Nigel Amon - Cubisme Africain

Nigel Amon   -   Cubisme Africain

11 de jan. de 2020

'A terra é o teu barco, não a tua morada' T.L.

coresterra.blog




"El crédito ha dejado de fluir libremente y ya no podemos
“comprar con dinero que no tenemos cosas que no necesitamos 
para impresionar a gente que no nos cae bien”,
Álex Rovira."


Durante décadas fomos incitados ao consumo, habilmente convencidos pelas artes publicitárias que aí residia a nossa felicidade.

Durante décadas deixámo-nos arrastar por um modo de vida cada vez mais alienante, apesar de cada vez mais conscientes de que esse modo de vida era ecologicamente insustentável. Agora, graças às trapalhadas da engenharia financeira, somos finalmente confrontados com uma realidade à qual não poderíamos fugir eternamente. 

Temos que aprender a viver com menos. Infelizmente para algumas pessoas essa adaptação está a ser cruelmente injusta. A não adaptação, a continuação da fuga para a frente, insistindo num modelo ecológico e socialmente insustentável, poderá ter consequências trágicas para todos. 

Viver com menos não significa necessariamente viver mal. Nem tão pouco voltar ao passado. Uma gestão adequada dos recursos existentes, uma clarificação das prioridades e das reais necessidades dos indivíduos e da sociedade, poderia proporcionar uma vida digna e confortável a todos. Provavelmente mais feliz. 

Poderia. Mas isso significa questionar todos os pressupostos atuais do modelo de desenvolvimento. Mais do que isso, dos objetivos de vida de cada um. Do conceito de felicidade. 


E terá que ser feito por todos. Estamos todos no mesmo barco. Partilhamos a mesma casa. A Terra pertence a todos, e estamos de tal forma interligados que não poderemos continuar a puxar o barco em direções opostas. Podemos estar perante uma destruição colectiva sem precedentes.


Seremos capazes?

5 de jan. de 2020

PRENDA

Ilustração: Vânia Medeiros
Eu era uma menina inquieta que sonhava
em ter os peitos grandes,
um homem belo para viver e amar,
um casal de filhos vibrantes
e um trabalho com que arar no mundo
qualquer tanto a mais de justiça.
O tempo meteu-me os peitos no colo
e disse, "toma, minha filha, é o que posso
te dar. O resto você vá inventando a ferro
e verso".

1


Um dia, um escorpião queria atravessar um rio. Porque é que queira atravessar o rio, ninguém sabe. Houve quem inventasse que era por curiosidade. As montanhas do outro lado pareciam-lhe imensamente mais interessantes que as planícies monótonas onde até então tinha arrastado a sua existência. As montanhas seriam um desafio. Um objetivo sem sentido, mas que seria um objetivo. E para quem não tem objetivos ou não reconheça imediatamente os que tem, qualquer objetivo parece bom. Mas há quem discorde. E tal discórdia não é inocente perante os factos que se seguem e que são do conhecimento geral, principalmente desde que a história foi contada num filme onde uma mulher foi nomeada para Óscar de melhor ator secundário. A história não é velha, mas é mais conhecida do que se fosse.

Há quem diga que o escorpião queria fugir de um incêndio. Portanto, e não tendo eu paciência para procurar mais razões que tenham levado a tão desmesurado desejo de ultrapassar um acidente geográfico, posso apenas
acrescentar que o escorpião podia, simplesmente, querer fazer o que fez a seguir. Mas não quero com isso chegar a qualquer conclusão sobre a natureza humana.

Querendo o escorpião atravessar o rio, pediu a uma rã que o ajudasse. A rã desconfiou, mas, pouco interessa qual o motivo, lá aceitou carregar com um bicho que, em princípio, jamais deixaria aproximar-se. O escorpião usou os seus dons de retórica ou aproveitou-se da inocência da rã. Na verdade, se tudo aconteceu por uma razão ou por outra é indiferente. Ou ambas as razões são uma só. Não interessa, por agora. As motivações pessoais contam pouco nesta história e, talvez tenha sido mesmo por isso que se tornou numa história que, mal tendo aparecido, logo pareceu que já existia há mais tempo, como aquelas músicas que, sendo ouvidas pela primeira vez, parecem já ter sido ouvidas noutro sítio.

