no comunicado.
O sindicato ressalta ainda que a pressão interna para o favorecimento de Bolsonaro tem origem no apoio público de Edir Macedo, dono da emissora. No dia 30 de setembro, o líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) declarou apoio ao capitão reformado na corrida presidencial.

Leia matéria completa: >>>>>>>>>/a-tv-record-e-acusada-de-pressionar.

Inquilino >>>>>>( Melhor ir dormir. Não leia isso)


Você mora de aluguel?
Sente-se infeliz?
Então talvez lhe conforte saber que existem pessoas em situação pior que a sua.

Um exemplo: ele mora com milhões de irmãos na casa do cacete.
O apartamento é um ovo.
O prédio é um saco.
Os vizinhos da frente, uns pentelhos.
O de traz, só faz merda.
E o proprietário, quando fica duro, bota todo mundo pra fora.


21 de out. de 2018

Ecossistemas tropicais aumentam o dióxido de carbono à medida que as temperaturas aumentam


Cientistas da Nasa e uma equipe internacional de pesquisadores descobriram que os ecossistemas tropicais podem gerar dióxido de carbono quando as temperaturas sobem, ao contrário dos ecossistemas de outras partes do mundo.
















Os pesquisadores descobriram que um aumento de temperatura de apenas 1 grau Celsius nas temperaturas do ar próximo à superfície nos trópicos leva a uma taxa de crescimento anual média de dióxido de carbono equivalente a um terço das emissões globais anuais de combustão de combustíveis fósseis e desmatamento combinado. Nos ecossistemas tropicais, a absorção de carbono é reduzida a temperaturas mais altas. Esta descoberta fornece aos cientistas uma ferramenta-chave de diagnóstico para entender melhor o ciclo global do carbono.

"O que aprendemos é que, apesar das secas, inundações, erupções vulcânicas, El Niño e outros eventos, o sistema terrestre tem sido notavelmente consistente na regulação das variações ano a ano nos níveis de dióxido de carbono atmosférico", disse Weile Wang, pesquisador do Centro de Pesquisas Ames da NASA em Moffett Field, Califórnia, e principal autor de um artigo publicado na quarta-feira, 24 de julho, na revista Proceedings of National Academy of Sciences.

O estudo fornece suporte para a hipótese do "feedback carbono-clima" proposta por muitos cientistas. Esta hipótese afirma que um clima mais quente levará ao crescimento acelerado de dióxido de carbono na atmosfera a partir de vegetação e solos. Processos com múltiplos sistemas terrestres, como secas e inundações, também contribuem para mudanças na taxa de crescimento do dióxido de carbono atmosférico. A nova descoberta demonstra que as mudanças de temperatura observadas são um fator mais importante do que as mudanças de precipitação nos trópicos.

A equipe usou uma instalação de acesso de dados e computação de alto desempenho de última geração chamada NASA Earth Exchange (NEX) em Ames para investigar os mecanismos subjacentes à relação entre os níveis de dióxido de carbono e o aumento da temperatura. A instalação NEX permitiu que cientistas analisassem dados amplamente disponíveis sobre as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera e a temperatura do ar global entre 1959 e 2011, enquanto estudavam os resultados de vários modelos de vegetação dinâmica global. 

"O aquecimento climático é o que sabemos com certeza acontecerá sob a mudança climática nos trópicos", disse Josep G. Canadell, diretor executivo do Global Carbon Project em Canberra, Austrália, e co-autor do artigo. Isso implica que a liberação de dióxido de carbono dos ecossistemas tropicais provavelmente será acelerada com o aquecimento futuro.

Eventos que podem influenciar temporariamente o clima, como erupções vulcânicas, podem perturbar a força da relação entre a temperatura anual e o crescimento de dióxido de carbono durante alguns anos, mas o acoplamento sempre se recupera após tais eventos. 

"O estudo realmente destaca a importância das observações da Terra a longo prazo para melhorar nossa compreensão do sistema da Terra", disse Rama Nemani, principal cientista da Ames para o projeto NEX. "Conclusões extraídas da análise de registros mais curtos podem ser enganosas."

É preciso não esquecer nada


É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso, 
nem o sorriso para os infelizes 
nem a oração de cada instante. 

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta 
nem o céu de sempre. 

O que é preciso é esquecer o nosso rosto, 
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso. 

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos, 
a ideia de recompensa e de glória. 

O que é preciso é ser como se já não fôssemos, 
vigiados pelos próprios olhos 
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles


Estamos no fim de uma civilização e que está indo para o buraco - Saramago


"Agora o cidadão serve para votar, e depois até logo!" 



E passa os

quatro anos seguintes recolhido, sem participar do andamento das coisas, fora do jogo. 



Tudo se reduz, no máximo, a trocar um governo por outro. 




"O mundo democrático é dirigido por organismos que não são democráticos". 




Conto – Olho no olho.>>>>>>>>Tibor Moricz Says:


A poltrona já não parecia tão confortável. Ele se remexia nela de um lado para outro. Apertava as costas contra o espaldar, afundava na almofada macia, esticava e retraía as pernas, agarrava com força os braços da mobília.

Incomodava-o a porta fechada diante dele. Incomodava-o ainda mais a fechadura. Pequena brecha para outro mundo. Observava-a, angustiado.

Tinha ânsias de se levantar e ir espionar. Mas impedia-o o recato. Que diriam – se soubessem – que andou espionando por fechaduras?

Tentava se distrair olhando para os quadros dependurados e para os finíssimos capilares que corriam pelas paredes, fendendo disfarçadamente a pintura. Naturezas mortas em tons sombrios. Presença discreta de alguma umidade no teto, junto às sancas. Tapete de arraiolo com algumas manchas indefiníveis. Piso de tacos, envelhecidos, muitos empenados favorecendo um tropeção.

Mas era para a fechadura que os olhos se voltavam a todo o momento. Para os segredos que escondiam do outro lado. Para os mistérios, para as fantasias, para as surpresas.

E afundava cada vez mais na poltrona, inquieto. As veias das mãos estavam dilatadas. Imaginava que também estavam assim as do pescoço. A jugular palpitando nervosa. O espírito cada vez mais indomável.

Voltou toda a atenção para os pés. Depois para os joelhos. Depois para a poltrona verde musgo que estremecia sob tanto frenesi de expectativa e ânsia mal controladas.

Não pode mais.

Levantou-se nervoso. Pequenas gotas de suor lhe porejavam a fronte. Inclinou-se devagar, olhar fixo na abertura que até este momento nada mais lhe oferecia à visão que uma semiobscuridade e além dela uma movimentação indefinida. Sinal claro de alguma atividade do outro lado.

Colou um olho na abertura e se sentiu aterrorizado ao se deparar com outro olho arregalado a observá-lo curioso.

Ambos os homens recuaram assustados para suas poltronas verde musgo. Recuperaram a respiração entrecortada pelo choque e logo repararam nos trincos. Metal polido adornando uma porta de madeira de lei com finíssimos entalhes. Abri-la seria tão simples, tão fácil.

O que existiria do outro lado?

E quem?

A ansiedade voltava a perturbá-los.


.



Um brinde à poesia


MUITO PRAZER com Jorge Piri