Um dos
argumentos favoritos dos ativistas à favor da legalização da maconha é que a
substância não faz tão mal para a saúde quanto o álcool e o cigarro, drogas
legais. Mas existe verdade nisso?
Difícil
de saber, respondem os cientistas. A comparação entre essas substâncias
simplesmente é muito complicada. Embora ambos álcool e maconha sejam tóxicos
quando usados para fins recreativos, sua legalidade, padrões de consumo e
efeitos a longo prazo sobre o corpo são bastante diferentes.
Além
disso, a pesquisa dos efeitos da maconha na saúde humana ainda está em sua
infância, em comparação com os estudos rigorosos que já foram feitos sobre o
álcool e a saúde humana.
O que
sabemos é que tanto o consumo de álcool quanto fumar maconha podem levar a
problemas de saúde, mostrando efeitos a curto e longo prazo.
De
fato, o álcool é associado a quase 80 mil mortes nas Américas, de acordo com
estudo da Organização Pan-americana da Saúde feito entre 2007 e 2009. Por uma
série de razões, estatísticas sobre mortes associadas com o uso de marijuana
são muito mais difíceis de encontrar.
A curto
prazo
Beber
muito álcool pode rapidamente matar uma pessoa. A impossibilidade de
metabolizar o álcool tão velozmente quanto é consumido pode conduzir a uma
acumulação no cérebro, que desliga áreas necessárias para a sobrevivência, tal
como as envolvidas com o batimento cardíaco e a respiração.
“Você
pode morrer cinco minutos depois de ter sido altamente exposto ao álcool. Isso
não acontece com a maconha”, explica Ruben Baler, cientista da saúde no
Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA. “O impacto do uso da maconha é
muito mais sutil”.
Embora
a maconha afete o sistema cardiovascular, aumentando a frequência cardíaca e a
pressão arterial, uma pessoa não pode morrer fatalmente de overdose de maconha
como pode com o álcool.
Também,
o álcool é mais propenso do que a maconha a interagir com outras drogas. Se
você já estiver tomando outras drogas ou medicamentos e beber álcool, ele pode
aumentar ou diminuir os níveis da droga ativa no organismo.
Além
das formas diretas, ambas as substâncias podem afetar a saúde de forma
indireta.
Como a
maconha prejudica a coordenação e o equilíbrio, existe o risco de se ferir ao
fumá-la, especialmente se uma pessoa “chapada” decidir dirigir ou fazer relações sexuais desprotegidas,
enquanto suas inibições estão reduzidas. Além de consequências momentâneas,
podem haver consequências a longo prazo.
A longo
prazo
Beber pode levar a doença hepática alcoólica, que pode evoluir
para fibrose do fígado, que por sua vez pode levar ao câncer de fígado. “Eu
enfatizo ‘pode’ – não é ainda claro nem para os melhores cientistas quais são
os gatilhos que permitem que essa progressão aconteça”, explica Murray,
observando que algumas pessoas têm maior risco do que outras de desenvolver a
condição, e não entendemos direito por quê.
Já
Baler comenta que, ao contrário do álcool, os efeitos do uso crônico da maconha
não são tão bem estabelecidos. Estudos com animais indicam um possível impacto
na reprodução. Além disso, há evidências de que maconha pode piorar problemas
psiquiátricos para pessoas que são predispostas a eles, ou fazê-los se
manifestar em uma idade mais jovem. Ainda, porque a droga é geralmente fumada,
pode causar bronquite, tosse e inflamação crônica das vias aéreas.
Enquanto
alguns estudos mostraram evidências ligando a maconha ao câncer de pulmão,
estudos subsequentes não encontraram essa associação. Baler disse que não está
claro por que a fumaça da maconha não tem o mesmo resultado que a do tabaco nos
pulmões. A diferença pode ser nos compostos das fumaças ou pode ter a ver com
outros hábitos de saúde que fumantes de maconha e de cigarro têm.
Além
disso, pesquisadores que procuram estudar o uso da maconha a longo prazo têm
tido dificuldade em encontrar pessoas que fumam maconha regularmente, mas que
também não fumam cigarros de tabaco. Outra grande dificuldade é a ilegalidade
da maconha, que limita a pesquisa neste campo.
No
entanto, este ano começaram as primeiras vendas legais de maconha para pessoas
que não a usam por razões médicas nos Estados Unidos, em Colorado e Washington.
A observação de taxas de lesões, acidentes, doenças mentais e uso por
adolescentes levará a uma melhor compreensão dos efeitos sobre a saúde pública
da maconha.
Grande
parte da preocupação com a substância envolve jovens que usam a droga, porque
ela interfere com o desenvolvimento do cérebro enquanto ele ainda está amadurecendo.
“Fumar maconha interfere com conexões do cérebro em um momento em que ele
deveria estar em um estado de mente clara, acumulando memória e experiências
que formarão uma base para o futuro”, conta Baler.
Benefícios
“Nós
sempre aconselhamos as pessoas a evitar beber em excesso, mas o consumo
moderado não é algo muito perigoso”, explica Murray.
“Os pesquisadores
estão trabalhando contra o relógio para tentar identificar os ingredientes da
maconha que têm potencial medicinal”, disse Baler.
Uma vez
que tais produtos químicos estiverem em uma forma pura e os pesquisadores
entenderem seus efeitos sobre o corpo, então eles poderiam ser usados em
ensaios clínicos para verificar sua eficácia em amenizar sintomas ou auxiliar
na cura de doenças como câncer, esclerose múltipla, diabetes e glaucoma.
“Há
segmentos da população que querem ignorar todo esse processo e distorcer a
verdade, afirmando que fumar maconha pode ser bom para a saúde e ter usos
médicos”,argumenta Baler. Segundo ele, embora possa ser usada para cuidados
paliativos, chamar a maconha de remédio ainda é algo que não podemos fazer. O
objetivo da medicina, aliás, não é usar a maconha como remédio, e sim extrair
seus componentes benéficos, e utilizá-los desprovidos dos efeitos que usuários
recreativos da substância procuram.
HypeScience
31/01/2014