Cada pessoa acredita saber a razão porque é que o escorpião queria atravessar o rio, da mesma maneira que acredita conhecer a razão que terá levado a rã a aceitar dar boleia, não a um estranho mas a um conhecido inimigo.

A verdade é que o escorpião, a meio do caminho, ferrou as costas da rã e deu cabo da vida aos dois. A rã envenenada, ele afogado. A rã ainda pergunta: mas porquê? E o escorpião diz que era a natureza dele.

E ficam as pessoas muito satisfeitas com a justificação. Gente má é má e pronto. O resto são histórias.
publicado por Manuel Anastácio às 07:11


https://literaturas.blogs.sapo.pt/





Mosaico, 
Biblioteca Demonstrativa,  
quadras 506/507, 
na W 3 Sul, 
Brasília.

4 de jan. de 2020

Brasil Imperdível


A Nova Amsterdã brasileira

Pode até parecer brincadeira para quem nunca ouviu falar. Mas, muito antes de ganhar apelidos como Cidade do Sol, Capital Espacial do Brasil [1] e Trampolim da Vitória [2], a cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, foi chamada de Nova Amsterdã por alguns anos.

O fato ocorreu durante um breve período de dominação holandesa na região, iniciado por volta de 1633. Na época, integrantes da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais rebatizaram a atual capital potiguar, que até então era chamada “Cidade do Natal”, com o nome de Nova Amsterdã, em alusão à capital holandesa.

De um lado Natal; do outro a capital holandesa Amsterdã
No mesmo período, a fortaleza atualmente conhecida como Forte dos Reis Magos, ganhou o nome de Forte Kenlen.

De acordo com registros históricos, a cidade cresceu durante o período. Além disso, foi muito útil para os holandeses devido à sua localização.

Nova Amsterdã era um dos locais em que eles podiam observar a chegada de tropas inimigas e, assim, proteger o grande comércio de açúcar que possuíam no Nordeste brasileiro, em estados como Pernambuco e Ceará, além do próprio Rio Grande do Norte.

Durante dominação holandesa, o Forte dos Reis
Magos (foto) foi chamado de Forte Kenlen
A denominação permaneceu até meados de 1654, quando tropas portuguesas, auxiliadas por brasileiros e índios aliados, expulsaram os holandeses e restabeleceram
o domínio português em Natal.

Nova Iorque

Coincidentemente, uma das megalópoles mais conhecidas do mundo, Nova Iorque, também foi chamada de Nova Amsterdã por um período. O curioso é que o fato ocorreu mais ou menos na mesma época em que Natal levava o nome que remete à capital holandesa.

Em 1625, a mesma Companhia Holandesa da Índias Ocidentais fundou, na ilha de Manhattan (um dos cartões postais mais emblemáticos de Nova Iorque), a cidade que, inicialmente, também foi chamada de Nova Amsterdã.

Ilustração mostra a Nova Amsterdã da
 América do Norte, que deu origem a
 Nova Iorque
Assim como em Natal, a posição geográfica de Manhattan era estratégica para os holandeses, que defendiam o acesso fluvial para o comércio de peles no vale do Rio Hudson.

A dominação holandesa no local foi até 1664. Após disputas e tratados, a cidade passou a ser controlada pelos britânicos e, consequentemente, ganhou o nome de Nova Iorque (ou New York, em inglês)



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2 responses to “A Nova Amsterdã brasileira”
  1. João Felipe da Trindade
    Nova Amsterdam e o Forte Keulen
    Natal e Nova Amsterdam eram duas localidades diferentes na Capitania do Rio Grande, como se pode ver abaixo e conforme alguns de nossos historiadores.
    Quando Joan Nieuhof, que viveu aqui de 1640 até 1649, servindo os holandeses, descreveu sobre a Capitania do Rio Grande, no seu livro Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil: acima do Rio (Potengi), há uma cidade de pequena importância, denominada Amsterdam. Seus habitantes vivem da pesca, da produção de farinha e do plantio de fumo. Mais ao norte vivem alguns camponeses que se ocupam em cultivar a terra; entretanto, a região que se estende ao norte do Rio Grande é apenas escassamente habitada.
    Sobre o Rio Potengi, escreveu:
    O Rio Grande, assim chamado pelos portugueses devido ao seu considerável volume, é conhecido entre os naturais pelo nome de Potengi e tem a sua foz a 5º e 42’ de latitude sul, ou sejam três milhas de Ponta Negra, para quem vem da parte ocidental do continente. Desemboca quatro milhas acima do Forte Keulen, conhecido pelos portugueses de Três Reis, e seu estuário pode abrigar navios de grande calado. Já o rio Cunhaú só é navegável por barcas e pequenos navios. As baías que se encontram nesta Capitania são: Baía Formosa, Ponta Negra, Ponta de Pipas e a Baía de Tijssens. A Baía de Ginepabu fica ao norte, além de um rio denominado Guasiavi, junto à qual se ergue a vila Atape Wappa. Ainda um pouco mais ao norte encontra-se o rio Ceará-Mirim, e perto da Aldeia de Natal e do forte dos Reis, passa um rio conhecido por Rio da Cruz que nasce de um pequeno lago no Rio Grande. Em frente ao mesmo forte um riacho aflue para o Rio Grande, entre dois bancos de terra, e não muito distante dalí, encontra-se ainda outro rio de água salgada.
    Sobre o Forte dos Três Reis escreveu:
    O Forte Keulen era um quadrilátero construído sobre rocha, ou melhor, sobre a ponta de um recife, a alguma distância da praia, de fronte à foz do rio Recife. Inteiramente cercado de água, na preamar, não se podia atingí-lo senão embarcado. Há, no centro desse forte, uma capelinha, onde, em 1645 ou 1646, os holandeses descobriram um poço de cerca de meio pé de diâmetro na boca e três no fundo, aberto na rocha viva, por onde afluía água doce e fresca todas as marés altas. Nas marés comuns dava cerca de 255 potes de água potável mas, nas de plenilúnio, chegava a dar 350, suprimento esse mais que suficiente para consumo da guarnição em caso de sítio. O forte é construído de blocos de pedra e defendido, do lado da praia, por dois meios baluartes em forma de corna. Em 1646 sua artilharia constava de 29 peças de bronze e de ferro. Dispunha também de bom paiol e confortáveis alojamentos para a soldadesca.
    Continuando sua descrição, escreveu: Este forte foi capturado pelos holandeses sob o comando de Mathias van Keulen um dos governadores da Companhia, o qual foi auxiliado por vários capitães de valor, tais como Byma, Kloppenburgh, Lichthart, Garstman e Masnfelt. Van Keulen para lá se dirigiu à frente de 808 homens embarcados em 4 navios e 7 iates. Keulen apoderou-se, não apenas do forte, mas, ainda de toda a Capitania. Foi então que a velha fortaleza de Três Reis passou a chamar-se forte Keulen, em homenagem aos chefe da expedição.
    O livro de Nieuhof está disponível em submarino. USP.
    1. Editor Brasil Imperdível
      João Felipe, obrigado pelo comentário e por enriquecer a discussão.
      A ideia de escrever um post sobre esse tema surgiu a partir de uma informação encontrada no Portal de Turismo da Prefeitura de Natal, que foi também a nossa principal fonte para a redação do texto. Veja a página sobre a história da capital potiguar: http://turismo.natal.rn.gov.br/historia/ctd-11.html Repare que, no quarto parágrafo, há a informação de que Natal foi chamada de “Nova Amsterdã” e o Forte dos Três Reis de “Forte Kenlen”.
      Depois de ver essa informação, consultamos outras fontes para redigir o post, como a Wikipédia (1 e 2), o IBGE, sites de história do Brasil, além de jornais e portais.
      Talvez, seja algum engano em relação às coordenadas geográficas ou um grande mal entendido histórico, mas muitas instituições e veículos de comunicação consideram a história relatada no post como verídica.
      Nós também consideramos que sim. Mas não há nada que não possa ser refutado, não é mesmo?
      Sobre o forte, vale dizer que algumas das fontes que consultamos também consideram a grafia Keulen.


3 de jan. de 2020

Bertolt Brecht.


SE FICAR COMO É

Se as coisas continuarem como estão,
você estará perdido.
A mudança, sim, é sua amiga

e a discordância é sua aliada na luta.
Do nada,
você precisa fazer algo,
e o todo-poderoso do mundo
para se tornar nada.
Deixe o que você já tem,
pegue o que nega.

concurso 2.220.


Mega da Virada teve
 
mais de R$ 1 bilhão em
 
arrecadação recorde

Com mais de 220 milhões de apostas, Caixa teve maior a arrecadação da história. Prêmio principal foi dividido entre quatro apostas ganhadoras que levaram R$ 76.053.459,66 cada uma.

Por G1 — São Paulo




A Mega-Sena da Virada registrou sua maior arrecadação na história, com R$ 1.028.882.101,50. O valor, divulgado nesta quinta-feira (2) pela Caixa Econômica Federal, foi 16% maior que o arrecadado em 2018.

Foram realizadas mais de 228,6 milhões de apostas em uma premiação que ultrapassou a expectativa inicial em R$ 4 milhões. No início da noite de terça-feira (31), a Caixa estimou o prêmio em R$ 302 milhões, número que chegou a R$ 304,2 milhões na hora do sorteio.

Arrecadação é dividida

O valor dividido entre os ganhadores é menos da metade de tudo o que foi arrecadado, o resto será repassado para programas sociais e investido na manutenção e para a comissão das lotéricas. Essa distribuição é definida por lei.

Veja como é a divisão deste valor

48% para os programas sociais: (saúde, educação, segurança, esportes, seguridade social)
33% para os prêmios (na Mega ainda há mais 5% acumulado dos sorteios do ano)
19% para custeio, manutenção e comissão dos lotéricos.

Dentro dos programas sociais, que recebe a maior fatia do valor arrecadado (48%), quem mais leva é a seguridade social, que fica com 17%, seguida pelos investimentos em segurança, com 9%. O Comitê Olímpico Brasileiro, por exemplo, fica com uma parte pequena, 1,73%.

A arrecadação do jogo, que é administrada pela Caixa, tem distribuição rápida. A partir de cinco dias úteis, depois do sorteio, a parte dos programas sociais começa a ser repassada. Os prêmios prescrevem 90 dias após a data do sorteio. Após esse período, os valores são repassados ao tesouro nacional para aplicação no Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).

Apostas vencedoras

Os números da Mega da Virada foram sorteados no último dia do ano, nos estúdios da TV Globo em São Paulo. No total, quatro apostas vencedoras vão dividir o prêmio, com cerca de R$ 76 milhões para cada.

As dezenas sorteadas foram:
 03 – 35 – 38 – 40 – 57 – 58.

Na quina (acerto de cinco números), 1.031 apostadores vão levar R$ 57.537,06 mil cada um. Outros 77.055 apostadores que acertaram a quadra (quatro números) vão receber R$ 1.099,78 cada um.

Veja de onde são os ganhadores da Mega da Virada:

Juscimeira (MT) – 1 aposta ganhou o prêmio principal
Criciúma (SC) – 1 aposta ganhou o prêmio principal
São Paulo (SP) – 2 apostas ganharam o prêmio principal





2 de jan. de 2020


“espiritualidade e natureza” 
do Brasil para Buenos Aires









Como estar na Floresta Amazônica, com sua natureza 
exuberante habitada por povos indígenas que dominam 
os mistérios do mundo espiritual, e 
ao mesmo tempo 
no coração de uma grande urbe?


Este, entre outros questionamentos, podem ser respondidos até 
o dia 16 de fevereiro na mostra chamada 
Soplo (Sopro) de Ernesto Neto.


A exposição do artista plástico brasileiro reúne esculturas realizadas com tecidos, como meias de nylon e redes de crochê, além de tambores, folhas, tramas e alguns de seus desenhos.
A mostra retrospectiva do artista plástico Ernesto Neto, reconhecido internacionalmente, convida o público do Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires (Malba) para participar de um universo amazônico místico e sensorial. E todos os caminhos parecem convergir para um ponto central, que é a obra chamada Copulônia. Esta obra, como explicou o artista, propõe o encontro entre o masculino - pólvora - e o feminino - meias de nylon -, que dão formas que ora se parecem a seios e ora a testículos, em uma simbiose precisa entre os opostos complementares. (continua) 

oio oio oio oio oio oio oio oio oio oio oio oio 

Ernesto Neto, Metamorfose.
 Foto: Divulgação.
A partir de uma compreensão singular da herança neoconcreta, Ernesto Neto (Rio de Janeiro, 1964), desdobra suas esculturas iniciais – elaboradas com materiais como meias de poliamida, esferas de isopor e especiarias – em grandes instalações imersivas, que propõem ao espectador um espaço de convívio, pausa e tomada de consciência.

leia mais:
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31 de dez. de 2019

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O espiritismo no Brasil


Na maior parte do mundo, o espiritismo é visto como uma moda do século 19. No Brasil a história é bem diferente: nossos 3,8 milhões de seguidores da doutrina de Allan Kardec fazem do Brasil a maior nação espírita do planeta. Entenda como isso aconteceu.

Por André Schröder

Em volta da mesa de madeira, iluminados pelas chamas dos lampiões, homens compenetrados invocavam a presença dos mortos. Era a primeira vez que o grupo de intelectuais baianos comandava uma sessão mediúnica. Acreditavam que podiam fazer contato com espíritos e estavam atentos a ruídos e movimentos fora do comum. Naquela mesma noite de 17 de setembro de 1865, os escritores, professores, militares e magistrados ali reunidos haviam fundado o primeiro centro espírita brasileiro. Seguindo rituais propostos por Allan Kardec, tentavam atrair alguma alma desencarnada. Sem nenhum aviso, a mão de um dos homens começou a rabiscar um papel. Todos os olhares se voltaram para as letras que, uma a uma, surgiam na folha, agrupadas em palavras que comoveram os presentes antes mesmo de serem conhecidas. Quando a mão finalmente parou de escrever, a mensagem psicografada anunciava que um espírito chamado Anjo de Deus estava entre eles.

O episódio ocorrido em Salvador é considerado o marco inicial do espiritismo no Brasil. A ideia de que é possível falar com os mortos, no entanto, não era estranha em um país onde crenças africanas e indígenas sempre figuraram em meio ao catolicismo oficial e dominante. O caldeirão cultural brasileiro é só um dos fatores que explicam a acolhida que o espiritismo teve no país a partir da metade do século 19, quando a doutrina de Kardec chegou da França com explicações para casos extraordinários e assustadores que agitavam o mundo. Um desses acontecimentos se passou em 1848, em uma casa de madeira no vilarejo de Hydesville, no estado americano de Nova York. O casal Fox já tinha ouvido batidas e ruídos vindos das paredes da residência onde viviam com as filhas Margaret e Kate, de 14 e 11 anos. Um dia as pancadas ficaram fortes, camas começaram a tremer e objetos começaram a sair do lugar. Os Fox estavam aterrorizados.

Foi quando a menina mais nova estalou os dedos e ouviu batidas na parede como resposta. Ela repetiu o gesto com os dedos, dessa vez sem som de estalos, e percebeu novamente as batidas, o que significava que era observada. Em poucas horas, na presença de dezenas de testemunhas, a conversa foi aprimorada: perguntas eram feitas em voz alta, respostas de sim e não chegavam com toques combinados. Descobriram que o visitante batedor era um homem morto e enterrado na casa. As notícias sobre a conversa com o espírito correram o mundo, e as irmãs Fox ganharam fama apresentando em público seus poderes mediúnicos. Anos mais tarde, elas disseram que tudo havia sido armado. Depois, voltaram atrás e falaram que tinham negado a história em troca de dinheiro.

O escritor Arthur Conan Doyle era um dos interessados nas irmãs Fox. Ao longo de 40 anos, o inglês estudou diversos casos de manifestações de espíritos – a ponto de publicar mais tarde, em 1926, o clássico A História do Espiritualismo, em que relata alguns episódios e afirma que “uma invasão organizada” de seres de outros planos estava em andamento. Com o interesse de figuras famosas, como o criador das histórias de Sherlock Holmes, em espaço de poucos anos, surgiram centenas de figuras alegando poderes que a ciência não sabia explicar. Diziam contar com a ajuda de espíritos para prever o futuro, saber do passado, transmitir pensamentos, curar doenças e até levitar. Eles e seus seguidores não tinham dúvidas: estava em curso uma ação dos espíritos para despertar curiosidade e fazer contato com os vivos.

Uma moda espírita

Em 1850, o fenômeno das “mesas girantes” divertia nobres e burgueses em salões da alta sociedade europeia, sobretudo em Paris. Ao redor de uma mesa, os participantes da brincadeira apoiavam as mãos espalmadas no tampo e, unidos pelas pontas dos dedos, viam o móvel se movimentar sem uma explicação física aparente, geralmente girando. O que se dizia era que o poder de concentração do grupo fazia a mesa se mexer.

Estudiosos logo se interessaram: parte deles suspeitou de truques, outros associaram os giros a magnetismo ou ação involuntária e inconsciente dos envolvidos. Em 1855, o pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail, professor e autor de livros educacionais, ouviu de um amigo dono de restaurante que o movimento das mesas tinha a participação dos mortos. O amigo disse ainda que as mesas eram inteligentes e batiam no chão em resposta a perguntas. Curioso, embora incrédulo, Rivail aceitou o convite para ver uma das sessões.

Às 8 horas da noite de uma terça-feira de maio, Rivail chegou ao número 18 da rua Grange-Batelière, em Paris. Entrou na casa de uma senhora chamada Plainemaison e ficou aturdido com as experiências que para sempre mudariam a sua vida. Diante de seus olhos, como ele mesmo escreveria anos mais tarde, “mesas pulavam e corriam” pelo cômodo da mansão, em movimentos que não deixavam nenhuma dúvida de que estava frente a forças ocultas. Na mesma noite, viu ainda uma tentativa de escrita mediúnica e teve a certeza de que espíritos queriam se comunicar. Deixou a casa decidido a voltar e investigar a fundo os fatos absurdos, que ainda não conseguia compreender.

Os meses seguintes transformariam definitivamente a vida do professor. Ele presenciou muitas outras vezes os fenômenos tanto na casa da senhora Plainemaison como em outros lares de Paris. Na mansão da família Boudin, passou a contar com a ajuda de duas médiuns adolescentes, que psicografavam mensagens enviadas pelos espíritos. Rivail perguntava em voz alta o que gostaria de saber sobre o mundo dos mortos e recebia as respostas em psicografias. Contou com a ajuda de outros médiuns para revisar as informações. As supostas revelações sobre o que eram, de onde vinham e para onde iam os espíritos foram reunidos na forma de uma nova doutrina, batizada de espiritismo – para diferenciar do abrangente termo espiritualismo, já consagrado na época para descrever a relação entre vivos e mortos. Aconselhado por um espírito que já o conhecia de outra vida, Rivail mudou seu nome para Allan Kardec.

Em 18 de abril de 1857 foi lançado em Paris o Livro dos Espíritos, com 501 perguntas e respostas, resultado das revelações que Kardec dizia obter do mundo espiritual. Três anos depois, uma segunda edição, revista e ampliada
para 1.019 questões, veio a público. A doutrina defendia a existência de Deus, a imortalidade da alma, a reencarnação, a evolução dos seres, a pluralidade de mundos e a possibilidade de comunicação com os espíritos por meio da mediunidade e a caridade.

Para Kardec, as revelações contidas na obra não eram simples religião, mas uma filosofia com base científica voltada para o aperfeiçoamento moral do homem. O livro foi criticado por céticos, que viram na obra não mais que uma bem elaborada trama mística. A Igreja foi além das críticas contra a doutrina, que pregava a reencarnação e feria dogmas católicos. Em 1861, Kardec enviou 300 exemplares de obras espíritas para um livreiro de Barcelona. A encomenda foi apreendida pelo bispo local, que ordenou a queima dos livros em praça pública. Em 9 de outubro, orientado por um padre que segurava uma cruz e uma tocha nas mãos, um carrasco comandou a queima das obras diante de uma pequena multidão. Em 1864, o Livro dos Espíritos foi incluído no Index Librorum Prohibitorum, lista de obras que não podiam ser lidas pelos fiéis católicos.

Até sua morte, em 1869, Kardec publicou mais quatro obras: O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese, que, junto com O Livro dos Espíritos, reúne a base da doutrina. Na Revista Espírita, que fundou em 1858, o francês divulgou por 10 anos textos complementares, mensagens psicografadas e notícias da onda espírita pelo mundo.

Terreno fértil

Embora tenha repercutido em dezenas de países, a verdade é que o espiritismo não achou muito espaço para prosperar. Espiritualistas britânicos e americanos não aceitaram a tese de reencarnação e fizeram ressalvas à religiosidade da doutrina. Em Portugal, Espanha e Itália, as ideias foram combatidas pela Igreja Católica e não puderam circular livremente. Até mesmo na França, berço do espiritismo, o interesse ficou restrito a alguns círculos de intelectuais e arrefeceu depois de alguns anos, sobretudo quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial.

No Brasil, entretanto, o avanço do espiritismo foi notável desde os primeiros anos, como o próprio Kardec festejou em uma edição de 1864 da Revista Espírita, quando afirma com satisfação “que a ideia espírita faz progressos sensíveis no Rio de Janeiro, onde ela conta com numerosos representantes, fervorosos e devotados”. O fenômeno das “mesas girantes” era visto com curiosidade no Brasil imperial do século 19. Os periódicos Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco e O Cearense, por exemplo, noticiaram a febre que colocava toda a sociedade parisiense “em torno de uma mesa redonda”. Antes da doutrina kardecista, falar de espiritualismo já era comum entre homeopatas e homens atentos a casos extraordinários, como o das irmãs Fox. (...)



30 de dez. de 2019

Dica da Cigana para Proteção em 2020


Há tempos que os Espíritos Superiores têm ensinado que a melhor forma de se proteger contra o mal é fazendo bem, mas quem realmente lhes escuta quando é mais fácil tomar um banho de limpeza energética, entrar no mar e pular sete ondas ou mesmo vestir uma roupa branca na virada do ano para atrair paz? Nenhum desses artifícios são validados pelos Bons Espíritos se não houver doação de si para com o próximo. Então, a chegada de dezembro é sempre benfazeja para mudanças, pois sem que se deem conta, os corações ficam mais enternecidos para com a vulnerabilidade das vidas irmãs. Nessa época os ensinamentos do Mestre Jesus são ressaltados, relembrados e replicados, e lampejos de desprendimento acontecem por toda parte, ainda que não seja o bastante para se manter protegido pelos Espíritos de Luz durante todo o ano de 2020; é necessário mais, é preciso linearidade, constância e perseverança no bem. Quem deseja se blindar dos Espíritos de baixa vibração que atrapalham todas as áreas da vida deve doar o melhor de si com quem cruzar o seu caminho. Os maus Espíritos não têm autoridade sob aqueles que promovem a paz, que são generosos, solidários, tolerantes, flexíveis, que buscam amparar, que não julgam, que perdoam as faltas alheias, que não dão espaços para mágoas ou ressentimentos e fogem das fofocas e das maledicências. Toda virtude posta em prática é um escudo, no entanto, quando só falada abre portas às influências negativas. Ser ético, benevolente e afável é atrair para si a proteção constante, como consequência, os banhos energéticos, as simpatias, a quebra de feitiços e aberturas de caminhos dão certo porque há a presença e as bênçãos dos Guias de Luz. Ilumine-se em 2020!  

Valéria Fernandes

29 de dez. de 2019

A Xilogravura é uma arte milenar que marca a identidade da cultura do Nordeste do Brasil e retrata o rico imaginário da cultura popular a partir de temáticas religiosas, políticas e até eróticas. A técnica consiste em talhar um pedaço de madeira usando facas e canivetes bem amolados. No Nordeste, normalmente a madeira utilizada é a da árvore cajazeira, por ser abundante na região, macia e de fácil manuseio. Após talhada, a madeira recebe uma camada de tinta normalmente preta e é utilizada como matriz para estampar novenários, almanaques, folhetos de literatura de cordel – outro clássico da cultura nordestina, rótulos de aguardente, cartazes e dentre outros.
















A arte em xilogravura começou a popularizar no Brasil e ganhar status de arte entre as décadas de 60 e 70, quando estudiosos e pesquisadores passaram publicar álbuns e trabalhos acadêmicos sobre o tema.
Pressupõe-se que a xilogravura brasileira tenha origem ligada à milenar da cultura indiana que usava a técnica para estamparias decorativas e religiosas, porém não é possível identificar a origem da exata no Brasil ou quando ela começou a ser utilizada, mas acredita-se que ela tenha sido trazida pelos missionários portugueses, ensinada aos índios e desde então tem se multiplicado, assumido novas formas e contado a história de um povo cheio de imaginação e de cultura.

Dentre os principais artistas da xilogravura nordestina, destaca-se  J. Borges. J.Borges é um dos mestres do Cordel com mais de 200 publicações e um dos artistas mais celebrados da xilogravura nordestina com reconhecimento nacional e internacional, sendo considerado desde 2005 um Patrimônio Vivo de Pernambuco.

Borges entalha cenas da cultura e do cotidiano nordestino, retratando as tradições as alegrias, mas também a pobreza e as mazelas do povo.






27 de dez. de 2019

X.. FERNANDO PESSOA é o mais universal poeta português. - 13 Junho 1888 / 30 Novembro 1935 (Lisboa)



       MAR PORTUGUÊS


Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!


Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espel
hou o céu